Ficha técnica da faixa:
voz e violão Ovation – Gilberto Gil
guitarra e vocal – Pepeu Gomes
vocal e baixo – Rubens Sabino (Rubão)
bateria – Jorge Gomes
percussão – Djalma Correa
vocal e teclado – Mu
Outras gravações:
“Ana Cañas”, Ana Cañas, Sony Music
“O som do sim”, Celso Fonseca, Natasha
“Doces Bárbaros”, Doces Bárbaros, Biscoito Fino
“Hein?”, Ana Cañas, Sony Music 2010
“Doces bárbaros 1”, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia, Universal Music 2011
“Raridades(1975/1981) caixa Caetano Veloso”, Caetano Veloso-Gal Costa-Gilberto Gil-Maria Bethânia, Universal Music 2006
“A arte de Gilberto Gil”, Doces Barbaros e Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Serie sem limite – cd 1”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“O melhor de …”, Gilberto Gil, Warner Music 1981
“Ao vivo”, Gilberto Gil, Warner Music 1978
“La passion sereine”, Gilberto Gil, Works Editores 2005
“Com doces barbaros”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“Satisfação”, Gilberto Gil e Doces Barbaros, Universal Music 2006
“Outros barbaros”, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Biscoito Fino 2003
De acordo com Gil, a versão para o inglês de Chuck Berry Fields Forever foi feita durante toda uma madrugada. “Trabalho de artesão mesmo”, conta. “Guardião dos significados da canção, eu senti a necessidade de ser fiel em todos os sentidos e de, ao mesmo tempo, ir adiante, acrescendo coisas não constantes na letra em português.”
Um exemplo: na transposição, a deusa européia transa com o deus africano; Gil: “Ela é literalmente comida, num estupro cósmico; ‘while on the ground’ é para dar bem a idéia de que ele a derrubou no chão e… Isso tinha que acontecer, até para reafirmar um arquétipo popular, que identifica a África com o masculino, a força física, a virilidade, a natureza de instinto básico, e a Europa com a racionalidade, a mediação do pensamento, a característica mesmo acética – embora, vistas por outro ângulo, a Europa possa até ser identificada com um sentido mais masculino e a África com um sentido mais feminino”.
Outro: impossibilitado de verter para o inglês o jogo sonoro entre os termos ‘versículo’ e ‘século’, Gil aproveitou os últimos versos para lançar um dado poético novo em relação ao texto de partida: a sugestão do funk como o gênero que, “depois do samba, mambo, rumba e rhythm and blues, e do rock and roll como a primeira página da época pós-calipso, viesse para – mais do que ser o descendente dos ‘begotten suns’ do deus bárbaro com a deusa ‘branca de neve’, pálida e frágil – se tornar a própria alma desse casamento e da música negra moderna”.
“No final, original e versão acabam se espelhando e se complementando.”
História e propaganda – “Chuck Berry Fields Forever dá uma visão dinástica do sincretismo religioso e cultural das Américas resultante da junção das culturas da Europa e da África, utilizando a música popular como fio condutor do processo e como um dos modos de apreendê-lo. As Américas são vistas a partir dos seus ritmos: o samba, brasileiro, o mambo e a rumba, centro-americanos, e o rhythm and blues, norte-americano, tudo isso desembocando no rock and roll, que seria assim a forma mais nova da linhagem e a mais representativa da época. Nesse aspecto, a canção não só faz uma apologia do gênero como uma propaganda da minha adesão a ele, o que só aconteceria de fato nos anos oitenta.”
Isomorfismo som-sentido – Os dez tês (num verso de catorze sílabas) de “Tambor de tinto timbre tanto tonto tom tocou”: ao colocar em prática este procedimento aliterativo a intenção do músico-poeta Gilberto Gil foi mimetizar “o tam-tam-tam dos tambores; a sonoridade inebriante – ‘tinto’ se refere a vinho -, o caratér alucinatório da batida reiterada dos tambores”; representar, em suma, “o transe através do som, como no candomblé.”
[ Chuck Berry Fields Forever, de Gilberto Gil ]