Frevo rasgado
Gilberto Gil
Bruno Ferreira
Foi quando topei com você
Que a coisa virou confusão
No salão
Porque parei, procurei
Não encontrei
Nem mais um sinal de emoção
Em seu olhar
Aí eu me desesperei
E a coisa virou confusão
No salão
Porque lembrei
Do seu sorriso aberto
Que era tão perto, que era tão perto
Em um carnaval que passou
Porque lembrei
Que esse frevo rasgado
Foi naquele tempo passado
O frevo que você gostou
E dançou e pulou
Foi quando topei com você
Que a coisa virou confusão
No salão
Porque parei, procurei
Não encontrei
Nem mais um sinal de emoção
Em seu olhar
A coisa virou confusão
Sem briga, sem nada demais
No salão
Porque a bagunça que eu fiz, machucado
Bagunça que eu fiz tão calado
Foi dentro do meu coração
Porque a bagunça que eu fiz, machucado
Bagunça que eu fiz tão calado
Foi dentro do meu coração
61493724
© Gege Edições Musicais / © Editora Musical Arlequim LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
guitarra, baixo e voz – Dinho Leme
Outras gravações:
“Samba bar”, Visom 2003
“A arte de Gilberto Gil”, Polygram/Fontana 1985
“Bossa sexy de Claudette Soares”, Claudette Soares, Universal Music 2006
“Claudette Soares Gil, Chico e Veloso por Claudete”, Universal Music 2004
“Personalidade – Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Novodisc Mídia Digital
“O bloco da mocidade”, Gilberto Gil 1981
“Suingue nordestino vol. 2”, Polygram Music 2000
“20 obras primas”, Gilberto Gil, Polygram Music 1996
“Personalidade’, Gilberto Gil, Polygram Music 1987
“Millennium”, Gilberto Gil, Universal Music 2004
“Barra 68 – caixa Caetano Veloso”, Gilberto Gil, Universal Music 2006
“Serie sem limite – CD 2 Universal”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“Marilia Medalha”, Marilia Medalha, Universal Music 2007
“Ituaçú – Gilberto Gil Ituaçú “, Orquestra De Sopros Da Pro Arte e Flautistas Da Pro Arte, Geringonça Filmes 2012
“A banda tropicalista do Duprat”, Rogerio Duprat, Universal Music 2002
“Som três show”, Som Três, EMI Music 2003
Coragem pra suportar
Gilberto Gil
Lá no sertão quem tem
Coragem pra suportar
Tem que viver pra ter
Coragem pra suportar
E somente plantar
Coragem pra suportar
E somente colher
Coragem pra suportar
E mesmo quem não tem
Coragem pra suportar
Tem que arranjar também
Coragem pra suportar
Ou então
Vai embora
Vai pra longe
E deixa tudo
Tudo que é nada
Nada pra viver
Nada pra dar
Coragem pra suportar
61493732
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
Outras gravações:
“Roda & outras histórias”, Sérgio Aurélio De Oliveira Muniz 2009
Gilberto Gil, Polygram 1968
Domingou
Gilberto Gil
Torquato Neto
Da janela a cidade se ilumina
Como nunca jamais se iluminou
São três horas da tarde, é domingo
Na cidade, no Cristo Redentor – ê, ê
É domingo no trolley que passa – ê, ê
É domingo na moça e na praça – ê, ê
É domingo, ê, ê, domingou, meu amor
Hoje é dia de feira, é domingo
Quanto custa hoje em dia o feijão
São três horas da tarde, é domingo
Em Ipanema e no meu coração – ê, ê
É domingo no Vietnã – ê, ê
Na Austrália, em Itapuã – ê, ê
É domingo, ê, ê, domingou, meu amor
Quem tiver coração mais aflito
Quem quiser encontrar seu amor
Dê uma volta na praça do Lido
O-skindô, o-skindô, o-skindô-lelê
Quem quiser procurar residência
Quem está noivo e já pensa em casar
Pode olhar o jornal paciência
Tra-lá-lá, tra-lá-lá, ê, ê
O jornal de manhã chega cedo
Mas não traz o que eu quero saber
As notícias que leio conheço
Já sabia antes mesmo de ler – ê, ê
Qual o filme que você quer ver – ê, ê
Que saudade, preciso esquecer – ê, ê
É domingo, ê, ê, domingou, meu amor
Olha a rua, meu bem, meu benzinho
Tanta gente que vai e que vem
São três horas da tarde, é domingo
Vamos dar um passeio também – ê, ê
O bondinho viaja tão lento – ê, ê
Olha o tempo passando, olha o tempo – ê, ê
É domingo, outra vez domingou, meu amor
61493732
© Gege Edições Musicais / © Editora Musical Arlequim LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
guitarra, baixo e voz – Dinho Leme
Outras gravações:
“Gil, Chico e Veloso por Claudette Soares”, Claudette Soares, Universal Music
“Personalidade – Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Novodisc Mídia Digital 2013
“Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“20 grandes sucessos da tropicalia”, Gilberto Gil, Polygram 1999
“1968”, Gilberto Gil, Universal Music 1982
“Gilberto Gil e Claudete Soares”, Polygram 1968
Marginália II
Gilberto Gil
Torquato Neto
Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu pecado
Meu sonho desesperado
Meu bem guardado segredo
Minha aflição
Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu degredo
Pão seco de cada dia
Tropical melancolia
Negra solidão
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui, o Terceiro Mundo
Pede a bênção e vai dormir
Entre cascatas, palmeiras
Araçás e bananeiras
Ao canto da juriti
Aqui, meu pânico e glória
Aqui, meu laço e cadeia
Conheço bem minha história
Começa na lua cheia
E termina antes do fim
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Minha terra tem palmeiras
Onde sopra o vento forte
Da fome, do medo e muito
Principalmente da morte
Olelê, lalá
A bomba explode lá fora
E agora, o que vou temer?
Oh, yes, nós temos banana
Até pra dar e vender
Olelê, lalá
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
61493759
© Gege Edições Musicais / © Corisco (Arlequim)
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
baixo, voz e teclado – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
Outras gravações:
“A arte de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Polygram /Fontana 1985
“Dois amigos, um século de música”, Gilberto Gil, Sony Music 2015
“Gilberto Gil”, Fontana/Polygram 1982
“Personalidade – vol. 2”, Gilberto Gil, Novodisc Mídia Digital Da Amazônia 2013
“Diamante verdadeiro”, Maria Bethania, BMG 1999
“Recital na boite barroco”, Maria Bethania, EMI 2002
“RCA 100 anos de música”, Maria Bethania, BMG 2001
“Moisés Santana”, Lua Discos 2002
Pega a voga, cabeludo
Gilberto Gil
Juan Arcon
Pega a voga, cabeludo
Que eu não sou cascudo
Tenho muito estudo
Pra fazer minha embolada
Cá na batucada não me falta nada
Eu tenho tudo
Tenho uma tinta
Que no dia que não pinta fica feia
Tenho uma barca
Que no dia de fuzarca fica cheia
E a mulata que tem ouro
Que tem prata, que tem tudo
É quem grita: “Pega a voga
Pega a voga, cabeludo!”
61493767
© Gege Edições Musicais / © Warner/Chappell Edições Musicais LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
[ Recolhida por Juan Arcon e adaptada por Gilberto Gil
e Juan Arcon, do folclore amazonense ]
Ele falava nisso todo dia
Gilberto Gil
Alaiá, alaiá, alaiaialeluia
Alaiá, alaiá, alaiaialeluia
Ele falava nisso todo dia
Ele falava nisso todo dia
A herança, a segurança, a garantia
Pra mulher, para a filhinha, pra família
Falava nisso todo dia
Ele falava nisso todo dia
Ele falava nisso todo dia
O seguro da família, o futuro da família
O seguro, o futuro
Falava nisso todo dia
Alaiá, alaiá, alaiaialeluia
Alaiá, alaiá, alaiaialeluia
Ele falava nisso todo dia
A incerteza, a pobreza, a má sorte
Quem sabe lá o que aconteceria?
A mulher, a filhinha, a família desamparada
Retrata a carreira frustrada de um homem de bem
Ele falava nisso todo dia
O seguro de vida, o pecúlio
Era preciso toda a garantia
Se a mulher chora o corpo do marido
O seguro de vida, o pecúlio
Darão a certeza do dever cumprido
Alaiá, alaiá, alaiaialeluia
Alaiá, alaiá, alaiaialeluia
Ele falava nisso todo dia
Ele falava nisso todo dia
Se morresse ainda forte, um bom seguro era uma sorte
pra família
A loteria
Falava nisso todo dia
Era um rapaz de vinte e cinco anos
Era um rapaz de vinte e cinco anos
Hoje ele morreu atropelado em frente à companhia
de seguro
Oh! que futuro!
Oh! Rapaz de vinte e cinco anos
Alaiá, alaiá, alaiaialeluia
Alaiá, alaiá, alaiaialeluia
61493775
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
Outras gravações:
“Retratos”, Maria Bethânia, EMI
“A banda tropicalista do Duprat”, Rogério Duprat, Universal Music
“20 obras primas”, Gilberto Gil, Polygram 1996
“Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“Minha historia”, Gilberto Gil, Polygram 1993
“Gilberto Gil – 2 lados”, Gilberto Gil, Universal Music 1993
“Letra & música”, Lulu Santos, BMG 2005
“Lulu acústico MTV II”, Lulu santos, DGE Entertainment 2010
“Marcelo Costa”, Lulu Santos, Biscoito Fino 2002
“Nova bis”, Maria bethânia, Emi, 2005
“Preferencia nacional”, Maria Bethânia, EMI Music 2005
“Nova Bis”, Maria Bethânia, EMI 2005
“Serie Bis”, Maria Bethânia, EMI Music 2000
“Meus momentos”, Maria Bethânia, EMI Music 2004
“Retratos”, Maria Bethânia, EMI Music 2004
“A banda tropicalista do Duprat”, Rogério Duprat, Universal Music 2004
“Um dia eu li num jornal de São Paulo a notícia de um jovem que tinha se casado, feito seguro de vida e morrido; a família estava reclamando o seguro. Eu tinha 25 anos na época, estava casado, mas não tinha seguro de vida. Fiquei pensando: ‘E se tivessse sido eu?’ Aí eu fiz Ele Falava Nisso Todo Dia, uma música de militância, uma investida contra a busca de toda a segurança burguesa, de todos os anteparos, armaduras e ações contra as intempéries da vida. Estávamos todos investindo contra essas coisas.
“O que a canção condena é o desprezo pela vida nesse cultivo excessivo das formas de proteção, as cercas, do mundo burguês. É incrível como, aos 25 anos, o ‘rapaz’ – que personifica o ideal mediano, de classe média, de homem do mundo na sua versão mais comum – reitera com tanta obsessão esse cultivo; é lamentável a desimportância da vida para alguém tão jovem. E é paradoxalmente trágico que tudo que ele fala, tudo com que sonha, finalmente se realize com a sua morte prematura. Como uma fatalidade apropriada, ‘desejada’, uma auto-imolação para a vitória dos seus princípios: ele falava tanto naquilo que aquilo teve de acontecer para materializar o valor do ideal burguês.
“Em resumo, é a minha posição ideológica que decreta a morte da ideologia dele. Quer dizer, quem o mata sou eu. Na frente da companhia de seguros! Pra esfregar no rosto dele: ‘Tá vendo? Você não queria tanto? Foi morto por isso’.”
*
“Por outro lado, é tão louvável que o homem seja capaz de levar o sentimento básico de proteção à prole, de provisão do futuro dos filhos, àquele paroxismo. Essa música é ingênua por isso (ela ataca mas ao mesmo tempo justifica tanto ter um seguro de vida…): ela tem a ingenuidade do maniqueísmo ideológico típico da época. À leitura dialética, distanciada, a sua retórica não resiste. Hoje, numa situação mais cuidadosa, eu teria elaborado outros versos; já vejo daqui, de lá… No embate ideológico daquele tempo a parcialidade era radical po
Procissão
Gilberto Gil
Edy Star
Olha lá vai passando a procissão
Se arrastando que nem cobra pelo chão
As pessoas que nela vão passando
Acreditam nas coisas lá do céu
As mulheres cantando tiram versos
Os homens escutando tiram o chapéu
Eles vivem penando aqui na terra
Esperando o que Jesus prometeu
E Jesus prometeu vida melhor
Pra quem vive nesse mundo sem amor
Só depois de entregar o corpo ao chão
Só depois de morrer neste sertão
Eu também tô do lado de Jesus
Só que acho que ele se esqueceu
De dizer que na terra a gente tem
De arranjar um jeitinho pra viver
Muita gente se arvora a ser Deus
E promete tanta coisa pro sertão
Que vai dar um vestido pra Maria
E promete um roçado pro João
Entra ano, sai ano, e nada vem
Meu sertão continua ao deus-dará
Mas se existe Jesus no firmamento
Cá na terra isto tem que se acabar
60687215
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
“A locação da música é em Ituaçu, minha cidade, no interior da Bahia, onde nos dias de festa religiosa as procissões passavam e eu, criança, olhava. Uma canção bem ao gosto do CPC, o Centro Popular de Cultura; solidária a uma interpretação marxista da religião, vista como ópio do povo e fator de alienação da realidade, segundo o materialismo dialético. A situação de abandono do homem do campo do Nordeste, a área mais carente do país: eu vinha de lá; logo, tinha um compromisso telúrico com aquilo.”
Luzia Luluza
Gilberto Gil
Passei toda a tarde ensaiando, ensaiando
Essa vontade de ser ator acaba me matando
São quase oito horas da noite, e eu nesse táxi
Que trânsito horrível, meu Deus
E Luzia, e Luzia, e Luzia
Estou tão cansado, mas disse que ia
Luzia Luluza está lá me esperando
Mais duas entradas, uma inteira, uma meia
São quase oito horas, a sala está cheia
Essa sessão das oito vai ficar lotada
Terceira semana em cartaz James Bond
Melhor pra Luzia não fica parada
Quando não vem gente, ela fica abandonada
Naquela cabine do Cine Avenida
Revistas, bordados, um rádio de pilha
Na cela da morte do Cine Avenida, a me esperar
No próximo ano nós vamos casar
No próximo filme nós vamos casar
Luzia, Luluza, eu vou ficar famoso
Vou fazer um filme de ator principal
No filme eu me caso com você, Luluza, no carnaval
Eu desço do táxi, feliz, mascarado
Você me esperando na bilheteria
Sua fantasia é de papel crepom
Eu pego você pelas mãos como um raio
E saio com você descendo a avenida
A avenida é comprida, é comprida, é comprida…
E termina na areia, na beira do mar
E a gente se casa na areia, Luluza
Na beira do mar
Na beira do mar
61493783
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
“Best tropicalia”, Gilberto Gil, Polygram Music 1999
“Essa é uma viagem linda, um delírio, uma fantasia sobre um casal de jovens, ambos pobres, gente comum trazida para o estrelato do romance. Ela tem que trabalhar na bilheteria de um cinema, ele está num curso de teatro. O cinema idealizado por mim fica na avenida São João (em São Paulo); é o Comodoro ou um daqueles. Ela está na cabine. Ele sai de táxi, da Nestor Pestana, onde ensaiava, pra ir vê-la, e pega um engarrafamento ‘brabo’. Essa a visão que eu tinha.
“Naquela cabine, a rotina, o tédio, a falta de sentido de um trabalho escravo num cubículo com um vidrão parecendo uma sala da morte mesmo. Ali ela morria um pouco a cada dia, morriam suas forças, sentada horas e horas dentro de um espaço exíguo, sem movimentos e quase sem ar para respirar. Ali, ela, já meio agoniada porque ele não chega; e no carro, ele, preso no trânsito, agoniado pra chegar porque ela está à espera.
“E ele vem como o libertador para tirá-la daquela prisão; para libertar Luluza, como ele a chamava carinhosamente – e como eu a nomeei para dar sonoridade musical e o sentido de ternura juvenil entre eles. E ele sonha, e chega, e os dois saem correndo pela avenida (e a São João é comprida mesmo, vai lá pra Lapa, por aquele corredor ela vaaaai…).
“E os pensamentos, os discursos pela metade de cada um, as frases soltas que hipoteticamente seriam ditas – ‘Essa sessão das oito vai ficar lotada’ (ela), ‘que trânsito horrível, meu Deus’ (ele) -: a narrativa se dá por fora e por dentro, misturadamente; tanto o narrador como os personagens se manifestam. Um conto.
“O curioso nessas canções minhas com histórias e personagens é que eu não as imagino antes; elas são inventadas na hora. Elas não são construídas como os romances, onde as tramas vão sendo elaboradas antes do ato de escrever. Eu sento para fazê-las e elas vão se engendrando. Elas revelam um traço de escritor que eu poderia ser, se quisesse. Mas sou preguiçoso; prefiro fazer uma canção numa tarde a ficar um tempão num romance.”
Pé da roseira
Gilberto Gil
O pé da roseira murchou
E as flores caíram no chão
Quando ela chorava, eu dizia:
“Tá certo, Maria
Você tem razão”
Quando ela chorava, eu dizia:
“Tá certo, Maria
Você tem razão”
Maria chorava, eu fugia
Sem ter nada mais pra dizer
O amor terminado e Maria
Me via partindo, sem saber por quê
Me via partindo e chorava
Me amava e não podia crer
Que o mundo afinal me levava
E nada lhe dava o jeito de entender
Eu também não compreendia
Porque terminava um amor
Nem mesmo se o amor terminava
Só sei que eu andava
E não sentia dor
Me lembro na porta da casa
Lá dentro Maria chorava
Depois, caminhando sozinho
Lembrei da ciranda que meu pai cantava
Depois, caminhando sozinho
Lembrei da ciranda que meu pai cantava
O pé da roseira murchou
E as flores caíram no chão
Quando ela chorava, eu dizia:
“Tá certo, Maria
Você tem razão”
Quando ela chorava, eu dizia:
“Tá certo, Maria
Você tem razão”
61493791
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
Domingo no parque
Gilberto Gil
O rei da brincadeira – ê, José
O rei da confusão – ê, João
Um trabalhava na feira – ê, José
Outro na construção – ê, João
A semana passada, no fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar
Capoeira
Não foi pra lá pra Ribeira
Foi namorar
O José como sempre no fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio
Foi no parque que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu
Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana, seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé
E o sorvete gelou seu coração
O sorvete e a rosa – ô, José
A rosa e o sorvete – ô, José
Oi, dançando no peito – ô, José
Do José brincalhão – ô, José
O sorvete e a rosa – ô, José
A rosa e o sorvete – ô, José
Oi, girando na mente – ô, José
Do José brincalhão – ô, José
Juliana girando – oi, girando
Oi, na roda gigante – oi, girando
Oi, na roda gigante – oi, girando
O amigo João – João
O sorvete é morango – é vermelho
Oi, girando, e a rosa – é vermelha
Oi, girando, girando – é vermelha
Oi, girando, girando – olha a faca!
Olha o sangue na mão – ê, José
Juliana no chão – ê, José
Outro corpo caído – ê, José
Seu amigo, João – ê, José
Amanhã não tem feira – ê, José
Não tem mais construção – ê, João
Não tem mais brincadeira – ê, José
Não tem mais confusão – ê, João
60171561
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
Outras gravações:
“Cordas vocais”, Andrea Montezuma e Jorjão Carvalho
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison
“Banda de Boca”, Banda de Boca, Atração
“Céu da Boca”, Céu da Boca, Polygram
“Claudya e Zimbo Trio”, Claudya e Zimbo Trio, Movieplay
“Cynara & Cybele”, Cynara & Cybele, CBS
“Atenciosamente”, Duofel, Trama
“Minha voz”, Gal Costa, Philips
“Gaya e Rogério Duprat”, Gaya e Rogério Duprat, Philips
“Nova série”, Golden Boys, Warner Music
“Rastapé”, Rastapé, EMI Music
“Grupo Sensação”, Grupo Sensação, Warner
“Songbook Gilberto Gil”, Hermeto Pascoal e Margareth Menezes, Lumiar Music
“Margareth Menezes”, Margareth Menezes, Natasha
“A arte de Os Mutantes”, Os Mutantes, Universal Music
“Os Solistas”, Os Solistas, Fermata
“Reginaldo Rossi”, Reginaldo Rossi, Chantecler
“Rita Lee ao vivo”, Rita Lee, Biscoito Fino
“A banda tropicalista do Duprat”, Rogério Duprat, Universal Music
“Titulares do Ritmo”, Titulares do Ritmo, RGE
“Juventude 2000”, Wilson das Neves e seu conjunto, EMI Music
“Zimbo Trio”, Zimbo Trio, RGE
Montar algo diferente, partindo de elementos regionais, baianos, para o festival da TV Record: esse era o projeto de Gil ao começar a pensar a canção. “Daí a idéia”, conta ele, “de usar um toque de berimbau, de roda de capoeira, como numa cantiga folclórica. O início da melodia e da letra da música já é tirado desses modos. Com a caracterização do capoeirista e do feirante como personagens, eu já tinha os elementos nítidos para começar a criação da história.”
*
“Algumas pessoas pensam que rima é só ornamento, mas a rima descortina paisagens e universos incríveis; de repente, você se depara no lugar mais absurdo. Eu, que a procuro primeiro na cabeça, no alfabeto interno – mas também vou ao dicionário -, vejo três fatores simultâneos determinantes para a escolha da rima: além do som, o sentido e o necessário deslocamento.
“Em Domingo no Parque, pra rimar com ‘sumiu’, eu cheguei à Boca do Rio (bairro de Salvador). E quando eu pensei na Boca do Rio, me veio um parque de diversões que eu tinha visto, não sei quantos anos antes, instalado lá, e que, desde então, identificava a Boca do Rio pra mim: desde aquele dia, a lembrança do lugar vinha sempre junto com a roda gigante que eu tinha visto lá. Aí eu quis usar o termo e anotei, lateralmente, no papel: ‘roda gigante’. Ela ia ter que vir pra história de alguma maneira, em instantes.
“Era preciso também fazer o João e o José se encontrarem. O João não tinha
Barca grande
Gilberto Gil
Eu vim aqui pra te ver
Como te vi, vou-me embora
Eu vim aqui pra te ver
Como te vi, vou-me embora
Trabalho na barca grande
Só chego fora de hora
Trabalho na barca grande
Só chego fora de hora
Hoje eu cheguei atrasado
Na barca pra trabalhar
Essa noite eu fui com Rosa
No Recife passear
Rosa nunca tinha ido
No Recife passear
Aproveitei que era noite
Pra Rosa poder gostar
Rosa é minha namorada
Mora com o pai pescador
Pescador de caranguejo
Pai de Rosa, minha flor
Minha flor nasceu no mangue
Nunca pode passear
Nunca pode ver Recife
A cidade, seu sonhar
Eu que já saí do mangue
Já consegui trabalhar
Na barca do Beberibe
Quero Rosa pra casar
Já posso ter um dinheiro
Pra Rosa se divertir
Essa noite eu levei Rosa
Pra Rosa poder sorrir
Hoje à noite eu vou ver Rosa
Ela vai sorrir contente
Recife, seu sonho morto
Ficou vivo de repente
Eu que sou louco por ela
Vou fazer Rosa cantar
Vou também cantar pra ela
Essa ciranda, essa ciranda
Eu vim aqui pra te ver
Como te vi, vou-me embora
Eu vim aqui pra te ver
Como te vi, vou-me embora
Trabalho na barca grande
Só chego fora de hora
Trabalho na barca grande
Só chego fora de hora
68528970
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
Outras gravações:
“Gilberto Gil “, Gilberto Gil, Polygram 1968
“Tropicália- millennium”, Gilberto Gil, Universal Music 2004
A coisa mais linda que existe
Gilberto Gil
Torquato Neto
Coisa mais linda nesse mundo
É sair por um segundo
E te encontrar por aí
E ficar sem compromisso
Pra fazer festa ou comício
Com você perto de mim
Na cidade em que me perco
Na praça em que me resolvo
Na noite da noite escura
É lindo ter junto ao corpo
Ternura de um corpo manso
Na noite da noite escura
A coisa mais linda que existe
É ter você perto de mim
O apartamento, o jornal
O pensamento, a navalha
A sorte que o vento espalha
Essa alegria, o perigo
Eu quero tudo contigo
Com você perto de mim
68528981
© Gege Edições Musicais / © Warner/Chappell Edições Musicais LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
guitarra, baixo e voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
Outras gravações:
“Colecionave Torquato Neto”, Gal Costa, Dubas Discos 2001
“Moises Santana”, Moises Santana, Lua Music 2008
“Gal Costa”, Gal Costa 2014
“Gilberto Gil 1968 com os mutantes”, Gilberto Gil 1968
Questão de ordem
Gilberto Gil
Você vai, eu fico
Você fica, eu vou
Daqui por diante
Fica decidido
Quem ficar, vigia
Quem sair, demora
Quem sair, demora
Quanto for preciso
Em nome do amor
Você vai, eu fico
Você fica, eu vou
Se eu ficar em casa
Fico preparando
Palavras de ordem
Para os companheiros
Que esperam nas ruas
Pelo mundo inteiro
Em nome do amor
Você vai, eu fico
Você fica, eu vou
Por uma questão de ordem
Por uma questão de desordem
Se eu sair, demoro
Não mais que o bastante
Pra falar com todos
Pra deixar as ordens
Pra deixar as ordens
Que eu sou comandante
Em nome do amor
Você vai, eu fico
Você fica, eu vou
Os que estão comigo
Muitos são distantes
Se eu sair agora
Pode haver demora
Demora tão grande
Que eu nunca mais volte
Em nome do amor
60340495
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
A luta contra a lata ou a falência do café
Gilberto Gil
Alô, mulatas! Alô, alô, mulatas!
O barulho que vocês estão ouvindo é um barulho de latas!
De latas! Eu disse: “Latas! Latas!”
O exército de latas mil do inimigo
Tomou de assalto as prateleiras e os balcões
Em nome das plebéias chaminés plantadas
Em nossos quintais
Palavras proferidas por um velho dono
De terras roxas de uma vasta região
Em nome das grã-finas tradições plantadas
Em seu coração
(Café! Café! Café! Café!)
Chaminés plantadas nos quintais do mundo
As latas tomam conta dos balcões
Navios de café calafetados
Já não passeiam portos por ai
Rasgados velhos sacos de aninhagem
A grã-finagem limpa seus brasões
Protege com seus sacos de aninhagem
Velha linhagem de quatrocentões
Os sacos de aninhagem já não dão
A queima das fazendas também não
As latas tomam conta do balcão
Vivemos dias de rebelião
Enlate o seu café queimado
Enlate o seu café solúvel
Enlate o seu café soçaite
Enlate os restos do barão
A lata luta com mais forças
Adeus, elite do café
Enlate o seu café solúvel
Enquanto dá pé
68528993
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
voz – Rita Lee
guitarra, baixo e voz – Sérgio Dias
baixo, voz e teclado – Arnaldo Baptista
bateria – Dinho Leme
Outras gravações:
“Tropicália- millennium”, Gilberto Gil com Os Mutantes, Universal 1998
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