Luar (A Gente Precisa Ver o Luar)
Gilberto Gil
O luar
Do luar não há mais nada a dizer
A não ser
Que a gente precisa ver o luar
Que a gente precisa ver para crer
Diz o dito popular
Uma vez que é feito só para ser visto
Se a gente não vê, não há
Se a noite inventa a escuridão
A luz inventa o luar
O olho da vida inventa a visão
Doce clarão sobre o mar
Já que existe lua
Vai-se para rua ver
Crer e testemunhar
O luar
Do luar só interessa saber
Onde está
Que a gente precisa ver o luar
BRWMB9701920
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão Ovation – Gilberto Gil
guitarra – Liminha
bateria – Jorginho Gomes
baixo – Jamil Joanes
piano Yamaha – Robson Jorge
Outras gravações:
“A musica de Gilberto Gil”, TCPA/TOP 2007
“Maxximum”, Gilberto Gil, Sony 2005
“Seven music”, Andre Agra 2000
“Banda larga ao vivo em São Paulo”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2008
“Luar”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“Lugar comum”, Gilberto Gil, Warner Music 1981
“Re”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“Nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“A gente precisa ver o luar”, Gilberto Gil, Gilberto Gil 1990
“Baila com vinhas”, Luiz Carlos Vinhas, Polygram 1982
“Antecipado”, Monica Araujo 1996
“Lua branca”, Monica Araujo, Paradoxx 1997
“Projeto esp.radio musical FM/SP, Warner Music 1995
“Súditos do reggae”, Zan Brasidisc 2003
Palco
Gilberto Gil
Subo nesse palco
Minha alma cheira a talco
Como bumbum de bebê
De bebê
Minha aura clara
Só quem é clarividente pode ver
Pode ver
Trago a minha banda
Só quem sabe onde é Luanda
Saberá lhe dar valor
Dar valor
Vale quanto pesa
Pra quem preza o louco bumbum do tambor
Do tambor
Fogo eterno pra afugentar
O inferno pra outro lugar
Fogo eterno pra consumir
O inferno fora daqui
Venho para a festa
Sei que muitos têm na testa
O deus Sol como um sinal
Um sinal
Eu, como devoto
Trago um cesto de alegrias de quintal
De quintal
Há também um cântaro
Quem manda é a deusa Música
Pedindo pra deixar
Pra deixar
Derramar o bálsamo
Fazer o canto cântaro cantar
Lalaiá
Fogo eterno pra afugentar
O inferno pra outro lugar
Fogo eterno pra consumir
O inferno fora daqui
BRWMB9701926
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão Ovation – Gilberto Gil
guitarra – Perinho Santana
guitarra – Liminha
trombone – Serginho Trombone
sax-tenor – Zé Carlos
bateria e percussão – Jorginho Gomes
percussão – Charles Negrita
guitarra – Robson Jorge
piano Yamaha – Robson Jorge
sax-alto – Oberdan
vocal – Pi, Ronaldo Barcelos, Rosana e Lucia Turnbull
“Eu estava havia três dias pensando em parar de cantar; em deixar a seqüência profissional de discos e shows. Estava prestes a tomar essa decisão – e avisar todo mundo -, mas não por uma razão que tivesse a ver com cantar, que é a coisa que mais me encanta na vida. Minha sensação era de fastio; eu queria era um elemento que me trouxesse um novo ânimo. ‘Se eu vou parar mesmo’, pensei, ‘eu tenho que fazer uma declaração pública, e essa declaração tem de ser musical.’ Aí eu fiz Palco, uma canção que era na verdade pra não deixar dúvida a respeito de tudo o que cantar representa para mim, e a respeito da minha relação com a música – simbolizada de forma completa pelo estar no palco.”
De que fala Palco (“o primeiro afoxé forte”) – “De um espaço semi-sagrado; da sua função exorcizante, catártica, clínica – daí o refrão (na hora em que compus, eu me lembrava muito do pouco que sabia sobre as tragédias gregas, o palco grego, Dionísios).
“De um sacerdócio; da capacidade de administrar um ritual – o da música em funcionamento, cumprindo seus ditames; de como eu me vejo nesse papel, como eu fantasio a minha visão e como eu vejo essas fantasias do meu próprio olhar.
“Do aspecto transmutador da música para mim no palco: de como estar ali faz provavelmente desaparecer uma opacidade natural do caráter bruto das coisas comuns sem sabores especiais do cotidiano, e como o haver ali sabores especiais em tudo me dá um aspecto de transfiguração – daí a idéia de que ali se propicia que alguém veja minha aura.”
Compor e cantar – “Duas dimensões e dois retornos diferentes à alma. Compor é motivo de extraordinário, transcendental orgulho pela vida, o de fazer parte do universo da criação; cantar é motivo de vaidade. É muito envaidecedor estar num palco e produzir prazer instantaneamente para todos – uma afirmação anímica de vida da música através das energias dos corpos humanos ao vivo. No palco, além de diversão, a sensação é de doação, de benfeitoria do homem para o homem. Já o momento da composição é solitário, individual, e, ao se esgotar, daí por diante é como se a música partisse para o mundo, como um filho. Cantar é reabraçar os filhos, reuni-los de novo ao seu corpo, fazê-los parte do seu corpo.”
“Cântaro = cantar o” – “Quando eu digo ‘cantar o’, eu digo de novo ‘cântaro’. Mais do que rima, é recomposição: a palavra ‘cântaro’ é reconstituída, como se tivessem embutido ali o cântaro. Muitas pessoas não devem nem perceber o ‘cantar o’; na audição deve prevalecer ‘cântaro’ mesmo.”
Sonho Molhado
Gilberto Gil
Faz muito tempo que eu não tomo chuva
Faz muito tempo que eu não sei o que é me deixar molhar
Bem molhadinho, molhadinho de chuva
Faz muito tempo que eu não sei o que é pegar um toró
De tá na chuva quando a chuva cair
De não correr pra me abrigar, me cobrir
De ser assim uma limpeza total
De tá na rua e ser um banho
Na rua
Um banho
De ser igual quando a gente vai dormir
Que a gente sente alguém acariciar
Depois que passa o furacão de prazer
Ficar molhado e ser um sonho
Molhado
Um sonho
Eu vou dormir (enxutinho)
E acordo molhadinho de chuva
BRWMB9901128
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão Ovation – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
guitarra – Perinho Santana
trombone – Serginho Trombone
trompete – Bidinho
sax-tenor – Zé Carlos
sax barítono – Leo Gandelman
bateria e percussão – Jorginho Gomes
percussão – Charles Negrita
baixo – Jamil Joanes
piano Yamaha – Lincoln Olivetti
obenheim – Robson Jorge
sax-alto – Oberdan
vocal – Pi, Ronaldo Barcelos, Rosana e Lucia Turnbull
trompete – Barrozinho
zabumba – Borel
Lente do Amor
Gilberto Gil
Pela lente do amor
Uma grande angular
Vejo ao lado, acima e atrás
Pela lente do amor
Sou capaz de enxergar
Toda moça em todo rapaz
Pela lente do amor
Vejo tudo crescer
Vejo a vida mil vezes melhor
Pela lente do amor
Até vejo você
Numa estrela da Ursa Maior
Abrir o ângulo, fechar o foco sobre a vida
Transcender, pela lente do amor
Sair do cético, encontrar um beco sem saída
Transcender, pela lente do amor
Do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
Sou capaz de entender
Os detalhes da alma de alguém
Pela lente do amor
Vejo a flor me dizer
Que ainda posso enxergar mais além
Pela lente do amor
Vejo a cor do prazer
Vejo a dor com a cara que tem
Pela lente do amor
Vejo o barco correr
Pelas águas do mal e do bem
Mostrar ao médico, encarar, curar sua ferida
Transcender, pela lente do amor
Cantar o mântrico, pagar o cármico na lida
Transcender, pela lente do amor
Do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
BRWMB9701580
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão Ovation – Gilberto Gil
guitarra – Perinho Santana
euphonium – Serginho Trombone
trompete – Bidinho
flugelhorn – Bidinho
flauta – Zé Carlos
sax-tenor – Zé Carlos
bateria e percussão – Jorginho Gomes
baixo – Jamil Joanes
obenheim – Lincoln Olivetti
piano Rhodes – Lincoln Olivetti
piano Yamaha – Robson Jorge
flauta – Oberdan
sax-alto – Oberdan
vocal – Pi, Ronaldo Barcelos, Rosana e Lucia Turnbull
trompete – Barrozinho
flugelhorn – Barrozinho
percussão – Charles Negrita e Miguel Cidrás
Morena
Gilberto Gil
Cassiano
Morena
Morena
Mundo menino pequenino
Não tem cabeça pra pensar
Leva qualquer proposta a perder
Ah, morena, se o mundo cresce, tudo ok, morena
Cresce a esperança, sobe a maré
BRWMB9901129
© Gege Edições Musicais / © Warner/Chappell Edições Musicais LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão Ovation – Gilberto Gil
guitarra – Perinho Santana
Violão Di Giorgio – Ricardo Silveira
bateria e percussão – Jorginho Gomes
baixo – Jamil Joanes
Rhodes e sintetizador Yamaha – Lincoln Olivetti
teclados, baixo sintetizador e Oberheim – Robson Jorge
vocal – Pi, Ronaldo Barcelos, Rosana e Lucia Turnbull
Outras gravações:
“Luar”, Gilberto Gil, Warner Music 1981
Cara a Cara
Caetano Veloso
Nas suas andanças
Danças, danças, danças, danças, danças
Na multidão
Veja se de vez em quando encontra
Contra, contra, contra
Os pedaços do meu coração
Tira essa máscara
Cara a cara, cara a cara, cara a cara
Quero ver você
No trio elétrico rico
Rico, rico, rico, rico, rico desendoidecer
De alegria, ria, ria, ria, ria
Que a luz se irradia dia, dia, dia, dia
Dia de sol na Bahia
BRWMB9901130
© Warner/Chappell Edições Musicais LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e guitarra – Gilberto Gil
guitarra – Perinho Santana
trombone – Serginho Trombone
trompete – Bidinho
sax-tenor – Zé Carlos
sax barítono – Leo Gandelman
bateria e percussão – Jorginho Gomes
baixo – Jamil Joanes
Rhodes e sintetizador Yamaha – Lincoln Olivetti
piano Yamaha – Robson Jorge
sax-alto – Oberdan
vocal – Pi, Ronaldo Barcelos, Rosana e Lucia Turnbull
trompete – Barrozinho
palmas – Gil, Milton Cobrinha, Jorginho Gomes
palmas – Daniel Rodrigues, Charles Negrita e Djalma Correa
Cores Vivas
Gilberto Gil
Tomar pé
Na maré desse verão
Esperar
Pelo entardecer
Mergulhar
Na profunda sensação
De gozar
Desse bom viver
Bom viver
Graças ao calor do sol
Benfeitor
Dessa região
Natural
Da jangada, do coqueiral
Do pescador
De cor azul
Bela visão
Cartão postal
Sabor do mel, vigor do sal
Cores da pena de pavão
Cenas de uma vibração total
Cores vivas
Eu penso em nós
Pobres mortais
Quantos verões
Verão nossos
Olhares fãs
Fãs desses céus
Tão azuis
BRWMB9701933
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão Ovation – Gilberto Gil
guitarra de 12 cordas – Liminha
bateria e percussão – Jorginho Gomes
percussão – Charles Negrita
baixo – Jamil Joanes
Rhodes – Lincoln Olivetti
piano Yamaha – Robson Jorge
vocal – Jane Duboc, Claudia Telles, Sonia Burnier
vocal – Lucia Turnbull
Outras gravações:
“Movimento, luz e cor”, Elisa Queiroga
“Projeto especia lradio Musical”, FM/SP 1995
“Elisa Queiroga”, Movimento, luz e cor, AQB Music 2003
“Colar de pérolas”, Emerson Uray, José Emerson Oliveira Silva 2008
“Grandes mestres da MPB – vol 2”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Em concerto”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Luar”, Gilberto Gil, Warner Music
“Mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1992
“Les indispensables de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Warner Music 1989
“Lua brasileira”, Grupo Nimphas, Gramophone 1995
“O poeta e o esfomeado”, Jorge Mautner e Gilberto Gil, Discobertas 2014
“Cores vivas”, Vanessa Moreno e Fi Maróstica, Tratore Distribuição 2015
Axé Babá
Gilberto Gil
Meu pai Oxalá
Dá-nos a luz do teu dia
De noite a estrela-guia
Da tua paz
Dentro de nós
Meu pai Oxalá
Dá-nos a felicidade
O pão da vitalidade
Do teu axé
Do teu amor
Do teu axé
Do teu amor
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Axé, babá
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Axé, babá
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Axé, babá
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
BRWMB9901131
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão Ovation – Gilberto Gil
agogô – Gilberto Gil
palmas – Gilberto Gil
guitarra – Perinho Santana
tambor “Dono da Casa”, atabaque e palmas – Djalma Correa
ovation 12 cordas – Ricardo Silveira
acordeom – Zé Américo
bateria e percussão – Jorginho Gomes
palmas – Jorginho Gomes
percussão – Charles Negrita
palmas – Charles Negrita
baixo – Jamil Joanes
Rhodes – Lincoln Olivetti
piano Yamaha – Robson Jorge
vocal – Loma, Neila e Nádia
guitarra com sintetizador – Joca
Outras gravações:
“Carnaval Acústico”, Alexandre Leão
“Luar”, Gilberto Gil, Warner Music
“Sol”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“Les indispensables de Gilberto Gil’, Gilberto Gil, WEA/Alemanha 1989
Flora
Gilberto Gil
Imagino-te já idosa
Frondosa toda a folhagem
Multiplicada a ramagem
De agora
Tendo tudo transcorrido
Flores e frutos da imagem
Com que faço essa viagem
Pelo reino do teu nome
Ó, Flora
Imagino-te jaqueira
Postada à beira da estrada
Velha, forte, farta, bela
Senhora
Pelo chão, muitos caroços
Como que restos dos nossos
Próprios sonhos devorados
Pelo pássaro da aurora
Ó, Flora
Imagino-te futura
Ainda mais linda, madura
Pura no sabor de amor e
De amora
Toda aquela luz acesa
Na doçura e na beleza
Terei sono, com certeza
Debaixo da tua sombra
Ó, Flora
BRWMB9701922
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz – Gilberto Gil
Violão Di Giorgio – Gilberto Gil
obenheim – Lincoln Olivetti
mini-moog – Lincoln Olivetti
Outras gravações:
“Música a capela” BR6, Biscoito Fino
“Trem azul”, Elis Regina, Som Livre
“Projeto especial radio musical FM/SP”, Warner Music 1995
“Música a capela”, Biscoito Fino 2004
“MPB compositores – Gilberto Gil vol. 8”, Elis Regina 2000
“Grandes compositores”, Elis Regina, Som Livre
“Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2009
“Caixa a conspiração de Gilberto Gil – CD Bandadois”, Gilberto Gil 2010
“Perfil”, Gilberto Gil 2010
“Grandes mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Luar”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Gil grandes mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Ao vivo em Toquio”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“Vida”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“Projeto especial Natura”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“The very best of Gilberto Gil the soul Brazil”, Gilberto Gil, Warner Music 2005
“Le trouadour du Brésil”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“Healing select bossa nova”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“Les indispensables de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Warner Music 1989
“Ao vivo em Toquio”, Gilberto Gil & Banda Um, Warner Music 1994
“WR discos”, Mario Ulloa 1998
“Amor até o fim”, Gilberto Gil, Alma Brasileira Produções E Edições 2016
Para Gil, seria difícil não aproveitar a sugestão poética de um nome tão bonitol não aproveitar a sugestão poética de um nome tão bonito “para expressar todo um afeto a partir de uma ‘viagem pelo reino do seu nome’. Eu não resisti. Assim, os elementos e as imagens da canção são todos extraídos do reino vegetal. Flora é como se eu penetrasse no bosque para encontrar a fada.”
Das relações entre música e números e do gosto pela composição dividida em três partes, com sua justificativa – “Fiz as duas primeiras partes [cada parte dividida, na transcrição, em duas estrofes] num dia e, insatisfeito com isso, fiz no outro a terceira, que me satisfaz menos. Aquelas são muito profundas, densas, e a última mais diluída, ornamental – ficou como se fosse de presente pra ela, Flora. Ainda assim achei melhor mantê-la, pela minha mania do três; pela idéia de síntese que o número três dá. Às vezes duas partes são suficientes, mas em geral eu prefiro colocar mais uma, para promover dois deslocamentos semânticos entre as unidades – um, da primeira para a segunda, e outro, da segunda para a terceira. Quer dizer: três (partes) pra dois (movimentos).”
Música-anzol – “Era o verão de 79. Ela estava passando férias em Salvador. Eu a tinha conhecido um mês antes, e nós ainda não namorávamos. Telefonei para um amigo comum. ‘Diga que eu quero vê-la, que vou estar no Teatro Vila Velha entre quatro e seis da tarde. Tenho uma coisa pra mostrar a ela.’ Quando ela chegou, eu cantei a música.
“Flora foi portanto uma cantada literal. Cantei Flora na canção e com a canção. É minha única canção-cantada; que bom que tenha ficado suficiente em beleza e elegância. A alma exigia capricho: o sentimento era intenso, e o desejo, de uma relação durável. O que eu cantava não era só uma pessoa, mas toda uma vida com ela. Na letra eu já a imagino ‘idosa’, ‘bela senhora’, ‘futura’. Elis é que me disse: ‘Nunca uma mulher teve de um homem uma música dessa!’ Uma música em que já se-lhe-oferecia a conformidade a estados que iriam aparecer na sucessão de eventos no tempo.
“A canção teve pra mim, como talvez pra ela, o caráter da irrecusabilidade da proposta. Flora foi além das intenções nela contidas; acabou tendo uma função. A cantada funcionou. É bom que a música e a poesia também tenham essa utilidade. Um modo sutil de ser útil. Uma sutil utilidade; uma ‘sutilidade’…”
Um não-sei-o-que-é – “Há algumas canções na minha obra que me dão a sensação de um deslocamento para um outro plano, onde a poesia tem os seus elfos, as suas ninfas… Flora é uma delas. Ali parece que o ser da paixão se desloca também, usando a canção como se fora instrumento, escrava dele; que o conjunto da habilidade e do talento do indivíduo, eu, estiveram a serviço de uma encomenda feita por uma outra coisa, um ser, em destaque.
“Minha sensação é de que essas músicas (Metáfora é outra; Dada, também) respondem a uma questão que não era minha enquanto artista; em princípio, é como se eu não as tivesse feito. É como se, de repente, através delas eu pudesse ter acesso a uma leve presença de um ser poético que fosse um espírito, um ser da categoria dos transmateriais, para o qual o criador homem fosse cego: o ser das coisas, o ser eterno.
“Eu mesmo não o enxergo e tenho uma grande dificuldade com a apreensão do significado de expressões tais como ‘o espírito do poeta’, ‘o espírito das coisas’; às vezes eu chego perto de alcançá-lo, outras, ele me foge. Parece algo ao mesmo tempo palpável e fugidio; é um negar-se ao afirmar-se, um afirmar-se ao negar-se; é uma coisa… eu não sei realmente o que é…”
– É um não-sei-o-que-é!
Gil: “Um não-sei-o-que-é! Bravo! É esse tipo de natureza que eu atribuo ao tal ser de que falo.”
Se Eu Quiser Falar Com Deus
Gilberto Gil
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar
BRWMB9701575
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e guitarra – Gilberto Gil
guitarra – Perinho Santana
trombone – Serginho Trombone
sax barítono – Leo Gandelman
bateria e percussão – Jorginho Gomes
pandeiro – Charles Negrita
baixo – Jamil Joanes
piano Yamaha – Lincoln Olivetti
obenheim – Robson Jorge
solo de sax – Oberdan
vocal – Jane Duboc, Claudia Telles, Sonia Burnier
vocal – Lucia Turnbull
violino – Aizick, Walter Hack, Virgilio Arraes F.
violino – Robert Eduard, Paschoal Perrota, José Alves
violino – Jorge Faini, João Daltro de Almeida
violino – Giancarlo Pareschi, Carlos Edurado Hack
violas – Arlindo Penteado, André Gheta, Frederick Stephany
violas – Hinderburgo Pereira e Nelson de Macedo
violoncelo – Alceu de Almeida Reis, Jaques Morelenbaum
violoncelo – Jorge Ranesvsky e Marcio Millard
violino – Alfredo Vidal
” ‘O Roberto me pediu uma canção; do que eu vou falar? Ele é tão religioso – e se eu quiser falar de Deus? E se eu quiser falar de falar com Deus?’ Com esses pensamentos e inquirições feitas durante uma sesta, dei início a uma exaustiva enumeração: ‘Se eu quiser falar com Deus, tenho que isso, que aquilo, que aquilo outro’. E saí. À noite voltei e organizei as frases em três estrofes.
“O que chegou a mim como tendo sido a reação dele, Roberto Carlos, foi que ele disse que aquela não era a idéia de Deus que ele tem. ‘O Deus desconhecido’. Ali, a configuração não é a de um Deus nítido, com um perfil claro, definido. A canção (mais filosofal, nesse sentido, do que religiosa) não é necessariamente sobre um Deus, mas sobre a realidade última; o vazio de Deus: o vazio-Deus.”
*
Esse nada-Deus – Num dos encontros com Gil para as entrevistas que resultariam nas edições de seus comentários aqui apresentadas, o coordenador deste livro lhe entregou, a pedido do editor, Luis Schwarcz, um exemplar de um livro chamado Uma História de Deus, escrito pela norte-americana Karen Armstrong. Na mesma noite Gil começou a lê-lo, e na tarde seguinte leu para este interlocutor uma longa passagem do mesmo que ele relacionou com o tema de Se Eu Quiser Falar com Deus, que, por coincidência, tinha sido objeto das conversas no dia anterior.
Parte do trecho dizia: “Sem dúvida, (Deus) parece estar desaparecendo da vida de um número crescente de pessoas, sobretudo na Europa Ocidental. Elas falam de um buraco em forma de Deus em suas consciências, onde antes Ele estava: onde antes havia Deus, hoje há um buraco em forma de Deus.” Segundo o compositor, essas observações da autora imediatamente o fizeram pensar em Se Eu Quiser Falar com Deus. “Alguma coisa desse Deus-buraco parece estar contida na letra da canção”, disse, querendo se referir especialmente ao trecho final da letra.
*
O pós possível – “A criação do efeito veio por impulso, instintivamente: a sequência de ‘nadas’ (treze no total) insinuando sucessivas camadas de buraco, criando a expectativa de algo e culminando com uma luz no fim (do túnel, da estrada, da vida), quer dizer, deixando entrever, embutida na morte, a possibilidade de realização de uma existência num plano diferente de tudo que se possa imaginar, mas que de qualquer maneira se imagina existir; a possibilidade de transmutação – com o desaparecimento do corpo físico, da entidade psíquica que chamamos de alma, inconsciente, eu – para outra coisa, outra forma de consciência de todo modo imprevisível, se não for mesmo nada.”
Marcha da Tietagem
Gilberto Gil
Você sabe o que é tiete?
Tiete é uma espécie de admirador
Atrás de um bocadinho só do seu amor
Afins de estar pertinho, afins do seu calor
Hoje eu sou o seu tiete
Às suas ordens, ao seu inteiro dispor
De imediato aonde você for eu vou
No ato, no ato
Pro mato, pro motel, de moto ou de metrô
Tititititi
Como é bom tietar
Seu amor inatingível
Tititititi
E se você deixar
Eu farei todo o possível
Pra alcançar o nível do seu paladar
BRWMB9901424
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
participação especial – As Fréneticas e Gilberto Gil
Outras gravações:
“Armandinho, Dodô & Osmar – Ao Vivo”, Terra Do Som Produções Artísticas 2014
“Carla Visita Gilberto Gil (só chamei porque te amo), MZA/Universal Music 2001
“Coro Dos Tietes” 1997
“Super 3 – três vezes mais música”, Frenéticas, Warner Music 2008
“E- collection”, Gilberto Gil, Warner Music 2000
“Luar”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Trio elétrico Armandinho, Dodô & Osmar”, Warner Music 2001
“Vassourinha elétrica”, Trio elétrico Armandinho, Dodô & Osmar, Warner Music 2011
“Box 40 anos”, Gilberto Gil, Trio eletrico De Dodo & Osmar (participação Gilberto Gil E As Frenéticas), Warner Music 2015
Corações a Mil
Gilberto Gil
Minhas ambições são dez
Dez corações de uma vez
Pra eu poder me apaixonar
Dez vezes a cada dia
Setenta a cada semana
Trezentas a cada mês
Isso, sem considerar
A provável rebeldia
De um desses corações gamar
Muitas vezes num só dia
Ou todos eles de uma vez
Todos dez
Desatarem a registrar
Toda gente fina
Toda perna grossa
Todo gato, toda gata
Toda coisa linda que passar
Meus dez mil corações a mil
Nem todo o Brasil vai dar
BRWMB0201330
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
violão Ovation – Gilberto Gil
guitarra – Perinho Santana
percussão – Djalma Correa
ovation 12 cordas – Ricardo Silveira
bateria e percussão – Jorginho Gomes
percussão – Charles Negrita
baixo – Jamil Joanes
obenheim – Robson Jorge
vocal – Loma, Neila e Nádia
Rhodes – Lincoln Cheib
Outras gravações:
“Fernanda Porto ao vivo”, Fernanda Porto, EMI Music
“Pessoa”, Marina Lima, Universal Music
“Fernanda porto”, Emi Music 2006
“Luar – a gente precisa ver o luar”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“It ‘s good to be alive-anos 80”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Obras”, Marina Lima, Polygram Music 1996
“Projeto especial Caralogo Hermes”, Marina, Polygram 1998
“Trilha sonora da novela Baila Comigo”, Marina, Sigla 2000
“Olhos felizes”, Marina, Universal Music 2003
“Eu te amo você”, Marina Lima, Universal Music 2004
“A arte de Marina Lima”, Marina Lima, Universal Music 2004
“A música de Gilberto Gil”, Marina Lima, Universal Muisc 2003
“Millennium”, Marina Lima, Universal Music 2004
“A arte de Marina Lima”, Marina Lima, Universal Music 2005
“Serie sem limite cd 1”, Marina Lima, Universal Music 2001
“Cantora”, Marina Lima, Universal Music 2009
“Marina Lima “pessoa””, Marina Lima, Universal Music 2009
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