Gilberto Gil em concerto
(1987)1. Eu vim da Bahia (03:56)
Eu vim da Bahia
Gilberto Gil
Eu vim
Eu vim da Bahia cantar
Eu vim da Bahia contar
Tanta coisa bonita que tem
Na Bahia, que é meu lugar
Tem meu chão, tem meu céu, tem meu mar
A Bahia que vive pra dizer
Como é que se faz pra viver
Onde a gente não tem pra comer
Mas de fome não morre
Porque na Bahia tem mãe Iemanjá
De outro lado, o Senhor do Bonfim
Que ajuda o baiano a viver
Pra cantar, pra sambar pra valer
Pra morrer de alegria
Na festa de rua, no samba de roda
Na noite de lua, no canto do mar
Eu vim da Bahia
Mas eu volto pra lá
Eu vim da Bahia
Mas algum dia eu volto pra lá
BRWMB9800345
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Baden Powell”, Baden Powell, Universal Music
“Maria da Graça”, Gal Costa, RCA
“Songbook Gilberto Gil”, Leila Pinheiro e Oscar Castro Neves, Lumiar
“Quarteto em CY”, Quarteto em CY, Polygram
“O teatro do baile”, Alexandre Leão, Alexandre Menezes Leão Me 2014
“A selection from the festical years 1970-1977 CD 2”, Baden Powell, Universal Music 2007
“Dois amigos, um século de música” Caetano Veloso & Gilberto Gil”, Sony Music 2015
“Cama de voz convida”, Cama De Voz convida, Adslan Corrêa De Souza 2011
“Cenas brasileiras”, Celso Moreira, Celso Albeniz Ferreira Moreira 2011
“Elis Regina no fino da bossa vol. 2”, Elis Regina e Gilberto Gil, Veleiro 2003
“Nosso samba – vol. 1”, Gal Costa, BMG 2002
“Eu vim da Bahia”, Gal Costa, BMG 2002
“Gil na delas”, Gal Costa, BMG 2005
“Ensaio”, Gal Costa, Trama
“Em concerto”, Gilberto Gil, Geleia Geral 1987
“O compositor e o interprete”, Gilberto Gil, Philips 1981
“Gilbertos samba”, Gilberto Gil, Polysom Comércio 2014
“Concerto de cordas e máquinas de ritmo”, Gilberto Gil, Biscoito Fino 2012
“Gilbertos samba ao vivo”, Gilberto Gil, Sony Music 2014
“Grandes mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“Chill Brazil”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Healing select bossa nova”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“La passion sereine”, Gilberto Gil, Works Editores 2005
“Historia do samba – cd 29”, Editora Globo 2001
“Saudade do futuro”, Jaques Morelenbaum, Biscoito Fino 2014
“João Gilberto/99”, João Gilberto, Universal Music 1999
“20 grandes sucessos de João Gilberto”, João Gilberto, Polygram Music 1998
“Songbook Gilberto gil 3”, Leila Pinheiro e Oscar Castro Neves, Lumiar Discos 2015
“Duos III”, Luciana Souza e Marco Pereira, Universal Music 2012
“Para Gil e Caetano”, Margareth Menezes, Canal Brazil S/A 2014
“Beijo de amor”, Maria Farinha, Maria Fatima Jannuzzi De o. Farinha 2006
“Amor até o fim”, Mauro Senise, Alma Brasileira Produções E Edições 2016
“Ituaçú – Gilberto Gil”, Orquestra de sopros da pro arte e flautistas da pro arte, Geringonça Filmes 2012
“Eu vim da Bahia'”, Peri, Diorama 1999
“Sem limite III – CD 1”, Quarteto em CY, Universal Music 2001
“Quarteto em CY – 40 anos”, Quarteto em CY, Universal Music 2004
“Resistindo”, Quarteto em CY, Universal Music 2017
“Som definitivo”, Quarteto em CY com tamba trio, Polygram Music
“Tributo a João Gilberto”, Renato Braz, Nailor Proveta E Edson José Alves, Canal Brazil S/A 2014
“Arrebenta”, Rita Tavares, Rita De Cássia Tavares Da Cunha 2008
“Sambajazz trio”, Sambajazz Trio, João Samuel Alves Da Cunha 2010
“The best of two world”, Stan Getz e João Gilberto, Stan Getz e João Gilberto 2011
“Gilberto Gil”, Serie Gold, Universal Music 2002
“A arte de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Serie sem limite – cd 2”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“Projeto especial construtora Hayasa”, Gilberto Gil, Universal Music 1999
“Gil serie melhor de dois”, Gilberto Gil 2000
“Milllennium”, Gilberto Gil 2004
2. Procissão (04:47)
Procissão
Gilberto Gil
Edy Star
Olha lá vai passando a procissão
Se arrastando que nem cobra pelo chão
As pessoas que nela vão passando
Acreditam nas coisas lá do céu
As mulheres cantando tiram versos
Os homens escutando tiram o chapéu
Eles vivem penando aqui na terra
Esperando o que Jesus prometeu
E Jesus prometeu vida melhor
Pra quem vive nesse mundo sem amor
Só depois de entregar o corpo ao chão
Só depois de morrer neste sertão
Eu também tô do lado de Jesus
Só que acho que ele se esqueceu
De dizer que na terra a gente tem
De arranjar um jeitinho pra viver
Muita gente se arvora a ser Deus
E promete tanta coisa pro sertão
Que vai dar um vestido pra Maria
E promete um roçado pro João
Entra ano, sai ano, e nada vem
Meu sertão continua ao deus-dará
Mas se existe Jesus no firmamento
Cá na terra isto tem que se acabar
BRWMB9701577
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
“A locação da música é em Ituaçu, minha cidade, no interior da Bahia, onde nos dias de festa religiosa as procissões passavam e eu, criança, olhava. Uma canção bem ao gosto do CPC, o Centro Popular de Cultura; solidária a uma interpretação marxista da religião, vista como ópio do povo e fator de alienação da realidade, segundo o materialismo dialético. A situação de abandono do homem do campo do Nordeste, a área mais carente do país: eu vinha de lá; logo, tinha um compromisso telúrico com aquilo.”
3. Domingo no parque (04:38)
Domingo no parque
Gilberto Gil
O rei da brincadeira – ê, José
O rei da confusão – ê, João
Um trabalhava na feira – ê, José
Outro na construção – ê, João
A semana passada, no fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar
Capoeira
Não foi pra lá pra Ribeira
Foi namorar
O José como sempre no fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio
Foi no parque que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu
Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana, seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé
E o sorvete gelou seu coração
O sorvete e a rosa – ô, José
A rosa e o sorvete – ô, José
Oi, dançando no peito – ô, José
Do José brincalhão – ô, José
O sorvete e a rosa – ô, José
A rosa e o sorvete – ô, José
Oi, girando na mente – ô, José
Do José brincalhão – ô, José
Juliana girando – oi, girando
Oi, na roda gigante – oi, girando
Oi, na roda gigante – oi, girando
O amigo João – João
O sorvete é morango – é vermelho
Oi, girando, e a rosa – é vermelha
Oi, girando, girando – é vermelha
Oi, girando, girando – olha a faca!
Olha o sangue na mão – ê, José
Juliana no chão – ê, José
Outro corpo caído – ê, José
Seu amigo, João – ê, José
Amanhã não tem feira – ê, José
Não tem mais construção – ê, João
Não tem mais brincadeira – ê, José
Não tem mais confusão – ê, João
BRWMB9701980
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Cordas vocais”, Andrea Montezuma e Jorjão Carvalho
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison
“Banda de Boca”, Banda de Boca, Atração
“Céu da Boca”, Céu da Boca, Polygram
“Claudya e Zimbo Trio”, Claudya e Zimbo Trio, Movieplay
“Cynara & Cybele”, Cynara & Cybele, CBS
“Atenciosamente”, Duofel, Trama
“Minha voz”, Gal Costa, Philips
“Gaya e Rogério Duprat”, Gaya e Rogério Duprat, Philips
“Nova série”, Golden Boys, Warner Music
“Rastapé”, Rastapé, EMI Music
“Grupo Sensação”, Grupo Sensação, Warner
“Songbook Gilberto Gil”, Hermeto Pascoal e Margareth Menezes, Lumiar Music
“Margareth Menezes”, Margareth Menezes, Natasha
“A arte de Os Mutantes”, Os Mutantes, Universal Music
“Os Solistas”, Os Solistas, Fermata
“Reginaldo Rossi”, Reginaldo Rossi, Chantecler
“Rita Lee ao vivo”, Rita Lee, Biscoito Fino
“A banda tropicalista do Duprat”, Rogério Duprat, Universal Music
“Titulares do Ritmo”, Titulares do Ritmo, RGE
“Juventude 2000”, Wilson das Neves e seu conjunto, EMI Music
“Zimbo Trio”, Zimbo Trio, RGE
Montar algo diferente, partindo de elementos regionais, baianos, para o festival da TV Record: esse era o projeto de Gil ao começar a pensar a canção. “Daí a idéia”, conta ele, “de usar um toque de berimbau, de roda de capoeira, como numa cantiga folclórica. O início da melodia e da letra da música já é tirado desses modos. Com a caracterização do capoeirista e do feirante como personagens, eu já tinha os elementos nítidos para começar a criação da história.”
*
“Algumas pessoas pensam que rima é só ornamento, mas a rima descortina paisagens e universos incríveis; de repente, você se depara no lugar mais absurdo. Eu, que a procuro primeiro na cabeça, no alfabeto interno – mas também vou ao dicionário -, vejo três fatores simultâneos determinantes para a escolha da rima: além do som, o sentido e o necessário deslocamento.
“Em Domingo no Parque, pra rimar com ‘sumiu’, eu cheguei à Boca do Rio (bairro de Salvador). E quando eu pensei na Boca do Rio, me veio um parque de diversões que eu tinha visto, não sei quantos anos antes, instalado lá, e que, desde então, identificava a Boca do Rio pra mim: desde aquele dia, a lembrança do lugar vinha sempre junto com a roda gigante que eu tinha visto lá. Aí eu quis usar o termo e anotei, lateralmente, no papel: ‘roda gigante’. Ela ia ter que vir pra história de alguma maneira, em instantes.
“Era preciso também fazer o João e o José se encontrarem. O João não tinha ido ‘pra lá’, pra Ribeira; tinha ido ‘namorar’ (pra rimar com ‘lá’). Onde? Na Boca do Rio, pra onde o José, de outra parte da cidade, também foi. No parque vem a conformação dos caracteres psicológicos dos dois. Um, audacioso, aberto, expansivo. O outro, tímido, recuado. Esse, louco por Juliana mas sem coragem de se declarar, vivia há tempos um amor platônico, idealizando uma oportunidade pra falar com ela. Naquele dia ele chega ao parque e a encontra com João, que estava ali pela primeira vez e não a conhecia, mas já tinha cantado Juliana e se divertia com ela na roda gigante. É a decepção total pro José, que não resiste.
“Era só concluir. A roda gigante gira, e o sorvete, até então sorvete só, já é sorvete de morango pra poder ser vermelho, e a rosa, antes rosa só, é vermelha também, e o vermelho vai dando a sugestão de sangue – bem filme americano -, e, no corte, a faca e o corte mesmo. O súbito ímpeto, a súbita manifestação de uma potência no José: ele se revela forte, audaz, suficiente. A coragem que ele não teve para abordar Juliana, ele tem para matar.”
*
“A canção nasceu, portanto, da vontade de mimetizar o canto folk e de representar os arquétipos da música de capoeira com dados exclusivos, específicos: com um romance desse, essa história mexicana. Está tudo casado.”
*
“Domingo no Parque, como Luzia Luluza e outras do mesmo período, foi feita no Hotel Danúbio, onde eu morei durante um ano, em São Paulo. Nana [a cantora Nana Caymmi, segunda mulher de Gil] dormia ao meu lado. Nós tínhamos vindo da casa do pintor Clovis Graciano – amigo de Caymmi -, onde eu tinha rememorado muito a Bahia e Caymmi. Eu estava impregnado disso, e por isso saiu Domingo no Parque: por causa de Caymmi, da filha dele, dos quadros na parede. A umas duas da manhã fomos para o hotel e eu fiquei com aquilo na cabeça: ‘Vou fazer uma música à la Caymmi, fazer de novo um Caymmi, Caymmi hoje!’ Peguei papel e violão e trabalhei a noite toda. Já era dia, quando eu terminei. De manhã, gravei.”
4. Soy loco por ti, América (05:30)
Soy loco por ti, América
Gilberto Gil
Capinan
Soy loco por ti, América
Yo voy traer una mujer playera
Que su nombre sea Marti
Que su nombre sea Marti
Soy loco por ti de amores
Tenga como colores la espuma blanca de Latinoamérica
Y el cielo como bandera
Y el cielo como bandera
Soy loco por ti, América
Soy loco por ti de amores
Sorriso de quase nuvem
Os rios, canções, o medo
O corpo cheio de estrelas
O corpo cheio de estrelas
Como se chama a amante
Desse país sem nome, esse tango, esse rancho,
esse povo, dizei-me, arde
O fogo de conhecê-la
O fogo de conhecê-la
Soy loco por ti, América
Soy loco por ti de amores
El nombre del hombre muerto
Ya no se puede decirlo, quién sabe?
Antes que o dia arrebente
Antes que o dia arrebente
El nombre del hombre muerto
Antes que a definitiva noite se espalhe em Latinoamérica
El nombre del hombre es pueblo
El nombre del hombre es pueblo
Soy loco por ti, América
Soy loco por ti de amores
Espero a manhã que cante
El nombre del hombre muerto
Não sejam palavras tristes
Soy loco por ti de amores
Um poema ainda existe
Com palmeiras, com trincheiras, canções de guerra,
quem sabe canções do mar
Ai, hasta te comover
Ai, hasta te comover
Soy loco por ti, América
Soy loco por ti de amores
Estou aqui de passagem
Sei que adiante um dia vou morrer
De susto, de bala ou vício
De susto, de bala ou vício
Num precipício de luzes
Entre saudades, soluços, eu vou morrer de bruços
nos braços, nos olhos
Nos braços de uma mulher
Nos braços de uma mulher
Mais apaixonado ainda
Dentro dos braços da camponesa, guerrilheira,
manequim, ai de mim
Nos braços de quem me queira
Nos braços de quem me queira
Soy loco por ti, América
Soy loco por ti de amores
BRWMB9701573
© Gege Edições Musicais / © Editora Musical Arlequim LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
5. Mamma (05:40)
Mamma
Gilberto Gil
Am gonna do my best again
Am gonna go my way, mamma
Tomorrow am gonna catch a train
Don’t try to hold me down
I wanna put my chest against the wind
From east and west once again
Mamma
Give me your blessing right now
Am gonna get ahead again
Am gonna go my way, mamma
Before you tie me to a chain
Before you close me down
So wide you should stretch your breast
And hold my life inside yourself again
Mamma
Give me your blessing right now
I wanna kiss your face again
Am gonna go my way, mamma
Don’t worry, don’t cry, don’t complain
Don’t try to hold me down
How much you want your darling, baby
Clinging to your long skirt again
Oh, mamma
Give me your blessing right now
BRWMB9901133
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Arnaldo Antunes” 2013
“Soy loco por ti America”, Gilberto Gil, Warner Music 1995
“Em concerto”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“O poeta e o esfomeado”, Jorge Mautner E Gilberto Gil, Discobertas 2014
6. Cores vivas (07:54)
Cores vivas
Gilberto Gil
Tomar pé
Na maré desse verão
Esperar
Pelo entardecer
Mergulhar
Na profunda sensação
De gozar
Desse bom viver
Bom viver
Graças ao calor do sol
Benfeitor
Dessa região
Natural
Da jangada, do coqueiral
Do pescador
De cor azul
Bela visão
Cartão postal
Sabor do mel, vigor do sal
Cores da pena de pavão
Cenas de uma vibração total
Cores vivas
Eu penso em nós
Pobres mortais
Quantos verões
Verão nossos
Olhares fãs
Fãs desses céus
Tão azuis
BRWMB9701933
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
guitarra – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Movimento, luz e cor”, Elisa Queiroga
“Projeto especia lradio Musical”, FM/SP 1995
“Elisa Queiroga”, Movimento, luz e cor, AQB Music 2003
“Colar de pérolas”, Emerson Uray, José Emerson Oliveira Silva 2008
“Grandes mestres da MPB – vol 2”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Em concerto”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Luar”, Gilberto Gil, Warner Music
“Mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1992
“Les indispensables de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Warner Music 1989
“Lua brasileira”, Grupo Nimphas, Gramophone 1995
“O poeta e o esfomeado”, Jorge Mautner e Gilberto Gil, Discobertas 2014
“Cores vivas”, Vanessa Moreno e Fi Maróstica, Tratore Distribuição 2015
7. Só chamei porque te amo (04:44)
Só chamei porque te amo
Gilberto Gil
Não é natal
Nem ano bom
Nenhum sinal no céu
Nenhum Armagedom
Nenhuma data especial
Nenhum ET brincando aqui no meu quintal
Nada de mais, nada de mal
Ninguém comigo além da solidão
Nem mesmo um verso original
Pra te dizer e começar uma canção
Só chamei porque te amo
Só chamei porque é grande a paixão
Só chamei porque te amo
Lá bem fundo, fundo do meu coração
Nem carnaval
Nem São João
Nenhum balão no céu
Nem luar do sertão
Nenhuma foto no jornal
Nenhuma nota na coluna social
Nenhuma múmia se mexeu
Nenhum milagre na ciência aconteceu
Nenhum motivo, nem razão
Quando a saudade vem não tem explicação
Só chamei porque te amo
Só chamei porque é grande a paixão
Só chamei porque te amo
Lá bem fundo, fundo do meu coração
BRWMB9701579
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
[ I Just Called to Say I Love You, de Stevie Wonder
“Na noite em que eu me encontrei com Stevie Wonder, em Washington (ele foi ao meu show e tocou gaita em No Woman, No Cry), quando eu lhe disse que tinha vertido I Just Called to Say I Love You, ele perguntou: ‘Mas por que você escolheu essa música para fazer uma versão? Eu acho que ela é tão banal.’ Eu respondi: ‘Talvez tenha sido por isso mesmo, Stevie. Aliás, essas em geral são as que duram mais.’ Ele admitiu que a canção é linda, mas reiterou um receio de que fosse demasiadamente vulgar.
“Eu cantei a versão pra ele e expliquei o significado de algumas expressões – a tradução, paralela, tenta transportar livremente para equivalentes nossos as ocasiões festivas norte-americanas citadas no original. Ele gostou, achou legal. ‘Mas você acha que ela vai ficar?’ – a preocupação dele era essa. ‘Claro, imagina, ela já tem até uma versão em português. É sinal de que ela vai ficar’.
“A vontade de verter veio, primeiro, porque a música era dele, Stevie Wonder, uma pessoa que eu admiro muito e com quem ter algum laço aproximativo me é prazeroso, caro e interessante: eu quis tietá-lo. Além disso, a canção é abolerada, não tem os encadeamentos melódicos típicos da música americana e tem um gosto mais latino do que americano; isso também me aproximou mais dela.”
8. Filhos de Gandhi (06:44)
Filhos de Gandhi
Gilberto Gil
Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré
Todo o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi
Iansã, Iemanjá, chama Xangô
Oxossi também
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi
Mercador, Cavaleiro de Bagdá
Oh, Filhos de Obá
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi
Senhor do Bonfim, faz um favor pra mim
Chama o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi
Oh, meu Deus do céu, na terra é carnaval
Chama o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi
BRWMB9800349
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Salvador negro amor”, Jauperi e Filhos de Gandhi, Maianga
“Drama – Luz da noite”, Maria Bethânia, Philips
“Quarteto em CY”, Quarteto em CY, Universal Music
“Negrolume”, Wagner Cosse, Tratore
“Dois amigos, um século de música”, Caetano Veloso & Gilberto Gil, Sony Music 2015
“Serie colecionador”, Gil e Jorge, Universal Music 1998
“Grandes mestres da MPB 2”, Gilberto Gil, Warner Music, Gilberto Gil 1977
“Coisas de jorge”, Gilberto Gil, EMI Music 2007
“Em concerto”, Gilberto Gil, Geleia Geral 1987
“Mantas filhos de Gandhi”, Gilberto Gil, Maria Lucia De Paiva
“20 Obras primas”, Gilberto Gil, Polygram Music 1996
“O viramundo ao vivo”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“Gilberto Gil ao vivo – USP (1973)”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Série gold”, Gilberto Gil, Universal Music 2002
“Serie melhor de dois”, Gilberto Gil, Universal Music 2000
“Sound+vision- phono 73”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Dance of the orixás – pure Brazil II”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Serie sem limite cd 1”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“Mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1992
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Em concerto”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“La passion sereine”, Gilberto Gil, Works Editores 2005
“Sound + vision – phono 73”, Gilberto Gil e Jorge Ben, Universal Music 2005
“Box salve jorge”, Gilberto Gil e Jorge Ben, Universal Music 2009
“20 grandes sucessos de Gilberto Gil”, Gilberto Gil e Jorge Ben, Polygram Music 1998
“Salvador negro amor”, Gilberto Gil, Maianga 2006
“Drama – luz da noite”, Philips 1973
“Quarteto em CY – 40 anos”, Quarteto em CY, Universal Music 2004
“Sem limite III – cd 1”, Quarteto em CY, Universal Music 2001
“Resistindo”, Quarteto em CY, Universal Music 2017
“Movimento afropopbrasileiro vol. I”, Tatau e componentes do Gandhi, Estrela do mar 2007
“Trio Quintana ao vivo puro”, Trio Quintana , Gabriel J.M.Schwartz 2001
“Baracão cultural”, Urbanda 2003
“Ivete”, Wado, Tratore distribuição de CD 2008
“Negrolume”, Wagner Cosse, Tratore Distribuição de CD ‘S 2008
“Chegado de Londres, em 72, eu fui passar o carnaval na Bahia, e encontrei o Afoxé Filhos de Gandhi sem massa humana na avenida, reduzido a apenas uns quarenta ou cinquenta na Praça da Sé. O bloco, tão vivo na minha memória, tinha sido um dos grandes emblemas da minha infância e era o mais antigo da cidade. Começou a sair em 49, quando eu tinha sete anos; os integrantes passavam pela porta de casa no bairro de Santo Antonio, todos de branco, com turbantes e lençóis, palhas de alho trançadas e fita na cabeça, e com um toque que era diferente do samba, da marcha, do frevo, dando uma sensação de espaço sagrado (depois viemos a saber que o afoxé era mesmo um toque religioso do candomblé). Eu tinha veneração pelo Gandhi, e ao revê-lo numa situação de indigência, me deu uma dor seguida de um arroubo de filialidade, de amor de filho, arrimo de família; resolvi dar uma força. A primeira coisa que fiz foi me inscrever no bloco – para ‘engrossar o caldo’. Depois fiz a música, e continuei saindo – saí treze anos seguidos. As fileiras foram aumentando, e o Gandhi se recuperando. Os jovens ficaram entusiasmados com minha presença, e os velhos se sentiram mais estimulados a trabalhar; enfim, foi um estímulo geral.”
*
Mercador de Bagdá, Cavaleiro de Bagdá, Filhos de Obá: outros blocos de afoxé citados na letra.
9. Palco (04:24)
Palco
Gilberto Gil
Subo nesse palco
Minha alma cheira a talco
Como bumbum de bebê
De bebê
Minha aura clara
Só quem é clarividente pode ver
Pode ver
Trago a minha banda
Só quem sabe onde é Luanda
Saberá lhe dar valor
Dar valor
Vale quanto pesa
Pra quem preza o louco bumbum do tambor
Do tambor
Fogo eterno pra afugentar
O inferno pra outro lugar
Fogo eterno pra consumir
O inferno fora daqui
Venho para a festa
Sei que muitos têm na testa
O deus Sol como um sinal
Um sinal
Eu, como devoto
Trago um cesto de alegrias de quintal
De quintal
Há também um cântaro
Quem manda é a deusa Música
Pedindo pra deixar
Pra deixar
Derramar o bálsamo
Fazer o canto cântaro cantar
Lalaiá
Fogo eterno pra afugentar
O inferno pra outro lugar
Fogo eterno pra consumir
O inferno fora daqui
BRWMB9800346
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
“Eu estava havia três dias pensando em parar de cantar; em deixar a seqüência profissional de discos e shows. Estava prestes a tomar essa decisão – e avisar todo mundo -, mas não por uma razão que tivesse a ver com cantar, que é a coisa que mais me encanta na vida. Minha sensação era de fastio; eu queria era um elemento que me trouxesse um novo ânimo. ‘Se eu vou parar mesmo’, pensei, ‘eu tenho que fazer uma declaração pública, e essa declaração tem de ser musical.’ Aí eu fiz Palco, uma canção que era na verdade pra não deixar dúvida a respeito de tudo o que cantar representa para mim, e a respeito da minha relação com a música – simbolizada de forma completa pelo estar no palco.”
De que fala Palco (“o primeiro afoxé forte”) – “De um espaço semi-sagrado; da sua função exorcizante, catártica, clínica – daí o refrão (na hora em que compus, eu me lembrava muito do pouco que sabia sobre as tragédias gregas, o palco grego, Dionísios).
“De um sacerdócio; da capacidade de administrar um ritual – o da música em funcionamento, cumprindo seus ditames; de como eu me vejo nesse papel, como eu fantasio a minha visão e como eu vejo essas fantasias do meu próprio olhar.
“Do aspecto transmutador da música para mim no palco: de como estar ali faz provavelmente desaparecer uma opacidade natural do caráter bruto das coisas comuns sem sabores especiais do cotidiano, e como o haver ali sabores especiais em tudo me dá um aspecto de transfiguração – daí a idéia de que ali se propicia que alguém veja minha aura.”
Compor e cantar – “Duas dimensões e dois retornos diferentes à alma. Compor é motivo de extraordinário, transcendental orgulho pela vida, o de fazer parte do universo da criação; cantar é motivo de vaidade. É muito envaidecedor estar num palco e produzir prazer instantaneamente para todos – uma afirmação anímica de vida da música através das energias dos corpos humanos ao vivo. No palco, além de diversão, a sensação é de doação, de benfeitoria do homem para o homem. Já o momento da composição é solitário, individual, e, ao se esgotar, daí por diante é como se a música partisse para o mundo, como um filho. Cantar é reabraçar os filhos, reuni-los de novo ao seu corpo, fazê-los parte do seu corpo.”
“Cântaro = cantar o” – “Quando eu digo ‘cantar o’, eu digo de novo ‘cântaro’. Mais do que rima, é recomposição: a palavra ‘cântaro’ é reconstituída, como se tivessem embutido ali o cântaro. Muitas pessoas não devem nem perceber o ‘cantar o’; na audição deve prevalecer ‘cântaro’ mesmo.”