Gilberto Gil Unplugged
(1994)1. A novidade (05:24)
A novidade
Gilberto Gil
Bi Ribeiro
Herbert Vianna
João Barone
A novidade veio dar à praia
Na qualidade rara de sereia
Metade, o busto de uma deusa maia
Metade, um grande rabo de baleia
A novidade era o máximo
Do paradoxo estendido na areia
Alguns a desejar seus beijos de deusa
Outros a desejar seu rabo pra ceia
Ó, mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Ó, de um lado este carnaval
Do outro a fome total
E a novidade que seria um sonho
O milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho
Ali naquela praia, ali na areia
A novidade era a guerra
Entre o feliz poeta e o esfomeado
Estraçalhando uma sereia bonita
Despedaçando o sonho pra cada lado
Ó, mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Ó, de um lado este carnaval
Do outro a fome total
BRWMB9701487
© Gege Edições Musicais / © Edições Musicais Tapajós LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
Outras gravações:
“Luiz A. M. Cossa”, Banda Forró Urbano 2001
“Biquini Cavadão”, Biquini Cavadão, Universal Music 2001
“Forró Chama Chuva”, Chama Chuva, EMI Music 2001
“Cidade Negra”, Cidade Negra, Sony BMG 2006
“Sucessos do barzinho – vol. 4”, Claudio Rodrigo, Sony BMG 2003
“Selvagem”, Paralamas do Sucesso, EMI 1997
“Paralamas ao vivo – Vamo bate lata”, Paralamas do Sucesso, EMI-ODEON 1995
“15 anos de rock”, Paralamas do Sucesso e Titãs, EMI 2008
“Projeto Ceafro”, Ceafro 2001
“A música de Herbert Vianna”, Biquini Cavadão, Universal Music 2003
“Brasil afora ao vivo”, Paralamas do Sucesso, EMI 2010
“A música de Gilberto Gil”, TCPA/TOP CAT 2007
“Série Gold Universal”, Biquini Cavadão 2002
“Forró Chama a chuva”, Chama chuva, EMI Music 2001
“MPB ao vivo”, Gilberto Gil, BMG 2002
“Perfil”, Gilberto Gil, Sigla 2005
“Trilha sonora da novela A Pátria Minha”, Gilberto Gil, Som livre 1994
“Kaya n’ gandaya ao vivo”, Gilberto Gil, Som Livre 2003
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner 1994
“Super tema de novelas”, Gilberto Gil 1995
“Quanta gente veio ver”, Gilberto Gil,Warner Music 1997
“E-collection”, Gilberto Gil, Warner Music 2000
“Acústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Gilberto Gil no palco- nova série”, Warner Music 2007
“Enciclopédia musical brasileira MTV”, Gilberto Gil 1999
“Território nacional MTV”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“O melhor da Warner”, Gilberto Gil, WEA/Continental 1995
“Gil + 10”, Gilberto Gil e Lenine, Som Livre 2011
“Gil + 10”, Gilberto Gil e Paralamas do Sucesso, Som Livre 2011
“Ivete, Gil e Caetano”, Ivete, Gil e Caetano, Universal Music 2012
“Jamz”, Jamz, Som Livre, 2017
“Perfil – Os Paralamas do Sucesso vol.2 “, Paralamas do Sucesso EMI 2006
“Selvagem”, Os Paralamas do Sucesso, EMI 2004
“Box Os Paralamas do Sucesso”, Os Paralamas do Sucesso, EMI 2013
“Multishow ao vivo – Os Paralamas do Sucesso 30 anos, Mangaba Produções 2014
“Reggae Brasil”, Os Paralamas do Sucesso, Som Livre 2001
“Gilberto Gil – 2 lados”, Os Paralamas do Sucesso, Universal Music 2017
“Chill Brazil 3”, Os Paralamas do Sucesso, Warner Music 2004
“10 hits – Paralamas do Sucesso”, Os Paralamas do Sucesso, Universal Music 2017
“Paralamas do sucesso”, RAF 1998
“Vamo bate lata”, Paralamas ao vivo , EMI-Odeon 1995
“Estúdio Coca-Cola zero – diário de bordo – 07”, Paralamas do Sucesso, Abril Radiodifusão 2009
“Paralamas do sucesos”, EMI 1999
“Brasil afora ao vivo- Multishow”, Paralamas do Sucesso, EMI Music 2010
2. Tenho sede (04:21)
Tenho sede
Dominguinhos
Anastácia
Traga-me um copo d’água, tenho sede
E essa sede pode me matar
Minha garganta pede um pouco de água
E os meus olhos pedem teu olhar
A planta pede chuva quando quer brotar
O céu logo escurece quando vai chover
Meu coração só pede o teu amor
BRWMB9800614
© Musiclave Editora Musical LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
3. Refazenda (03:38)
Refazenda
Gilberto Gil
Abacateiro
Acataremos teu ato
Nós também somos do mato
Como o pato e o leão
Aguardaremos
Brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos
Teu amor, teu coração
Abacateiro
Teu recolhimento é justamente
O significado
Da palavra temporão
Enquanto o tempo
Não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate
E anoitecerá mamão
Abacateiro
Sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem
O seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro
Doce manga venha ser também
Abacateiro
Serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário
Da leveza pelo ar
Abacateiro
Saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba
BRWMB9800615
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Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
“Refazenda resultou de uma justaposição de nonsenses. Começou com um brainstorm com sons: fui aleatoriamente escolhendo palavras que rimassem e cheguei a um embrião interessante – um desses troncos de árvores tronchas sobre os quais o cinzel dos artistas populares vai trabalhar para fazer esculturas loucas, à la Antonio Conselheiro, do Mario Cravo, nascida de um tronco com dois galhos de braços abertos. O esboço era maior e muito mais absurdo: não tinha sentido nenhum! Aos poucos fui criando sentidos parciais a certas frases, até desejar um sentido geral para todas.
“Os versos foram feitos antes da música, obedecendo a um ritmo que eu tinha na cabeça. Para o primeiro, escolhi o alexandrino, um dos preferenciais do cantador nordestino, pois queria a priori uma canção com esse direcionamento country.”
“Abacateiro, acataremos teu ato” – “Na época pensaram que eu me referia à ditadura militar (o verde da farda) e ao ato institucional, o que nem me passou pela cabeça. O que me veio mesmo foi a natureza em seu contexto doméstico, amansada, a serviço da fruição – daí a idéia de pomar e das estações. Refazenda é rememoração do interior, do convívio com a natureza; reiteração do diálogo com ela e do aprendizado do seu ritmo.”
Linguagem transgressiva – “O período em que compus a canção é permeado pelo nonsense ou o que o tangenciasse; por um despudor audacioso de brincar com as palavras e as coisas; por um grau de permissibilidade, de descontração, de gosto pela transgressão do gosto. É uma fase muito ligada aos estados transformados de consciência, pelas drogas, e a consequente multiplicidade de sentidos e não-sentidos.”
Guariroba – “Nome de uma palmeira do Planalto Central, a palavra dava nome também a uma fazenda que um grupo de amigos (Roberto Pinho, Pontual e outros) tinha a uns cem quilômetros de Brasília. Chegou-se a pensar em criar lá uma comunidade alternativa, onde nos juntássemos todos com nossas famílias. Não deu certo, e a fazenda foi vendida.”
4. Realce (04:24)
Realce
Gilberto Gil
Não se incomode
O que a gente pode, pode
O que a gente não pode, explodirá
A força é bruta
E a fonte da força é neutra
E de repente a gente poderá
Realce, realce
Quanto mais purpurina, melhor
Realce, realce
Com a cor do veludo
Com amor, com tudo
De real teor de beleza
Não se impaciente
O que a gente sente, sente
Ainda que não se tente, afetará
O afeto é fogo
E o modo do fogo é quente
E de repente a gente queimará
Realce, realce
Quanto mais parafina, melhor
Realce, realce
Com a cor do veludo
Com amor, com tudo
De real teor de beleza
Não desespere
Quando a vida fere, fere
E nenhum mágico interferirá
Se a vida fere
Como a sensação do brilho
De repente a gente brilhará
Realce, realce
Quanto mais serpentina, melhor
Realce, realce
Com a cor do veludo
Com amor, com tudo
De real teor de beleza
BRWMB9701979
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
“Por causa dos questionamentos com relação ao seu significado – a imputação de uma minoridade que ela teria dentro de minha obra, já que representaria uma escorregadela na facilidade do efeito pop -, a necessidade, que eu sinto, de fazer a defesa de uma canção que tem para mim um sentido profundo no meu trabalho e no processo de aprendizado que eu coloco como dado essencial da minha relação com o fato de fazer canções – de dizer coisas através de canções populares -, e que diz muito sobre quem eu sou como compositor e sobre o grau de exigência que me imponho para que minhas canções exprimam alguma coisa importante na minha vida.
“Realce é de uma época em que eu me introduzira no campo da meditação, entendida como uma arte mais formal e rigorosa de pensar-se e refletir-se, e estava interessado em possíveis traduções da filosofia oriental para o idioma da canção, tendo resultado num dos concentrados das meditações que eu então fazia e sido resultado de um processo profundo e ruminante, um longo trabalho de elaboração e meditação, sendo ela mesma uma canção sobre o wu wei, termo chinês que significa ‘ação da não-ação’, ou, a impotência que se torna potência, ou, o esgotamento dos contrários nas suas polaridades (um polo se esgota e inicia o que está contido no seu oposto) etc.
“É nesse sentido uma canção ambiciosa e carregada de significados embutidos que vão sendo des-cobertos, como, na cebola, as camadas por debaixo das camadas.
“A letra parte de um escopo geral que é falar do que, à época, eu chamava de ‘salário mínimo de cintilância a que têm direito todos os anônimos’ – nos terminais de metrô, nas arquibancadas dos estádios, nas discotecas. Esse lado saturday night fever está propositalmente explicitado nos três pseudo-refrões, que funcionam para reiterar a macdonaldização da vida cotidiana nas grandes cidades, mas também para dar-lhe uma qualificação de profundidade que necessariamente também existe nessas coisas tão associadas à superficialidade. Por outro lado, cada uma das estrofes que antecedem os ‘refrões’ remontam ao sentido de potência contido no wu wei.
Estrofe I; versos 1, 2 e 3 – “Há uma idéia da força que remete às mudanças geológicas; a um revolver da natureza que se dá por si só. As grandes catástrofes das idades do universo passam como um trator por sobre a condição humana. Ao mesmo tempo, a fonte da força também está à disposição do que chamamos consciência, inteligência, vontade: homo sapiens.” Versos 4, 5 e 6 – “O homem como combustível e energia do motor da natureza, parte e partícipe do moto-contínuo, ciclico-recorrente (o eterno retorno), de criação e destruição, anulação e afirmação, operado pela natureza na história e pela história na natureza. A relação dinâmica entre ambas e o homem como o corte.”
II; 1, 2 e 3 – “O interstício sutil entre a vontade e o resultado, o fazer e o não fazer. O fato de que tudo está ‘afeto’; de que, do ponto de vista quântico, digamos, a mínima partícula de emanação pensátil está ‘afeta’; de que o afeto pertence à totalidade do pulsar existencial das coisas, à dança de Shiva; e mesmo o sentir quieto ali naquele canto pode estar afetando uma estrutura qualquer de uma parte qualquer do universo.” 4, 5 e 6 – “O afeto, portanto, é fogo; portanto, se cuide – mas se descuide, também, do seu sentir; pois de todo modo ele é pleno, dono de si; ele trabalha no campo onde as bactérias se criam, os átomos se criam e os eventos se dão; e, mesmo entre as partículas, o que não é visível nem palpável ainda assim é e pertence ao intercâmbio das afeições amplas, universais.”
III; 1, 2 e 3 – “A autonomia plena da vida sobre nós e o imperativo da fatalidade de ter nascido e ter que morrer; ter que viver esse ‘alfômega’ nascimento-morte, a grande questão colocada para nós.” 4, 5 e 6 – “De como a vida entra pelos olhos e é o ferir incondicional do brilho neles. Sob o sol ou sob a lua, a esteira de luz estendida sobre a superfície do mar será irremediavelmente captada pelos olhos abertos. A irredutibilidade do fenomenólogico. O ser sendo ferido pelos estímulos externos aos quais os seus sentidos, todos, dão sentido; a natureza se fazendo linguagem através do homem.
“A simples exposição dos versos pode não remeter de imediato a significados tão vastos, múltiplos e profundos, que, no entanto, estão engastados na intenção processual da canção; no porquê de ela ter sido feita. Eu não posso exigir de todo mundo a apreensão de todos esses sentidos, mas não posso aceitar a negação deles. Minha impressão é de que, no âmbito das pessoas cultas e inteligentes, afeitas ao dimensionamento cultural encarregador das leituras, Realce não é tão hermética; lida sua letra com o mínimo de atenção, muitos dos seus significados logo se insinuam, e as portas para outras digressões possíveís se abrem.”
“Era o momento auge da música disco – aquela linfa, aquela liquefação pop depois da época rock, da época hippie, conceitualmente mais densa. Iniciando o processo de expansão geográfica das minhas atividades e vivenciando o cotidiano das pessoas comuns de vários lugares do mundo, eu desejava conciliar os lugares-comuns das pessoas desses lugares e trazer os elementos da cultura de massa contemporânea internacional em sua complexidade.
“Por ter em mim os traços nítidos do criador marcado pelo compromisso com a banalidade, egresso de uma tradição cultural média brasileira, a da canção popular, eu me sentia parte integrante daquele fenômeno, a que vim a me referir como a ‘superfície do profundo’ – onde o profundo não é captado como tal e só pode ser captado como superficial porque só está na superficialidade.
“E é disso que falam Realce e outras canções minhas da época. Utilizando-se de elementos fáceis e flácidos mas remetendo também aos sentimentos de elevação que cada simples ser pode e deve ter, elas trabalhavam para uma conciliação do conceito de sofisticado com o conceito de banal, contra o reducionismo cataloguista dos cânones clássico e popular e contra a idéia do estanque prevalescendo sobre a do osmótico e interpenetrante.”
“Diziam: ‘Ah, o brilho! Está se referindo a cocaína!’ Nunca me passou cocaína pela cabeça, mas é evidente que, no campo da abrangência da canção, você tinha coisas como saturday night fever como elementos, e que a cocaína também estava ali; tudo estava: sexo, drogas e rock and roll, o prazer do hedonismo – assim como o prazer do acetismo. Cortes muito claros entre os dois lados; Ocidente-Oriente.”
“Realce custou muito tempo e aflição para ser feita pelas muitas funções sobrepostas com as quais ela se comprometeu de antemão, a começar pela de fecho da triologia dos ‘re’ – que tinha em Refazenda o primeiro e em Refavela o segundo ponto -, em substituição a Rebento, samba que fiz antes e que acabou estando no mesmo álbum, mas que não dava conta do conceito do álbum – que incluía a maré rasa da efervescência disco e o poço fundo da contemplação espiritual.
(“Minhas músicas têm quase sempre um estímulo conceitual, que é também quase sempre o do disco de que fazem parte. Raramente uma canção minha nasce da simples decisão de exercitar as palavras e os sons, fazer quebra-cabeças, ludos criativos. Em geral elas partem de um fundamento religioso, filosófico ou político, de alguma intenção pré-determinada, de algo a ser dito e explicado).
“Eram muito apriorísticas as proposições e o alcance de Realce. Sentidos novos iam sendo exigidos e agregados ao longo do tempo da sua realização, e a cada dia a música ficava mais dificil. Começada aqui, onde anotei as primeiras idéias, soltas, ela tomou umas dez páginas de esboços, e eu só a terminei após dois meses de excursão pelos Estados Unidos, quando já estava gravando o disco, lá.”
“A expressão-título surgiu por causa da Lita Cerqueira, fotógrafa, negra, baiana, vinda de Santo Antonio, meu bairro, frequentadora da minha casa e da casa de Caetano, pessoa das nossas relações íntimas e com muitos interesses comuns a nós na época. Ela falava muito em ‘realce’, ‘realçar’…”
5. Esotérico (05:17)
Esotérico
Gilberto Gil
Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu pra você
Que eu, que dois, que dez, que dez milhões
Todos iguais
Até que nem tanto esotérico assim
Se eu sou algo incompreensível
Meu Deus é mais
Mistério sempre há de pintar por aí
Não adianta nem me abandonar
Nem ficar tão apaixonada, que nada!
Que não sabe nadar
Que morre afogada por mim
BRWMB9800616
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
Outras gravações:
“Gal”, Gal Costa, Polygram
“Songbook Gilberto Gil”, Kid Abelha, Lumiar
“Pura filosofia”, Maria Bethânia e Gal Costa, Som Livre
“Luau”, Rafael Greyck, Albatroz
“Alexandra Scotti canta Gal Costa”, Alexandra Scotti, Alexandra Scotti 2015
“Serie sem limite cd 2”, Bethania, Gal, Caetano, Gil , Universal Music 2001
“Dois amigos, um século de música”, Caetano Veloso & Gilberto Gil , Sony Music 2015
“Doces bárbaros “, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia, Universal Music 1976
“MPB – os melhores da MPB”, Doces Bárbaros, Som Livre 2011
“Gal “, Gal Costa, Polygram 1994
“Gal Costa 40 anos”, Universal Music 2005
“Caetano Veloso e Gal costa – domingo – jewel case, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Caetano Veloso, Universal Music 2010
“Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2009
“Caixa a conspiração de Gilberto Gil – CD Bandadois”, Gilberto Gil 2010
“A gente precisa ver o luar”, Gilberto Gil, Lumiar 1990
“Luar”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“Serie melhor de dois”, Gilberto Gil, Universal Music 2000
“Um banda um”, Gilberto Gil, Warner Music
“Acoustic”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Gilberto Gil no palco – nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“E-collection disco 1”, Gilberto Gil, Warner Music 2000
“Acustico”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Vida”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Projeto especial MPB – O Boticario”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Le troubadour du Brésil”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“20 grandes sucessos de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Caetano, Gal, Bethania, Polygram Music 1998
“Barato total – elas cantam Gilberto Gil”, KID Abelha, Som Livre 2008
“Songbook Gilberto Gil 2”, Kid Abelha, Lumiar 1992
“Warner 30 anos”, Kid Abelha, Warner Music 2006
“Para Gil e Caetano”, Margareth Menezes, Canal Brazil 2014
“Millennium”, Maria Bethânia com Gal, Caetano e Gil, Universal Music 2004
“Pura filosofia”, Maria Bethania e Gal Costa, Som livre 2000
“Maria Bethânia – raridades anos 60 e 70”, Maria Bethânia e Gal Costa, Universal Music 2011
“Outros bárbaros”, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Biscoito Fino 2003
“Doces Barbaros 2 – caixa Caetano Veloso”, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Universal Music 1999
“Orlando Moraes – 07 vidas – caras”, Orlando Moraes 2012
“A vida da gente”, Paula Toller, Som Livre 2011
“Luau”, Rafael Greick, Bossa58 2006
“CD Roberta Brasil”, Roberta Brasil, Roberta brasileiro Henriques 2013
“Piano bar (nacional cd 2)”, Rodrigo Braga, Música fabril estúdios 2011
“Pra que servem os cataventos”, Vício primavera, Michel Nogueira Alves Da Silva 2011
“Uma tentativa de transpor a idéia do mistério divino, místico-religioso, para o campo do amor terreno; de desmistificar e humanizar a categorização do esotérico como algo inatingível, colocando-o como inerente à nossa natureza, à complexidade de nosso afeto. O ímpeto da canção nasceu da vontade de falar do sentido esotérico das coisas através de algo que fosse demasidamente humano como é a relação amorosa entre duas pessoas – não deixando, no fim, de remeter a questão para a divindidade (qualquer mistério está aquém do mistério do criador).”
6. Drão (05:01)
Drão
Gilberto Gil
Drão
O amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer!
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela estrada escura
Drão
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se, infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer!
Nossa caminha dura
Cama de tatame
Pela vida afora
Drão
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há
De haver mais compaixão
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão!
Morrenasce, trigo
Vivemorre, pão
Drão
BRWMB9800617
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
Outras gravações:
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison
“MPB collection”, Arthur Moreira Lima, Sony Music
“Prenda minha ao vivo”, Caetano Veloso, Universal Music
“Melody sax”, Chico Costa, Seven Music
“Diana Pequeno”, Diana Pequeno, RCA
“Songbook Gilberto Gil”, Djavan, Lumiar
“Caixinha brasileira”, Vários, Angel Records
“Sucessos de barzinho”, Jura Figueredo, Continental
“Maria Gabriela”, Maria Gabriela, Opus
“Barzinho Brasil”, Melquiades, Ultra Disc
“Música ambiente”, Orquestra Albatroz, Albatroz
“Projeto especial radio musical FM/SP”, Warner Music 1995
“Caetano canta vol. III”, Caetano Veloso, Globo-Universal 2002
“Muito romântico”, Cetano Veloso, Universal Music 2008
“Serie sem limite – cd 1”, Caetano Veloso, Universal Music 2001
“Amor i love you 2”, Caetano Veloso, Universal Music 2003
“Dois amigos, um século de música”, Caetano veloso & Gilberto Gil, Sony Music 2015
“Angel records”, Caixinha de música
“Melody sax – vol. 1”, Chico Costa, Musisom Cinthya Cordeiro Magalháes
“Djavan – minha história”, Djavan, Som Livre 2010
“Tributo MPB”, Som Livre 2013
“Perfil”, Djavan, Som Livre 2006
“Box Djavan”, Djvan, Sony Music 2013
“Luar”, Gilberto Gil, Abril-musiclub 1998
“Gaudi editora”, Gilberto Gil, Revista Jam Musical 1997
“Banda larga ao vivo em São Paulo”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2008
“Perfil”, Gilberto Gil, Sigla 2005
“MPB FM”, Gilberto Gil, Trama 2001
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Um banda um”, Gilberto Gil, Warner Music 1990
“Grandes mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Musica”, Gilberto Gil, Warner Music 1998
“Veja esta canção”, Gilberto Gil, Warner Music 1994
“Projeto especial revista Veja”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner Music 1994
“Enciclopedia musical brasileira”, Gilberto Gil, Warner Music 1999
“Prata da casa”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Acoustic”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Música romantica brasileira”, Gilberto Gil, Warner Music 2008
“Projeto especial laboratorio Knoll”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“Projeto especial MPB Boticario”, Gilberto Gil, Warner Music 1998
“Projeto especial Natura”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“Re”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“Nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“A gente precisa ver o luar”, Gilberto Gil, Warner Music 1990
Glaucia Nasser De Oliveira, Glaucia Nasser 2006
“Caixinha brasileira”, Instrumental, Angel Records
“Ivete, Gil e caetano”, Ivete Sangalo, Gilberto Gil e Caetano Veloso, Universal Music 2012
“Sucessos de barzinho”, Jura Figueiredo, Continental 2000
“Aliás”, Lucila Manzoli, Lucila Manzoli 2013
“The Voice Brasil”, Lui Medeiros, Universal Music 2014
“The Voice Kids – batalhas”, Luiza Prochet, Luna Maria e Tabatha Almeida, Universal Music 2016
“Amor até o fim”, Mauro Senise, Alma Brasileira Produções e Edições 2016
“Brazinho Brasil – vol. 2”, Melquiades, Ultra Disc 2007
“Pão e poesia”, Olga Ribeiro, Plural/Outubro 1997
“Musica ambiente 2 – instrumental”, Orquestra Albatroz 2002
“Luau 3”, Rafael Greyck, JVR Produções
E Edições Musicais E Artís 2008
“Há canções de maturação, que começam por uma pílula de criação – por uma gota que colore a água no jarro e vai decantando; um dia você pega aquele precipitado lá no fundo e trabalha nele. É um modo; Expresso 2222, por exemplo, foi feita assim. Mas há canções que demandam esforço concentrado por considerável período de tempo de realização intensiva. Drão está entre essas.
“Sua criação apresentou altos graus de dificuldade porque ela lidava com um assunto denso – o amor e o desamor, o rompimento, o final de um casamento; porque era uma canção para Sandra [apelidada Drão – daí o título da música] – e para mim. ‘Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?’, eu me perguntava. Além disso, havia a exigência de excelência, de que o versar tivesse capricho. Então demorou dias e dias de trabalho.
“Eu me lembro de estar sentado no chão, anotando frases no caderno, com o violão do lado, e de repente sentir o sufoco do coágulo da criação, e ao mesmo tempo a iminência da explosão da via criativa, e não aguentar, saindo dali e indo para o quarto me deitar e deixar, então, aquele coágulo se dissolver, criando filetes que se encaminhavam pra aqui e pra ali… Aí o cérebro e o coração entumeciam, algumas idéias fluíam, e dois, três ou quatro versos saíam. Satisfeito, eu fechava o caderno e ia embora cuidar da vida. Saía, passava o dia fazendo outras coisas, chegava de noite eu retomava; ficava a madrugada toda de novo.
“Outra exigência que eu me colocava era de não me precipitar. Eu queria que o fazer, a prática, o empirismo da realização fossem observados pelo meu ser ali à distância: eu tinha que contemplar o feitio da canção. Ao lado do esforço, da tensão concentrada, tinha que haver a descontração, o relaxamento concentrado – as duas coisas, e todas essas exigências sobrepostas determinando o modo de compor a canção.
“Fazer música é uma loucura quando você se coloca tantos problemas.”
7. A paz (04:53)
A paz
Gilberto Gil
João Donato
A paz
Invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais
A paz
Fez o mar da revolução
Invadir meu destino; a paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz
Eu pensei em mim
Eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição
Só a guerra faz
Nosso amor em paz
Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos “ais”
BRWMB9701928
© Gege Edições Musicais / © Acre Editora Musical LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
Outras gravações:
“Emílio Santiago encontra João Donato”, Emílio Santiago e João Donato, Lumiar Discos
“Coisas de novela”, Fábio Bortoleto, Atração Discos
“O canto da transformação”, Jarbas Tauryno, Lua Discos
“Um barzinho, um violão”, João Bosco, Universal Music
“O piano de João Donato”, João Donato, Deck Discos
“Donatural – DVD”, João Donato e convidados, Biscoito Fino
“Café com pão”, João Donato e Eloir Moraes, Lumiar Discos
“João Donato Trio”, João Donato Trio, Elephant Records
“Chill Brazil”, Jorge Ben Jor, Warner Music
“Minha saudade”, Lisa Ono, BMG
“Marisa Lobo”, Marisa Lobo, Tratore
“Escrava Isaura”, Max Vianna, Record Music
“Letras brasileiras II”, Oswaldo Montenegro, Albatroz
“Rosa Passos”, Rosa Passos, Lumiar Discos
“Sinal dos tempos”, Antonio Villeroy & Orquestra de Câmara Theatro São Pedro, PIC Music/Warner Music
“O meu amor”, Zizi Possi, Universal Music
“Albatroz”, MPB light (Vibrafone) 2005
“Ministério do meio ambiente”, Simpósio mundial de restauração da paisagem florestal 2005
“Eldorado”, Premio Visa de MPB 1998
“André Mehmari e Célio Barros”, André Mehmari e Célio Barros, Estúdio Eldorado/Rádio Bandeirantes 2008
“Orchestra plays Djavan-Gil-Caetano”, Brazilian tropical, Movieplay 1998
“Afinidade”, Cibele Codonho, Oesp 2016
“Nós, tão iguais, tão diferentes escola Sá Pereira”, Coral da escola Sá Pereira
“Coral da paróquia da ressurreição, coral da anunciação e músicos da escola de Ze” 2008
“Coral empresa seguro HDI”, HDI Seguros 2013
“Artistas da vida M. Dias Branco”, Coral M. Dias Branco 2005
“Henrique Ferreira Junior”, Coral Petros 2005
“Dom de iludir”, Emilio Santiago, Bossa 58 2006
“Maxximum”, Emilio Santiago, Sony Music 2005
“Emilio Santiago encontra João Donato”, Lumiar 2003
“Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções 2009
“Especial de natal “, Gilberto gil, Som Livre 2015
“Confissões de adolescentes”, Gilberto Gil, Trama 2005
“Gil e os 4 cantos”, Gilberto Gil, Versal Editorial 2005
“Projeto especial Laboratótios Knoll”, Gilberto Gil, Versal editores 2005
“Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Vogue -diet Coke”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“Acústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Gilberto Gil no palco – nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“Le troubadour du Brésil”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Healing select bossa nova”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner Music 1994
“Duetos”, Gilberto Gil e João Donato, Warner Music 2007
“Leilíadas”, João Donato, Warner Music 2011
“O melhor de um barzinho, um violão”, João Bosco, Universal 2005
“Sem limites – um barzinho, um violão – cd 1”, João Bosco, Universal 2007
“Jade”, João Bosco, Universal Music 2008
“Fundamental – João Bosco”, João Bosco, Deck Produções 2013
“Naquela base”, João Donato, Discobertas 2017
“Um barzinho, um violão ao vivo”, João Bosco, Universal 2002
“João Donato & Gilberto Gil”, João Donato e convidados/Donatural, Biscoito Fino 2005
“MPB – os melhores da MPB”, João Donato e Gilberto Gil, Som Livre 2011
“Água”, João Donato e Paula Morelenbaum, Biscoito Fino 2010
“Jorginho Gomes in concert”, Jorginho Gomes & Gilberto Gil 2016
“Julio Cesar”, Julio – Kosovo 2001
“Gil na delas”, Lisa ono, BMG 2005
“A. Aquino Produções”, Marcio Mendez 2001
“Marisa Lobo”, Marisa Lobo, Tratore 2008
“Escrava Isaura”, Max Vianna, Record 2005
“Coral Univali Fun.”, Novos Rumos 2006
“Canto uma canção bonita”, Oswaldo Montenegro, Bossa58 2006
“Ctbc Telecom mostra seus talentos II / tempo de abrir o coração e sonhar”, Patricia, Fabiana e Marlene, Cia telefónica do Brasil Central 2002
“Projeto esp.radio musical FM/SP”, Warner music 1995
“Mpbaby: canções populares MCD comercio de produtos por catálogo”, Reginaldo Frazatto Jr 2013
“A luz das estrelas”, Revelação, Universal Music 2014
“Piano bar (nacional) “, Música Fabril, Rodrigo Brag 2011
“Tributo MPB”, Rosa passos, Som Livre 2013
“Rosa passos”, Lumiar 1999
“Songbook João Donato – vol 3”, Rosa Passos, Lumiar Discos 2015
“Thiaguinho- ousadia e alegria”, Som Livre 2012
“MPB relax”, Varios, Sony Music 2004
“Projeto especial construtora Rossi”, Zizi Possi, Polygram
“MPB compositores – Gilberto Gil -vol. 8”, Zizi Possi, Som Livre 2000
“Sobre todas as coisas/proj. especial Jornal da Tarde”, Zizi Possi, Eldorado 1997
“Est Eldorado”, Zizi Possi 1992
“Sobre todas as coisas”, Zizi Possi, Estudio Eldorado 1992
“Barato total – elas cantam Gilberto Gil”, Zizi Possi, Som Livre 2008
“Personalidade”, Zizi Possi, Índigo Brasil 1911
“Vip Collection”, Zizi Possi, MZA 2007
“Pedaço de mim/O melhor de Zizi Possi”, Zizi Possi, Polygram 1998
“Projeto especial acesso propaganda”, Zizi Possi, Polygram 1997
“Projeto especial Bi Happy brinquedos”, Zizi Possi 1998
“Projeto especial Philips Sound e Vision”, Zizi Possi, Polygram 1998
“MPB por elas”, Zizi Possi, Polygram 1997
“20 grandes sucessos de Zizi Possi”, Zizi Possi, Polygram 1998
“Os sucessos – cd 1”, Zizi Possi, Polygram 1995
“Projeto especial filtros mann”, Zizi Possi, Polygram 1998
“Declarações de amor – cd 2 – Uma paixão musical/O melhor da música brasileira”, Zizi Possi, Reader’s Digest 2005
“Grandes compositores “, Zizi Possi, Rge-ed 1997
“Trilha sonora da novela Mandala”, Zizi Possi, Sigla 2000
“Serie sem limite cd 1”, Zizi Possi, Universal 2001
“Projeto especial Reader’s Digest – sucessos inesquecíveis de novelas”, Zizi Possi, Universal 2007
“Serie melhor de dois”, Zizi possi, Universal, 2000
“Só MPB”, Zizi Possi, Universal 2003
“O meu amor”, Zizi Possi, Universal 2003
“O melhor do amor {série i love MPB}”, Zizi Possi, Universal 2004
“A música de Gilberto Gil”, Zizi Possi, Universal 2003
“O amor e música”, Zizi Possi, Universal 2002
“Millennium”, Zizi Possi, Universal 2004
“Muito romântico”, Zizi Possi, Universal 2008
“Julio simões {projeto especial}”, Zizi Possi, Universal 2002
“João Donato apareceu em casa um dia com uma fita com várias canções, todas chamadas Leila – Leila 1, 2, 3, 4 – umas quinze ou dezesseis no total. Eu disse: ‘Deixa pra outro dia, hoje a gente não tem tempo…’ E ele: ‘Não, vá, apure aí, faça alguma coisa’. E começou a cochilar ao meu lado. A imagem dele dormindo sossegado, em plena luz do dia, me chamou a atenção para o sentido da paz. Me veio à lembrança o título do livro Guerra e Paz, de Tolstoi, e a letra foi sendo construída sobre essa contradição, reiterando minha insistência sobre o paradoxo.
” ‘Uma bomba sobre o Japão fez nascer o Japão da paz’, em A Paz; ‘a luz nasce da escuridão’, em Deixar Você; ‘minha religião é a luz na escuridão’, em Minha Ideologia, Minha Religião, o canto de abertura do disco Dia Dorim Noite Neon. Essa a recorrência básica no meu trabalho: yin e yang, noite e dia, sim e não, permanência e transcendência, realidade e virtualidade: a polaridade criativa (e criadora). ‘Porque eu sou e Deus é, e disso é que nasce toda a criação’, como diz uma outra música minha, É.”
8. Beira-mar (04:55)
Beira-mar
Gilberto Gil
Caetano Veloso
Na terra em que o mar não bate
Não bate o meu coração
O mar onde o céu flutua
Onde morre o sol e a lua
E acaba o caminho do chão
Nasci numa onda verde
Na espuma me batizei
Vim trazido numa rede
Na areia me enterrarei
Na areia me enterrarei
Ou então nasci na palma
Palha da palma no chão
Tenho a alma de água clara
Meu braço espalhado em praia
Meu braço espalhado em praia
E o mar na palma da mão
No cais, na beira do cais
Senti meu primeiro amor
E num cais que era só cais
Somente mar ao redor
Somente mar ao redor
Mas o mar não é todo mar
Mar que em todo o mundo exista
Ou melhor, é o mar do mundo
De um certo ponto de vista
De onde só se avista o mar
E a Ilha de Itaparica
A Bahia é que é o cais
A praia, a beira, a espuma
E a Bahia só tem uma
Costa clara, litoral
Costa clara, litoral
É por isso que é o azul
Cor de minha devoção
Não qualquer azul, azul
De qualquer céu, qualquer dia
O azul de qualquer poesia
De samba tirado em vão
É o azul que a gente fita
No azul do mar da Bahia
É a cor que lá principia
E que habita em meu coração
E que habita em meu coração
E que habita em meu coração
BRWMB9800618
© Gege Edições Musicais / © Editora Musical Arlequim LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
Outras gravações:
“Mar 4”, Gilberto Gil, Dubas Musica 2001
“Beira do mar”, Gilberto Gil, Dubas Musica 2000
“Louvação”, Gilberto Gil, Polygram 1967
“Retirante”, Gilberto Gil, Discobertas 2010
“O seu amor”, Gilberto Gil, Universal Music 2004
“Acustico”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner Music 1994
“O rancho do novo dia”, Gilberto Gil e Caetano, Philips 1981
“Ituaçú – Gilberto Gil”, Orquestra De Sopros Da Pro Arte E Flautistas Da Pro Arte, Gil Geringonça Filmes 2012
9. Sampa (03:45)
Sampa
Caetano Veloso
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São
João É que quando eu cheguei por aqui
Eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida
São João
Quando eu te encarei frente a frente
Não vi o meu rosto
Chamei de mal gosto
O que vi de mal gosto, mau gosto
É que narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes
Quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E que vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Por que é o avesso do avesso
Do avesso do avesso.
Do povo oprimido nas filas
Nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue
E destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe
Apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas
De campos, espaços
Tuas oficinas de florestas
Teus deuses da chuva Pan Américas
De Áfricas Utópicas
Do mundo do samba
Mais possível novo Quilombo de Zumbi
Que os novos baianos passeiam
Na tua garoa Que novos baianos te podem curtir
Numa boa
BRWMB9800053
© Uns (Warner/Chappell)
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
10. Parabolicamará (04:44)
Parabolicamará
Gilberto Gil
Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande
Hoje mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena parabolicamará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará
Antes longe era distante
Perto, só quando dava
Quando muito, ali defronte
E o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes, den de casa, camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará
De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
Pela onda luminosa
Leva o tempo de um raio
Tempo que levava Rosa
Pra aprumar o balaio
Quando sentia que o balaio ia escorregar
Ê, volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará
Esse tempo nunca passa
Não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabaça
Nem tá preso nem foge
No instante que tange o berimbau, meu camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo da volta, camará
De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
De avião, o tempo de uma saudade
Esse tempo não tem rédea
Vem nas asas do vento
O momento da tragédia
Chico, Ferreira e Bento
Só souberam na hora do destino apresentar
Ê, volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará
BRWMB9800619
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
“Eu queria fazer uma canção falando dos contrastes entre o rural e o urbano, o artesanal e o industrial, usando um linguajar simples, típico de comunidades rudimentares, e uma cadência de roda de capoeira. Aí, compondo os primeiros versos, quando me ocorreu a palavra ‘antena’ – seguida de ‘parabólica’ – para rimar com ‘pequena’, eu pensei em ‘camará’ [palavra usada comumente nas cantigas de capoeira como vocativo] para completar a linha e a estrofe. Como ‘parabólica camará’ dava um cacófato, eu cortei uma sílaba ‘ca’ e fiz a junção das palavras, criando o vocábulo ‘parabolicamará’. Uma verdadeira invenção concretista; uma concreção perfeita em som, sentido e imagem. Nela, como um símbolo, vinham-me reveladas todas as interações de mundos que eu queria fazer. Aí se tornou irrecusável prosseguir e, mais, fazer daquilo um emblema do conceito, não só da canção, mas de todo o disco (Parabolicamará).”
*
“Em Parabolicamará pus o tempo existencial, psíquico, em contraposição ao tempo cronológico – a eternidade, a encarnação e a saudade à jangada e ao saveiro – e estes dois ao avião -, para insinuar o encurtamento do tempo-espaço provocado pelo aumento da rapidez dos meios de comunicação física e mental do mundo-tempo moderno e das velocidades transformadoras em que vivemos. Pus também o tempo sub-atômico, da partícula, da subfração de tempo; do átomo de tempo – cuja imagem mais representativa é exatamente a correção equilibradora que a Rosa faz com o balaio. E pus por fim o tempo da morte, o tempo-corte, o tempo que corta, ceifa, o tempo-foice, onde alguma coisa é e de repente foi-se, lembrando – na citação dos caymmianos Chico, Ferreira e Bento – a morte do meu filho: a situação, segundo se imagina, de ele meio sonolento no volante do carro sendo subitamente assaltado pelo evento acidental que o levaria à morte.”
11. Tempo rei (05:02)
Tempo rei
Gilberto Gil
Não me iludo
Tudo permanecerá do jeito que tem sido
Transcorrendo
Transformando
Tempo e espaço navegando todos os sentidos
Pães de Açúcar
Corcovados
Fustigados pela chuva e pelo eterno vento
Água mole
Pedra dura
Tanto bate que não restará nem pensamento
Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai-me, ó, pai, o que eu ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei
Pensamento
Mesmo o fundamento singular do ser humano
De um momento
Para o outro
Poderá não mais fundar nem gregos nem baianos
Mães zelosas
Pais corujas
Vejam como as águas de repente ficam sujas
Não se iludam
Não me iludo
Tudo agora mesmo pode estar por um segundo
Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai-me, ó, pai, o que eu ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei
BRWMB9800621
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
“Tempo Rei é a minha versão para uma questão colocada em Oração ao Tempo, onde a frase-chave para mim é: ‘Quando eu tiver saído para fora do teu círculo, não serei nem terás sido’ – quer dizer: o tempo desaparecerá, eu desaparecerei; o tempo e aquele que o inventa, o ego, estarão ambos desinventados, portanto. Na música do Caetano parece haver um niilismo essencial, um mergulho no nada absoluto e uma resignação plena, orgulhosa e altiva com a extinção. Na minha tem uma coisa mais cristã; uma, quem sabe, quimera; um vago desejo de permanência e de transformação.
“Em todo o meu filosofar popular sobre o existente e o eterno, há sempre uma possível porta aberta pra algo pós. Para mim é muito difícil não crer no pós sem não crer no pré. Como me é absolutamente impossível anular a existência do anterior a mim, também me é muito difícil aceitar a inexistência do posterior; para mim são coisas iguais. Assim como eu ‘não posso esquecer que um dia houve em que eu não estava aqui’ (Cada Tempo em Seu Lugar), um dia haverá em que eu não estarei aqui: mas esse dia haverá; haverá o ser das coisas que serão independentes de mim então. Eu não imagino a extinção de tudo com a extinção do meu ego. A morte de todas as pessoas que nós conhecemos até aqui não extinguiu o mundo – nem o que foi anterior a elas, nem o que lhes foi posterior; por que esse milagre aconteceria justo comigo? Eu levaria tudo comigo?
“Aí reside para mim um problema do existencialismo. Aí, e só aí, eu esbarro um pouco em Sartre, apesar do meu grande amor por ele, e ele não me convence. Sartre morreu e o mundo está aí! Por isso à sua filosofia eu chamaria mais de individualismo do que existencialismo. Um existencialismo individualista, não algo universalizável.”
*
O provérbio “água mole em pedra dura etc.” fala da eficácia que as coisas acabam tendo ao durarem no tempo. Na letra, a omissão do final do ditado, “até que fura” (cujo significado é o da ação de interferência no mundo, dentro do plano do tempo “real”, cronológico), e a sua substituição pela expressão “que não restará nem pensamento”, além de servirem para romper a expectativa de enunciação completa de um dito conhecido, servem, segundo Gil, sobretudo ao seu propósito de sugerir a idéia de corte da dimensão do tempo enquanto duração para a dimensão do tempo “enquanto eternidade sorvedora de todas as suas dimensões, para a sua transdimensionalização”; de saída “do tempo-existência para o tempo-essência (o eterno)”; do tempo para o “atempo” – onde, nas palavras do compositor, “já nem pensar é possível”.
12. Expresso 2222 (04:44)
Expresso 2222
Gilberto Gil
Começou a circular o Expresso 2222
Que parte direto de Bonsucesso pra depois
Começou a circular o Expresso 2222
Da Central do Brasil
Que parte direto de Bonsucesso
Pra depois do ano 2000
Dizem que tem muita gente de agora
Se adiantando, partindo pra lá
Pra 2001 e 2 e tempo afora
Até onde essa estrada do tempo vai dar
Do tempo vai dar
Do tempo vai dar, menina, do tempo vai
Segundo quem já andou no Expresso
Lá pelo ano 2000 fica a tal
Estação final do percurso-vida
Na terra-mãe concebida
De vento, de fogo, de água e sal
De água e sal
De água e sal
Ô, menina, de água e sal
Dizem que parece o bonde do morro
Do Corcovado daqui
Só que não se pega e entra e senta e anda
O trilho é feito um brilho que não tem fim
Oi, que não tem fim
Que não tem fim
Ô, menina, que não tem fim
Nunca se chega no Cristo concreto
De matéria ou qualquer coisa real
Depois de 2001 e 2 e tempo afora
O Cristo é como quem foi visto subindo ao céu
Subindo ao céu
Num véu de nuvem brilhante subindo ao céu
BRWMB9800622
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
Outras gravações:
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison
“Baile Barroco”, Daniela Mercury, BMG
“Aquele frevo axé”, Gal Costa, BMG
“Brilhantes”, João Bosco, Sony Music
“Songbook Gilberto Gil, João Bosco, Lumiar
“Muito prazer”, Ju Cassou
“O samba da minha terra”, Marco Pereira
“De todas as maneiras”, Mariana, Polygram Music
“A música de Gilberto Gil”, MPB4, Polygram
“Se dependesse de mim”, Wilson Simonal, Universal Music
“A arte de Gilberto Gil”, Polygram / Fontana 1985
“Limiar”, Almir côrtes, Almir Côrtes 2013
“Coletânea vibrafone brasileiro”, André Juarez e quarteto, Pôr Do Som Produções Artísticas 2013
“Cordas vocais-dueto”, Andrea Montezuma e Jorjão Carvalho, Cordas vocais-dueto 2001
“Visom digital”, Armandinho 2002
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison 2001
“Forrozança”, Banda som da terra, J&R Produções 2016
“Trilha sonora do filme 1972”, Bem Gil, EMI Music 2003
“Bibi Ferreira brasileiro, profissão esperança”, Biscoito Fino 2013
“Cada tempo em seu lugar”, Cacala Carvalho e João Braga, Mills Records 2012
“Dois amigos, um século de música”, Caetano Veloso & Gilberto Gil 2015
“Pra nhá terra”, Coro Meninos de Araçuaí, Associação Cultural Ponto De Partida
“Baile barroco”, Daniela Mercury, Páginas Do Mar 2006
“Equale no Expresso 2222”, Equale, Cdyou 2001
“Aquele frevo axé”, Gal Costa, BMG 1998
“A história da MPB”, Gilberto Gil, Abril Cultural
“Expresso 2222”, Gilberto Gil, Fontana/Polygram 1982
“Fé na festa – ao vivo”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2010
“Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2009
“Caixa a conspiração de Gilberto Gil – CD Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas
“Gil + 10”, Gilberto Gil, Globaldisc Indústria de CD’S e DVD’S 2011
“Poetas da MPB – João Bosco”, Gilberto Gil, Globo-Columbia 1997
“Personalidade – Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Novodisc mídia digital da Amazônia 2013
“O cordão da liberdade”, Gilberto Gil, Philips 1981
“Minha historia”, Gilberto Gil, Polygram Music 1993
“20 obras primas”, Gilberto Gil, Polygram Music 1996
“A voz de…”, Gilberto Gil, Polygram Music 1981
“Personalidade”, Gilberto Gil, Polygram Music 1987
“20 grandes sucessos de MPB”, Gilberto Gil 1999
“Expresso 2222”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“O vira mundo ao vivo – CD 1”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“Gilberto Gil ao vivo – USP (1973)”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Back in Bahia – ao vivo (1972)”, Gilberto Gil 2017
“Concerto de cordas e máquinas de ritmo”, Biscoito Fino 2012
“Serie gold”, Gilberto Gil
“Um dia em Londres eu anotei num caderno: ‘Começou a circular o expresso 2222, que parte direto de Bonsucesso pra depois’ – e esse pra depois me suscitou imediatamente uma parada. Não tive o mínimo ímpeto de continuar nada; decidi deixar aquilo ali como um vinho, num barril de carvalho, pra envelhecer. Só quase um ano mais tarde, já em outra casa, peguei de novo o caderno (onde, além de versos, eu anotava recados telefônicos, bilhetes para Sandra), musiquei o que tinha escrito e, com o violão, fui fazendo o resto.”
Por que 2222 – “Da infância até a idade adulta eu fiz muita viagem de trem, que era um dos meios de transportes fundamentais para nós da Bahia. Os trens da Companhia Leste Brasileira – e outros – saindo e entrando nas estações, em Salvador, em Ituaçu, em Nazaré das Farinhas, me marcaram. Não sei por que cargas d’água, essa repetição do 2 era algo de que eu estava impregnado; alguma locomotiva, de número 222, que eu vi, ficou na minha cabeça e, quando comecei a letra, a primeira imagem que me veio foi dela.”
As metáforas da canção – “É evidente que a idéia de viagem, expressa na letra, está ligada às drogas, os modificadores e expansores de consciência da época. Era um tempo de muita maconha, LSD, mescalina; Londres vivia o auge dessa cultura. O expresso foi uma alegoria literal disso. E ‘Bonsucesso’ entrou porque era rima e, além disso, referência a um lugar de onde eu vinha, de onde a viagem poderia ter-se iniciado – o Brasil, o Rio de Janeiro, aquele bairro -, seguindo dali pra depois…”
Vocativo funcional – “A tal menina que aparece no meio da música é uma interlocutora fictícia, que só entrou para fazer a transição rítmica entre uma linha e outra, como um engate dos vagões de um trem, mas que ganhou personalidade e reapareceu na estrofe seguinte. Eu senti necessidade de chamá-la à cena de novo, de revê-la na próxima estação… Essas coisas malucas; o feitio de uma canção é uma loucura!”
13. Aquele abraço (04:23)
Aquele abraço
Gilberto Gil
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março
Alô, alô, Realengo – aquele abraço!
Alô, torcida do Flamengo – aquele abraço!
Chacrinha continua balançando a pança
E buzinando a moça e comandando a massa
E continua dando as ordens no terreiro
Alô, alô, seu Chacrinha – velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha, Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha – velho palhaço
Alô, alô, Terezinha – aquele abraço!
Alô, moça da favela – aquele abraço!
Todo mundo da Portela – aquele abraço!
Todo mês de fevereiro – aquele passo!
Alô, Banda de Ipanema – aquele abraço!
Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu – aquele abraço!
Pra você que meu esqueceu – aquele abraço!
Alô, Rio de Janeiro – aquele abraço!
Todo o povo brasileiro – aquele abraço!
BRWMB9800623
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
Outras gravações:
“Arthur Moreira Lima”, Arthur Moreira Lima, SONY
“Show Elis e Miele”, Elis Regina e Miele, Polygram
“Força de expressão”, Ivo Meirelles e Funk’n’lata, FC Record
“Leandro Sapucahy ao vivo”, Leandro Sapucahy, Warner Music
“Ao vivo no Metropolitam”, Legião Urbana, EMI
“Songbook Gilberto Gil vol1”, Tim Maia, Lumiar
“MPB em CY”, Quarteto em Cy, CID
“Igreja Jesus Cristo Dos Santos Do Ultim”, Celebração 2004
“A musica de Gilberto Gil”, TCPA/TOP CAT 2007
“3 na bossa”, Deck Produções Artisticas 2014
“Samba da minha terra”, Alexandre Pires, Emi Music 2013
“Cristo 80 anos – show da paz”, Alexandre Pires, GLP Marketing e Entretenimento 2011
“Na veia”, Arlindo Cruz e Rogê, Polysom 2016
Arthur Moreira Lima, Sony 2000
“SPB”, Augusto Martins, Mills Records 2011
“Amores do Rio Firjan”, Banda e coral da Firjan 2002
“Rod Hanna disco Club”, Banda Rod Hanna, Lua Produçõe Sonoras Especiais 2008
“Barra 69”, Caetano veloso com Gilberto Gil, Universal 1996
“Cantando o Brasil”, Coral de Itaipu, Itaipu Binacional 2014
“Daniela Mercury e cabeça de nós todos”, Oesp Mídia S.A 2013
Flora Caju, Dimi Zumque, Claudia Teixeira/CT Prod. e Eventos 2002
“Retrato cantado – Dimi Zumquê 25 anos”, Dimi Zumque, Edmilson Donizeti Da Silva 2014
“Light my fire”, Eliane Elias 2012
“Show Elis e Miele”, Elis e Miele, Polygram 1998
“Elis Regina revistada”, Elis Regina, Dubas 2005
“Elymar canta Marron”, Elymar Dos Santos 2011
“Equale no Expresso 2222 Cdyou”, Equale, Eletrônica Digital 2001
“Som do barzinho vol. 10”, Evandro Marinho, Universal Music 2001
“Evelyn”, Evelyn, Som livre 2005
“Perfil – Fernanda Abreu”, Fernanda Abreu, Som Livre 2010
“ALM a música ao vivo”, Francis Hime, Biscoito Fino
“Live in London 71 – disco 3 “, Gal Costa e Gilberto Gil, Polysom 2014
“Historia da MPB”, Gilberto Gil, Abril Cultural, Fasciculos 2012
“As letras que o Brasil canta”, Gilberto Gil, Academia Brasileira De Letras 2007
“Música do seculo 5” Gilberto Gil, Caras 1999
“Bar do Mineiro Santa Teresa Rio de Janeiro”, Gilberto Gil, Dubas 2003
“Anos dourados – anos 60 e 70”, Gilberto Gil, Emi 1999
“Projeto especial Readers Digest”, Gilberto Gil, Emi music 1999
“Autografos de sucessos”, Gilberto Gil, Emi Music 1982
“Viagem Nestlé pela literatura”, Gilberto Gil, Fundação Nestlé 2003
“Banda Larga ao vivo em São Paulo”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2008
“T.s. Os Dias Eram Assim”, Gilberto Gil, Som Livre 2017
“Grandes hits MPB1”, Gilberto Gil, Gradiante 2001
“Classicos do Brasil”, Gilberto Gil, L & N 2003
“55 anos de sucessos”, Gilberto Gil, Philps 1978
“Minha historia”, Gilberto Gil, Polygram 1993
“Projeto especial Jornal Correio Da Bahia”, Gilberto Gil, Polygram 1999
“A voz de… “, Gilberto Gil, Polygram 1981
“Personalidade”, Gilberto Gil, Polygram 1987
“Projeto especial lab. Brystol Myers Squibb”, Gilberto Gil, Polygram 1999
“20 grandes sucessos da MPB”, Gilberto Gil, Polygram 1999
“20 obras primas”, Gilberto Gil, Polygram 1996
“A arte de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Polygram/Fontana 1985
“Back in Bahia- ao vivo (1972)” Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Perfil”, Sigla, Gilberto Gil 2005
“Gilberto Gil samba ao vivo”, Gilberto Gil, Sony Music 2014
“Millenium”, Gilberto Gil, Universal Musical 2000
“Os sambas do milênio vol. 2”, Gilberto Gil, Universal Music 2000
“Palco MPB – 4a edição”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Serie sem limite – cd 2”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“Gil projeto especial ABN ANRO/Mastercard”, Gilberto Gil, Universal Music, 2006
“Daslu samba rock”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Tubos apolo – proj. especial”, Gilberto Gil, Universal Music 2003
“Gilberto Gil – 2 anos”, Gilberto Gil, Universal Music 2010
“O quintal do Zeca”, Gilberto Gil, Universal Music 2011
“3m – projeto especial”, Gilberto Gil, Universal Music 2010
“Samba in Rio”, Gilberto Gil, Universal Music
2010
“Chacrinha – o musical (cd2)”, Gilberto Gil, Universal Music 2014
“Lugar comum”, Gilberto Gil, Universal Music 2008
“Rio 450”, Gilberto Gil, Universal Music 2015
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Acustico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Enciclopedia musical brasileira”, Gilberto Gil, Warner Music 1999
“Chill Brazil”, Gilberto Gil, Warner Music 2006
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Soy loco por ti America”, Gilberto Gil, Warner Music 1995
“Gilberto Gil no palco – nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“1975-1997 bossa,samba & pop”, Gilberto Gil, Warner Music 1998
“It ‘s good to be alive – anos 90”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Warner 30 anos”, Gilberto Gil, Warner
Music 2006
“Acoustic”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Samba sempre”, Gilberto Gil, Warner Music 2016
“Chill Brazil copa”, Gilberto Gil, Warner Music 2010
“Carruagem fantástica – Lifetime Achievement Original E Soundtrack”, Washington L. Olivetto 2014
“Unplugged”, Warner Music, Gilberto Gil 2002
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Chill Brazil 4”, Gilberto Gil, Warner Music 2006
“Gilberto Gil no palco – nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“1975-1997 bossa,samba & pop”, Gilberto Gil, Warner Music 1998
“Warner 30 anos”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Acoustic”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Samba sempre”, Gilberto Gil, Warner Music 2016
“Este é o Gil que eu gosto”, Gilberto Gil, Warner Music 1995
“Ao vivo em Toquio”, Gilberto Gil e Banda Um, Warner Music 1994
“Gil + 10”, Gilberto Gil, Som Livre 2011
“Gil e Gal”, Gilberto Gil e Gal, Discobertas 2014
Albatroz, Grupo Equale 1999
“Guilherme Borges Hildebrand”, Grupo Madalena 2007
“Um viagem através da música dio Brasil”, Grupo Solo Brasil
“Força de expressão”, Ivo Meirelles e funk’n lata, F C Record
“Ovalô”, Jorge Autuori Trio, BMG 2004
“Jorginho Gomes in concert”, Jorginho Gomes & Gilberto gil, Jorginho Gomes Produções 2016
“Leandro Sapucahy ao vivo”, Leandro Sapucahy , Warner Music 2008
“Ao vivo”, Leandro Sapucahy, Warner music 2008
“Ao vivo no Metropolitam”, Legião Urbana, EMI 2001
“De todas as maneiras”, Mariama, Polygram 1979
“Tropicalismo”, Melquiades, Ingrid Sales e Paulo Façanhas, Ultra Music 2008
“Samba de pista”, Micheline Wayz, Special 2003
“Serie Bis bossa nova”, Milton Banana Trio 2001
“Moinho”, Moinho, EMI 2009
“Monobloco – minha história”, Monobloco, Som Livre 2011
“Monobloco 10 ao vivo”, Monobloco, MPB Discos e Produções/Universal 2009
“Pagodão dos morenos” Morenos, Som Livre, 1999
“Planeta Brasil – bossa nova”, MPB 4, Som Livre
“Musica Ligeira”, MPB compositores /Gilberto Gil – vol. 8, Som Livre 2000
“Nós 4”, Gal 2004
“Olivia Hime e Francis Hime”, Sem Mais Adeus, Biscoito Fino 2016
“Orquestra de vozes Meninos Do Rio” 2000
“Os morenos”, Serie Melhor De Dois, Universal 2000
“Vargas o interprete do barzinho”, Renato, Deck 2003
“Canto de liberdade”, Mills Records, Ricardo Vilas 2003
“Uma viagem através da música no Brasil”, Solo brasil, Tratore Distribuição de CD 2011
“Sururu na roda made in japan” , Sururu na Roda, Sarapuí Produções Artísticas 2016
“Um banquinho, um violão…”, Tavynho Bonfá, Seven 2006
“T.s. Salve Jorge” , Tim Maia, Som Livre 2012
“Songbook Gilberto Gil 1′ , Tim Mais, Lumiar 1992
“Sucessos em novas versões”, Tim Maia, Lumiar 1999
“MPB tudo vol.1”, Vários, Warner Music, 2009
“Tec toy”, Vidioke, Eletrônica Digital 2000
“Com passo de MPB”, Zeca Pagodinho, Universal Music 2014
“Meses depois de solto, eu vim ao Rio tratar da questão da saída do Brasil com o Exército. Na manhã do dia da minha volta para Salvador, fui visitar Mariah Costa, mãe de Gal; ali, na casa dela, eu ideei e comecei Aquele Abraço. Finalmente eu ia poder ir embora do país e tinha que dizer ‘bye bye’; sumarizar o episódio todo que estava vivendo, e o que ele representava, numa catarse. Que outra coisa para um compositor fazer uma catarse senão numa canção?
“No avião mesmo eu terminei a música, escrevendo a letra num papel qualquer, um guardanapo, e mentalizando a melodia. Tanto que é uma melodia muito simples, quase de blues; como eu não dispunha de instrumento, tive que recorrer a uma estrutura fácil para guardar na memória. Quando cheguei à Bahia, eu só peguei o violão e toquei; já estava comprometido afetivamente com a canção.”
“Aquele abraço, Gil!” – “Era assim que os soldados me saudavam no quartel, com a expressão usada no programa do Lilico, humorista em voga na época, que tinha esse bordão. Ele até ficou aborrecido com a música; achou que deveria ter direito à canção. Mas eu aprendi a saudação com os soldados. Eu não tinha televisão na prisão, evidentemente, mas eles assistiam o programa; eu só vim a ver depois, quando saí.”
Retificação ratificada – Não foi no quartel de Realengo que Gil e Caetano ficaram presos, e sim no de Marechal Deodoro. “De todo modo”, diz Gil, “a idéia em Aquele Abraço era citar um local qualquer da zona norte do Rio (onde ficamos), um daqueles beira-estrada-de-ferro (Beira Central, Beira Leopoldina), e Realengo é um deles. Uma associação inexata, feita por aproximação; eu nem queria me referir ao lugar certo onde havia ficado preso.”
Uma canção de quarta-feira de cinzas – “O reencontrar a cidade do Rio na manhã em que nós saímos da prisão e revimos a avenida Getulio Vargas ainda com a decoração de carnaval foi o pano de fundo da canção. Na minha cabeça, Aquele Abraço se passa numa quarta-feira de cinzas; é quando o ‘filme’ da música é em mim mentalmente locado.”
The three tops – “Aquele Abraço é uma das músicas minhas mais populares, a mais tocada e o segundo mais vendido dos meus discos (compactos). Uma das três gravações minhas que ficaram em primeiro lugar nas paradas de sucesso durante maior tempo (dois meses; eu já estava na Europa). As outras são Xodó (três meses, em 73), da autoria do Dominguinhos e Anastácia, e Não Chore Mais (cinco, em 78), versão que fiz para uma música cantada pelo Bob Marley. Foram as três mais vendidas também.”
14. Palco (04:30)
Palco
Giberto Gil
Subo nesse palco
Minha alma cheira a talco
Como bumbum de bebê
De bebê
Minha aura clara
Só quem é clarividente pode ver
Pode ver
Trago a minha banda
Só quem sabe onde é Luanda
Saberá lhe dar valor
Dar valor
Vale quanto pesa
Pra quem preza o louco bumbum do tambor
Do tambor
Fogo eterno pra afugentar
O inferno pra outro lugar
Fogo eterno pra consumir
O inferno fora daqui
Venho para a festa
Sei que muitos têm na testa
O deus Sol como um sinal
Um sinal
Eu, como devoto
Trago um cesto de alegrias de quintal
De quintal
Há também um cântaro
Quem manda é a deusa Música
Pedindo pra deixar
Pra deixar
Derramar o bálsamo
Fazer o canto cântaro cantar
Lalaiá
Fogo eterno pra afugentar
O inferno pra outro lugar
Fogo eterno pra consumir
O inferno fora daqui
BRWMB9701977
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
“Eu estava havia três dias pensando em parar de cantar; em deixar a seqüência profissional de discos e shows. Estava prestes a tomar essa decisão – e avisar todo mundo -, mas não por uma razão que tivesse a ver com cantar, que é a coisa que mais me encanta na vida. Minha sensação era de fastio; eu queria era um elemento que me trouxesse um novo ânimo. ‘Se eu vou parar mesmo’, pensei, ‘eu tenho que fazer uma declaração pública, e essa declaração tem de ser musical.’ Aí eu fiz Palco, uma canção que era na verdade pra não deixar dúvida a respeito de tudo o que cantar representa para mim, e a respeito da minha relação com a música – simbolizada de forma completa pelo estar no palco.”
De que fala Palco (“o primeiro afoxé forte”) – “De um espaço semi-sagrado; da sua função exorcizante, catártica, clínica – daí o refrão (na hora em que compus, eu me lembrava muito do pouco que sabia sobre as tragédias gregas, o palco grego, Dionísios).
“De um sacerdócio; da capacidade de administrar um ritual – o da música em funcionamento, cumprindo seus ditames; de como eu me vejo nesse papel, como eu fantasio a minha visão e como eu vejo essas fantasias do meu próprio olhar.
“Do aspecto transmutador da música para mim no palco: de como estar ali faz provavelmente desaparecer uma opacidade natural do caráter bruto das coisas comuns sem sabores especiais do cotidiano, e como o haver ali sabores especiais em tudo me dá um aspecto de transfiguração – daí a idéia de que ali se propicia que alguém veja minha aura.”
Compor e cantar – “Duas dimensões e dois retornos diferentes à alma. Compor é motivo de extraordinário, transcendental orgulho pela vida, o de fazer parte do universo da criação; cantar é motivo de vaidade. É muito envaidecedor estar num palco e produzir prazer instantaneamente para todos – uma afirmação anímica de vida da música através das energias dos corpos humanos ao vivo. No palco, além de diversão, a sensação é de doação, de benfeitoria do homem para o homem. Já o momento da composição é solitário, individual, e, ao se esgotar, daí por diante é como se a música partisse para o mundo, como um filho. Cantar é reabraçar os filhos, reuni-los de novo ao seu corpo, fazê-los parte do seu corpo.”
“Cântaro = cantar o” – “Quando eu digo ‘cantar o’, eu digo de novo ‘cântaro’. Mais do que rima, é recomposição: a palavra ‘cântaro’ é reconstituída, como se tivessem embutido ali o cântaro. Muitas pessoas não devem nem perceber o ‘cantar o’; na audição deve prevalecer ‘cântaro’ mesmo.”
15. Toda menina baiana (04:38)
Toda menina baiana
Gilberto Gil
Toda menina baiana tem um santo, que Deus dá
Toda menina baiana tem encanto, que Deus dá
Toda menina baiana tem um jeito, que Deus dá
Toda menina baiana tem defeito também que Deus dá
Que Deus deu
Que Deus dá
Que Deus entendeu de dar a primazia
Pro bem, pro mal, primeira mão na Bahia
Primeira missa, primeiro índio abatido também
Que Deus deu
Que Deus entendeu de dar toda magia
Pro bem, pro mal, primeiro chão na Bahia
Primeiro carnaval, primeiro pelourinho também
Que Deus deu
Que Deus deu
Que Deus dá
BRWMB9701978
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia
“Feita em Salvador, ao lado da Nara, minha filha mais velha, que estava na pré- adolescência, a música é pra ela e por causa dela. Fala do caráter fundador da Bahia e das virtudes e defeitos do homem. Por força da busca de compreensão do divino no humano, eu me empenhava em me desvencilhar do maniqueísmo, abarcando as idéias ligadas tanto ao bem quanto ao mal. De lá pra cá esse ficou sendo um tema básico de minhas canções. Quase todas exprimem a necessidade de reiterar o sentido da tolerância, do perdão, da compreensão de que o homem é permeado pelo bem e pelo mal e de que a superação de um implica a superação do outro; você não se livra do mal sem se livrar do bem. A promessa das religiões reside nisso: na superação transcendental de ambos.”
16. Sítio do Picapau Amarelo (03:37)
Sítio do Picapau Amarelo
Gilberto Gil
Marmelada de banana
Bananada de goiaba
Goiabada de marmelo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
Boneca de pano é gente
Sabugo de milho é gente
O sol nascente é tão belo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
Rios de prata piratas
Vôo sideral na mata
Universo paralelo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
No país da fantasia
Num estado de euforia
Cidade Polichinelo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
BRWMB9701929
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
violão – Celso Fonseca
bateria e bandolim – Jorge Gomes
flauta – Lucas Santana
percussão – Marcos Suzano
baixo – Arthur Maia