O Viramundo
(1976)1. Cada Macaco no Seu Galho (04:47)
Cada Macaco no Seu Galho
Riachão
Cada macaco no seu galho
Cho, chuá
Eu não me canso de falar
Cho, chuá
O seu galho é na Bahia
Cho, chuá
O seu é em outro lugar
Você vem não sei de onde
Fica aqui, não vai pra lá
Esse negócio da mãe preta ser leiteira
Já encheu sua mamadeira
Vá mamar noutro lugar
Cho, chuá
Cada macaco no seu galho
Cho, chuá
Eu não me canso de falar
Cho, chuá
O seu galho é na Bahia
Cho, chuá
O seu é em outro lugar
Você vem não sei de onde
Fica aqui, não vai pra lá
Esse negócio da mãe preta ser leiteira
Já encheu sua mamadeira
Vá mamar noutro lugar
68529460
© Warner/Chappell Edições Musicais LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
participação especial – Caetano Veloso
2. Ele e Eu (04:56)
Ele e Eu
Gilberto Gil
Ele vive calmo
E na hora do Porto da Barra fica elétrico
Eu vivo elétrico
E na hora do Porto da Barra fico calmo
Ele vive eletriconsumida, consumada ou mudamente
Bem mais calmo
Porque curte cada golpe do martelo
Na bigorna do destino
E na hora do Porto da Barra fica firme
Eu vivo calmargalarga, abertamente
Bem mais louco
Porque espero pelo beijo arrependido
Da serpente do começo
E na hora do Porto da Barra fico aflito
E na hora do Porto da Barra fico aflito
68529472
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Expresso 2222”, Gilberto Gil,
Fontana/Polygram 1982
“O viramumdo ao vivo – cd 1”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“Expresso 2222”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“Gilberto Gil ao vivo – USP (1973)”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
3. Back In Bahia (04:32)
Back In Bahia
Gilberto Gil
Lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui
Vez em quando, quando me sentia longe, dava por mim
Puxando o cabelo
Nervoso, querendo ouvir Cely Campelo pra não cair
Naquela fossa
Em que vi um camarada meu de Portobello cair
Naquela falta
De juízo que eu não tinha nem uma razão pra curtir
Naquela ausência
De calor, de cor, de sal, de sol, de coração pra sentir
Tanta saudade
Preservada num velho baú de prata dentro de mim
Digo num baú de prata porque prata é a luz do luar
Do luar que tanta falta me fazia junto com o mar
Mar da Bahia
Cujo verde vez em quando me fazia bem relembrar
Tão diferente
Do verde também tão lindo dos gramados campos de lá
Ilha do Norte
Onde não sei se por sorte ou por castigo dei de parar
Por algum tempo
Que afinal passou depressa, como tudo tem de passar
Hoje eu me sinto
Como se ter ido fosse necessário para voltar
Tanto mais vivo
De vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá
68529484
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Alexandre Leão”, Alexandre Leão, Velas
“Estúdio Coca Cola”, Nando Reis e Cachorro Grande, Universal Music
“Cinema Ipanema”, Ricardo Vilas, ROB Digital
“Maravilhosa”, Wanderléa, Universal Music
“A arte de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Polygram/Fontana 1985
Banda Gardenais 2001
“Songbook Gilberto Gil – vol 2”, Barão Vermelho, Lumiar Discos 2015
“E-collection disco 2”, Barão Vermelho, Warner Music 2000
“Dois amigos, um século de música”, Caetano Veloso e Gilberto Gil 2015
“Impressões de viagem”, Eminência Parda, Blues Time 2007
“Eminência Parda”, Blues Time Do Brasil 2010
“Expresso 2222”, Gilberto Gil, Polygram 1972
“Umeboshi – ao vivo, 1973”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Back in Bahia – ao vivo (1972)”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Millennium”, Gilberto Gil, Universal Music 2004
“Durval discos {trilha sonora}”, Gilberto Gil, Universal Music 2003
“Gilberto Gil 2-lados”, Gilberto Gil, Universal Music 2010
“Trilha sonora do filme 1972”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“O cordão da liberdade”, Gilberto Gil, Philips 1981
“Serie sem limite – cd 1”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“20 grandes sucessos de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“O viramundo ao vivo-cd 1”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“Minha historia”, Gilberto Gil, Polygram 1993
“Personalidade”, Gilberto Gil, Polygram 1987
“Wahari Binaural – música e ciência”, Instrumental, Adalberto Nazareth De Almeida Camargo 2015
“Wahari Binaural – música e ciência”, Augusto Ernesto Weber 2016
“Movimento”, Jose Augusto Silvestre 2001
“Lanny Quartet”, Lanny Gordin, Tratore Distribuição de CD 2012
“Estúdio Coca Cola”, Nando Reis e Cachorro Grande, Universal Music 2007
“Brasileiro-o som que vem da terra”, Nordeste, Sony Music 1999
“Cine Ipanema”, Ricardo Vilas, ROD Digital 2004
“Refestança”, Rita Lee e Gilberto Gil, EMI 2003
“Caixa Rita Lee”, Rita Lee e Gilberto Gil, Universal Music 2015
“Pequeno cotolengo do Paraná”, Wanderlea 2003
“O amor sobreviverá”, Wanderléa, Copyrights Consultoria 2003
“Wanderléa”, Wanderléa, Tratore Distribuição de CD’S 2011
“Millennium”, Wanderléa, Universal Music 2005
“Maravilhosa”, Wanderléa, Universal Music 2004
“Era o primeiro verão na Bahia depois que eu tinha voltado de Londres, e eu fui à festa de Nossa Senhora da Conceição em Santo Amaro da Purificação. Eu estava na casa onde Canô, mãe de Caetano, estava dando a festa; vendo as pessoas queridas e a alegria que emanava delas, da lembrança da saudade que eu sentia dessas e outras coisas em Londres veio o impulso para escrever a canção – que eu comecei ali, letra e música juntas, de cabeça, e complementei no dia seguinte, já na casa de Sandra, na Graça, em Salvador.
“Back in Bahia se baseia em motivos musicais muito íntimos, nordestinos – improviso, embolada, galope, martelo -, e em modos cordélicos, com rimas rítmicas [e também internas], típicas do versejar nordestino, e versos simétricos [quase todos de 16 sílabas]: entre eles, o ‘de vida vivida dividida pra lá e pra cá’, de que eu mais gosto: poesia pura, concreta, como o ‘fazer o canto cantar o (rimando com cântaro) o cantar’, em Palco.”
4. Expresso 2222 (05:58)
Expresso 2222
Gilberto Gil
Começou a circular o Expresso 2222
Que parte direto de Bonsucesso pra depois
Começou a circular o Expresso 2222
Da Central do Brasil
Que parte direto de Bonsucesso
Pra depois do ano 2000
Dizem que tem muita gente de agora
Se adiantando, partindo pra lá
Pra 2001 e 2 e tempo afora
Até onde essa estrada do tempo vai dar
Do tempo vai dar
Do tempo vai dar, menina, do tempo vai
Segundo quem já andou no Expresso
Lá pelo ano 2000 fica a tal
Estação final do percurso-vida
Na terra-mãe concebida
De vento, de fogo, de água e sal
De água e sal
De água e sal
Ô, menina, de água e sal
Dizem que parece o bonde do morro
Do Corcovado daqui
Só que não se pega e entra e senta e anda
O trilho é feito um brilho que não tem fim
Oi, que não tem fim
Que não tem fim
Ô, menina, que não tem fim
Nunca se chega no Cristo concreto
De matéria ou qualquer coisa real
Depois de 2001 e 2 e tempo afora
O Cristo é como quem foi visto subindo ao céu
Subindo ao céu
Num véu de nuvem brilhante subindo ao céu
68529496
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison
“Baile Barroco”, Daniela Mercury, BMG
“Aquele frevo axé”, Gal Costa, BMG
“Brilhantes”, João Bosco, Sony Music
“Songbook Gilberto Gil, João Bosco, Lumiar
“Muito prazer”, Ju Cassou
“O samba da minha terra”, Marco Pereira
“De todas as maneiras”, Mariana, Polygram Music
“A música de Gilberto Gil”, MPB4, Polygram
“Se dependesse de mim”, Wilson Simonal, Universal Music
“A arte de Gilberto Gil”, Polygram / Fontana 1985
“Limiar”, Almir côrtes, Almir Côrtes 2013
“Coletânea vibrafone brasileiro”, André Juarez e quarteto, Pôr Do Som Produções Artísticas 2013
“Cordas vocais-dueto”, Andrea Montezuma e Jorjão Carvalho, Cordas vocais-dueto 2001
“Visom digital”, Armandinho 2002
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison 2001
“Forrozança”, Banda som da terra, J&R Produções 2016
“Trilha sonora do filme 1972”, Bem Gil, EMI Music 2003
“Bibi Ferreira brasileiro, profissão esperança”, Biscoito Fino 2013
“Cada tempo em seu lugar”, Cacala Carvalho e João Braga, Mills Records 2012
“Dois amigos, um século de música”, Caetano Veloso & Gilberto Gil 2015
“Pra nhá terra”, Coro Meninos de Araçuaí, Associação Cultural Ponto De Partida
“Baile barroco”, Daniela Mercury, Páginas Do Mar 2006
“Equale no Expresso 2222”, Equale, Cdyou 2001
“Aquele frevo axé”, Gal Costa, BMG 1998
“A história da MPB”, Gilberto Gil, Abril Cultural
“Expresso 2222”, Gilberto Gil, Fontana/Polygram 1982
“Fé na festa – ao vivo”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2010
“Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2009
“Caixa a conspiração de Gilberto Gil – CD Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas
“Gil + 10”, Gilberto Gil, Globaldisc Indústria de CD’S e DVD’S 2011
“Poetas da MPB – João Bosco”, Gilberto Gil, Globo-Columbia 1997
“Personalidade – Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Novodisc mídia digital da Amazônia 2013
“O cordão da liberdade”, Gilberto Gil, Philips 1981
“Minha historia”, Gilberto Gil, Polygram Music 1993
“20 obras primas”, Gilberto Gil, Polygram Music 1996
“A voz de…”, Gilberto Gil, Polygram Music 1981
“Personalidade”, Gilberto Gil, Polygram Music 1987
“20 grandes sucessos de MPB”, Gilberto Gil 1999
“Expresso 2222”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“O vira mundo ao vivo – CD 1”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“Gilberto Gil ao vivo – USP (1973)”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Back in Bahia – ao vivo (1972)”, Gilberto Gil 2017
“Concerto de cordas e máquinas de ritmo”, Biscoito Fino 2012
“Serie gold”, Gilberto Gil
“Um dia em Londres eu anotei num caderno: ‘Começou a circular o expresso 2222, que parte direto de Bonsucesso pra depois’ – e esse pra depois me suscitou imediatamente uma parada. Não tive o mínimo ímpeto de continuar nada; decidi deixar aquilo ali como um vinho, num barril de carvalho, pra envelhecer. Só quase um ano mais tarde, já em outra casa, peguei de novo o caderno (onde, além de versos, eu anotava recados telefônicos, bilhetes para Sandra), musiquei o que tinha escrito e, com o violão, fui fazendo o resto.”
Por que 2222 – “Da infância até a idade adulta eu fiz muita viagem de trem, que era um dos meios de transportes fundamentais para nós da Bahia. Os trens da Companhia Leste Brasileira – e outros – saindo e entrando nas estações, em Salvador, em Ituaçu, em Nazaré das Farinhas, me marcaram. Não sei por que cargas d’água, essa repetição do 2 era algo de que eu estava impregnado; alguma locomotiva, de número 222, que eu vi, ficou na minha cabeça e, quando comecei a letra, a primeira imagem que me veio foi dela.”
As metáforas da canção – “É evidente que a idéia de viagem, expressa na letra, está ligada às drogas, os modificadores e expansores de consciência da época. Era um tempo de muita maconha, LSD, mescalina; Londres vivia o auge dessa cultura. O expresso foi uma alegoria literal disso. E ‘Bonsucesso’ entrou porque era rima e, além disso, referência a um lugar de onde eu vinha, de onde a viagem poderia ter-se iniciado – o Brasil, o Rio de Janeiro, aquele bairro -, seguindo dali pra depois…”
Vocativo funcional – “A tal menina que aparece no meio da música é uma interlocutora fictícia, que só entrou para fazer a transição rítmica entre uma linha e outra, como um engate dos vagões de um trem, mas que ganhou personalidade e reapareceu na estrofe seguinte. Eu senti necessidade de chamá-la à cena de novo, de revê-la na próxima estação… Essas coisas malucas; o feitio de uma canção é uma loucura!”
5. Objeto Sim, Objeto Não (03:43)
Objeto Sim, Objeto Não
Gilberto Gil
Um objeto sim
Um objeto não
Como Rômulo e Remo
Rômulo e Remo aparecerão
No mesmo dia, na mesma cidade
No mesmo clarão
Um surgindo do céu
Outro vindo do chão
Um objeto sim
Um objeto não
Eubioticamente atraídos
Pela luz do Planalto Central
Das Tordesilhas
Fundarão o seu reinado
Dos ossos de Brasília
Das últimas paisagens
Depois do fim do mundo
É o reinado de ouro
Depois do fim do mundo
O reino de Eldorado
Depois do fim do mundo virão
O objeto sim, o objeto não
Os ilumencarnados seres
Que esta terra habitarão
O identifi Si
O identudo Gui
O identido Ni
O identipo Fi
O identado Ka
E mais uma porção
Dos identifisignificados
Novos seres que virão
Do fundo do céu
Do alto do chão
68529532
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
6. Oriente (07:10)
Oriente
Gilberto Gil
Se oriente, rapaz
Pela constelação do Cruzeiro do Sul
Se oriente, rapaz
Pela constatação de que a aranha
Vive do que tece
Vê se não se esquece
Pela simples razão de que tudo merece
Consideração
Considere, rapaz
A possibilidade de ir pro Japão
Num cargueiro do Lloyd lavando o porão
Pela curiosidade de ver
Onde o sol se esconde
Vê se compreende
Pela simples razão de que tudo depende
De determinação
Determine, rapaz
Onde vai ser seu curso de pós-graduação
Se oriente, rapaz
Pela rotação da Terra em torno do Sol
Sorridente, rapaz
Pela continuidade do sonho de Adão
68529507
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
A “voz” – “Eu e Sandra [Sandra Gadelha, a terceira mulher de Gil] estávamos em Ibiza, na Espanha, numa casinha que tínhamos alugado num bosque de eucalipto. Era um fim de tarde de verão; tínhamos ido à praia e tomado orchata de chufa. Eu estava sentado à porta do chalé, fitando a transição do céu azul para o céu noturno; começavam a surgir as primeiras estrelas. Sandra lá dentro, preparando alguma coisa, e eu ali, quieto. De repente eu vi uma estrela cadente e aquilo me deu interiormente a sensação de uma voz. ‘Se oriente!’ – surgiu essa voz. “Se oriente, rapaz”. Aí eu entrei, peguei papel e lápis, e…”
De como os sentimentos e as reflexões foram nutrindo a inspiração poética e a composição se transformando numa condensação de símbolos – “Da saudade do sul – do hemisfério sul – veio a idéia do Cruzeiro como orientação, como se eu tivesse de me lançar ao mar em busca da redescoberta da minha terra (Cabral, as três caravelas, as navegações: tudo isso vinha à cabeça), desencadeando-se a seguir a meditação sobre a minha situação no exílio, com uma auto-justificação da necessidade da viagem e uma metáfora para o sacrifício da aventura forçada (os navios negreiros, o trabalho escravo no porão dos negreiros; tudo vinha à cabeça e os pensamentos iam sendo sintetizados nos versos).
“O fato de eu ter feito o projeto da familia, a faculdade; de ter recusado uma pós-graduação na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, para assumir o trabalho na Gessy-Lever e ficar em São Paulo perto de Caetano, de Bethânia, de Gal, do projeto pessoal, a música; e de o trabalho na Gessy-Lever ter sido uma espécie de pós-graduação também, assim como a situação do exílio tinha para mim um significado de pós-graduação… Por tudo isso Oriente é a música minha que eu considero mais pessoal e auto-solidária, mais solitária. Não sou eu em relação a uma mulher ou a uma cidade; sou eu em relação a mim mesmo, a um momento de vida. Back in Bahia também é auto-referente; ela e Oriente são complementares. Minhas músicas da época são assim. Expresso 2222 é meu disco mais elaborado no sentido de relatar um período.”
Atmosfera oriental – “O ‘sorridente’ foi lembrança remota e inconsciente dos versos de Rogério Duarte comigo em Objeto Semi-Identificado: ‘sorridente’ contém ‘oriente’. (O uso do termo ali dá também um alívio em relação ao tom de cobrança de antes: ‘se oriente’, ‘considere’, ‘determine’). O clima do oriente estava no ar: os hare-krishna, os tarôs, os I-Chings. E eu estava num ambiente propício para a referência adâmica do final; Ibiza era o paraíso da contracultura, refúgio de hippies de todo o mundo: europeus, americanos, brasileiros, indianos.”
7. Procissão (06:56)
Procissão
Gilberto Gil
Edy Star
Olha lá vai passando a procissão
Se arrastando que nem cobra pelo chão
As pessoas que nela vão passando
Acreditam nas coisas lá do céu
As mulheres cantando tiram versos
Os homens escutando tiram o chapéu
Eles vivem penando aqui na terra
Esperando o que Jesus prometeu
E Jesus prometeu vida melhor
Pra quem vive nesse mundo sem amor
Só depois de entregar o corpo ao chão
Só depois de morrer neste sertão
Eu também tô do lado de Jesus
Só que acho que ele se esqueceu
De dizer que na terra a gente tem
De arranjar um jeitinho pra viver
Muita gente se arvora a ser Deus
E promete tanta coisa pro sertão
Que vai dar um vestido pra Maria
E promete um roçado pro João
Entra ano, sai ano, e nada vem
Meu sertão continua ao deus-dará
Mas se existe Jesus no firmamento
Cá na terra isto tem que se acabar
68529519
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
“A locação da música é em Ituaçu, minha cidade, no interior da Bahia, onde nos dias de festa religiosa as procissões passavam e eu, criança, olhava. Uma canção bem ao gosto do CPC, o Centro Popular de Cultura; solidária a uma interpretação marxista da religião, vista como ópio do povo e fator de alienação da realidade, segundo o materialismo dialético. A situação de abandono do homem do campo do Nordeste, a área mais carente do país: eu vinha de lá; logo, tinha um compromisso telúrico com aquilo.”
8. Domingo no Parque (05:17)
Domingo no Parque
Gilberto Gil
O rei da brincadeira – ê, José
O rei da confusão – ê, João
Um trabalhava na feira – ê, José
Outro na construção – ê, João
A semana passada, no fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar
Capoeira
Não foi pra lá pra Ribeira
Foi namorar
O José como sempre no fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio
Foi no parque que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu
Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana, seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé
E o sorvete gelou seu coração
O sorvete e a rosa – ô, José
A rosa e o sorvete – ô, José
Oi, dançando no peito – ô, José
Do José brincalhão – ô, José
O sorvete e a rosa – ô, José
A rosa e o sorvete – ô, José
Oi, girando na mente – ô, José
Do José brincalhão – ô, José
Juliana girando – oi, girando
Oi, na roda gigante – oi, girando
Oi, na roda gigante – oi, girando
O amigo João – João
O sorvete é morango – é vermelho
Oi, girando, e a rosa – é vermelha
Oi, girando, girando – é vermelha
Oi, girando, girando – olha a faca!
Olha o sangue na mão – ê, José
Juliana no chão – ê, José
Outro corpo caído – ê, José
Seu amigo, João – ê, José
Amanhã não tem feira – ê, José
Não tem mais construção – ê, João
Não tem mais brincadeira – ê, José
Não tem mais confusão – ê, João
68529520
© Gege Edições / Preta Music (EUA & Canada)
Ficha técnica da faixa:
voz e guitarra – Gilberto Gil
guitarra – Lanny Gordin
baixo – Bruce Henry
bateria – Tutty Moreno
teclado – Aloisio Milanez
Outras gravações:
“Cordas vocais”, Andrea Montezuma e Jorjão Carvalho
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison
“Banda de Boca”, Banda de Boca, Atração
“Céu da Boca”, Céu da Boca, Polygram
“Claudya e Zimbo Trio”, Claudya e Zimbo Trio, Movieplay
“Cynara & Cybele”, Cynara & Cybele, CBS
“Atenciosamente”, Duofel, Trama
“Minha voz”, Gal Costa, Philips
“Gaya e Rogério Duprat”, Gaya e Rogério Duprat, Philips
“Nova série”, Golden Boys, Warner Music
“Rastapé”, Rastapé, EMI Music
“Grupo Sensação”, Grupo Sensação, Warner
“Songbook Gilberto Gil”, Hermeto Pascoal e Margareth Menezes, Lumiar Music
“Margareth Menezes”, Margareth Menezes, Natasha
“A arte de Os Mutantes”, Os Mutantes, Universal Music
“Os Solistas”, Os Solistas, Fermata
“Reginaldo Rossi”, Reginaldo Rossi, Chantecler
“Rita Lee ao vivo”, Rita Lee, Biscoito Fino
“A banda tropicalista do Duprat”, Rogério Duprat, Universal Music
“Titulares do Ritmo”, Titulares do Ritmo, RGE
“Juventude 2000”, Wilson das Neves e seu conjunto, EMI Music
“Zimbo Trio”, Zimbo Trio, RGE
Montar algo diferente, partindo de elementos regionais, baianos, para o festival da TV Record: esse era o projeto de Gil ao começar a pensar a canção. “Daí a idéia”, conta ele, “de usar um toque de berimbau, de roda de capoeira, como numa cantiga folclórica. O início da melodia e da letra da música já é tirado desses modos. Com a caracterização do capoeirista e do feirante como personagens, eu já tinha os elementos nítidos para começar a criação da história.”
*
“Algumas pessoas pensam que rima é só ornamento, mas a rima descortina paisagens e universos incríveis; de repente, você se depara no lugar mais absurdo. Eu, que a procuro primeiro na cabeça, no alfabeto interno – mas também vou ao dicionário -, vejo três fatores simultâneos determinantes para a escolha da rima: além do som, o sentido e o necessário deslocamento.
“Em Domingo no Parque, pra rimar com ‘sumiu’, eu cheguei à Boca do Rio (bairro de Salvador). E quando eu pensei na Boca do Rio, me veio um parque de diversões que eu tinha visto, não sei quantos anos antes, instalado lá, e que, desde então, identificava a Boca do Rio pra mim: desde aquele dia, a lembrança do lugar vinha sempre junto com a roda gigante que eu tinha visto lá. Aí eu quis usar o termo e anotei, lateralmente, no papel: ‘roda gigante’. Ela ia ter que vir pra história de alguma maneira, em instantes.
“Era preciso também fazer o João e o José se encontrarem. O João não tinha ido ‘pra lá’, pra Ribeira; tinha ido ‘namorar’ (pra rimar com ‘lá’). Onde? Na Boca do Rio, pra onde o José, de outra parte da cidade, também foi. No parque vem a conformação dos caracteres psicológicos dos dois. Um, audacioso, aberto, expansivo. O outro, tímido, recuado. Esse, louco por Juliana mas sem coragem de se declarar, vivia há tempos um amor platônico, idealizando uma oportunidade pra falar com ela. Naquele dia ele chega ao parque e a encontra com João, que estava ali pela primeira vez e não a conhecia, mas já tinha cantado Juliana e se divertia com ela na roda gigante. É a decepção total pro José, que não resiste.
“Era só concluir. A roda gigante gira, e o sorvete, até então sorvete só, já é sorvete de morango pra poder ser vermelho, e a rosa, antes rosa só, é vermelha também, e o vermelho vai dando a sugestão de sangue – bem filme americano -, e, no corte, a faca e o corte mesmo. O súbito ímpeto, a súbita manifestação de uma potência no José: ele se revela forte, audaz, suficiente. A coragem que ele não teve para abordar Juliana, ele tem para matar.”
*
“A canção nasceu, portanto, da vontade de mimetizar o canto folk e de representar os arquétipos da música de capoeira com dados exclusivos, específicos: com um romance desse, essa história mexicana. Está tudo casado.”
*
“Domingo no Parque, como Luzia Luluza e outras do mesmo período, foi feita no Hotel Danúbio, onde eu morei durante um ano, em São Paulo. Nana [a cantora Nana Caymmi, segunda mulher de Gil] dormia ao meu lado. Nós tínhamos vindo da casa do pintor Clovis Graciano – amigo de Caymmi -, onde eu tinha rememorado muito a Bahia e Caymmi. Eu estava impregnado disso, e por isso saiu Domingo no Parque: por causa de Caymmi, da filha dele, dos quadros na parede. A umas duas da manhã fomos para o hotel e eu fiquei com aquilo na cabeça: ‘Vou fazer uma música à la Caymmi, fazer de novo um Caymmi, Caymmi hoje!’ Peguei papel e violão e trabalhei a noite toda. Já era dia, quando eu terminei. De manhã, gravei.”
9. O Bom Jogador (07:24)
O Bom Jogador
Gilberto Gil
O bom jogador não engana a geral
O bom jogador não engana a geral
Afrouxa quem tem coragem
Deixa de galinhagem
68529544
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e guitarra – Gilberto Gil
guitarra – Lanny Gordin
baixo – Bruce Henry
bateria – Tutty Moreno
teclado – Aloisio Milanez
Outras gravações:
“O viramundo ao vivo”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“Backin Bahia – ao vivo (1972)”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
10. Brand New Dream (13:10)
Brand New Dream
Gilberto Gil
Cut that out!
Forget it all, baby
Going crazy, feeling sad
About an impossible love
Is so bad
Gimme your hand and come together
Around the corner we can find a shop
That I know has got
A brand new dream
Above on the shelf
Maybe you like
That dream on the shelf above
Tomorrow maybe
I can call you my love
Cut that out!
Bit my bit
Inch by inch
Inch by inch
Inch by inch
Inch by inch
Till you can breath and get peace in your heart
68529556
© Gege Edições / Preta Music (EUA & Canada)
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Live in london 71 – disco 3 – lado b”, Gal Costa e Gilberto Gil, Polysom Comércio 2014
“O viramundo ao vivo – cd 1”, Gilberto Gil, Polygram Comércio 1998
“Back in Bahia – ao vivo (1972)”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Gil e Gal”, Gilberto Gil e Gal Costa 2014
11. Viramundo (06:29)
Viramundo
Gilberto Gil
Capinan
Sou viramundo virado
Nas rondas da maravilha
Cortando a faca e facão
Os desatinos da vida
Gritando para assustar
A coragem da inimiga
Pulando pra não ser preso
Pelas cadeias da intriga
Prefiro ter toda a vida
A vida como inimiga
A ter na morte da vida
Minha sorte decidida
Sou viramundo virado
Pelo mundo do sertão
Mas inda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão
Virado será o mundo
E viramundo verão
O virador deste mundo
Astuto, mau e ladrão
Ser virado pelo mundo
Que virou com certidão
Ainda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão
68529570
© Gege Edições Musicais / © BMG Music Publishing Brasil LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
12. Baby Hippie (06:44)
Baby Hippie
Jorge Mautner
Hoje nada me acalma
Sinto a morte na alma
Quanto ódio contido
Quanto espelho partido
Um espelho por dia
é a sua quantia normal
Não brigue tanto comigo
que vais perder o amigo
É chegado o momento
do despedaçamento final
Ainda ouço aquele rock na vitrola
Seu pai no quarto ao lado, ali a bronquear
Você saindo tão gracinha da escola
diretamente pros meus braços pra me beijar
Depois cinema e pipoca à meia-noite
Seus olhinhos tão lindinhos a me namorar
Altas transações e muita touca
Segura meu benzinho Catita
que eu vou cair de boca
São cenas que não saem da minha mente
São coisas que me deixam tão doente
E eu vou gritando pelo Rio de Janeiro
mais alto que o mais alto dos pandeiros
que acabou de desfilar
Juro Baby Hippy: O nosso Amor um dia vai ressuscitar!
Volta logo pro Tambar!
Ainda lembro aquele rock na vitrola
Seu pai no quarto ao lado ali a bronquear
Você saindo tão gracinha da escola
diretamente pros meus braços pra me beijar
Depois cinema e pipoca à meia-noite
Seus olhinhos tão lindinhos a me namorar
Altas transações e muita touca
Segura meu benzinho Catita
que eu vou cair de boca
São cenas que não saem da minha mente
São coisas que me deixam tão doente
Eu vou gritando pelo Rio de Janeiro
mais alto que o mais alto dos pandeiros
que acabou de desfilar
Juro Baby Hippie:
O nosso Amor um dia vai ressuscitar!
Volta logo pro Tambar!
Quanto ódio contido
Quanto espelho partido
Um espelho por dia
é a sua quantia normal
Não brigue tanto comigo
que vais perder o amigo
É chegado o momento
do despedaçamento final
68529581
© Warner/Chappell Edições Musicais LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
13. Músico Simples (06:45)
Músico Simples
Gilberto Gil
Acordei e o acordeon
Tinha sido tocado num tom muito alto
Desafinei sete vezes na noite
Saí da boate chorando
Sonhos desse tipo são comuns
Para um músico simples dos bares da vida
Sonhos do eco
Do medo
Da culpa
Do erro
Da noite perdida
E tantos outros ecos
Pode um sonho representar
Ressonância
nsia
Reverberação
Coração despedaçado
Dobrado
Choro
Fado
Tango
Triste acordeon
68529593
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
14. Lamento Sertanejo (05:32)
Lamento Sertanejo
Gilberto Gil
Dominguinhos
Por ser de lá do sertão
Lá do cerrado
Lá do interior, do mato
Da caatinga, do roçado
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado
Por ser de lá
Na certa, por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada
Caminhando a esmo
68529604
© Gege Edições Musicais / © Guilherme Araújo Produções Artísticas LTDA. (adm. por Warner/Chappell Edições Musicais LTDA.)
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Um barzinho, um violão”, Alcione, Universal Music
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison
“MPB collection – Gilberto Gil”, Arthur Moreira Lima, Sony Music
“Banda Moxoto”, Banda Moxoto, Playarte
“Samba de gringo”, Bina e Ehud, Comercial Urban
“Um chorinho diferente”, Chorões da Paulicéia, Atração
“Um lugar”, Christina Guedes
“Songbook Gilberto Gil”, Djavan, Lumiar
“Banquete dos mendigos”, Dominguinhos, Biscoito Fino
“A arte de Dominguinhos”, Dominguinhos, Universal Music
“Dominguinhos”, Dominguinhos, Velas
“Baião de Dois”, Elba Ramalho e Dominguinhos, BMG
“Todos domingos”, Flávia Bittencourt
“Viola nordestina”, Heraldo do Monte, Kuarup
“Ito Moreno”, Ito Moreno, Veleiro
“Viola Urbana”, João Araújo, Tratore
“Assanhado”, Madeira de Vento, Centro Popular de Cultura
“Reparo na cancão”, Madrigal em casa
“Clássicos do forró”, Marcos de Olinda, CID
“Sanfona brasileira”, Marcos Faria, Atração
“Imitação da vida”, Maria Bethânia, EMI
“50 anos de forró”, Marinês e sua gente, BMG
“Na Lapa”, Nicolas Krassik, ROB Discos
“Peba na pimenta”, Quinteto violado, Fundação Quinteto Violado
“Viva Dominguinhos”, Sandro Haick e Luciano Magno
“Feijoada Completa”, Tira Poeira, Biscoito Fino
“MPB Forró”, Toninho Ferragutti, MCD
“Nação nordestina”, Zé Ramalho, BMG
“Zé Ramalho ao vivo”, Zé Ramalho, BMG
15. Planeta dos Macacos (05:01)
Planeta dos Macacos
Jorge Mautner
Jards Macalé
Eu vou contar uma história
De um planeta de macacos
Que viviam agitados
Um pra lá, outro pra cá
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Fizeram muitos milagres
Os macacos curiosos
Mas um dia viram todos
Que não podiam mais parar
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Só o macaco da viola
Não se dava evolução
E gritava toda hora
Pare, pare meu irmão
Só o macaco da viola
Ensinava paz e amor
Mas a macacada louca
Destruía até a flor
Chuá, chuá, oi
Chove, chuva
Chuá, chuá
Macacada tresloucada
Chuá, chuá, oi
Chove, chuva
Chuá, chuá
A banana agora mata
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tinha muita concorrência
Entre todos os continentes
E confesso que os macacos
Já não viviam mais contentes
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Tum, dum, dum, dum, dum, dum
Um pensava só em Marte
E o outro só na Lua
Só o macaco da viola
Que ficava só na sua
Só o macaco da viola
Não se dava evolução
E cantava toda hora
Pare, pare meu irmão
Só o macaco da viola
Ensinava paz e amor
Mas a macacada louca
Destruía até a flor
Chuá, chuá, oi
Chove, chuva
Chuá, chuá
Macacada tresloucada
Chuá, chuá, oi
Chove, chuva
Chuá, chuá
A banana agora mata
68529616
© Warner/Chappell Edições Musicais LTDA.
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
16. A Gaivota (06:23)
A Gaivota
Gilberto Gil
Gaivota menina
De asas paradas
Voando no sonho
D’aguas da lagoa
Gaivota querida
Voa numa boa
Que o vento segura
Voa numa boa
Gaivota na ilha
Sem noção da milha
Ficou longe a terra
Gaivota menina
Gaivota querida
Voa numa boa
Que o alento segura
Voa numa boa
Gaivota, te amo e gaivotaria sempre em ti
Gaivotar seria poder te eleger para mim
Eu te quero, e se fosse o caso, quereria mais ainda
Ser, eu mesmo, gaivota sobre mim
Sobrevoar meus temores, meus amores
E alcançar o alto, alto, o mais alto dos teus sonhos
Dos teus sonhos de subir
De subir aos ares
Gaivota querida
Gaivota menina
Pousa perto de mim
68529628
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Bandido”, Ney Matogrosso, Universal Music 2008
“Original album series (cd 4)”, Gilberto Gil, Warner Music 2012
“O viramundo ao vivo”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“Série sem limite – cd 1”, Gilberto Gil, Universal 2001
“E- collection disco 2 “, Gilberto Gil, Warner Music 2000
“Refavela”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“70 anos”, Ney Matogrosso, Warner Music 2015
17. Queremos Saber (03:25)
Queremos Saber
Gilberto Gil
Queremos saber
O que vão fazer
Com as novas invenções
Queremos notícia mais séria
Sobre a descoberta da antimatéria
E suas implicações
Na emancipação do homem
Das grandes populações
Homens pobres das cidades
Das estepes, dos sertões
Queremos saber
Quando vamos ter
Raio laser mais barato
Queremos de fato um relato
Retrato mais sério
Do mistério da luz
Luz do disco voador
Pra iluminação do homem
Tão carente e sofredor
Tão perdido na distância
Da morada do Senhor
Queremos saber
Queremos viver
Confiantes no futuro
Por isso se faz necessário
Prever qual o itinerário da ilusão
A ilusão do poder
Pois se foi permitido ao homem
Tantas coisas conhecer
É melhor que todos saibam
O que pode acontecer
Queremos saber
Queremos saber
Todos queremos saber
68529630
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
baixo – Rubens Sabino (Rubão)
bateria – Tutty Moreno
teclado – Aloisio Milanez
18. A Sociedade Afluente (05:52)
A Sociedade Afluente
Gilberto Gil
No final da noite
Depois que todos comeram
Depois que os pratos sujaram
Depois que os copos secaram
Depois que os discos tocaram
Depois que todos já foram
Ainda a lata do lixo
Pra pôr na porta da rua
Que amanhã é outro dia
Como todo e qualquer dia
Dia da Limpeza Pública
Mandar seu carro alegórico
Recolher nosso tributo
Bem cedo, antes que os detritos
Da banheira e da cozinha
Encham os olhos da vizinha
E ela coma do presunto
Que ficou na geladeira
Muito mais de uma semana
No final da noite
Depois que todos comeram
Depois que os pratos sujaram
Depois que os copos secaram
Depois que os discos desceram
Depois que todos já foram
Ainda a lata do lixo
Pra pôr na porta da rua
68529641
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
voz e violão – Gilberto Gil
baixo – Rubens Sabino (Rubão)
bateria – Tutty Moreno
teclado – Aloisio Milanez
19. Filhos de Gandhi (17:54)
Filhos de Gandhi
Gilberto Gil
Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré
Todo o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi
Iansã, Iemanjá, chama Xangô
Oxossi também
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi
Mercador, Cavaleiro de Bagdá
Oh, Filhos de Obá
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi
Senhor do Bonfim, faz um favor pra mim
Chama o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi
Oh, meu Deus do céu, na terra é carnaval
Chama o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi
68529568
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
violão – Gilberto Gil
Outras gravações:
“Salvador negro amor”, Jauperi e Filhos de Gandhi, Maianga
“Drama – Luz da noite”, Maria Bethânia, Philips
“Quarteto em CY”, Quarteto em CY, Universal Music
“Negrolume”, Wagner Cosse, Tratore
“Dois amigos, um século de música”, Caetano Veloso & Gilberto Gil, Sony Music 2015
“Serie colecionador”, Gil e Jorge, Universal Music 1998
“Grandes mestres da MPB 2”, Gilberto Gil, Warner Music, Gilberto Gil 1977
“Coisas de jorge”, Gilberto Gil, EMI Music 2007
“Em concerto”, Gilberto Gil, Geleia Geral 1987
“Mantas filhos de Gandhi”, Gilberto Gil, Maria Lucia De Paiva
“20 Obras primas”, Gilberto Gil, Polygram Music 1996
“O viramundo ao vivo”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“Gilberto Gil ao vivo – USP (1973)”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Série gold”, Gilberto Gil, Universal Music 2002
“Serie melhor de dois”, Gilberto Gil, Universal Music 2000
“Sound+vision- phono 73”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Dance of the orixás – pure Brazil II”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Serie sem limite cd 1”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“Mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1992
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Em concerto”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“La passion sereine”, Gilberto Gil, Works Editores 2005
“Sound + vision – phono 73”, Gilberto Gil e Jorge Ben, Universal Music 2005
“Box salve jorge”, Gilberto Gil e Jorge Ben, Universal Music 2009
“20 grandes sucessos de Gilberto Gil”, Gilberto Gil e Jorge Ben, Polygram Music 1998
“Salvador negro amor”, Gilberto Gil, Maianga 2006
“Drama – luz da noite”, Philips 1973
“Quarteto em CY – 40 anos”, Quarteto em CY, Universal Music 2004
“Sem limite III – cd 1”, Quarteto em CY, Universal Music 2001
“Resistindo”, Quarteto em CY, Universal Music 2017
“Movimento afropopbrasileiro vol. I”, Tatau e componentes do Gandhi, Estrela do mar 2007
“Trio Quintana ao vivo puro”, Trio Quintana , Gabriel J.M.Schwartz 2001
“Baracão cultural”, Urbanda 2003
“Ivete”, Wado, Tratore distribuição de CD 2008
“Negrolume”, Wagner Cosse, Tratore Distribuição de CD ‘S 2008
“Chegado de Londres, em 72, eu fui passar o carnaval na Bahia, e encontrei o Afoxé Filhos de Gandhi sem massa humana na avenida, reduzido a apenas uns quarenta ou cinquenta na Praça da Sé. O bloco, tão vivo na minha memória, tinha sido um dos grandes emblemas da minha infância e era o mais antigo da cidade. Começou a sair em 49, quando eu tinha sete anos; os integrantes passavam pela porta de casa no bairro de Santo Antonio, todos de branco, com turbantes e lençóis, palhas de alho trançadas e fita na cabeça, e com um toque que era diferente do samba, da marcha, do frevo, dando uma sensação de espaço sagrado (depois viemos a saber que o afoxé era mesmo um toque religioso do candomblé). Eu tinha veneração pelo Gandhi, e ao revê-lo numa situação de indigência, me deu uma dor seguida de um arroubo de filialidade, de amor de filho, arrimo de família; resolvi dar uma força. A primeira coisa que fiz foi me inscrever no bloco – para ‘engrossar o caldo’. Depois fiz a música, e continuei saindo – saí treze anos seguidos. As fileiras foram aumentando, e o Gandhi se recuperando. Os jovens ficaram entusiasmados com minha presença, e os velhos se sentiram mais estimulados a trabalhar; enfim, foi um estímulo geral.”
*
Mercador de Bagdá, Cavaleiro de Bagdá, Filhos de Obá: outros blocos de afoxé citados na letra.