Refazenda
(1975)1. Ela (02:53)
Ela
Gilberto Gil
Ela
Eu vivo o tempo todo com ela
Ela
Eu vivo o tempo todo pra ela
Minha música
Musa única, mulher
Mãe dos meus filhos, ilhas de amor
Cada ilha, um farol
No mar da procela, ela
Ela
Ela que me faz um navegador
Sobretudo ela
Ela que me faz um navegador
BRWMB9701861
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
contrabaixo – Moacyr Albuquerque
bateria – Chico Azevedo
percussão – Hermes
percussão – Ariovaldo
flauta – Jorginho
flauta – Celso
flauta – Geraldo
trombone – Maciel
trombone – Bocado
piston – Formiga
piston – Barreto
cordas – Phonogram
piston – Niltinho
Outras gravações:
“Ela e ele e eu”, Cacala Carvalho
“Morena Bossa Nova”, Clara Moreno, YBrazil
“O rancho do novo dia”, Gilberto Gil, Philips 1981
“16 super sucessos brasileiros”, Gilberto Gil 1975
“Zoombido 3 – flores cristalinas”, Gilberto Gil, Biscoito Fino 2011
“Trilha sonora do filme a partilha”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“Musica para dançar/DJ Ze Pedro”, Gilberto Gil, Unlimited Music 2002
“Ao vivo”, Gilberto Gil, Warner Music 1993
“Refazenda”, Gilberto Gil, Warner Music
1994
“Vida”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“Nightingale”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“1975 – 1997 bossa, samba & pop”, Gilberto Gil, Warner Music 2012
“Festival de Montreux – 50 anos”, Gilberto Gil, Warner Music 2017
“Le troubadour du Brésil”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Ao vivo”, Gilberto Gil, Warner Music 1978
“O essencial dos originais do samba – serie focos”, Os originais do samba, BMG 1999
“Asa branca blues”, Oswaldinho do acordeon, Kuarup 2014
2. Tenho Sede (03:46)
Tenho Sede
Dominguinhos
Anastácia
Traga-me um copo d’água, tenho sede
E essa sede pode me matar
Minha garganta pede um pouco de água
A planta pede chuva quando quer brotar
O céu logo escurece quando vai chover
Meu coração só pede o teu amor
BRWMB9701578
© Musiclave Editora Musical LTDA.
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
contrabaixo – Moacyr Albuquerque
bateria – Chico Azevedo
percussão – Hermes
percussão – Ariovaldo
flauta – Jorginho
flauta – Celso
flauta – Geraldo
trombone – Maciel
trombone – Bocado
piston – Formiga
piston – Barreto
cordas – Phonogram
piston – Niltinho
3. Refazenda (03:08)
Refazenda
Gilberto Gil
Abacateiro
Acataremos teu ato
Nós também somos do mato
Como o pato e o leão
Aguardaremos
Brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos
Teu amor, teu coração
Abacateiro
Teu recolhimento é justamente
O significado
Da palavra temporão
Enquanto o tempo
Não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate
E anoitecerá mamão
Abacateiro
Sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem
O seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro
Doce manga venha ser também
Abacateiro
Serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário
Da leveza pelo ar
Abacateiro
Saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba
BRWMB9701569
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
contrabaixo – Moacyr Albuquerque
bateria – Chico Azevedo
percussão – Hermes
percussão – Ariovaldo
flauta – Jorginho
flauta – Celso
flauta – Geraldo
trombone – Maciel
trombone – Bocado
piston – Formiga
piston – Barreto
cordas – Phonogram
piston – Niltinho
“Refazenda resultou de uma justaposição de nonsenses. Começou com um brainstorm com sons: fui aleatoriamente escolhendo palavras que rimassem e cheguei a um embrião interessante – um desses troncos de árvores tronchas sobre os quais o cinzel dos artistas populares vai trabalhar para fazer esculturas loucas, à la Antonio Conselheiro, do Mario Cravo, nascida de um tronco com dois galhos de braços abertos. O esboço era maior e muito mais absurdo: não tinha sentido nenhum! Aos poucos fui criando sentidos parciais a certas frases, até desejar um sentido geral para todas.
“Os versos foram feitos antes da música, obedecendo a um ritmo que eu tinha na cabeça. Para o primeiro, escolhi o alexandrino, um dos preferenciais do cantador nordestino, pois queria a priori uma canção com esse direcionamento country.”
“Abacateiro, acataremos teu ato” – “Na época pensaram que eu me referia à ditadura militar (o verde da farda) e ao ato institucional, o que nem me passou pela cabeça. O que me veio mesmo foi a natureza em seu contexto doméstico, amansada, a serviço da fruição – daí a idéia de pomar e das estações. Refazenda é rememoração do interior, do convívio com a natureza; reiteração do diálogo com ela e do aprendizado do seu ritmo.”
Linguagem transgressiva – “O período em que compus a canção é permeado pelo nonsense ou o que o tangenciasse; por um despudor audacioso de brincar com as palavras e as coisas; por um grau de permissibilidade, de descontração, de gosto pela transgressão do gosto. É uma fase muito ligada aos estados transformados de consciência, pelas drogas, e a consequente multiplicidade de sentidos e não-sentidos.”
Guariroba – “Nome de uma palmeira do Planalto Central, a palavra dava nome também a uma fazenda que um grupo de amigos (Roberto Pinho, Pontual e outros) tinha a uns cem quilômetros de Brasília. Chegou-se a pensar em criar lá uma comunidade alternativa, onde nos juntássemos todos com nossas famílias. Não deu certo, e a fazenda foi vendida.”
4. Pai e Mãe (03:52)
Pai e Mãe
Gilberto Gil
Eu passei muito tempo
Aprendendo a beijar
Outros homens
Como beijo o meu pai
Eu passei muito tempo
Pra saber que a mulher
Que eu amei
Que amo
Que amarei
Será sempre a mulher
Como é minha mãe
Como é, minha mãe?
Como vão seus temores?
Meu pai, como vai?
Diga a ele que não
Se aborreça comigo
Quando me vir beijar
Outro homem qualquer
Diga a ele que eu
Quando beijo um amigo
Estou certo de ser
Alguém como ele é
Alguém com sua força
Pra me proteger
Alguém com seu carinho
Pra me confortar
Alguém com olhos
E coração bem abertos
Pra me compreender
BRWMB9701571
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
contrabaixo – Moacyr Albuquerque
bateria – Chico Azevedo
percussão – Hermes
percussão – Ariovaldo
trombone – Maciel
trombone – Bocado
piston – Formiga
piston – Barreto
cavaquinho – Canhoto
violão de 7 cordas – Dino
flauta – Altamiro Carrilho
cordas – Phonogram
piston – Niltinho
“Composta no dia em que eu completei 33 anos, 26 de junho de 1975. Uma música de confissão de afeto profundo pelos pais, colocando todos os homens queridos como sendo um prolongamento do pai e todas as mulheres amadas como um prolongamento da mãe. Meus pais moravam em Vitória da Conquista na época e festejaram muito a canção.”
5. Jeca Total (02:53)
Jeca Total
Gilberto Gil
Jeca Total deve ser Jeca Tatu
Presente, passado
Representante da gente no senado
Em plena sessão
Defendendo um projeto
Que eleva o teto
Salarial no sertão
Jeca Total deve ser Jeca Tatu
Doente curado
Representante da gente na sala
Defronte da televisão
Assistindo Gabriela
Viver tantas cores
Dores da emancipação
Jeca Total deve ser Jeca Tatu
Um ente querido
Representante da gente no olimpo
Da imaginação
Imaginacionando o que seria a criação
De um ditado
Dito popular
Mito da mitologia brasileira
Jeca Total
Jeca Total deve ser Jeca Tatu
Um tempo perdido
Interessante a maneira do tempo
Ter perdição
Quer dizer, se perder no correr
Decorrer da história
Glória, decadência, memória
Era de Aquarius
Ou mera ilusão
Jeca Total deve ser Jeca Tatu
Jorge Salomão
Jeca Total Jeca Tatu Jeca Total Jeca Tatu
Jeca Tatu Jeca Total Jeca Tatu Jeca Total
BRWMB9701862
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
contrabaixo – Moacyr Albuquerque
bateria – Chico Azevedo
percussão – Hermes
percussão – Ariovaldo
flauta – Jorginho
flauta – Celso
flauta – Geraldo
trombone – Maciel
trombone – Bocado
piston – Formiga
piston – Barreto
bombardino – Luiz Paulo
cordas – Phonogram
piston – Niltinho
Outras gravações:
“Brasileirissimas”, Emílio Santiago, Philips
“Refazenda”, Gilberto Gil, Philips 1975
“Novela saramandaia”, Gilberto Gil, Sigla 2000
“Nada será como antes – a música dos anos 70”, Gilberto Gil, Universal Music 2004
“Refazenda”, Gilberto Gil, Warner Music 1994
“Gilberto Gil – original album series (cd 3)”, Gilberto Gil, Warner Music 2012
“O fato de que a obra de Jorge Amado tinha antecedido ao período televisivo e agora estava na televisão (era a época da novela Gabriela) me fez pensar nas interseções entre os mundos rural e urbano – muito presentes em seus livros – e no encaminhamento evolutivo dos vários Brasis no sentido campo-cidade, vindo daí a idéia de traçar um risco do Jeca Tatu a um personagem ligado já a um tempo de mudanças técnicas e sócio-culturais recentes no país, que seria o Jeca Total.
“A canção é uma metáfora da, ainda que penosa e minimamente processada, emancipação do homem do povo no Brasil, dentro do grande ciclo histórico da politização das massas [primeira estrofe], simbolizada num ente idealizado em lugar da imagem depreciativa do brasileiro inviável, paupérrimo, esfarrapado, descalço e cheio de verme [segunda e terceira estrofes], não sem um contraponto que põe em dúvida o desejo cumulativo contido na própria idéia progressista de avanço [última].
“Jorge Salomão entra no final como uma síntese e um exemplo de Jeca Total. Menino do interior da Bahia, levado pelo impulso de uma geração, ele parte, como o irmão, Waly, de Jequié pra Salvador, de Salvador pro Rio, e daí pra Nova York, tornando-se como realizador um artista no plano do ‘low profile’, não uma celebridade, mas de todo modo um modelo nítido de emancipação própria.”
6. Essa é Pra Tocar no Rádio (03:03)
Essa é Pra Tocar no Rádio
Gilberto Gil
Essa é pra tocar no rádio
Essa é pra tocar no rádio
Essa é pra vencer o tédio
Quando pintar
Essa é um santo remédio
Pro mau humor
Essa é pro chofer de táxi
Não cochilar
Essa é pro querido ouvinte
Do interior
Essa é pra tocar no rádio
Essa é pra tocar no rádio
Essa é pra sair de casa
Pra trabalhar
Essa é pro rapaz da loja
Transar melhor
Essa é pra depois do almoço
Moço do bar
Essa é pra moça dengosa
Fazer amor
Essa é pra tocar no rádio
Essa é pra tocar no rádio
BRWMB9701863
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
baixo – Rubens Sabino (Rubão)
bateria – Tutty Moreno
percussão – Chico Azevedo
piano elétrico – Aloisio Milanez
Outras gravações:
“Máquina de escrever música”, Moreno + 2, RockIT
“Vange Milliet”, Vange Milliet, Dabliu
“Cada tempo em seu lugar”, Cacala Carvalho e João Braga, Lugar Mills Records 2012
“Serie colecionador”, Gil e jorge, Universal Music 1998
“Gil + 10”, Gilberto Gil, Som Livre 2011
“O bloco da mocidade”, Gilberto Gil, Philips 1981
“Umeboshi – ao vivo, 1973”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Refazenda”, Gilberto Gil, Warner Music 1994
“Gilberto Gil – original album series (cd 3)”, Gilberto Gil, Warner Music 2012
“Gil + 10”, Gilberto Gil & Lenine, Som Livre 2011
“Box salve jorge”, Gilberto Gil e Jorge Ben, Universal Music 2009
Vange Milliet, Dabliu/Eldorado 1998
7. Ê, Povo, ê (04:11)
Ê, Povo, ê
Gilberto Gil
Tão longe
A alegria estava então
Tão longe
O seu sorriso de verão
Eu sei
Quanto custou ter que esperar
Até
Seu precioso bom humor voltar
Ê, povo, ê, povo, ê
Desabafa o coração
Ê, povo, ê, povo, ê
Viver
É simplesmente um grande balão
Voar
Pro céu azul é a missão
Ê, povo, ê, povo, ê
Pelo amor de deus, cantar
Ê, povo, ê, povo, ê
Pelo bom humor, dançar
Ê, povo, ê, povo, ê
Pelo céu azul voar
Ê, povo, ê, povo, ê-ê
BRWMB9701864
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
contrabaixo – Moacyr Albuquerque
bateria – Chico Azevedo
percussão – Hermes
percussão – Ariovaldo
flauta – Jorginho
flauta – Celso
flauta – Geraldo
trombone – Maciel
trombone – Bocado
piston – Formiga
piston – Barreto
cordas – Phonogram
piston – Niltinho
Outras gravações:
“Refazenda”, Gilberto Gil, Philips 1975
“Gilberto Gil – original album series (cd 3)”, Gilberto Gil, Warner Music 2012
8. Retiros Espirituais (04:51)
Retiros Espirituais
Gilberto Gil
Nos meu retiros espirituais
Descubro certas coisas tão normais
Como estar defronte de uma coisa e ficar
Horas a fio com ela
Bárbara, bela, tela de TV
Você há de achar gozado
Barbarela dita assim dessa maneira
Brincadeira sem nexo
Que gente maluca gosta de fazer
Eu diria mais, tudo não passa
Dos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse
Reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, ó
Luar tão cândido
Nos meus retiros espirituais
Descubro certas coisas anormais
Como alguns instantes vacilantes e só
Só com você e comigo
Pouco faltando, devendo chegar
Um momento novo
Vento devastando como um sonho
Sobre a destruição de tudo
Que gente maluca gosta de sonhar
Eu diria, sonhar com você jaz
Nos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo que eu disse
Reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, ó
Luar tão cândido
Nos meus retiros espirituais
Descubro certas coisas tão banais
Como ter problemas ser o mesmo que não
Resolver tê-los é ter
Resolver ignorá-los é ter
Você há de achar gozado
Ter que resolver de ambos os lados
De minha equação
Que gente maluca tem que resolver
Eu diria, o problema se reduz
Aos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo que eu disse
Reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, ó
Luar tão cândido
BRWMB9701865
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
contrabaixo – Moacyr Albuquerque
bateria – Chico Azevedo
percussão – Hermes
percussão – Ariovaldo
flauta – Jorginho
flauta – Celso
flauta – Geraldo
trombone – Maciel
trombone – Bocado
piston – Formiga
piston – Barreto
cordas – Phonogram
piston – Niltinho
“Retiros Espirituais lança um olhar singelo, simplório, sobre a questão filosófica do ser e não ser; sobre o paradoxo do princípio da incerteza, do que é e não é. É uma das minhas músicas sobre o wu wei, a ação-não-ação, a idéia de superação e alcance do ser, onde tudo é; sobre o fato de que o pensamento consciente, sob a égide da volição, ainda é o que se chamaria o estágio zen, o satori, o samadhi, o sat ananda indiano, onde arqueiro, arco e alvo se confundem e sujeito, ato e objeto são uma só coisa.
“Talvez seja a minha obra-prima nesse sentido, porque a mais engenhosa do ponto de vista poemático; uma letra que transcende ao aspecto comum da letra de música, na verdade um poema musicado. No trato da sua criação, os versos não serviram apenas para preencher os vazios das caixas das frases sonoras. Quando eu sentei para escrever, eu já escrevi com o sentimento do poema, como se já houvesse algo sendo dito e o frasear fosse apenas uma explicação do que estava sendo dito. Como uma nuvem que fosse um poema cujos versos fossem a chuva: a chuva é depois da nuvem, dissolução em gotas, fragmentação do ‘denso-condenso’ que é a nuvem: assim eram os versos em relação ao poema e vice-versa.
“Eu estava sozinho na sala de jantar, uma hora da manhã, a família já recolhida, tendo ido dormir, após uma daquelas noites que eu tinha passado com todos sentado defronte a televisão vendo o jornal e a novela, e quis buscar e revelar através da escrita, numa espécie de poema-espírito, poema-situação, o que era estar ali diante do mistério da solidão, na meditação, no compartilhar do silêncio que substituía o ruído da vida, da casa, na madrugada, com a sua capacidade de assepcia, de filtragem do que tinha sido o dia. E a canção foi sendo feita, letra e música juntas.
“É uma das músicas minhas que mais prezo, por ser das primeiras que dão uma radiografia da minha subjetividade e visceralidade interior, álmica. E é dividida em três partes para apresentar o movimento de tese-antítese-síntese de que gosto muito.”
9. O Rouxinol (02:39)
O Rouxinol
Gilberto Gil
Jorge Mautner
Joguei no céu o meu anzol
Pra pescar o sol
Mas tudo que eu pesquei
Foi um rouxinol
Foi um rouxinol
Levei-o para casa
Tratei da sua asa
Ele ficou bom
Fez até um som
Ling, ling, leng
Ling, ling, leng, ling
Cantando um rock com um toque diferente
Dizendo que era um rock do oriente pra mim
Cantando um rock com um toque diferente
Dizendo que era um rock do oriente pra mim
Depois foi embora
Na boca da aurora
Pássaro de seda
Com cheiro de jasmim
Cheiro de jasmim
BRWMB9701866
© Gege Edições Musicais / © Guilherme Araújo Produções Artísticas LTDA. (adm. por Warner/Chappell Edições Musicais LTDA.)
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
contrabaixo – Moacyr Albuquerque
violão – Frederico
percussão – Hermes
percussão – Ariovaldo
flauta – Jorginho
flauta – Celso
flauta – Geraldo
trombone – Maciel
trombone – Bocado
piston – Formiga
piston – Barreto
cordas – Phonogram
piston – Niltinho
Outras gravações:
“Cada tempo em seu lugar”, Cacala Carvalho e João Braga, Mills Records 2012
Thomas Larson, Projeto Angudadá 2014
“Millennium”, Céu da boca, Universal Music 2006
“Barato total”, Céu Da Boca, Universal Music 2004
“A arte de céu da boca”, Céu Da Boca, Gege Produções Artísticas 2006
“Caixa a conspiração de Gilberto Gil – CD bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2010
“Refazenda”, Gilberto Gil, Philips 1975
“Que besteira”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“Sol”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“O poeta e o esfomeado”, Gilberto Gil e Jorge Mautner, Discobertas 2014
“T.S. documentário Jorge Mautner – O Filho Do Holocausto”, Jorge Mautner, Canal Brasil
“Jorge Mautner 40 anos”, Vania Bastos, Dabliu 1999
“Eldorado”, Vânia Bastos 1996
“Tocar na banda”, Vania Bastos, Dabliu 2007
10. Lamento Sertanejo (04:20)
Lamento Sertanejo
Gilberto Gil
Dominguinhos
Por ser de lá do sertão
Lá do cerrado
Lá do interior, do mato
Da caatinga, do roçado
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado
Por ser de lá
Na certa, por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada
Caminhando a esmo
BRWMB9701867
© Gege Edições Musicais / © Guilherme Araújo Produções Artísticas LTDA. (adm. por Warner/Chappell Edições Musicais LTDA.)
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
contrabaixo – Moacyr Albuquerque
bateria – Chico Azevedo
percussão – Hermes
percussão – Ariovaldo
flauta – Jorginho
flauta – Celso
flauta – Geraldo
trombone – Maciel
trombone – Bocado
piston – Formiga
piston – Barreto
cordas – Phonogram
piston – Niltinho
Outras gravações:
“Um barzinho, um violão”, Alcione, Universal Music
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison
“MPB collection – Gilberto Gil”, Arthur Moreira Lima, Sony Music
“Banda Moxoto”, Banda Moxoto, Playarte
“Samba de gringo”, Bina e Ehud, Comercial Urban
“Um chorinho diferente”, Chorões da Paulicéia, Atração
“Um lugar”, Christina Guedes
“Songbook Gilberto Gil”, Djavan, Lumiar
“Banquete dos mendigos”, Dominguinhos, Biscoito Fino
“A arte de Dominguinhos”, Dominguinhos, Universal Music
“Dominguinhos”, Dominguinhos, Velas
“Baião de Dois”, Elba Ramalho e Dominguinhos, BMG
“Todos domingos”, Flávia Bittencourt
“Viola nordestina”, Heraldo do Monte, Kuarup
“Ito Moreno”, Ito Moreno, Veleiro
“Viola Urbana”, João Araújo, Tratore
“Assanhado”, Madeira de Vento, Centro Popular de Cultura
“Reparo na cancão”, Madrigal em casa
“Clássicos do forró”, Marcos de Olinda, CID
“Sanfona brasileira”, Marcos Faria, Atração
“Imitação da vida”, Maria Bethânia, EMI
“50 anos de forró”, Marinês e sua gente, BMG
“Na Lapa”, Nicolas Krassik, ROB Discos
“Peba na pimenta”, Quinteto violado, Fundação Quinteto Violado
“Viva Dominguinhos”, Sandro Haick e Luciano Magno
“Feijoada Completa”, Tira Poeira, Biscoito Fino
“MPB Forró”, Toninho Ferragutti, MCD
“Nação nordestina”, Zé Ramalho, BMG
“Zé Ramalho ao vivo”, Zé Ramalho, BMG
11. Meditação (01:52)
Meditação
Gilberto Gil
Dentro de si mesmo
Mesmo que lá fora
Fora de si mesmo
Mesmo que distante
E assim por diante
De si mesmo, ad infinitum
Tudo de si mesmo
Mesmo que pra nada
Nada pra si mesmo
Mesmo porque tudo
Sempre acaba sendo
O que era de se esperar
BRWMB9701868
© Gege Edições Musicais
Ficha técnica da faixa:
violão e guitarra – Gilberto Gil
acordeom – Dominguinhos
contrabaixo – Moacyr Albuquerque
bateria – Chico Azevedo
percussão – Hermes
percussão – Ariovaldo
flauta – Jorginho
flauta – Celso
flauta – Geraldo
trombone – Maciel
trombone – Bocado
piston – Formiga
piston – Barreto
cordas – Phonogram
piston – Niltinho
Outras gravações:
“Refazenda”, Gilberto Gil, Philips Music 1975
“Giluminoso”, Gilberto Gil, Biscoito Fino 2006
“Gilberto Gil – original album series (cd 3)”, Warner Music 2012
“Topaz audio studio”, Lica 1996
“Roberto Menescal e Wanda Sá – ensaio”, Warner Music 2002
“Este e o Gil que eu gosto”, Zizi Possi, Warner Music 1995
Uma canção sobre meditação que é uma canção que é uma meditação (uma canção-meditação), fruto de um processo de meditação e realizada em estado de meditação.
“Dentro de mim mesmo” – “Meditação é uma busca dos extratos rarefeitos do pensar e do sentir, do olhar sobre o sujeito e o objeto, sobre o si e o em si, e sobre o ser. A letra resultou de horas e horas de dias e dias de meditação sobre a música.
“Eu estava terminando o repertório de Refazenda e queria usá-la como um fecho minimal que emblematizasse a idéia reflexiva, introspectiva, do disco. Havia um compromisso com os espaços das frases sonoras: eu não podia escrever o que quisesse (para construir a letra de uma música que já está feita, a gente já parte com esse dado limitador – não no sentido qualitativo, de expressão, mas no quantitativo). Por isso eu precisava de instrumentos muito precisos que me levassem aos lugares onde as palavras estivessem; de anzóis muitos afiados e linhas de comprimento muito bem medido para poder fazer a pescaria das palavras que expressariam numa suma o que eu sentia. E precisava da confirmação temporal do significado da meditação – de que ela trouxesse para o sujeito, que era eu, a sensação que a palavra meditação traz, de escorrer no tempo…
“Em momentos bem prosaicos, de manhã, de tarde, de noite, eu andava pela casa pensando naquela melodia – com ela dentro de mim mesmo -, mas sem escrever nada, nem tentar, apenas me deixando tomar pelo sentimento oceânico da evolvência. Numa madrugada eu me recolhi, tomei um chá, sentei na posição de lotus, e saiu! – uma parte inteira. Dormi aquele sono pleno, apaziaguado, e no dia seguinte fui tocá-la no violão. Frustração absoluta: me deparei com uma segunda parte que, embora, do ponto de vista métrico, seja basicamente a mesma coisa, tem um finalzinho que é um apêndice (a última frase melódica). ‘Meu Deus do céu! Pensei que estivesse pronta’, eu disse. ‘Quantos dias mais vou ter eu que ficar rodando pela casa para fazer esse resto de música?’ Mas não é que, já estimulado pelas idéias da primeira estrofe, na noite seguinte fui para a mesma situação, me recolhi etc., e veio a segunda?!”
Do início… – “Durante aqueles dias de viagens medidativas (acompanhadas de muita maconha, evidentemente; na época eu fumava bastante e fazia mergulhos abissais…), eu havia regado tanto a planta auto-referencial que, quando me ocorreu algo, me ocorreu o óbvio: ‘Dentro de si mesmo’ – como se para reiterar o silêncio, ou seja, para dizer: ‘Disso não se diz nada, porque isso é indizível; não adianta, você vai ficar dias e dias aí e não vai dizer nada!’ E em seguida, num movimento da interioridade para a exterioridade, veio: ‘Mesmo que lá fora’ – os dois versos em mútuo espelhamento projetando suas imagens significantes para adiante, nos versos subsequentes. A letra é muito visual mesmo, hologrâmica: um fracionamento lisérgico da imagem oculta, com partes essenciais ao todo e com o todo presente nas partes.”
…ao fim… – “O futuro como desdobramento de uma perspectiva colocada por um ser no presente (projeção); como o que era de se esperar: não só no sentido de vir a corresponder a uma expectativa ou a realizar um desejo que se tenha em relação a ele; mas também no sentido de que deve haver uma espera, uma passividade, uma ação da não-ação em relação ao que se espera dele; uma desarticulação do desejo, o não-desejo; o princípio da incerteza, em termos de que, mesmo que seja o inesperado, é na espera disso que o futuro ocorre – e aí, a inclusão da perspectiva do abismo, da tempestade, do desconhecido, da morte.”
…um parto – “Meditação levou uns dez dias em estado de gestação. Muitas outras canções minhas tiveram processos parcialmente similares, mas é dessa que eu tenho a sensação mais nítida de uma fecundação por um corpúsculo invisível que, apesar disso, você sabe que está ali e que um dia nasce. A canção parece ter sido projetada para ter uma gravidez, um crescimento de embrião e seu momento de nascimento. E eu me lembro da comoção profunda que eu tive quando a terminei – no exato momento em que senti o casamento do verso ‘o que era de se esperar’ com a frase musical correspondente.”