Músicas
Cada tempo em seu lugar
Gilberto Gil
Preciso refrear um pouco o meu desejo de ajudar
Não vou mudar um mundo louco dando socos para o ar
Não posso me esquecer que a pressa
É a inimiga da perfeição
Se eu ando o tempo todo a jato, ao menos
Aprendi a ser o último a sair do avião
Preciso me livrar do ofício de ter que ser sempre bom
Bondade pode ser um vício, levar a lugar nenhum
Não posso me esquecer que o açoite
Também foi usado por Jesus
Se eu ando o tempo todo aflito, ao menos
Aprendi a dar meu grito e a carregar a minha cruz
Ô-ô, ô-ô
Cada coisa em seu lugar
Ô-ô, ô-ô
A bondade, quando for bom ser bom
A justiça, quando for melhor
O perdão:
Se for preciso perdoar
Agora deve estar chegando a hora de ir descansar
Um velho sábio na Bahia recomendou: “Devagar”
Não posso me esquecer que um dia
Houve em que eu nem estava aqui
Se eu ando por aí correndo, ao menos
Eu vou aprendendo o jeito de não ter mais aonde ir
Ô-ô, ô-ô
Cada tempo em seu lugar
Ô-ô, ô-ô
A velocidade, quando for bom
A saudade, quando for melhor
Solidão:
Quando a desilusão chegar
“Um auto-retrato autocrítico.
O começo versa sobre a atuação política no mundo; a ilusão de que a transformação pode ser feita segundo o seu lema, sua imagem; de que ela não é um processo lento, contraditório, cheio de altos e baixos e de vaivens, ao invés de um escorrer no tempo; e o fato de que muitas vezes ela é imperceptível, misteriosa, e o afã humano de que ela seja algo dominável é uma panacéia, coisa das ideologias. Muito a ver com eu ter ido para a política, tentar dar uma contribuição, como gratificação egoísta de desejo.
“Eu tinha passado pela Secretaria de Cultura, tentado a Prefeitura, vivido dois anos intensamente conflituosos da vida política em Salvador. Estava na Câmara, quando compus a música. Há nela um tom de lamento de The Fool on The Hill: o homem solitário, na montanha, apreciando o mundo louco; louco, também, de vê-lo e ser parte dele.
“Na segunda estrofe, outra auto-crítica: à mania de bondade. E na última, à irracionalidade do ímpeto como algo de eficácia indiscutível; à pretensão de que do impulso decorra tudo que se quer (ali, também, uma referência oculta a Caymmi: ‘Um velho sábio na Bahia’).
” ‘Cada tempo em seu lugar’: pra passar mais uma vez essa idéia de indissociabilidade do tempo-espaço, de que eu gosto muito.”
Outras gravações:
“Carol Sabóia”, Carol Sabóia, Jam Music
“Origami”, Josyane Melo, Chita Produções
“Cada tempo em seu lugar”, Cacala Carvalho e João Braga, Mills Records 2012
“O eterno Deus mu dança”, Gilberto Gil, Warner Music 1989
“The eternal god of change”, Gilberto Gil, Warner Music 1989
“Healing select bossa nova”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“Origami”, Josyane Melo, Chita Produções 2007
“Céu e mar”, Leila Pinheiro e Nélson Faria, Biscoito Fino 2013
Cálice
Gilberto Gil
Chico Buarque
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
© Gege Edições / Preta Music (EUA & Canada) / © Cara Nova Editora Musical LTDA.
“A Polygram queria fazer um grande evento com todos os seus artistas no formato de encontros, e foi dada a mim e ao Chico a tarefa de compor e cantar uma música em dupla.
“Era semana santa e nós marcamos um encontro no sábado no apartamento dele, na Rodrigo de Freitas (a lagoa referida, aliás, por ele na letra). Eu pensei em levar alguma proposta e, um dia antes, no fim da tarde, me sentei no tatame, onde eu dormia na ápoca, e me pus a esvaziar os pensamentos circulantes para me concentrar. Como era sexta-feira da Paixão, a idéia do calvário e do cálice de Cristo me seduziu, e eu compus o refrão incorporando o pedido de Jesus no momento da agonia. Em seguida escrevi a primeira estrofe, que eu comecei me lembrando de uma bebida amarga chamada Fernet, italiana, de que o Chico gostava e que ele me oferecia sempre que eu ia a sua casa.
“No sábado não foi diferente: ele me trouxe um pouco da bebida, e eu já lhe mostrei o que tinha feito. Quando, cantando o refrão, eu cheguei ao ‘cálice’, no ato ele percebeu a ambiguidade que a palavra, cantada, adquiria, e a associou com ‘cale-se’, introduzindo na canção o sentido da censura. Depois, como eu tinha trazido só o refrão melodizado, trabalhamos na musicalização da estrofe a partir de idéias que ele apresentou. E combinamos um novo encontro.
“Ele acabou fazendo outras duas estrofes e eu mais uma, quatro no total, todas em oito decassílabos. Dois ou três dias depois nos revimos e definimos a sequência. Eu achei que devíamos intercalar nossas estrofes, porque elas não apresentavam um encadeamento linear entre si. Ele concordou, e a ordem ficou esta: a primeira, minha, a segunda, dele; a terceira, minha, e a última, dele.
“Na terceira, o quarto verso e os dois finais já foram influenciados pela idéia do Chico de usar o tema do silêncio. O termo, alías, já aparecia na outra estrofe minha, anterior: ‘silêncio na cidade não se escuta’, quer dizer: no barulho da cidade, não é possível escutar o silêncio; quer dizer: não adianta querer silêncio porque não há silêncio, ou seja: não há censura, a censura é uma quimera; além do mais, ‘mesmo calada a boca, resta o peito’ e ‘mesmo calado o peito, resta a cuca’: se cortam uma coisa, aparece outra.
“Aí, no dia em que nós fomos apresentar a música no show, desligaram o microfone logo depois de termos começado a cantá-la. Tenho a impressão de que ela tinha sido apresentada à censura, tendo-nos sido recomendado que não a cantássemos, mas nós fizemos uma desobediência civil e quisemos cantá-la.”
Outras gravações:
“Chico Buarque & Milton Nascimento”, Chico Buarque e Milton Nascimento, Polygram Comércio
“Cantos e encontros de uns tempos”, Chico César, Biscoito Fino
“Gabriel o Pensador”, Gabriel O Pensador, Sony Music
“Álibi”, Maria Bethânia, Philips
“Miucha e Tom Jobim”, Miucha e Bebel, BMG
“MPB 4”, MPB 4, Polygram
“Voce não entende o que eu falo”, Banda DR. LAO, Luciano Melo, DJ Melo 2002
“Antônio Zambujo – até pensei que fosse minha”, Antônio Zambujo, Som Livre 2016
“Fabiano V. Barreto”, Banda Filhos Da Patria 2001
“Vai passar”, Chico Buarque, EMI Music 2005
“Perfil”, Chico Buarque, Polygram 1997
“Chico CD 3”, Chico Buarque, Polygram 1994
“Coleção Chico Buarque”, Chico Buarque, Sony Music 2010
“As mais belas canções de Chico Buarque”, Chico Buarque, Encontros inesqueciveis – CD3 / Reader ‘ Universal Music 2003
“Chico Buarque”, Chico Buarque, Universal Music 2001
“A música de Gilberto Gil”, Chico Buarque – participação de Milton Nascimento, Universal Music 2003
“Grandes compositores”, Chico Buarque, Globo-RGE 1997
“20 grandes sucessos de Chico Buarque”, Chico Buarque c/Milton Nascimento, Polygram Comércio 1998
“Coleção Chico Buarque”, Chico Buarque, Sony Music 2010
“Só MPB – Som Livre.com”, Chico Buarque, Universal Music 2003
“Millenium”, Chico Buarque com Milton Nascimento, Universal Music 2004
“Gilberto Gil – 2 lados”, Chico Buarque e Milton Nascimento, Universal Music 2010
“10 hits – Chico Buarque”, Chico Buarque e Milton Nascimento, Universal Music 2016
“Cantos e encontros de uns tempos pra cá”, Chico césar, Biscoito Fino
“O axé, a voz, o violão” Daniela Mercury, Biscoito Fino 2016
“Ensaio vocal canta Chico Buarque” 2001
“Inc abandono de Gabri”, Gabriel O Pensador, Sony Music 1995
“Gil & Chico sound + vision / phono 73”, Universal Music 2004
“Gilberto Gil ao vivo – USP (1973)”, Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Gil + 10”, Gilberto Gil & Milton Nascimento, Som Livre 2011
“Sound + vision – phono 73”, Gilberto Gil e Chico Buarque, Universal Music 2005
“De volta ao começo”, João Fenix, Biscoito Fino 2016
“Álibi”, Maria Bethania, Philips 1978
“Personalidade”, Maria Bethania, Polygram Comércio 1987
“20 obras primas”, Maria Bethania, Polygram comércio 1995
“Minha história”, Maria Bethania, Polygram Comércio 1992
“Bethânia canta chico {cd 2}”, Maria Bethânia, Universal Music 2005
“Pátria amarga”, Mariah, Maria do Espírito Santo Souza Marques 2014
“Comportamento geral – canções da resistência”, Marya Bravo, Tratore Distribuição de CD’S
“Banda sinfonica do agreste”, Meninos de Sao Caetano, Velas 1997
“T.s. Os Dias Eram Assim”, Milton Nascimento e Chico Buarque, Som Livre 2017
“Missionarios Do Dizimo”, RGE 1999
“Gil na delas”, Miucha e Bebel, BMG 2005
“As totalmente d+ mix 3.0 – Baixo Leblon on the rocks”, Mpb-4, Indie Records 2003
“A arte de cantar”, Mpb-4, Sigla 1998
Mpb-4, Polygram, 1995
“Serie gold”, Serie Gold, Universal Music 2002
“Série sem limite III – cd 1”, Mpb-4, Universal Music 2001
“Chico Buarque – vol. 1”, Mpb-4, Editora Globo 2000
“Serie melhor de dois”, MPB-4, Universal Music 2000
“Nova série”, Mpb4, Warner Music 2008
“Trilha sonora da novela Amor E Revolução”, Pitty, Universal Music, Universal Music 2011
“Indireto”, Pitty,Jean Dolabella e augusto nogueira, Augusto José Rezende Nogueira 2010
“Songbook Chico Buarque – vol 3”, Sérgio Ricardo, Lumiar Discos 2015
“Projeto academico de direito da Unifacs faculdade da Bahia”, Varios 2002
Canção da moça
Gilberto Gil
Capinan
Que um dia possa ter um lugar
Um lugar que seja meu, que seja meu
Um luar, um luar sobre o caminho
Um amor a quem dê flores
Nuvens no céu, conchas no mar
Amor a quem ensine o amor
Que aprendi ao caminhar
Vou andando, vou sonhando, vou sorrindo
Teu sorriso, sonho antigo em minha dor
Outras gravações:
“Brasil ano 2000”, Gal Costa, Universal Music
“Gal Costa 40 anos”, Gal Costa, Universal Music 2005
“Pérolas raras”, Gal Costa, Universal Music 2006
“Caetano Veloso e Gal Costa – domingo – jewel case”, Gal Costa, Universal Music
[ para o filme Brasil, Ano 2000, de Walter Lima Jr. ]
Canô
Gilberto Gil
da época do trem motriz
do auge dos canaviais
tens vivido a semear a luz
a paz e o amor que tem raiz
na índia dos teus ancestrais
vida cheia de momentos raros
nesta cara santo amaro
terra de doces paixões
zeca e todas as meninas
e os meninos, quantos sinos
quantos hinos, quantas orações
has de ouvir de nós
sempre essa voz
sempre essa voz
sempre em tom de louvor
nossa emoção, canô
nesta canção, canô
nossa emoção, nesta canção
parabéns pra você, canô
cem anos com você, canô
parabéns pra você, canô
cem anos com você, canô
Cantando as Horas
Gilberto Gil
O tempo todo eu fico a procurar
Cá no meu peito tá acesa a chama
Minha boca chama a sua sem parar
Sou passarinho e bem devagarinho
Eu vou cantando as horas pra poder voar
Pra nossa casa
Pro nosso ninho
E no teu carinho me aconchegar
Nossos lençóis bordados, nossa cama
Quando a gente ama
Só pensa em ficar
Mas a saudade tem a sua trama
E é por ir embora que eu posso voltar
Eita que a saudade faz milagre
Abre a nossa porta depois de fechar
Eita que a espera nao altera
Um amor maior que o tamanho do mar
Amanhã bem cedo estou na estrada
Nada que a demora avexe o coração
Se a saudade for muito apertada
Sei que largo tudo e pego um avião
Cantiga
Gilberto Gil
Torquato Neto
Eu te amo tanto, tanto
Que esta minha vida
Sem você
Seria para sempre triste
E eu nem sei se existe
Vida assim
Que alguém possa viver
Meu bem eu te amo tanto
Que vou te dizer
Daria minha vida
Pra não te perder
Cantiga de quem está só
Gilberto Gil
Quem ganhará nesta hora os teus abraços?
Meu pensamento rasteja o teu caminho
Minha saudade sem fim segue os teus passos
Ai, quem terá entre as mãos os teus cabelos?
Quem ouvirá dos teus lábios a frase louca?
No meu desejo de amor estou a vê-los
Chego a senti-los até em minha boca
A quem dirás “meu amor”
Com este jeito tão teu
Com este estranho calor
Que há tanto tempo foi meu?
Ai, quem será que tu vais mandar embora?
Quem chorará como eu, que choro agora?
Casinha feliz
Gilberto Gil
Toda casinha feliz
Ainda é vizinha de um riacho
Ainda tem seu pé de caramanchão
Onde resiste o sertão
Toda casinha feliz
Ainda cozinha no fogão de lenha
Ou fogareiro de carvão
De dia, Diadorim
De noite, estrela sem fim
É o Grande Sertão: Veredas
Reino da Jabuticaba
As minas de Guimarães Rosa
De ouro que não se acaba
Onde resiste o sertão
Toda casinha é feliz
Porque à tardinha tem Ave Maria
E o beijo da solidão
Cérebro eletrônico
Gilberto Gil
Faz quase tudo
Quase tudo
Mas ele é mudo
O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda
Só eu posso pensar se Deus existe
Só eu
Só eu posso chorar quando estou triste
Só eu
Eu cá com meus botões de carne e osso
Hum, hum
Eu falo e ouço
Hum, hum
Eu penso e posso
Eu posso decidir se vivo ou morro
Porque
Porque sou vivo, vivo pra cachorro
E sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Em meu caminho inevitável para a morte
Porque sou vivo, ah, sou muito vivo
E sei
Que a morte é nosso impulso primitivo
E sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Com seus botões de ferro e seus olhos de vidro
“O fato de eu ter sido violentado na base de minha condição existencial – meu corpo – e me ver privado da liberdade da ação e do movimento, do domínio pleno de espaço-tempo, de vontade e de arbítrio, talvez tenha me levado a sonhar com substitutivos e a, inconscientemente, pensar nas extensões mentais e físicas do homem, as suas criações mecânicas; nos comandos tele-acionáveis que aumentam sua mobilidade e capacidade de agir e criar. Porque essas são idéias que perpassam as três canções.”
Outras gravações:
“Barulhinho bom”, Marisa Monte, EMI Music
“A arte de Gilberto Gil”, Polygram/Fontana 1985
“Multishow ao vivo – Caetano e Maria Gadú”, Caetano Veloso e Maria Gadú, Universal Music 2011
“Gilberto Gil revisitado”, Gilberto Gil, Dubas Music 2004
“Personalidade – vol. 2”, Gilberto Gil, 2 Novodisc Mídia Digital 2013
“Giluminoso”, Gilberto Gil, Biscoito Fino 2006
“UNB”, Gilberto Gil 1999
“Millennium”, Gilberto Gil, Universal Music 2004
“Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Universal Music 2004
“Quilombo”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Quanta gente veio ver”, Gilberto Gil, Warner Music 1998
“It’s good to be alive – anos 90”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Barulinho bom”, Marisa Monte, EMI Music 2004
“Viver a vida”, Mylena, Som Livre 2009
“Tempos modernos”, Mylene, Som Livre 2009
Certeza (Mão na mão)
Gilberto Gil
Perinho Santana
Falarei de amor
A não ser
Que eu saiba sua cor
Sua dureza
Seu cheiro, seu sabor
Sua certeza
E a certeza que se tem do amor
Nasce exatamente do calor
Da mão na mão
Do fogo no coração
Que amassa a massa
E assa o pão
Que a fome
Come e passa
Chamada
Gilberto Gil
Outras gravações:
“Z”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
[ para o balé Z, de Germaine Acogny ]
Chão batido
Gilberto Gil
o lugarejo aqui não tinha
ensejo nem capacidade
nem caminhão aqui não vinha
não tinha estrada de verdade
o mais perto que se podia
pegar transporte pra cidade
era na verdade Luzia
o estirão de qualidade
São João, São João
São João em vez de chão batido a estrada
agora tá toda asfaltada
minha Toyota anda que anda
comprei novinha financiada
em vez de pé de serra a banda
agora vai tocar ciranda
com hip hop misturada
por exigência da moçada
a globalização que manda
São João, São João
São João vamo encontrar com tanta gente
a festa agora é diferente
que o mundo tá todo mudado
sobrou pouquinho do passado
uma pamonha um milho assado
uma quadrilha, uma quermesse
e o baião que permanece
a cada dia mais cotado
e o xaxado e o xaxado,
São João, São João
São João também tem outra novidade
a tal da eletricidade
seguida da telefonia
do celular estrela guia
de qualquer ponto a gente envia
mensagens se localizando
que tá pertim, que tá chegando,
já reservei pela Internet
ingressos para o show da Ivete
São João, São João
São João essa garota na carona
é manga-rosa temporona
que manga verde é muito dura
Chegada em Palmares
Gilberto Gil
Chewing gun with banana
Gilberto Gil
Only when your Uncle Sam allows me in
With my tambourine, my cuica and my zabumba
Only when he knows that a samba is not a rumba
So then, I will mix it all
Miami with Copacabana
Your chewing gun I’ll mix with my banana
And then my samba’s gonna hit your soul
Boroboroborobo, boptch-boptch-bop
Boroboroborobo, boptch-boptch-bop
Boroboroborobo, boptch-bop
What a great confusion in the hall
Boroboroborobo, boptch-boptch-bop
Boroboroborobo, boptch-boptch-bop
Boroboroborobo, boptch-bop
We are dancing samba-rock’n’roll
Yes, but on the other hand
We can feel the boogie-woogie trying hard to understand
How to do a brake and shake a tambourine
Joing my Brazilian jamboree
[ inédita – Chiclete com Banana, de Gordurinha e Almira Castilho ]
Chiquinho Azevedo
Gilberto Gil
Garoto de Ipanema
Já salvou um menino
Na praia do Recife
Nesse dia Momó também estava com a gente
Levou-se o menino
Pra uma clínica em frente
E o médico não quis
Vir atender à gente
Nessa hora nosso sangue ficou bem quente
Menino morrendo
Era aquela agonia
E o doutor só queria
Mediante dinheiro
Nessa hora vi quanto o mundo está doente
Discutiu-se muito
Ameaçou-se briga
Doze litros de água
Tiraram da barriga
Do menino que sobreviveu, finalmente
Chiquinho Azevedo
Teve muita coragem
Lá na Boa Viagem
Na praia do Recife
Nesse dia Momó também estava com a gente
Todo mundo me pergunta
Se essa história aconteceu
Aconteceu, minha gente
Quem está contando sou eu
Aconteceu e acontece
Todo dia por aí
Aconteceu e acontece
Que esse mundo é mesmo assim
“O episódio aconteceu durante a excursão do show Refazenda. Chiquinho, Momó (Moacir Albuquerque) e Dominguinhos tocavam comigo. Eu, Momó e Chiquinho – que viria depois a ser o baterista dos Doces Bárbaros – estávamos na praia, e, de repente, um menino se afogando, ele vai, se joga no mar, salva e traz o menino pra areia. O menino naquela agonia, inconsciente, bem defronte havia uma clínica; levamos o menino pra lá, o socorro era urgente, e aí, o médico: ‘Peraí, quem vai pagar, quem é o responsável, e não sei o quê.’ Aquela história. ‘Responsável, coisa nenhuma!’, a gente começou a gritar e xingar.”
Choro de criança
Gilberto Gil
Perinho Santana
Em casa quem não quiser choro de criança
Em casa quem não quiser choro de criança não casa
No caso quem não quiser choro de criança
Não casa porque quem casa tem que escutar
O choro de criança
O choro de criança é tudo
O choro de criança é tudo que se tem
O choro de criança é tudo que se tem em casa
O choro de criança é tudo que se tem em casa
Quando alguém se casa é choro de criança
O tudo que se tem
No caso quando alguém se casar
É choro de criança tudo
Que alguém terá de cantar
Pra consolar
O choro de criança
Chororô
Gilberto Gil
De quem chora tenho dó
Quando o choro de quem chora
Não é choro, é chororô
Quando uma pessoa chora seu choro baixinho
De lágrima a correr pelo cantinho do olhar
Não se pode duvidar
Da razão daquela dor
Não se pode atrapalhar
Sentindo seja o que for
Mas quando a pessoa chora o choro em desatino
Batendo pino como quem vai se arrebentar
Aí, penso que é melhor
Ajudar aquela dor
A encontrar o seu lugar
No meio do chororô
Chororô, chororô, chororô
É muita água, é magoa, é jeito bobo de chorar
Chororô, chororô, chororô
É mágoa, é muita água, a gente pode se afogar
Chororô, chororô, chororô
É muita água, é magoa, é jeito bobo de chorar
Chororô, chororô, chororô
É mágoa, é muita água, a gente pode se acabar
Outras gravações:
“10 de dezembro”, Cássia Eller, Universal Music
“Solar”, Elba Ramalho, BMG
“Coração brasileiro”, Elba Ramalho, Polygram Comércio
“Citação na faixa fiz o que pude All star – Cássia Eller interpreta Nando Reis”, Cássia Eller e Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Solar”, Elba Ramalho, BMG 1999
“Coração brasileiro”, Elba Ramalho, Polygram Comércio 1991
“Elba Ramalho – mega hits”, Elba Ramalho, Sony Music 2014
“A arte de Elba Ramalho”, Elba Ramalho, Universal Music 2005
“Montreaux jazz festival”, Gilberto Gil 2006
“35 years of Montreux jazz festival”, Gilberto Gil, Picotin Records 2001
“Ao vivo”, Gilberto Gil, Warner Music 1993
“Ao vivo em Montreux”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Gilberto Gil – ao vivo – disco 1”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Re”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“Festival de Montreux – 50 anos”, Gilberto Gil, Warner Music 2017
“O melhor de…”, Gilberto Gil, Warner Music 1981
“Ao vivo”, Gilberto Gil, Warner Music 1978
“Graziela cruz”, Graziela Cruz, Graziela Aparecida Da Cruz 2002
Chuck Berry fields forever
Gilberto Gil
Tambor de tinto timbre tanto tonto tom tocou
E neve, garça branca, valsa do Danúbio Azul
Tonta de tanto embalo, num estalo desmaiou
Vertigem verga, a virgem branca tomba sob o sol
Rachado em mil raios pelo machado de Xangô
E assim gerados, a rumba, o mambo, o samba, o rhythm’n’blues
Tornaram-se os ancestrais, os pais do rock and roll
Rock é o nosso tempo, baby
Rock and roll é isso
Chuck Berry fields forever
Os quatro cavaleiros do após-calipso
O após-calipso
Rock and roll
Capítulo um
Versículo vinte
-Sículo vinte
Século vinte e um
Versículo vinte
-Sículo vinte
Século vinte e um
Chuck Berry fields forever
Gilberto Gil
A jungle drum was brought and got the white God to get in
A pagan dance until he had no other chance unless the sin
Of black-white day and night, soul and mind magic
The European Goddess fainted under jungle drum’s sound
She was fertilized by some afro God while on the ground
So the begotten sons as samba, mambo, rumba, rhythm’n’blues
Became the ancestrals of what today we call rock and roll
Rock and roll is magic
Rock and roll is mixture
Chuck Berry fields forever
The joyful English four knights of the post-calypso
In the post-calypso age
Rock and roll
The opening page
What is to come next
We don’t know the text
No one knows precisely
It’s on to progress
Into its funky fullness
Next century
Um exemplo: na transposição, a deusa européia transa com o deus africano; Gil: “Ela é literalmente comida, num estupro cósmico; ‘while on the ground’ é para dar bem a idéia de que ele a derrubou no chão e… Isso tinha que acontecer, até para reafirmar um arquétipo popular, que identifica a África com o masculino, a força física, a virilidade, a natureza de instinto básico, e a Europa com a racionalidade, a mediação do pensamento, a característica mesmo acética – embora, vistas por outro ângulo, a Europa possa até ser identificada com um sentido mais masculino e a África com um sentido mais feminino”.
Outro: impossibilitado de verter para o inglês o jogo sonoro entre os termos ‘versículo’ e ‘século’, Gil aproveitou os últimos versos para lançar um dado poético novo em relação ao texto de partida: a sugestão do funk como o gênero que, “depois do samba, mambo, rumba e rhythm and blues, e do rock and roll como a primeira página da época pós-calipso, viesse para – mais do que ser o descendente dos ‘begotten suns’ do deus bárbaro com a deusa ‘branca de neve’, pálida e frágil – se tornar a própria alma desse casamento e da música negra moderna”.
“No final, original e versão acabam se espelhando e se complementando.”
História e propaganda – “Chuck Berry Fields Forever dá uma visão dinástica do sincretismo religioso e cultural das Américas resultante da junção das culturas da Europa e da África, utilizando a música popular como fio condutor do processo e como um dos modos de apreendê-lo. As Américas são vistas a partir dos seus ritmos: o samba, brasileiro, o mambo e a rumba, centro-americanos, e o rhythm and blues, norte-americano, tudo isso desembocando no rock and roll, que seria assim a forma mais nova da linhagem e a mais representativa da época. Nesse aspecto, a canção não só faz uma apologia do gênero como uma propaganda da minha adesão a ele, o que só aconteceria de fato nos anos oitenta.”
Isomorfismo som-sentido – Os dez tês (num verso de catorze sílabas) de “Tambor de tinto timbre tanto tonto tom tocou”: ao colocar em prática este procedimento aliterativo a intenção do músico-poeta Gilberto Gil foi mimetizar “o tam-tam-tam dos tambores; a sonoridade inebriante – ‘tinto’ se refere a vinho -, o caratér alucinatório da batida reiterada dos tambores”; representar, em suma, “o transe através do som, como no candomblé.”
[ Chuck Berry Fields Forever, de Gilberto Gil ]
Outras gravações:
“Ana Cañas”, Ana Cañas, Sony Music
“O som do sim”, Celso Fonseca, Natasha
“Doces Bárbaros”, Doces Bárbaros, Biscoito Fino
“Hein?”, Ana Cañas, Sony Music 2010
“Doces bárbaros 1”, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia, Universal Music 2011
“Raridades(1975/1981) caixa Caetano Veloso”, Caetano Veloso-Gal Costa-Gilberto Gil-Maria Bethânia, Universal Music 2006
“A arte de Gilberto Gil”, Doces Barbaros e Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Serie sem limite – cd 1”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“O melhor de …”, Gilberto Gil, Warner Music 1981
“Ao vivo”, Gilberto Gil, Warner Music 1978
“La passion sereine”, Gilberto Gil, Works Editores 2005
“Com doces barbaros”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“Satisfação”, Gilberto Gil e Doces Barbaros, Universal Music 2006
“Outros barbaros”, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Biscoito Fino 2003
Chuva miúda
Gilberto Gil
Não lava a calçada, não limpa o chão
Tal como o seu olhar
Não lê meu coração
Ai, meu Deus, chuva miúda
Se não muda o tempo e não abre o sol
Não vai dar pra brincar
Não vai dar meu cordão
Esse tempo que molha e não chove
Esse tempo
Esse papo que chove e não molha
Esse papo
Esse samba que eu fiz pra você
E você que nem me olha
E você que nem me olha
E você que nem me olha
Cibernética
Gilberto Gil
Solino sempre estava lá
Escrevendo: “Dai a César o que é de César”
César costumava dar
Me falou de cibernética
Achando que eu ia me interessar
Que eu já estava interessado
Pelo jeito de falar
Que eu já estivera estado interessado nela
Cibernética
Eu não sei quando será
Cibernética
Eu não sei quando será
Mas será quando a ciência
Estiver livre do poder
A consciência, livre do saber
E a paciência, morta de esperar
Aí então tudo todo o tempo
Será dado e dedicado a Deus
E a César dar adeus às armas caberá
Que a luta pela acumulação de bens materiais
Já não será preciso continuar
A luta pela acumulação de bens materiais
Já não será preciso continuar
Onde lia-se alfândega leia-se pândega
Onde lia-se lei leia-se lá-lá-lá
Cibernética
Eu não sei quando será
Cibernética
Eu não sei quando será
Cidade do Salvador
Gilberto Gil
Tanta dor
A cruz
A dor
A dor
Adormeço
A dor mereço
Agora
A dor
A dor
A dormência
Do sono lunar
Sonho
Sonho
A terra
No sonho
A terra inteira
No sonho
Aterrador
Mar
O mar
O mar
O maremoto
remoto
remoto
motivo
Teria Deus
Pra nos salvar
Fé
A fé
A fé
Só a fé
A fé
A felicidade
Cidade do Salvador
dor
dor
Cinema novo
Gilberto Gil
Caetano Veloso
A voz do morro rasgou a tela do cinema
E começaram a se configurar
Visões das coisas grandes e pequenas
Que nos formaram e estão a nos formar
Todas e muitas: Deus e o Diabo
Vidas Secas, Os Fuzis
Os Cafajestes, O Padre e a Moça, A Grande Feira,
O Desafio
Outras conversas, outras conversas
Sobre os jeitos do Brasil
Outras conversas sobre os jeitos do Brasil
A bossa-nova passou na prova
Nos salvou na dimensão da eternidade
Porém, aqui embaixo “a vida”
Mera “metade de nada”
Nem morria nem enfrentava o problema
Pedia soluções e explicações
E foi por isso que as imagens do país desse cinema
Entraram nas palavras das canções
Entraram nas palavras das canções
Primeiro, foram aquelas que explicavam
E a música parava pra pensar
Mas era tão bonito que parasse
Que a gente nem queria reclamar
Depois, foram as imagens que assombravam
E outras palavras já queriam se cantar
De ordem, de desordem, de loucura
De alma à meia-noite e de indústria
E a terra entrou em transe, ê
No sertão de Ipanema
Em transe, ê
No mar de Monte Santo
E a luz do nosso canto
E as vozes do poema
Necessitaram transformar-se tanto
Que o samba quis dizer
O samba quis dizer: “Eu sou cinema”
O samba quis dizer: “Eu sou cinema”
Aí o anjo nasceu
Veio o bandido meteorango
Hitler Terceiro Mundo
Sem Essa, Aranha, Fome de Amor
E o filme disse: “Eu quero ser poema”
Ou mais: “Quero ser filme, e filme-filme”
Acossado no limite da garganta do diabo
Voltar à Atlântida e ultrapassar o eclipse
Matar o ovo e ver a Vera Cruz
E o samba agora diz: “Eu sou a luz”
Da lira do delírio, da alforria de Xica
De toda a nudez de Índia
De flor de Macabéia, de Asa Branca
Meu nome é Stelinha, é Inocência
Meu nome é Orson Antônio Vieira Conselheiro de Pixote Super Outro
Quero ser velho, de novo eterno
Quero ser novo de novo
Quero ser Ganga Bruta e clara gema
Eu sou o samba, viva o cinema
Viva o Cinema Novo
Outras gravações:
“Uns Caetanos”, O Tao do Trio, CID
“Gil e Caetano em Cy”, Quarteto em Cy, CID
“Tropicalia 2”, Caetano Veloso e Gilberto Gil, Polygram Comércio 1996
“Caetano no cinema”, Gilberto gil e caetano veloso, Universal, 2007
Imusica, O tao trio, 2001
“Caetano em cy”, Quarteto em cy, Cid, 1995
“Gil e caetano em cy”, Quarteto em cy, Cid, 1999
Ciranda
Gilberto Gil
Moacir Santos
Esta ciranda
De tantas cores
Vem nos aliviar as dores
Os maus olhados
Os dissabores
Ó, cirandeiro, cirandeiro
Que faz ciranda o tempo inteiro
Só por folia
Só por amor
Vem de um lugar chamado Flores
Esta ciranda
De tantas cores
Vem nos falar dos trovadores
Dos bem-amados
Dos benfeitores
Ó, cirandeiro, cirandeiro
Que faz ciranda o tempo inteiro
E só por isso
Tem seu valor
Outras gravações:
“As canções de Moacir Santos”, Muiza Adnet
“Natal no palacio encantado”, Coral, In Brasil 2007
“Um natal feito criança”, Coral Brilho, Copa Music Gravações E Edições Musicais 2008
“Projeto especial HSBC”, Coral Infantil, Live Music 2006
“O sol de oslo”, Gilberto Gil, Pau Brasil 1998
“As canções de Moacir Santos”, Muiza Adnet, Maria Luiza Gonçalvs Adnet 2007
“Xaxados e perdidos”, Simone Rasslan, Simone Nogueira Rasslan 2012
Clichê do clichê
Gilberto Gil
Vinícius Cantuária
Meu destino contra o seu
Num filme piegas sem sal
Não vou chorar
Nem fingir que o amor morreu
Chega de drama banal
Que seja a dor
Nosso amor, nossos ardis
Teatro nô japonês
Onde o ator
É ao mesmo tempo atriz
Vestes da mesma nudez
Eu, Belmondo
Como um Pierrot, le fou
Só no cinema francês
Você, Bardot
Belo anúncio de shampoo
Só fica bem nas TVs
Melhor viver
Nosso papel bem normal
Que a vida nos reservou
Interpretar
Nosso bem e nosso mal
Sem texto e sem diretor
Chega de representar
O que nós não queremos ser
Não vamos nos transformar
Num casal clichê do clichê
Outras gravações:
“Nú Brasil”, Vinicius Cantuária, EMI Music
“Dia dorim noite neon”, Gilberto Gil, Warner Music 1985
“Para Gil e Caetano”, Margareth Menezes, Canal Brazil S/A 2014
“Brazil de a a z – nú Brasil”, Vinicius Cantuaria, EMI Music 2002
“2 em 1”, Vinicius Cantuária, EMI Music 2003
Com medo, com Pedro
Gilberto Gil
Tô com Pedro
Eu agora não tô mais com medo
Tô com Pedro
Eu agora já tô mais com Pedro
Do que com medo
Eu agora já tô mais com Pedro
Do que com medo
Deus me livre de ter medo agora
Depois que eu já me joguei no mundo
Deus me livre de ter medo agora
Depois que eu já pus os pés no fundo
Se você cair, não tenha medo
O mundo é fundo
Quem quiser no fundo encontra a porta
Do fim de tudo
Bem junto da porta está São Pedro
No fim do fundo
Findo
Fundo
Findo
Bem depois do fim de tudo o medo
Do fim do mundo
Bem depois do fim do mundo o medo
Do fim de tudo
Bem depois do fim do mundo o medo
Do fim do mundo
Bem depois do fim do mundo o medo
Do fim de tudo
Comunidá
Gilberto Gil
Celso Fonseca
E quem traz a bebida
E quem prepara o salão
Um troco do sindicato é o ouro
Uns cem do candidato
Uns dez da associação
Luz, pede pra prefeitura, é o ouro
Pede uma viatura
Com Cosme e Damião
Vê se esse novo bicheiro é o ouro
Pode ser o patrono
E acabar dando uma mão
Comunidá
Camaradagem, todas cores
Comunidá
Lavagem pra lavar nossas dores
Comunidá
Na hora da dificuldade, eu sei
Comunidá também
Na festa, na titica de felicidade, amém
Comunidária
Gilberto Gil
E você sabe
Ele, sim, sabe também
O que é sofrer
O que é chorar
O que é precisar de alguém
Eu sei
E você sabe
Se não sabe, há de saber
Quem nunca precisou de alguém
Ainda está pra nascer
E assim que nascer
Logo precisará
Da mãe, da mamadeira
Da enfermeira ou da babá
De braço em braço, berço em berço
E na hora de andar
De falar, de correr, de aprender a ler
De sonhar
Por todo esse caminho
De pequenino a doutor
Pra nunca precisar de alguém
Vai ter que já nascer robô
Sem alma, sem cabeça, sem amor, sem coração
E ainda assim precisará
De alguém pra lhe dar uma mão
Na hora de apertar o parafuso que soltou
Eu sei e você sabe
Quem não sabe não mamou
Eu sei e você sabe
Quem não sabe não mamou
Nem mamou
Outras gravações:
Gilberto Gil, Mec 2001
Copo vazio
Gilberto Gil
Que um copo vazio
Está cheio de ar
É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar
É sempre bom lembrar
Guardar de cor
Que o ar vazio de um rosto sombrio
Está cheio de dor
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa a metade da verdade
A verdadeira natureza interior
Uma metade cheia, uma metade vazia
Uma metade tristeza, uma metade alegria
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
“Eu estava em casa, sentado no sofá, já de madrugada. Tinha tomado um copo de vinho no jantar, e o copo tinha ficado na mesa. Pensando no que é que eu ia fazer pro Chico, eu de repente vi o copo vazio e concentrei o olhar nele para dali extrair emanações de imagens e significados, a princípio como se para nada obter, mas logo constatando: ‘O copo está vazio, mas tem ar dentro’. Disso me vieram idéias acerca das camadas de solidificação e rarefação que vão se sucedendo nas coisas – e disso, a música.
“A letra faz uma viagem ao mundo das coisas sutis, transcendentes, mas suas primeiras frases são muito significativas em termos do que estava acontecendo: regime de exceção, censura, o Chico privado de sua liberdade artística plena etc. Embora não fosse essa a intenção principal, as dificuldades da situação contingencial estavam necessariamente metaforizadas, e qualquer crítica à canção em termos de fuga da realidade esbarraria no fato de que, ao contrário, a letra parte da realidade e não foge dela; foge com ela, se for o caso…”
Outras gravações:
“Dez canções”, Adriana Maciel
“Lisboa-Rio”, Antonio Chainho, Movieplay
“Sinal fechado”, Chico Buarque, Universal Music
“As raras e assinadas”, Zizi Possi, Polygram Music
“A musica de Gilberto Gil”, Chico Buarque, Fontana/Polygram 1977
“Coleção Chico Buarque”, Chico Buarque, Sony Music 2010
“Historia da MPB”, Gilberto Gil, Abril Cultural 1982
“O rancho do novo dia”, Gilberto Gil, Philips 1981
“Ao vivo”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“Giluminoso”, Gilberto Gil, Biscoito Fino 2006
“A arte de Gilberto Gil’, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Série gold”, Gilberto Gil, Universal Music 2002
“Ao vivo”, Gilberto Gil, Universal Music 2000
“O seu amor”, Gilberto Gil, Universal Music 2004
“Lugar comum”, Gilberto Gil, Universal Music 2008
“Rio Eu Te Amo – t.s”, Sony Music, Gilberto Gil e Chico Buarque 2014
“Gil na delas”, Zizi Possi, BMG 2005
“As raras e assinadas”, Zizi Possi, Polygram 1995
“T.s vidas em jogo”, Zizi possi, Record 2011
“Songbook Gilberto Gil – vol 3”, Zizi Possi e Helio Delmiro 2015
Corações a mil
Gilberto Gil
Dez corações de uma vez
Pra eu poder me apaixonar
Dez vezes a cada dia
Setenta a cada semana
Trezentas a cada mês
Isso, sem considerar
A provável rebeldia
De um desses corações gamar
Muitas vezes num só dia
Ou todos eles de uma vez
Todos dez
Desatarem a registrar
Toda gente fina
Toda perna grossa
Todo gato, toda gata
Toda coisa linda que passar
Meus dez mil corações a mil
Nem todo o Brasil vai dar
Outras gravações:
“Fernanda Porto ao vivo”, Fernanda Porto, EMI Music
“Pessoa”, Marina Lima, Universal Music
“Fernanda porto”, Emi Music 2006
“Luar – a gente precisa ver o luar”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“It ‘s good to be alive-anos 80”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Obras”, Marina Lima, Polygram Music 1996
“Projeto especial Caralogo Hermes”, Marina, Polygram 1998
“Trilha sonora da novela Baila Comigo”, Marina, Sigla 2000
“Olhos felizes”, Marina, Universal Music 2003
“Eu te amo você”, Marina Lima, Universal Music 2004
“A arte de Marina Lima”, Marina Lima, Universal Music 2004
“A música de Gilberto Gil”, Marina Lima, Universal Muisc 2003
“Millennium”, Marina Lima, Universal Music 2004
“A arte de Marina Lima”, Marina Lima, Universal Music 2005
“Serie sem limite cd 1”, Marina Lima, Universal Music 2001
“Cantora”, Marina Lima, Universal Music 2009
“Marina Lima “pessoa””, Marina Lima, Universal Music 2009
Coragem pra suportar
Gilberto Gil
Coragem pra suportar
Tem que viver pra ter
Coragem pra suportar
E somente plantar
Coragem pra suportar
E somente colher
Coragem pra suportar
E mesmo quem não tem
Coragem pra suportar
Tem que arranjar também
Coragem pra suportar
Ou então
Vai embora
Vai pra longe
E deixa tudo
Tudo que é nada
Nada pra viver
Nada pra dar
Coragem pra suportar
Cores vivas
Gilberto Gil
Na maré desse verão
Esperar
Pelo entardecer
Mergulhar
Na profunda sensação
De gozar
Desse bom viver
Bom viver
Graças ao calor do sol
Benfeitor
Dessa região
Natural
Da jangada, do coqueiral
Do pescador
De cor azul
Bela visão
Cartão postal
Sabor do mel, vigor do sal
Cores da pena de pavão
Cenas de uma vibração total
Cores vivas
Eu penso em nós
Pobres mortais
Quantos verões
Verão nossos
Olhares fãs
Fãs desses céus
Tão azuis
Outras gravações:
“Movimento, luz e cor”, Elisa Queiroga
“Projeto especia lradio Musical”, FM/SP 1995
“Elisa Queiroga”, Movimento, luz e cor, AQB Music 2003
“Colar de pérolas”, Emerson Uray, José Emerson Oliveira Silva 2008
“Grandes mestres da MPB – vol 2”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Em concerto”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Luar”, Gilberto Gil, Warner Music
“Mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1992
“Les indispensables de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Warner Music 1989
“Lua brasileira”, Grupo Nimphas, Gramophone 1995
“O poeta e o esfomeado”, Jorge Mautner e Gilberto Gil, Discobertas 2014
“Cores vivas”, Vanessa Moreno e Fi Maróstica, Tratore Distribuição 2015
Corintiá
Gilberto Gil
Que todo ano a gente vai sofrer
Se enrolar no pano da bandeira
E reclamar se o time não vencer
Mas de repente o ano é santo, a gente tá no céu
O time é forte, a sorte é grande, o axé tá com a Fiel
O axé tá com a Fiel
Voa suave o gavião
O axé tá com a Fiel
Bate na trave o coração
Ser corintiano é mergulhar
No oceano da ilusão que afoga
Não importa o plano do destino
Cada jogo é o coração que joga
Bate na trave a ilusão da gente, vai que vai
Chuta de novo que o coração entra e o grito sai:
É gol!
Corintiá
É gol!
Corintimão
Corisco
Gilberto Gil
Djavan
No mesmo instante um raio explode
Concomitante, um olho vê
Que a pedra do corisco pode
Pode se tornar o que for
E tudo o quanto é testemunha
Pode até mesmo ser a dor
Cravada à carne pela unha
Telefax, mandei
O mapa-múndi do meu penar
Ande, mande logo um telex
Me confirmando quando será
Que a necessidade de amor
Lhe trará num raio
A necessidade de amor
Num dia de chuva
E na tempestade você
Fará com que eu saia
No exato momento de ver
O céu se abrir ao comando de Iansã
Que seja o momento em que a luz
Registre meu desejo de ver
Você, meu amor, me traduz
No raio de Iansã, seu poder
Que seja pra mim, meu Xangô
Poder correr, correr meu risco
Quiçá ver nascer uma flor
Na lisa pedra do corisco
Telegrafite de Exu
Leia no muro do seu quintal
Pichada, fixada no azul
A frase diz o essencial
A necessidade de amor
Gritando na rua
A necessidade de amor
Uivando pra lua
Um lobo faminto de amor
A dor que acentua
A necessidade de ver
O céu se abrir ao comando de Iansã
Crazy pop rock
Gilberto Gil
Jorge Mautner
From the cars runs gasoline up in my veins
My blood intoxicated by twenty-seven trips
My eyes hallucinated by the Holy Ghost I met
When I talk
I cannot talk
I only gotta sing loud, loud
A crazy pop rock
From the city runs electricity in my brains
From the cars runs gasoline up in my veins
I’m part of the problem, I’ m not the solution
I’m really the product of city pollution
When I talk
I cannot talk
I only gotta sing loud, loud
A crazy pop rock
From the city runs electricity in my brains
From the cars runs gasoline up in my veins
Baby, baby, baby, I’m the electric man
Come and get a shock, I’m the electric man
When I talk
I cannot talk
I only gotta sing loud, loud
A crazy pop rock
Outras gravações:
“A arte de Gilberto Gil, Polygram /Fontana 1985
“As totalmente d+ mix 3.0 – Baixo Leblon on the rocks indie”, Gilberto Gil, Indie Records 2003
“Personalidade – vol. 2”, Gilberto Gil, Novodisc Mídia Digital 2013
“Gilberto Gil 1971”, Gilberto Gil, Polygram Music 1971
“Gilberto Gil – 2 lados”, Gilberto Gil, Universal Music 2010
“De pés no chão”, Márcia Castro, Deck Produções Artisticas 2011
“Cores”, Pôr Do Som Produções Artísticas, Rogério Rochlitz 2008
Cultura e civilização
Gilberto Gil
Elas que se danem
Ou não
Somente me interessam
Contanto que me deixem meu licor de genipapo
O papo
Das noites de São João
Somente me interessam
Contanto que me deixem meu cabelo belo
Meu cabelo belo
Como a juba de um leão
Contanto que me deixem
Ficar na minha
Contanto que me deixem
Ficar com minha vida na mão
Minha vida na mão
Minha vida
A cultura, a civilização
Elas que se danem
Ou não
Eu gosto mesmo
É de comer com coentro
Eu gosto mesmo
É de ficar por dentro
Como eu estive algum tempo
Na barriga de Claudina
Uma velha baiana
Cem por cento