Músicas
La lune de Gorée
Gilberto Gil
Capinan
Sur l’île de Gorée
C’est la même lune qui
Sur tout le monde se lève
Mais la lune de Gorée
A une couleur profonde
Qui n’existe pas du tout
Dans d’autres parts du monde
C’est la lune des esclaves
La lune de la douleur
Mais la peau qui se trouve
Sur les corps de Gorée
C’est la même peau qui couvre
Tous les hommes du monde
Mais la peau des esclaves
A une douleur profonde
Qui n’existe pas du tout
Chez d’autres hommes du monde
C’est la peau des esclaves
Un drapeau de Liberté
La renaissance africaine
Gilberto Gil
Sa nature, ses dieux,
Son histoire et l’au delà
L’homme et son paysage aimé
Tout est là devant ses yeux
Tout ça dans le baouba
La renaissance africaine
La renaissance africaine
Et sa puissance
La renaissance africaine
La renaissance africaine
Avec sa dance
C’est l’afrique libertée
C’est l’afrique et ses idées
De sagesse et de vigueur
C’est l’afrique et sa mission
Clé pour la vrai construction
Du monde civilizé
Son peuple, son territoire
Qui s’étendent en diaspora
Jusqu’à la fin de la terre
En Europe, en Amerique
C’est toujour l’esprit d’Afrique
La nouveauté qui prospère
Ses enfants, ses gens musclés
Ses femmes d’outre beauté
Une beauté noir-nuit
Continent le plus agé
Les vieux temps nous ont laissé
Sa mythologie, sa vie
Outras gravações:
“Banda Larga Cordel”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2008
“Caixa a conspiração de Gilberto Gil – CD Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2010
“Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2009
“Concerto de cordas e máquinas de ritmo”, Gilberto Gil, Biscoito Fino 2012
Lá vem ela
Gilberto Gil
Vanessa da Mata
Fico cor de Deus, a cor sem cor
Nessas horas todos coram e a menina
Nessas horas ela é de maior
Passa pela casa de Jurema e Mario
Ancas de mulher são âncoras
Ai, se Deus me desse cor, coragem e fibra
Para eu poder me ancorar
Olha, lá vem ela, fértil, riso aceso
Semeando a rua
Espalhando mudas de sol, de esperança
Futuro e danuras
Quando ela corre ocorre uma corrente
De ar quente, ar de arrasta-pé
Ela corre à frente e o rastro arrasta a gente
E resta somente o que não é
O que ainda não é amor, ardor, paixão
Que o feitiço dela ainda não faz
Tudo mais, na luz da noite de São João
O ventinho dela leva e traz
Ladainha
Gilberto Gil
Capinan
Medo de vivo é solidão
Luto por amor e morro
De facas no coração
Em campos sem travesseiro
Estou cercado de inimigo
Cada qual mais preparado
Intriguento e arruaceiro
Chove chuva e aguaceiro
Chove chuva e aguaceiro
Só sinto frio na alma
Estou vazio de sentimento
Não sinto água no corpo
Nem amor, nem ferimento
Chove chuva e aguaceiro
Chove chuva e aguaceiro
O vivo morreu cercado
De muita luta e alegria
Seu sorriso agora é nuvem
Sua festa, ladainha
Seu amor, cama vazia
Numa varanda do céu
Seu amor, cama vazia
Numa varanda do céu
Ladeira da preguiça
Gilberto Gil
Que ladeira é essa?
Essa é a Ladeira da Preguiça
Preguiça que eu tive sempre
De escrever para a família
E de mandar contar pra casa
Que esse mundo é uma maravilha
E pra saber se a menina já conta as estrelas
E sabe a segunda cartilha
E pra saber se o menino já canta cantigas
E já não bota mais a mão na barguilha
E pra falar do mundo, falar uma besteira
Formenteira é uma ilha
Onde se chega de barco, mãe
Que nem lá
Na Ilha do Medo
Que nem lá
Na Ilha do Frade
Que nem lá
Na Ilha de Maré
Que nem lá
Salina das Margaridas
Essa ladeira
Que ladeira é essa?
Essa é a Ladeira da Preguiça
Ela não é de hoje
Ela é desde quando
Se amarrava cachorro com linguiça
Outras gravações:
“Pimenta”, Carlos Malta, Delira Música
“Sabiá”, Chie, Lepollen
“Acústico”, Daniela Mercury, BMG
“Elis Regina”, Elis Regina, Polygram Music
“Speed samba jazz”, Hamleto Stamato Trio, Delira Música
“Milton Banana”, Milton Banana, EMI
“Pedro Camargo Mariano”, Pedro Camargo Mariano, Universal Music
“Azul”, Rosas Passos, Veleiro
“Nada será como antes”, Shirle de Moraes, BMG
Lady Neyde
Gilberto Gil
Antonio Risério
Pivete dengosa
Candeia de azeite
Escurinha gostosa
Pandeiro de pele de gata
É chinfra de malê, iaô
Persona muitíssimo grata
Convido-te para um melô
Chispa da Rua do Fogo
E vai me ver no meu barracão
Lá na Ladeira do Caminho Novo
Bate o tambor do meu coração
Lamento africano
Gilberto Gil
Mama, mama, ê
Mama, mama, ê
Mama, mama, ê
Kioso unguando fuá
Nanhanga delê
Kioso unguando fuá
Nanhanga delê
Mama, mama, ê
Mama, mama, ê
Mama, mama, ê
Mama, mama, ê
Tataku matadi
Mamaku mujinhê, mujinhê
Tataku matadi
Mamaku mujinhê
Lamento de carnaval
Gilberto Gil
Que od imposto que pagamos ao estado
E do lucro que damos ao mercado
Um pedaço seja destinado ao carnaval
Para outros no entanto, ô, ô, ô
Da magia do tambor, da cor do canto
É que vem o calor que seca o pranto
Em seus olhos já cansados de ver tanto mal
Hoje é dia de folia
Hoje eu canto pra esquecer
Que a escola do bairro está sem professor
Amanhã depois da festa
A cidade que protesta
Entrará pela fresta da porta do corredor
Não adianta fugir
Não adianta fugir, seu doutor
Não adianta trancar a porta
Não adianta fugir, seu doutor
Para alguém neste momento, ô, ô, ô
Sua condição de dor e sofrimento
Deve ser cimentada com o cimento
Do rancor, do desespêro, da exasperação
Para um outro, o lamento, ô, ô, ô
Da triste canção levada pelo vento
Pode ser uma luz no firmamento
Uma noite estrelada em seu coração!
Lamento sertanejo
Gilberto Gil
Dominguinhos
Lá do cerrado
Lá do interior, do mato
Da caatinga, do roçado
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado
Por ser de lá
Na certa, por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada
Caminhando a esmo
Outras gravações:
“Um barzinho, um violão”, Alcione, Universal Music
“A voz do bandolim”, Armandinho, Vison
“MPB collection – Gilberto Gil”, Arthur Moreira Lima, Sony Music
“Banda Moxoto”, Banda Moxoto, Playarte
“Samba de gringo”, Bina e Ehud, Comercial Urban
“Um chorinho diferente”, Chorões da Paulicéia, Atração
“Um lugar”, Christina Guedes
“Songbook Gilberto Gil”, Djavan, Lumiar
“Banquete dos mendigos”, Dominguinhos, Biscoito Fino
“A arte de Dominguinhos”, Dominguinhos, Universal Music
“Dominguinhos”, Dominguinhos, Velas
“Baião de Dois”, Elba Ramalho e Dominguinhos, BMG
“Todos domingos”, Flávia Bittencourt
“Viola nordestina”, Heraldo do Monte, Kuarup
“Ito Moreno”, Ito Moreno, Veleiro
“Viola Urbana”, João Araújo, Tratore
“Assanhado”, Madeira de Vento, Centro Popular de Cultura
“Reparo na cancão”, Madrigal em casa
“Clássicos do forró”, Marcos de Olinda, CID
“Sanfona brasileira”, Marcos Faria, Atração
“Imitação da vida”, Maria Bethânia, EMI
“50 anos de forró”, Marinês e sua gente, BMG
“Na Lapa”, Nicolas Krassik, ROB Discos
“Peba na pimenta”, Quinteto violado, Fundação Quinteto Violado
“Viva Dominguinhos”, Sandro Haick e Luciano Magno
“Feijoada Completa”, Tira Poeira, Biscoito Fino
“MPB Forró”, Toninho Ferragutti, MCD
“Nação nordestina”, Zé Ramalho, BMG
“Zé Ramalho ao vivo”, Zé Ramalho, BMG
Lar hospitalar
Gilberto Gil
Milton Nascimento
Eu que testemunho dramas da canção fugaz
Eu que experimento o quanto a fantasia é bom
Alimento para a paz
E eu mesmo agora, tenho que lhe ouvir dizer
Aos berros que a vida é pura maldição
Que o mundo é feito só para os eleitos
Que houve sempre fraude na tal da eleição
Portanto, só queimando tudo
Só matando meio mundo
Só pondo a outra metade no poder
Você no comando, sempre vigiando
Pra ninguém se corromper
Finda a banda podre, linda a banda nobre
Sobe a velha rampa e altiva vem reinar
Com imunidades contra o vírus da maldade,
Com certeza, com pureza, com limpeza
Hospitalar, hospitalar, no seu lar hospitalar
Lar, hospitalar
Eu que moro onde o pecado mora ao lado
E me visita sempre no verão
Eu que já fui preso por porte de baseado
É baseado nisso que eu lhe digo não, não, não
Não vou fazer seu coro, seu sermão
A não ser que você possa instalar
O chip da ignorância em minha cuca
A não ser que você consiga me reprogramar
Reprogramar, me reprogramar, reprogramar.
Lavagem do Bonfim
Gilberto Gil
Sai da Conceição da Praia a primeira
Talagada de batida na Praça Cairu
Levanta a pista ao alto o Lacerda
Mais parece um corredor que envereda
Uma pista de corrida a correr pro céu azul
Olha a vertigem, Virgem Maria!
Te segura, criatura, que o dia
Inda tá menino moço, o almoço inda tá cru
Segura bem na mão da menina
Poupa o coração, que é só na colina
Que o santo serve o caruru
Timbau, pandeiro, som de guitarra
Tanta roupa branca, tanta algazarra
Zona franca de folia, de fé, de devoção
Foto de lambe-lambe, alegria
Vai passar pelo moinho da Bahia
Mais de trinta graus de calor, amor e emoção
Lembra bem dos degraus da igreja
Guarda um pouco de suor pra que seja
Misturado às águas e às mágoas de lavar o chão
Faz tempo que passou da calçada
Segura os joelhos nessa chegada
Que o peito arde de paixão
Lente do amor
Gilberto Gil
Uma grande angular
Vejo ao lado, acima e atrás
Pela lente do amor
Sou capaz de enxergar
Toda moça em todo rapaz
Pela lente do amor
Vejo tudo crescer
Vejo a vida mil vezes melhor
Pela lente do amor
Até vejo você
Numa estrela da Ursa Maior
Abrir o ângulo, fechar o foco sobre a vida
Transcender, pela lente do amor
Sair do cético, encontrar um beco sem saída
Transcender, pela lente do amor
Do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
Sou capaz de entender
Os detalhes da alma de alguém
Pela lente do amor
Vejo a flor me dizer
Que ainda posso enxergar mais além
Pela lente do amor
Vejo a cor do prazer
Vejo a dor com a cara que tem
Pela lente do amor
Vejo o barco correr
Pelas águas do mal e do bem
Mostrar ao médico, encarar, curar sua ferida
Transcender, pela lente do amor
Cantar o mântrico, pagar o cármico na lida
Transcender, pela lente do amor
Do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
Lia
Gilberto Gil
Caetano Veloso
Ouvindo as pancadas
Das águas do mar
Essa ciranda quem me deu foi Lia
Que mora na Ilha
De Itamaracá
Eu estava sem saber da vida
A manhã perdida
Na beira do mar
Eu estava na beira e não via
Que o mar prometia
Morrer, deslindar
Depois veio aquela menina
E meu corpo queria
Crescer, navegar
Essa manhã de dor, essa alegria
Essa vontade nova em frente ao mar
Essa primeira esperança comovida
De ter de, de ter de atravessar
Essa janela aberta, essa varanda
Essa manhã desesperada e branda
Essa ciranda quem me deu foi Lia
Que mora na ilha
De Itamaracá
Outras gravações:
“Gil, Chico e Veloso por Claudette”, Claudette Soares, Universal Music
“História do Brasil através do samba”, Lenine, Biscoito Fino
“Vento Bravo”, Edu Lobo, Biscoito Fino
Lia e Deia
Gilberto Gil
Que as duas são, as duas, uns amores
Uns amores, dois amores, mil amores
Meus e de tantos outros admiradores
Como fazer para dizer a elas
Quão belas são aquelas suas mãos
Cheias numa, mais magras na outra
E as outras partes, os vãos e desvãos
Uma, tamanho, tamanho, tamanho pé de laranja
A outra, tamanho, tamanho, tamanho pé de mamão
Uma mais assim broto de soja
A outra assim mais broto de feijão
Ambas o melhor dos alimentos
Ambas a melhor das refeições
Ambas trovoadas, fortes ventos
Para o meu e tantos outros corações
Lia e Deia, Deia e Lia, Lia e Deia
Duas cotovias e uma ideia:
Que os pássaros passarão todos os dias
Voando ao léu, no céu da poesia!
Que as noites sempre nos trarão a lua
Os sonhos de verão e as fantasias
Nos corações, nas mãos de Lia e Deia
Nas mãos, nos corações de Deia e Lia
Lindinalva
Gilberto Gil
Apontava pra ladeira
Por onde viria o grande amor
Numa tarde colorida
Descendo daquele morro
Junto com o batuque do tambor
Como um príncipe encantado
Bem preto como o carvão
Anjo negro iluminado
Um cântico de ressurreição
Aparecer na cozinha
E ir brincar no quintal
Um sol negro iluminado
Um raio prum pobre coração
A seta indicando vida
Passava por um destino
Sem que ninguém percebesse bem
A seta indicando vida
– O Cupido – era cuspida
Repelida e atirada além
E o príncipe encantado
Bem preto como o carvão
Iria embora pra sempre
Pra sempre deixando solidão
Lindonéia
Gilberto Gil
Caetano Veloso
Sem que ninguém a visse
Miss
Linda, feia
Lindonéia desaparecida
Despedaçados, atropelados
Cachorros mortos nas ruas
Policiais vigiando
O sol batendo nas frutas
Sangrando
Ai, meu amor
A solidão vai me matar de dor
Lindonéia, cor parda
Fruta na feira
Lindonéia solteira
Lindonéia, domingo, segunda-feira
Lindonéia desaparecida
Na igreja, no andor
Lindonéia desaparecida
Na preguiça, no progresso
Lindonéia desaparecida
Nas paradas de sucesso
Ai, meu amor
A solidão vai me matar de dor
No avesso do espelho
Mas desaparecida
Ela aparece na fotografia
Do outro lado da vida
Língua do pê
Gilberto Gil
Garanto que você
Nãpão vapai não vai
Nãpão vapai não vai
Compomprepeenpendeper
Bulhufas
Bulhufas
Dopo quepe tempentapamopos lhepe dipizeper
Não tem problema
Não tem problema
Espetapamopos pelaí
Não tem problema
Não tem problema
Espetapamopos espepeperanpandopo coisas pela aí
Smetak tak tak tak (tak tak tak tak tak)
Mariá bababa baba baba
Catuaba
Cachoeira
Vão me procurar na Lapa
Na gruta da Mangabeira
Quarta-feira de manhã
Quarta-feira de manhã
Loba romana
Gilberto Gil
Romana mulher
Tu sabes que és
Mãe dessa cidade que tens aos teus pés
A te adorar
E eu serei talvez
Um daqueles teus amantes mais fiéis
Que sabe amar
Mais que aos teus encantos
Amar o que é teu destino
Mais que amar-te (a arte)
Amar o amor, o verso de Roma
Mais que às tetas
Amar-te a Eterna Idéia
Mais que ao teu sabor
Amar ao teu aroma
Tu sabes que eu tenho a alma apaixonada
E o meu amor por ti não vale nada
Tu sabes que eu serei, serei
Um dos teus tantos amantes mais fiéis
A te adorar
[ inédita ]
Logos versus logo
Gilberto Gil
Pelo logo da prosperidade
Celebra-se, poeta que se é
Durante um tempo a idéia radical
De tudo importar, se para o supremo ser
De nada importar, se para o homem mortal
Abarrotam-se os cofres do saber
Um saber que se torne capital
Um capital que faça o futuro render
Os juros da condição de imortal
(Mas a morte é certa!)
Trocar o logos da posteridade
Pelo logo da prosperidade
E assim por muito tempo busca-se
O cuidadoso esculpir da estátua
Que possa atravessar os séculos intacta
Tornar perpétua a lembrança do poeta
Mas chega-se ao cruzamento da vida
O ser pra um lado, pra outro lado o mundo
Sujeita-se o poeta à servidão da lida
Quando a voz da razão fala mais fundo
E essa voz comanda:
Trocar o logos da posteridade
Pelo logo da prosperidade
E o bom poeta, sólido afinal
Apossa-se da foice ou do martelo
Para investir do aqui e agora o capital
No produzir real de um mundo justo e belo
Celebra assim, mortal que já se crê
O afazer como bem ritual
Cessar da obsessão pelo supremo ser
Nascer do prazer pelo social
E o poeta grita:
Trocar o logos da posteridade
Pelo logo da prosperidade
Eis o papel da grande cidade
Eis a função da modernidade
Logunedé
Gilberto Gil
Filho de Oxum, Logunedé
Mimo de Oxum, Logunedé – edé, edé
Tanta ternura
É de Logunedé a riqueza
Filho de Oxum, Logunedé
Mimo de Oxum, Logunedé – edé, edé
Tanta beleza
Logunedé é demais
Sabido, puxou aos pais
Astúcia de caçador
Paciência de pescador
Logunedé é demais
Logunedé é depois
Que Oxossi encontra a mulher
Que a mulher decide ser
A mãe de todo prazer
Logunedé é depois
É pra Logunedé a carícia
Filho de Oxum, Logunedé
Mimo de Oxum, Logunedé – edé, edé
É delícia
Louco coração
Gilberto Gil
Falou
Que era seu
Todo, todo, todinho seu
O meu amor
Meu coração, meu louco coração
Que diz
Que só você, com você
Poderia algum dia
Ainda ser feliz
Se o meu olhar
Encontra o seu olhar
Meu coração então
Põe-se a falar
Falar de amor
De amor
E em meu peito ansioso
Bate chorando
Bate, bate o louquinho
Bate falando
Bate, bate, zangado
Cansado de esperar
Louvação
Gilberto Gil
Torquato Neto
Do que deve ser louvado – ser louvado, ser louvado
Meu povo, preste atenção – atenção, atenção
Repare se estou errado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
E louvo, pra começar
Da vida o que é bem maior
Louvo a esperança da gente
Na vida, pra ser melhor
Quem espera sempre alcança
Três vezes salve a esperança!
Louvo quem espera sabendo
Que pra melhor esperar
Procede bem quem não pára
De sempre mais trabalhar
Que só espera sentado
Quem se acha conformado
Vou fazendo a louvação – louvação, louvação
Do que deve ser louvado – ser louvado, ser louvado
Quem ‘tiver me escutando – atenção, atenção
Que me escute com cuidado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
Louvo agora e louvo sempre
O que grande sempre é
Louvo a força do homem
E a beleza da mulher
Louvo a paz pra haver na terra
Louvo o amor que espanta a guerra
Louvo a amizade do amigo
Que comigo há de morrer
Louvo a vida merecida
De quem morre pra viver
Louvo a luta repetida
Da vida pra não morrer
Vou fazendo a louvação – louvação, louvação
Do que deve ser louvado – ser louvado, ser louvado
De todos peço atenção – atenção, atenção
Falo de peito lavado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
Louvo a casa onde se mora
De junto da companheira
Louvo o jardim que se planta
Pra ver crescer a roseira
Louvo a canção que se canta
Pra chamar a primavera
Louvo quem canta e não canta
Porque não sabe cantar
Mas que cantará na certa
Quando enfim se apresentar
O dia certo e preciso
De toda a gente cantar
E assim fiz a louvação – louvação, louvação
Do que vi pra ser louvado – ser louvado, ser louvado
Se me ouviram com atenção – atenção, atenção
Saberão se estive errado
Louvando o que bem merece
Deixando o ruim de lado
Outras gravações:
“Afrociberdelia”, Chico Science & Nação Zumbi, Sony Music
“Grandes compositores: Caetano e Gil”, Claudya, Movieplay
“Elis Regina e Jair Rodrigues”, Elis Regina e Jair Rodrigues, Polygram Music
“Carinhoso”, Jair Rodrigues, Universal Music
“Grandes compositores”, Pocho e sua orquestra, RGE
Luar (A gente precisa ver o luar)
Gilberto Gil
Do luar não há mais nada a dizer
A não ser
Que a gente precisa ver o luar
Que a gente precisa ver para crer
Diz o dito popular
Uma vez que é feito só para ser visto
Se a gente não vê, não há
Se a noite inventa a escuridão
A luz inventa o luar
O olho da vida inventa a visão
Doce clarão sobre o mar
Já que existe lua
Vai-se para rua ver
Crer e testemunhar
O luar
Do luar só interessa saber
Onde está
Que a gente precisa ver o luar
Outras gravações:
“A musica de Gilberto Gil”, TCPA/TOP 2007
“Maxximum”, Gilberto Gil, Sony 2005
“Seven music”, Andre Agra 2000
“Banda larga ao vivo em São Paulo”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2008
“Luar”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“Lugar comum”, Gilberto Gil, Warner Music 1981
“Re”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“Nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“A gente precisa ver o luar”, Gilberto Gil, Gilberto Gil 1990
“Baila com vinhas”, Luiz Carlos Vinhas, Polygram 1982
“Antecipado”, Monica Araujo 1996
“Lua branca”, Monica Araujo, Paradoxx 1997
“Projeto esp.radio musical FM/SP, Warner Music 1995
“Súditos do reggae”, Zan Brasidisc 2003
Lugar comum
Gilberto Gil
João Donato
Lugar comum
Começo do caminhar
Pra beira de outro lugar
Beira do mar
Todo mar é um
Começo do caminhar
Pra dentro do fundo azul
A água bateu
O vento soprou
O fogo do sol
O sal do senhor
Tudo isso vem
Tudo isso vai
Pro mesmo lugar
De onde tudo sai
“Como o som musical, por mais qualificado que seja em relação à palavra, ainda não é o silêncio, a palavra acaba também não sendo um corpo absolutamente estranho na sua música. É como se, no fundo, as suas moléculas melódicas quisessem dizer coisas – mas as palavras é que dizem; as palavras é que querem dizer; dizer – é da palavra! Por isso ela cabe na sua música. A exigência, colocada de antemão pela forma como ele melodiza, é a de só dizer o que não pode deixar de ser dito; em reduzir o que se quer dizer à expressão mais essencial para compatibilizá-la com a intenção primordial da celularidade musical dele. Isso é que é difícil.”
*
“A letra de Lugar Comum foi escrita em Itapuã, no verão, estimulada pela sensação boa de estar ali e de ali ser um lugar comum a tanta gente comum – pela idéia de comunidade. Os versos finais reafirmam minha obsessão com o eterno retorno, com o sentido yin-yang da realimentação, do embricamento vida-e-morte e da polaridade dos contrários: a coisa de o um dar o dois, o dois dar o três, e o três dar tudo.
“A música, sem palavras, eu já conhecia e cantava; tinha uma admiração profunda pela beleza condensada dela. À época, o João Donato tinha voltado dos Estados Unidos e feito sua reintrodução à cena brasileira. Naquele momento fazíamos tudo informalmente: saíamos pelas noites, ele cantarolava as músicas e eu imaginava palavras para elas. Assim fizemos também A Bananeira, A Bruxa de Mentira, Emoriô, Que Besteira…”
Outras gravações:
“Ai plays Donato”, Ai Yazaki, Pôr Do Som Produções Artísticas 2013
“MPB piano collection/Gilberto Gil”, Arthur Moreira Lima, Sony Music 2000
“Bonfim / Nilópolis”, Ary Dias e Cidinho Moreira, Eduardo Magalhães De Carvalho 2008
“Sábado ao vivo”, Bena Lobo, Discobertas 2008
“Carla Visita Gilberto Gil (só chamei porque te amo)”, Carla Visi, MZA 2001
“Doris Monteiro agora”, Doris Monteiro, EMI 2004
“America”, Edsel Gomez e Arismar Do Espírito Santo, Lua Discos 2005
“Brasileirissimas”, Emilio Santiago, Philips 1976
“Duetos”, Gal Costa com Wanda Sá e Celia Vaz, BMG 2002
“Gilberto Gil ao vivo”, Gilberto Gil, Polygram Music 1998
“O seu amor”, Gilberto Gil, Universal Music 2004
“Isabella Paz” 1999
“MPB especial”, João Donato, Discobertas 2009
“Samboleiro”, João Donato, Dubas Musica 2009
“Sambou, sambou”, João Donato, EMI Music 2011
“Beira do mar”, João Donato, Dubas Musica 2000
“Lugar comum”, João Donato, Universal Music 2008
“MPB especial”, João Donato, Discobertas 2009
“Mar4”, João Donato, Dubas Music 2001
“Coisas tão simples”, João Donato, EMI Music 2006
“BIS bossa nova”, João Donato, EMI Music 2001
“S bossa nova 4”, João Donato, EMI Music 2004
“Retratos”, João Donato, EMI Music 2004
“O compositor e o interprete”, João Donato, Philis 1981
“João Donato e convidados”, João Donato, Biscoito Fino 2005
“Caipirinha -the best of pure Brazil II”, João Donato, Universal Music 2005
“The boys from Ipanema – pure Brazil II – CD 1”, Universal Music 2005
“João Donato”, João Donato e convidados / Donatural, Biscoito Fino 2005
“Água”, João Donato E Paula Morelenbaum, Biscoito Fino 2010
“Estúdio 66”, João Donato E Ricardo Silveira, MZA Música E Produções 2010
“Datas”, Kika Tristão, Visom Produções Artisticas 2008
“Leny Andrade”, Leny Andrade, Albotroz 2002
“Songbook João Donato – vol 3”, Leny Andrade, Lumiar Discos 2015
“Manu Santos”, Manu Santos, Saladesom Produções Artísticas 2010
“Contramão”, Mário Eugênio, Tratore Distribuição de CD 2010
“Paixão de Nelson Ayres Trio”, Nelson Ayres, Nelson Luiz Ayres De Almeida Freitas 2011
“Sandra Duailibe Convida Cely Curado – A Bossa Do Tempo”, Sandra Duailibe Forte Barbosa 2008
“Negócio da China – t.s. da novela”, Sérgio Mendes 2008
“Encanto”, Sérgio Mendes featuring Jovanotti, Universal Music 2008
“Cores vivas”, Vanessa Moreno e Fi Maróstica, Tratore Distribuição de cd
“Like (love, inspiration, knowledge, energy)”, Vitoria Maldonado E Ron Carter, Vitoria Maldonado 2015
Lunik 9
Gilberto Gil
É chegada a hora de escrever e cantar
Talvez as derradeiras noites de luar
Momento histórico
Simples resultado
Do desenvolvimento da ciência viva
Afirmação do homem
Normal, gradativa
Sobre o universo natural
Sei lá que mais
Ah, sim!
Os místicos também
Profetizando em tudo o fim do mundo
E em tudo o início dos tempos do além
Em cada consciência
Em todos os confins
Da nova guerra ouvem-se os clarins
Guerra diferente das tradicionais
Guerra de astronautas nos espaços siderais
E tudo isso em meio às discussões
Muitos palpites, mil opiniões
Um fato só já existe
Que ninguém pode negar
7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, já!
Lá se foi o homem
Conquistar os mundos
Lá se foi
Lá se foi buscando
A esperança que aqui já se foi
Nos jornais, manchetes, sensação
Reportagens, fotos, conclusão:
A lua foi alcançada afinal
Muito bem
Confesso que estou contente também
A mim me resta disso tudo uma tristeza só
Talvez não tenha mais luar
Pra clarear minha canção
O que será do verso sem luar?
O que será do mar
Da flor, do violão?
Tenho pensado tanto, mas nem sei
Poetas, seresteiros, namorados, correi
É chegada a hora de escrever e cantar
Talvez as derradeiras noites de luar
“Lunik 9 – uma suíte com vários andamentos e atmosferas, entremeada de narração, reflexões e advertências – é uma canção pretensiosa para o grau de informação que eu tinha a respeito, mas bacana também por isso: por vulgarizar, no sentido de divulgar, traduzir, em linguagem simples, um tema em princípio complexo. Nesse aspecto, é também apócrifa, em relação aos cânones da época – embora a bossa nova já tivesse dado a abertura para temas e termos (a Rolleiflex e outras coisas); e iniciática, em relação ao meu trabalho, do qual a questão do mistério do cosmos acabou se tornando uma linha mestra.
“Mas frente ao significado do que a motivou, Lunik 9 apresentava um contraponto conservador, uma atitude ecológico-reativa, um temor exagerado da tecnologia e de que se inaugurava a possibilidade de extinção do próprio luar – da luz interior da lua. À época eu gostei de tê-la feito, mas no período tropicalista eu já achava a música boba, ingênua. Hoje em dia acho relevante aquilo ter-me ocorrido: a inspiração nasceu de uma profunda assunção de um sentido trágico de meu tempo.
“Engraçado. No momento em que escrevi ‘a mim me resta disso tudo uma tristeza só’, era em Orlando Silva que eu pensava. Era a defesa parcial de um mundo – romântico – que eu identificava como o do Orlando Silva, símbolo e canto de um outro tempo ainda, anterior ao meu, à própria bossa nova.”
Outras gravações:
“A arte de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Polygram/Fontana 1985
“Elis Regina”, Polygram 1994
“Elis anos 60 – caixa 1”, Elis Regina, Universal Music 2012
“Elis Regina no fino da bossa vol. 2”, Elis Regina E Quinteto De Luiz Loy, Veleiro 1966
“Personalide”, Gillberto Gil, Novodisc Mídia Digital 2013
“Louvação”, Gilberto Gil, Polygram Music 1967
“Gilberto Gil – 2 Lados”, Gilberto Gil, Universal Music 2010
“A voz de”, Gilberto Gil, Polygram Music 1981
“Autografos de sucesos”, Gilberto Gil, Fontana/Polygram 1982
“Poetas Da MPB / Elis Regina”, Gilberto Gil, Globo Music 1997
“Serie sem limite – cd 1”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“Orquestra De Sopros Da Pro Arte E Flautistas Da Pro Arte”, Ituaçú – Gilberto Gil”, Geringonça Filmes 2012
“Passaporte”, Gilberto Gil, Universal Music 2006
“O Rancho do novo dia”, Os Cariocas, Philips 1981
“25 anos”, Trovadores Urbanos, Dabliu Produções Artisticas E Culturais 2015
Luzia Luluza
Gilberto Gil
Essa vontade de ser ator acaba me matando
São quase oito horas da noite, e eu nesse táxi
Que trânsito horrível, meu Deus
E Luzia, e Luzia, e Luzia
Estou tão cansado, mas disse que ia
Luzia Luluza está lá me esperando
Mais duas entradas, uma inteira, uma meia
São quase oito horas, a sala está cheia
Essa sessão das oito vai ficar lotada
Terceira semana em cartaz James Bond
Melhor pra Luzia não fica parada
Quando não vem gente, ela fica abandonada
Naquela cabine do Cine Avenida
Revistas, bordados, um rádio de pilha
Na cela da morte do Cine Avenida, a me esperar
No próximo ano nós vamos casar
No próximo filme nós vamos casar
Luzia, Luluza, eu vou ficar famoso
Vou fazer um filme de ator principal
No filme eu me caso com você, Luluza, no carnaval
Eu desço do táxi, feliz, mascarado
Você me esperando na bilheteria
Sua fantasia é de papel crepom
Eu pego você pelas mãos como um raio
E saio com você descendo a avenida
A avenida é comprida, é comprida, é comprida…
E termina na areia, na beira do mar
E a gente se casa na areia, Luluza
Na beira do mar
Na beira do mar
“Best tropicalia”, Gilberto Gil, Polygram Music 1999
“Essa é uma viagem linda, um delírio, uma fantasia sobre um casal de jovens, ambos pobres, gente comum trazida para o estrelato do romance. Ela tem que trabalhar na bilheteria de um cinema, ele está num curso de teatro. O cinema idealizado por mim fica na avenida São João (em São Paulo); é o Comodoro ou um daqueles. Ela está na cabine. Ele sai de táxi, da Nestor Pestana, onde ensaiava, pra ir vê-la, e pega um engarrafamento ‘brabo’. Essa a visão que eu tinha.
“Naquela cabine, a rotina, o tédio, a falta de sentido de um trabalho escravo num cubículo com um vidrão parecendo uma sala da morte mesmo. Ali ela morria um pouco a cada dia, morriam suas forças, sentada horas e horas dentro de um espaço exíguo, sem movimentos e quase sem ar para respirar. Ali, ela, já meio agoniada porque ele não chega; e no carro, ele, preso no trânsito, agoniado pra chegar porque ela está à espera.
“E ele vem como o libertador para tirá-la daquela prisão; para libertar Luluza, como ele a chamava carinhosamente – e como eu a nomeei para dar sonoridade musical e o sentido de ternura juvenil entre eles. E ele sonha, e chega, e os dois saem correndo pela avenida (e a São João é comprida mesmo, vai lá pra Lapa, por aquele corredor ela vaaaai…).
“E os pensamentos, os discursos pela metade de cada um, as frases soltas que hipoteticamente seriam ditas – ‘Essa sessão das oito vai ficar lotada’ (ela), ‘que trânsito horrível, meu Deus’ (ele) -: a narrativa se dá por fora e por dentro, misturadamente; tanto o narrador como os personagens se manifestam. Um conto.
“O curioso nessas canções minhas com histórias e personagens é que eu não as imagino antes; elas são inventadas na hora. Elas não são construídas como os romances, onde as tramas vão sendo elaboradas antes do ato de escrever. Eu sento para fazê-las e elas vão se engendrando. Elas revelam um traço de escritor que eu poderia ser, se quisesse. Mas sou preguiçoso; prefiro fazer uma canção numa tarde a ficar um tempão num romance.”