Músicas
A novidade
Gilberto Gil
Bi Ribeiro
Herbert Vianna
João Barone
Na qualidade rara de sereia
Metade, o busto de uma deusa maia
Metade, um grande rabo de baleia
A novidade era o máximo
Do paradoxo estendido na areia
Alguns a desejar seus beijos de deusa
Outros a desejar seu rabo pra ceia
Ó, mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Ó, de um lado este carnaval
Do outro a fome total
E a novidade que seria um sonho
O milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho
Ali naquela praia, ali na areia
A novidade era a guerra
Entre o feliz poeta e o esfomeado
Estraçalhando uma sereia bonita
Despedaçando o sonho pra cada lado
Ó, mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Ó, de um lado este carnaval
Do outro a fome total
Gravações
Os Paralamas do Sucesso – Selvagem?, 1986 – EMI Music Brasil
Os Paralamas do Sucesso – D, 1987 – EMI Records Brasil
Gilberto Gil – Unplugged (Ao vivo), 1994 – Waner Music
Os Paralamas do Sucesso – Vamo batê lata, 1995 – EMI Music Brasil
Gilberto Gil – Quanta gente veio ver (Ao vivo), 1998 – Gege
Chama Chuva – Forró Chama Chuva, 2001 – EMI Music
Biquini Cavadão – 80, 2001 – Universal Music
Gilberto Gil – Kaya n’gan daya (Ao vivo), 2003 – Warner Music
Cidade Negra – Cidade Negra, 2006 – Sony BMG
Os Paralamas do Sucesso e Titãs – Paralamas e Titãs juntos e ao vivo, 2008 – Planmusic
Gilberto Gil, Ivete Sangalo e Caetano Veloso – Especial Ivete, Gil e Caetano, 2012 – TV Globo
Os Paralamas do Sucesso – Multishow Ao Vivo, 2014 – Mangaba Produções Artísticas Ltda
Comentário*
Gilberto Gil estava em Florianópolis quando Herbert Vianna ligou pra ele e lhe pediu para pôr letra na única música que faltava para fechar o disco (Selvagem) que os Paralamas do Sucesso estavam terminando de gravar. Logo, Herbert mandava via sedex a gravação instrumental da música, que Gil retirou no correio.
Gil: “Fui pro hotel e botei a fita no gravador. Depois de umas quatro passadas, saí anotando. Eram mais ou menos duas da tarde. Às três horas eu estava ligando pro estúdio já para passar a letra. Foi uma coisa assim: bum! A letra veio como um tiro certeiro, absolutamente de chofre, inteira. E de um modo surpreendente até pra mim, porque, mesmo sem tempo pra qualquer avaliação crítica no dia seguinte, resultou no que eu acho um dos meus melhores textos – pela escolha e pela maneira de tratar o assunto, pela concisão e pela elegância da construção.”
Um estímulo visual… – “O quarto do hotel dava para o mar, e eu estava escrevendo na mesinha de frente para a janela, com a visão do mar ao fundo. Daí a ideia da sereia que vinha dar à praia.”
… e outro, sonoro – “Algumas sílabas no início do cantarolar do Herbert na fita me insinuaram algo que soava como a palavra ‘novidade’, e eu aproveitei essa sugestão sonora. O restante veio por acaso mesmo.”
Riqueza versus miséria – “O tema da desigualdade sempre fez parte do modo de inserção da minha geração na discussão dos problemas da sociedade; do nosso desejo de expressá-los. Universitário por excelência, o tema é portanto anterior e recorrente em meu trabalho. Está em Roda, em Procissão, em Barracos. Agora, em A Novidade, a imagem da sereia é que dá a partida para o tratamento da questão; a novidade é essa. Pode-se imediatamente pensar no Brasil, mas é sobre o Terceiro Mundo em geral; mais: sobre todo o ‘mundo tão desigual’, mesmo, de que fala o refrão.”
*Extraído do livro Todas as Letras – Gilberto Gil