Músicas
Quando
Gilberto Gil
Caetano Veloso
Gal Costa
Rita Lee, i-i
Com todo prazer
Quando a governanta der o bode
Pode crer que eu quero estar com você
Superstar com você
Há muito tempo uma mulher sentou-se e leu na bola de cristal
Que uma menina loira ia vir de uma cidade industrial
De bicicleta, de bermuda, mutante, bonita
Solta, decidida, cheia de vida etc. e tal
Cantando yê-yê-yê-yê-yê-yê-yê
Ho ho
Quando amanhecer
Gilberto Gil
Vanessa da Mata
Para iluminar você
Vai anoitecer o dia
Se não vier
Mas se for presente
Tudo iluminará
Meu humor, meu coração
Como deve ser se
Ser como Deus quer for
Milagre, resignação
Roupa colorida
Alegria às vistas, indecência, indiscrição
Seu cheiro me achando
Minh’alma perdida
Direi que é céu no chão
Quando anoitecer será
Para te fazer dormir
Estrelas que nem brilhantes
Pra te vestir
Vai saber que Deus fez
As damas da noite
Preparando o seu buquê
Como vai dizer não
Se tudo o que eu vejo
Está aqui pra te servir
A mais bela roupa
Roupa de ir a festa
Coloquei pra te esperar
Disco na vitrola
Uma vela acesa
E a lua mais cheia
Quando o sol nascer será
Para desenhar você
Ou será você que virá
Pro sol nascer
Quanta
Gilberto Gil
Plural de quantum
Quando quase não há
Quantidade que se medir
Qualidade que se expressar
Fragmento infinitésimo
Quase que apenas mental
Quantum granulado no mel
Quantum ondulado no sal
Mel de urânio, sal de rádio
Qualquer coisa quase ideal
Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos
Canto de louvor
De amor ao vento
Vento, arte do ar
Balançando o corpo da flor
Levando o veleiro pro mar
Vento de calor
De pensamento em chamas
Inspiração
Arte de criar o saber
Arte, descoberta, invenção
Theoría em grego quer dizer
O ser em contemplação
Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos
Sei que a arte é irmã da ciência
Ambas filhas de um deus fugaz
Que faz num momento e no mesmo momento desfaz
Esse vago deus por trás do mundo
Por detrás do detrás
Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos
Quarto mundo
Gilberto Gil
Escassa ambição e excessiva euforia mescladas na dose fatal
Transporte da vida pra morte, da morte pro esquecimento total
A lágrima de encontro ao riso já sem paraíso ou juízo final
Quisera entender meu som tropical
Saber decifrar meu som tropical
Mistério de amor, meu som tropical
Viver e morrer meu som tropical
A carne verde da luxúria estendida ao sol
Assada à brasa dessa vida debaixo do sol
Curtida a pele percutida transmutada em som
Cadência e decadência na batida do tantã
Meu som tropical lembra imagens da aprendizagem da desilusão
Paisagem da cana depois da colheita, da fome após a refeição
O luxo transformado em lixo depois do capricho da satisfação
A calma da alma penada, da ânsia ancorada na resignação
Um Primeiro Mundo, depois um Segundo, um Segundo
depois um Terceiro
Investe-se, vestem-se os índios, invertem-se os vértices, mundo ligeiro
E o meu poliedro vai se lapidando, arredondando-se por inteiro
E o som tropical tributando o mistério profundo do ser verdadeiro
Quisera entender meu som tropical
Saber decifrar meu som tropical
Mistério de amor, meu som tropical
Viver e morrer meu som tropical
Quisera entender meu som tropical
Meu quarto mundo
Quatro coisas
Gilberto Gil
Quatro coisas essenciais
A primeira é que o nosso amor
Não irá terminar jamais
A outra é
Que a memória de amor igual
É possível que esteja até
Na história de outro casal
Número três
Mesmo que exista por aí
Outra história de amor assim
Não sera como foi pra nós
A quarta então
Tranquilize seu coração
Nosso amor virou pedra e não
Temos força pra quebrar não
Quatro Modos
Gilberto Gil
São diferentes modos de atribuir
Poder à divindade
O mito da verdade superior
Ô-ô-ô
São diferentes modos de buscar
São diferentes modos de atribuir
A vida com a lenda
Na busca da verdade superior
Ô-ô-ô
Ver o céu condensado
Nos Olhos de uma deusa
Chamá-la de Iansã, Santa Bárbara
O que olha e não pensa
E ganha a recompensa
Ao ver Nossa Senhora de Fátima
Nossa Senhora de Fátima!
São diferentes modos de exigir
São diferentes modos de atribuir
Poder à divindade
O mito da verdade superior
Ô-ô-ô
São diferentes modos de buscar
São diferentes modos de equilibrar
A vida com a lenda
Na busca de verdade superior
Ô-ô-ô
O que fica curado na pia de água benta
Em Juazeiro do padre Cícero
O que tem uma filha
E faz no batizado
Chamar a filha de Guadalupe
La Virgen de Guadalupe!
Quatro Pedacinhos
Gilberto Gil
Depois mandou examinar os quatro pedacinhos
Um para saber se eu sinto medo
Um para saber se eu sinto dor
Um para saber os meus segredos
Um para saber se eu sinto amor
Ela é médica e tem todo direito de arrancar o que quiser
de mim
Eu que estou, como qualquer sujeito,
Sujeito a dar defeito ou coisa assim
Doença, mal, moléstia, enfermidade
Até saudade, até saudade pode ser meu fim
Ela mandou arrancar quatro pedacinhos do meu coração
Depois mandou examinar os quatro pedacinhos
Um para saber se há um depósito de proteínas esquisitas lá
Um para saber se as pequeninas são assassinas e podem
mata
Um para saber se estou curado com os remédios que ela
me deu
Um para saber se estou errado por ter juntado o meu
destino ao seu
Que besteira
Gilberto Gil
João Donato
Amou
Depois
Não quis
O rapaz não se refez
Chorou
Pediu
Quis mais
Os mistérios da paixão
Senão
Da cruz
Os dois
Que besteira você fez
Não quis
Depois
Cedeu
O rapaz mais uma vez
Sorriu
Ficou
Feliz
O nascimento da luz
A pomba
A paz
O três
Quatro, cinco, seis
Que besteira
A primavera, a quimera
A flor-de-lis
A cruz de malta
A dor que causa
A falta de clareza
A incerteza quando a gente diz:
Que besteira você fez
Pois eu
Também
Já fiz
Que besteira você fez
Já faz
Um mês
Ou mais
Que besteira você fez
Pois foi
Você
E a beleza de um rapaz
Que bom prato é vatapá
Gilberto Gil
Paulinho Boca de Cantor
Galvão
Se falar mal de baiano
Que bom prato
É vatapá
Mas cuidado
Que eu já vi
Muito nego se dar mal
Com siri
E acarajé
Que bom prato
É vatapá
Tá na onda
Se falar mal de baiano
Mas cuidado
Que eu já vi
Muito nego se dar mal
Com siri
E acarajé
Onde é
Onde é que se viu
Que se viu
Se cuspir
No prato que se ouviu
Que se ouviu
O baiano anda olhando pra cima
Feitiço é saber
Ter no corpo dendê
Quem puder ser bom que seja
Gilberto Gil
Que seja sempre cada vez melhor
Pra que todo mundo veja
A luz bailando alegre ao seu redor
Luz ferina, luz entrante
Luzente no fundo da escuridão
Iluminando num instante
O espírito da gente, o coração
Quem puder ser bom que seja feliz
A vida lhe quis assim
Deu-lhe uma, duas, três vezes mais
Paz pra espalhar por aí
Quem puder ser bom que seja
Que a inveja não lhe faça desistir
Quem é bom já está na igreja
Já está no céu, já tem porque sorrir
Quem é bom, é bom
Faz o bem, é bom
Faz o amor, é bom
Quanto mais, tanto melhor
Quem é bom, é bom
Faz o bem, é bom
Faz o amor, é bom
Sua paz é um tiro só
Outras gravações:
“Sou de qualquer lugar”, Daniela Mercury, BMG
Queremos saber
Gilberto Gil
O que vão fazer
Com as novas invenções
Queremos notícia mais séria
Sobre a descoberta da antimatéria
E suas implicações
Na emancipação do homem
Das grandes populações
Homens pobres das cidades
Das estepes, dos sertões
Queremos saber
Quando vamos ter
Raio laser mais barato
Queremos de fato um relato
Retrato mais sério
Do mistério da luz
Luz do disco voador
Pra iluminação do homem
Tão carente e sofredor
Tão perdido na distância
Da morada do Senhor
Queremos saber
Queremos viver
Confiantes no futuro
Por isso se faz necessário
Prever qual o itinerário da ilusão
A ilusão do poder
Pois se foi permitido ao homem
Tantas coisas conhecer
É melhor que todos saibam
O que pode acontecer
Queremos saber
Queremos saber
Todos queremos saber
Quero ser teu funk
Gilberto Gil
Liminha
Dé
Já sou teu fã número um
Agora quero ser teu funk
Já sou teu fã número um
Quero ser teu funk
Já sou teu fã número um
Agora quero ser teu funk
Já – já que sou teu fã número um
Funk do teu samba
Funk do teu choro
Funk do teu primeiro amor
Rio de Janeiro
Bela Guanabara
Quem te viu primeiro, pirou
Chefe Araribóia, que andava
De Araruama a Itaipava
Não cansava de te adorar
Depois te fizeram cidade
Te fizeram tanta maldade
E um Cristo pra te guardar
Quero ser teu funk
Já sou teu fã número um
Agora quero ser teu funk
Já sou teu fã número um
Quero ser teu funk
Já sou teu fã número um
Agora quero ser teu funk
Já – já que sou teu fã número um
Funk do teu morro
Funk do socorro
Que o pivete espera de alguém
Rio de Janeiro
Sou teu companheiro
Mesmo que não fique ninguém
Mesmo que São Paulo te xingue
Porque te cobiça o suingue
O mar, a preguiça, o calor
Lembra da Bahia, que um dia
Já mandou Ciata, a tia
Te ensinar kizomba nagô
Quero ser teu funk
Já sou teu fã número um
Agora quero ser teu funk
Já sou teu fã número um
Quero ser teu funk
Já sou teu fã número um
Agora quero ser teu funk
Já – já que sou teu fã número um
Funk da madruga
Funk qualquer hora
Funk do teu eterno fã
Funk do portuga
Que te amava outrora – e agora
Funk da turista alemã
Rio de Janeiro, Rocinha
Sempre a te zelar, Pixinguinha
Jamelão, Vadico e Noel
Funk são teus arcos da Lapa
Funk é tua foto na capa
Da revista Amiga do céu
Questão de ordem
Gilberto Gil
Você fica, eu vou
Daqui por diante
Fica decidido
Quem ficar, vigia
Quem sair, demora
Quem sair, demora
Quanto for preciso
Em nome do amor
Você vai, eu fico
Você fica, eu vou
Se eu ficar em casa
Fico preparando
Palavras de ordem
Para os companheiros
Que esperam nas ruas
Pelo mundo inteiro
Em nome do amor
Você vai, eu fico
Você fica, eu vou
Por uma questão de ordem
Por uma questão de desordem
Se eu sair, demoro
Não mais que o bastante
Pra falar com todos
Pra deixar as ordens
Pra deixar as ordens
Que eu sou comandante
Em nome do amor
Você vai, eu fico
Você fica, eu vou
Os que estão comigo
Muitos são distantes
Se eu sair agora
Pode haver demora
Demora tão grande
Que eu nunca mais volte
Em nome do amor
Quilombo, o eldorado negro
Gilberto Gil
Waly Salomão
Um eldorado negro no Brasil
Existiu
Como o clarão que o sol da liberdade produziu
Refletiu
A luz da divindade, o fogo santo de Olorum
Reviveu
A utopia um por todos e todos por um
Quilombo
Que todos fizeram com todos os santos zelando
Quilombo
Que todos regaram com todas as águas do pranto
Quilombo
Que todos tiveram de tombar amando e lutando
Quilombo
Que todos nós ainda hoje desejamos tanto
Existiu
Um eldorado negro no Brasil
Existiu
Viveu, lutou, tombou, morreu, de novo ressurgiu
Ressurgiu
Pavão de tantas cores, carnaval do sonho meu
Renasceu
Quilombo, agora, sim, você e eu
Quilombo
Quilombo
Quilombo
Quilombo
[ para o filme Quilombo, de Carlos Diegues ]