Músicas
Ganga Zumba (O poder da bugiganga)
Gilberto Gil
Waly Salomão
Repica, repica, repica agogô
Tumba Lelê, beber aluá
Se lambuzar na tigela daquele amalá
Toda Palmares recorda da primeira vez
Ganga Zumba dançou alujá
Toda cantiga trovoa, seu eco ecoa
Na voz da Serra da Barriga
Vem, Acotirene, dona do segredo
Ialorixá que chama Ganga Zumba
Lhe oferece o trono da fartura
Toda a formosura e o poder da bugiganga
Fontes e mais fontes
Potes e mais potes
O céu na terra é Aruanda
É assim Palmares
Palmas pelos ares
Cante e dance e abra a roda
Acaiúba, Namba, Canindé
Ana de Ferro, mulher-dama linda da Holanda
Ganga Zumba reina, nunca teve medo
Seu segredo está no raio da justiça
Nunca é permitido mentir
Sempre abençoado o amor
Desejo doido, beber otim
Festejo d’Oxum, d’Obá, d’Oiá
Todo vaso quebra
Toda bugiganga se espedaça
Toda graça lhe abandona
Ganga Zumba desce da montanha
Com veneno na entranha
Acaba a sua zanga
Ganga Zumba morre
E a lenda corre
Pelo reino de Aruanda
Nunca é permitido esquecer
Sempre dá no jogo de Ifá
Qual o rei que vai suceder
Salve o reino d’Aruanda
Geléia geral
Gilberto Gil
Torquato Neto
E a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira
Num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira
Que o “Jornal do Brasil” anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi
A alegria é a prova dos nove
E a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo
E Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem
Pindorama, país do futuro
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi
É a mesma dança na sala
No Canecão, na TV
E quem não dança não fala
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada
Um LP de Sinatra
Maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano
Superpoder de paisano
Formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela
Carne-seca na janela
Alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade
Hospitaleira amizade
Brutalidade jardim
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi
Plurialva, contente e brejeira
Miss linda Brasil diz “bom dia”
E outra moça também Carolina
Da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos
E a saúde que o olhar irradia
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi
Um poeta desfolha a bandeira
E eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento
Com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto
Tropicália, bananas ao vento
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi
Outras gravações:
“A arte de Gilberto Gil”, Polygram/Fontana 1985
“Caetano Veloso com Gilberto Gil”, Tropicalia, Universal Music 1996
“Tropicalia”, Gilberto Gil, Polygram Music 1979
“Historia da MPB”, Gilberto Gil, Abril Cultural 1982
“Colecionave Torquato Neto”, Gilberto Gil, Dubas Music 2001
“Poetas da MPB – Daniela Mercury”, Gilberto Gil, Globo-Columbia 1997
“20 grandes sucessos da Tropicalia”, Gilberto Gil, Polygram Music
“Do tropicalismo aos dias de hoje”, Gilberto Gil, Trama Music 2007
“Millennium’, Gilberto Gil, Universal Music 2004
“Quilombo”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Movimento – uma viagem pela Tropicália”, Música em família e Paula Santisteban 2015
“Uma retrospectiva da evolução do trio eletrico”, Varios, TV Aratu
“Bailando na escuridão”, Zeca Torres, Eudes Fraga e Claudio Nucci, José Evangelista Torres Filho 2014
Gema clara
Gilberto Gil
Fui dura
Virei fera
Pantera
Tigreza
Raça pura
Tomara
Que agora
Cê me queira
Formiga
Frutinha
Formosura
Primeiro, foi necessário lhe convencer
Da força da mulher, da paixão
Agora, pelo contrário, vim lhe trazer
Paz e sossego pro coração
Primeiro
Fiz você
Ficar louco
Agora
Vou lhe dar
Muita calma
Loucura
Fui amor
Para o corpo
Agora
Serei luz
Para a alma
O corpo-gema, o sol me deu pra mim lhe dar
Um diadema de ouro de Oxum
A alma clara, a mansa luz vem do luar
Na noite odara sem medo algum
Gilbertos
Gilberto Gil
E a cada vinte e cinco um aprendiz
Aparece a cada cem anos um mestre da canção no país
Aparece a cada cem anos um
E a cada vinte e cinco um aprendiz
Foi Dorival Caymmi quem nos deu
A noção da canção como um liceu
A cada cem anos um verdadeiro mestre aparece entre nós
E entre nós alguns que o seguirão
Ampliando-lhe a voz e o violão
É assim que aparece mestre João
E aprendizes professando-lhe a fé
Um Francisco, um Caetano algum Roberto e a canção foi mais feliz
Gimme your love
Gilberto Gil
Liminha
Make me move, baby
Gimme your love
Cause your love is paradise
Just as sweet as my reggae
Gimme your love
Make me move, baby
Gimme your love
Cause your love is like a prize
Just as rich as my reggae
So, baby, get up
Hurry up, hurry up
Don’t be too late, I’m gonna wait
Until you catch me up
Hurry up, hurry up
I guess when fate is great
We bite the bate, I won’t give up
Hurry up, hurry up
Today I’m gonna be your date
You better hurry up
Hurry up, hurry up
The reggae beat will beat
Until we meet and celebrate
Gimme your love
Make me move, baby
Gimme your love
Love has taken by surprise
Just as much your heart as mine
Gimme your love
Make me move, baby
Gimme your love
Now we gotta sincronize
Just your love and my reggae
Gimme your love
Make me move, baby
Gimme your love
We shall follow destiny
Just as true as truth can be
Giro
Gilberto Gil
Giro, giro, giro, giro, giro, giro
Acho que só vou parar quando o dia
Quando o dia de manhã
Também quem mandou chegar na bahia
Ter que receber nanã
Quem mandou comer mais uma fatia
De bolo de carimã
Acho que era neste axé que eu queria
Me tornar menina irmã
Giro, giro, giro, giro, giro, giro
Giro, giro, giro, giro, giro, giro
Giro, giro, giro, giro, giro, girou
Tudo girou
Mundo girou
Me segura rapaz
Viro, viro, viro, viro, viro, viro
Viro, viro, viro, viro, viro, viro
Hoje tá virando amor de verdade
Desse que vem pra ficar
Hoje tá brilhando o sol na cidade
No sonho do orixá
Hoje tou matando aquela saudade
Que me trouxe até aqui
Hoje não tem nada pela metade
Bolo inteiro só pra mim
Viro, viro, viro, viro, viro, viro
Viro, viro, viro, viro, viro, viro
Viro, viro, viro, viro, viro, virou
Tudo virou,
Mundo virou,
Me segura rapaz
Glasses
Gilberto Gil
I have my glasses on
Suddenly I’m going crazy ways I haven’t gone before
I have my glasses on
If I am wearing glasses, I am happy, I can feel all right
If I am sad, I take the glasses off
It’s the darkest night
Oh, baby, why don’t you look at me?
What’s wrong, baby, you never tell me
Oh, baby, why don’t you look at me?
Behind these lenses, I’m a very good boy
Needless to say, I’ve never been the best
An intellectual charm should help me pass the test
One thing is true, and it seems that you won’t believe me thou
I was born with no glasses on
With no glasses, wow
Oh, baby, why don’t you look at me – oh, oh
What’s wrong, baby, you always say no – oh, oh
Oh, baby, why don’t you look at me – oh, oh
Behind these lenses, I’m trying to say hello
[ inédita – Óculos, de Herbert Vianna ]
Goma de mascar
Gilberto Gil
Mascar e mascar e buscar o sabor
Onde já não há sabor
Onde já não há sabor
Como ferro de engomar
Passar e passar até fazer do amor
Lenço sem dobras de dor
Lenço sem dobras de dor
Como sempre admirar
O que quer que faça rima
Como irmã com Maria e mar
O que quer que esteja acima
Do nível do medo de amar
O que quer que faça feliz
Como pôr os pingos nos is
Pingos nos is das ilusões
O que quer que mereça um bis
Como goma de mascar
Goodbye my girl
Gilberto Gil
I’ll be leaving soon
When you wake up in the morning
I won’t be with you
Good-bye
Please, don’t cry
We should try
To get together one more time
So catch a train and you can make the next town
To see the show
I will be singing one more time
And yours will be the only face in the front row
Good-bye, my girl
[ No Norte da Saudade, de Gilberto Gil, Moacir Albuquerque e Perinho Santana ]
Gosto do prazer
Gilberto Gil
Jorge Gomes
A cara alegre, o gosto do prazer
Guanabara, Guanabara
(Que quarup pop)
Paulicéia, Paulicéia
(Que platéia dadá)
Amazônia, Amazônia
(Tão idônea cor)
Mantiqueira, Mantiqueira
Me queira sempre amor
Isso é que é
Utopia
Sonhos de axé
Na Bahia
Toque de bola
Nossa escola tropical
Toca a viola
Carnaval
Bate o pandeiro
Nosso cheiro de dendê
Vale um bocado
De dinheiro
Tomara que a cidade possa ter
A cara alegre, o gosto do prazer
Saber o som da cor da Cor do Som
Isso é alegria, isso é que é bom
Graça divina
Gilberto Gil
De reter a dor
Graça divina no dom que a aspirina tem
De aspirar a dor
A eficácia da graça divina tem
Um pé na farmácia, outro no amor
Graça divina no som da buzina diz:
“Cuidado, atenção!”
Graça divina no olhar da menina diz:
“Paz no coração”
A voz humana da graça divina diz:
“Dou graças pelas coisas que são”
São Matheus, Mata de São João
Madredeus, Vitória de Santo Antão
Mata a saudade, quem há de me dar o prazer
Me levar pro sertão!?
Graça divina na vina, no violão
Toda música
Graça divina no tato, na sensação
Toda física
A proteína da graça divina não
Não está na doutrina mas na meditação
Graça divina que a raça bovina dê
Leite e muito mais
Graça divina que a moça da esquina crê
Que seja um rapaz
Se apaixonando e casando com ela lá
No altar da capela de São Brás
Gueixa no tatame
Gilberto Gil
Mas a gueixa me iludiu
Logo de cara, umeboshi
Uma ameixa salgada
Quieto, seu mano engoliu
Um forte impacto no ilíaco
Mas se era afrodizíaco, tudo bem
Gueixa não é sempre que se tem assim
Depois ela serviu, sake, sushi, nato, tofu
Como encontrar apetite pra tanto palpite no menu
Não sei se vinha da ameixa mas a deixa era
Luzes, câmera, ação !
Não aguentava mais meu coração
Minha gueixa no tatame
Parecia um camafeu
Uma gueixa no tatame
E eu ali perto do céu
Olhei pra ela e disse
Sonho, sonho meu
Nesse mesmo instante
Incontinente ela adormeceu
Não foi possível libertá-la do morfeu
Guerra santa
Gilberto Gil
Ele promete a salvação
Ele chuta a imagem da santa, fica louco, pinel
Mas não rasga dinheiro, não
Ele diz que faz que faz tudo isso em nome de Deus
Como um papa da Inquisição
Nem se lembra do horror da Noite de São Bartolomeu
Não, não lembra de nada, não
Não lembra de nada, é louco, mas não rasga dinheiro
Promete a mansão no paraíso, contanto que você pague primeiro
Que você primeiro pague o dinheiro, dê sua doação
E entre no céu levado pelo bom ladrão
Ele pensa que faz do amor sua profissão de fé
Só que faz da fé profissão
Aliás, em matéria de vender paz, amor e axé
Ele não está sozinho, não
Eu até compreendo os salvadores profissionais
Sua feira de ilusões
Só que o bom barraqueiro que quer vender seu peixe em paz
Deixa o outro vender limões
Um vende limões, o outro vende o peixe que quer
O nome de Deus pode ser Oxalá, Jeová, Tupã, Jesus, Maomé
Maomé, Jesus, Tupã, Jeová, Oxalá e tantos mais
Sons diferentes, sim, para sonhos iguais
Outras gravações:
“Hollywood rock”, Gilberto Gil, Promoter 1995
“Pop remix santos tribuna FM”, Gilberto Gil, Warner Music
“Quanta”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Projeto especial IBM”, Warner Music 1997
“Pop Brasil remix cidade FM”, Gilberto Gil 1997
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Pop remix”, Gilberto gil, Warner music, 1997
“E-collection disco 1”, Gilberto gil, Warner Music 2000
“1975-1997 bossa,samba & pop”, Gilberto Gil, Warner Music 1998
Comentários*:
“‘Guerra Santa’ foi uma canção que eu fiz em resposta mesmo à provocação contida no episódio do pastor evangélico que chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida na televisão. Eu achei aquilo uma falta de respeito, de um utilitarismo reles; um gesto de proselitismo funcional, de puxar a brasa para a sua sardinha religiosa; um gesto de um viés materialista muito claro, no meio da linguagem religiosa. Achei aquilo de uma ignorância que eu senti quase uma necessidade de denunciá-la; de denunciar o fato de que aquele gesto ignorava uma série de coisas, de que era um gesto ignorante mesmo. Se ele não pode respeitar o atributo religioso de uma outra religião, de um outro credo, de uma outra profissão de fé, ele não tem direito de professar uma fé; se ele não respeita a profissão do outro, ele não tem direito de ser profissional. Daí a própria letra falar do mercado, das barracas, dos vendedores…
Se não houver uma substância comum às religiões, de que universalidade estaremos falando? Se os universais não são compostos dos particulares, das partes… ‘Guerra santa’ é uma canção sobre isso, que eu fiz durante um retiro, num spa em São Paulo. Eu achei que havia no gesto uma exigência, que o que ele estava dizendo quando fez aquilo era: ‘Digam alguma coisa; expliquem isso, me expliquem isso aqui’. Era um pedido de explicação que eu me senti na obrigação de atender. Essa música foi das poucas músicas na minha vida que surgiram de uma exigência filosófica. Música de resposta mesmo – a uma intolerância religiosa que não é compatível com a complexidade do nosso tempo.
A volta da história – Como o candomblé tinha sido perseguido pelos católicos, agora estes eram atacados pelos evangélicos, e nós [do candomblé] vínhamos – quer dizer, eu achei que tinha de vir – em defesa dos católicos; quer dizer, o antigo algoz virava vítima e a vítima vinha em socorro do algoz…”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”