Músicas
A abóbada da vida
Gilberto Gil
Lá no alto da cabeça
De onde a alma brilha pendulada
Como um cristal num pingente
É a mente
É a mente atônita
Descendo e subindo a escada
Da coluna vertebral da gente
Tentando alcançar a abóbada
Da vida
É a vida abobalhada
Ilhada dentro do corpo
Notre Dame imaculada
Órgãos por todos os lados
Tocando música
E os olhos da vida em êxtase
Vendo a alma brilhar pendulada
Presa no alto da abóbada
Da vida
Outras gravações:
“E-collection”, A Cor do Som, Warner Music 2001
“Teste”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
A bruxa de mentira
Gilberto Gil
João Donato
Bombom de rapadura
Saborosa figura
A bruxa de mentira
Não vejo a hora de ir
Na barraquinha comprar
Rapadoçura bombom
Bruxinha gostosura
A bruxa de mentira
Bombom de rapadura
Saborosa figura
A bruxa de mentira
Bombom de rapadura
Exdrúxula figura
Bruxinha gostosa
Neném rapadoçura
Outras gravações:
“Lugar comum”, João Donato, Philips 1975
“O melhor de João Donato”, Arnaldo Antunes e João Donato, Lumiar Discos 2002
“Duetos”, Arnaldo Antunes e João Donato, BMG 1999
“Bossa do Leblon”, Wanda Sá, Deck Discos 2005
“Songbook João Donato – vol 2”, Arnaldo Antunes e João Donato, Lumiar discos 2015
“O seu amor”, Gilberto Gil , Universal Music 2004
“A arte de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Universal 2005
“Satisfação – raras e inéditas”, Gilberto Gil e João Donato , Polygram Music 1998
A ciência em si
Gilberto Gil
Arnaldo Antunes
Tende a que se entenda
E toda lenda
Quer chegar aqui
A ciência não se aprende
A ciência apreende
A ciência em si
Se toda estrela cadente
Cai pra fazer sentido
E todo mito
Quer ter carne aqui
A ciência não se ensina
A ciência insemina
A ciência em si
Se o que se pode ver, ouvir, pegar, medir, pesar
Do avião a jato ao jaboti
Desperta o que ainda não, não se pôde pensar
Do sono do eterno ao eterno devir
Como a órbita da terra abraça o vácuo devagar
Para alcançar o que já estava aqui
Se a crença quer se materializar
Tanto quanto a experiência quer se abstrair
A ciência não avança
A ciência alcança
A ciência em si
A coisa mais linda que existe
Gilberto Gil
Torquato Neto
É sair por um segundo
E te encontrar por aí
E ficar sem compromisso
Pra fazer festa ou comício
Com você perto de mim
Na cidade em que me perco
Na praça em que me resolvo
Na noite da noite escura
É lindo ter junto ao corpo
Ternura de um corpo manso
Na noite da noite escura
A coisa mais linda que existe
É ter você perto de mim
O apartamento, o jornal
O pensamento, a navalha
A sorte que o vento espalha
Essa alegria, o perigo
Eu quero tudo contigo
Com você perto de mim
A existência do sol
Outras gravações:
“Um trem para as estrelas”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Instrumental”, Globo Discos 1987
A faca e o queijo
Gilberto Gil
Que eu não lhe faço uma canção
Acha que a chama
A velha chama da paixão
Não nos inflama mais
Com tanto ardor
Como na época em que éramos
A faca e o queijo
A faca e o queijo
E o desejo tinha mãos
E as mãos, traquejo
No bom manejo da emoção
No jeito de tomar
No ato de cortar
No simples fato de juntar
A faca e o queijo
A gente ama
E o amor produz transformações
A velha chama
Acende novas ilusões
Com mãos bem mais sutis
Novos desejos
Vão tornando nossos beijos
Mais azuis, menos carmins
Você reclama
E eu sei que é só por reclamar
Como quem chama
Outra criança pra jogar
Seus jogos infantis
Ainda nos vejo como outrora
Faca e queijo, sim
Num tempo mais feliz
Outras gravações:
“Envelope”, Banda Larga Cordel, Gege Produções 2008
“Banda larga cordel” , Gilberto Gil, Warner Music 2008
“It’s good to be alive – anos 90”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
Comentários*:
“Fiz essa canção no avião. Eu saí de Salvador para Brasília pela manhã, e escrevi as duas primeiras estrofes; voltando de Brasília à noite, no mesmo dia, para Salvador, eu escrevi as duas finais.
Fui fazendo só a letra, mas na verdade já pensando, vivendo a música silenciosa que estava ali – porque todo compositor que trabalha com letra e música, com os dois códigos, muitas vezes, quando está fazendo uma coisa, já está fazendo a outra. Então, enquanto eu escrevia os versos dessa canção no avião, na verdade a música de uma certa forma já estava ali, no silêncio; depois, as notas musicais que já estavam ali, eu então peguei em casa…
‘A faca e o queijo’ é uma canção sobre o amor maduro, o amor cujo fogo já é de uma chama azulada, de gás, de fogão a gás: quando já é o gás – uma substância mais sutil – que queima, não a lenha, nem o carvão, nem o petróleo, mas o gás em si: essas imagens de sutileza, que no fundo, no fundo, são o próprio mundo feérico do poeta. O poeta gosta do mundo onde pululam os entes leves, os entes sutis – isso constitui o próprio ideal do poeta; o poeta gosta quando esses mundos se insinuam, porque ele é identificado com a leveza: poesia é leveza, é delicadeza, mesmo quando ela está falando do peso bruto, da brutalidade; porque ela quer fazer com que o pesado voe.
(Eis por que eu adoro avião: porque eu acho o avião poético. Em determinados coisas a ciência e a tecnologia alcançam o nível poético: o avião é uma delas).
Uma canção de amor maduro: na aceitação da não volúpia e da sutilização da volúpia sexual, uma das vantagens que o homem velho vai tendo em relação aos outros. Uma das razões, também, de eu me referir ao envelhecimento como uma coisa prazerosa, ao invés do tom normalmente queixoso que a maior parte das referências à velhice têm.”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”
A família no caminhão
Gilberto Gil
Capinan
Caetano Veloso
[instrumental]
“Brasil ano 2000”, FORMA/CIA 1969
A fogueira
Gilberto Gil
A força secreta daquela alegria
Gilberto Gil
Jorge Mautner
Que me olha tão aflita
Que roseira bonita
Que me olha tão aflita
Pela chuva que não vem
Corro, pego o regador
Ela me olha com amor
Sabe o que lhe convém
Sabe o que lhe convém
Às vezes falo ao acaso
Com a samambaia de um vaso
Em cima da janela olhando a baía
Em cima da janela olhando a baía
Usamos telepatia
Falamos da vida
Sobre os amores das flores
E a força secreta daquela alegria
A gaivota
Gilberto Gil
De asas paradas
Voando no sonho
D’aguas da lagoa
Gaivota querida
Voa numa boa
Que o vento segura
Voa numa boa
Gaivota na ilha
Sem noção da milha
Ficou longe a terra
Gaivota menina
Gaivota querida
Voa numa boa
Que o alento segura
Voa numa boa
Gaivota, te amo e gaivotaria sempre em ti
Gaivotar seria poder te eleger para mim
Eu te quero, e se fosse o caso, quereria mais ainda
Ser, eu mesmo, gaivota sobre mim
Sobrevoar meus temores, meus amores
E alcançar o alto, alto, o mais alto dos teus sonhos
Dos teus sonhos de subir
De subir aos ares
Gaivota querida
Gaivota menina
Pousa perto de mim
Outras gravações:
“Bandido”, Ney Matogrosso, Universal Music 2008
“Original album series (cd 4)”, Gilberto Gil, Warner Music 2012
“O viramundo ao vivo”, Gilberto Gil, Polygram 1998
“Série sem limite – cd 1”, Gilberto Gil, Universal 2001
“E- collection disco 2 “, Gilberto Gil, Warner Music 2000
“Refavela”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“70 anos”, Ney Matogrosso, Warner Music 2015
Comentários*:
“Eu já tinha saído da cadeia propriamente dita, mas estava internado como determinação judicial, por causa da prisão por porte de maconha, em Florianópolis. Estava numa clínica, e as gaivotas eram muito presentes ali no dia-a-dia da gente; elas voavam sobre a Ilha e a Lagoa da Conceição, e um dia uma delas, voando, me inspirou a escrever uma canção.”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”
A jovem vizinha
Gilberto Gil
Pena que ela ache tão estranha minha maneira de ser
Ser do meu jeito, bem que ela queria
Pena que a vontade foi tão reprimida que não dá mais pé
Porque ela pensa que a culpa é minha
Da natureza ter espalhado a vida por aí
Mas tudo é só porque ela está sozinha
Com grilos e grilhões que a mãe deixou antes de sair
Às compras
Eu também gosto da mãe da vizinha
Pena que ela faça uma idéia tão errada de Jesus
Parece até que ela não adivinha
Que não foi exatamente por ser como ela é
Que o mestre foi parar na cruz
Que não foi exatamente por dizer o que ela diz
Que o mestre foi parar na cruz
Que não foi exatamente por fazer como ela faz
Que o mestre foi parar na cruz
Outras gravações:
“Fora de prumo”, Sérgio Sá, Warner Music 1984
A linha e o linho
Gilberto Gil
Como se eu fosse o pano e você fosse a linha
E a agulha do real nas mãos da fantasia
Fosse bordando, ponto a ponto, nosso dia-a-dia
E fosse aparecendo aos poucos nosso amor
Os nossos sentimentos loucos, nosso amor
O ziguezague do tormento, as cores da alegria
A curva generosa da compreensão
Formando a pétala da rosa da paixão
A sua vida, o meu caminho, nosso amor
Você a linha, e eu o linho, nosso amor
Nossa colcha de cama, nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado a casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza
“Na vida a dois, a pessoalização do amor; o êxtase pré-samádico; nas gradações religiosas, um estágio no qual, ainda em corpo, tem-se a dimensão divina; um ponto onde humano e sobre-humano superpõem-se.
“Nós estávamos em Paris, no Hotel Meurice, onde Hitler havia feito o seu quartel-general quando da Ocupação, e onde também saiu Extra na mesma ocasião. Flora tinha acabado de adormecer; ainda a acariciei um pouco e já estava entrando num estado de torpor quase sonho, quando me chegaram as primeiras frases. Havia a maciez da pele dela, a do tecido do lençol e os bordados na colcha – todos os elementos; minha sensação era de leveza, paixão e afeto. Aquelas palavras ficaram como que boiando num éter, e eu já tinha me deitado, mas resolvi me levantar e completar a letra toda. No final ainda me lembrei da minha mãe e da minha avó bordando nos panos os motivos que eu cito. Dias depois fiz a música.
“Recentemente, eu recebi de uma família de bordadeiras, mãe e filhas, de Três Marias, interior de Minas, um lenço bordado junto com uma carta de agradecimento pela canção. No lenço, a inscrição ‘A Linha e o Linho’. Para mim foi instigante o fato de, nesses dois substantivos, apenas o o e o a finais os diferenciarem, determinando também a diferença dos sexos. E propiciando que um momento tocante, especial, se transformasse em poesia, como num lance de ilusionismo, prestidigitação.”
Outras gravações:
“Songbook Gilberto Gil 1”, Gal Costa e Marco Pereira, Lumiar Discos 1992
“O amor de uns tempos pra cá”, Andrea Dutra e Marcus Nabuco, Saladesom 2007
“Zé Maurício”, Zé Maurício 2008
“Diogo Poças”, Diogo Poças, Warner Music 2009
“Meu amanhã, Carla Bezerra, Carla Ribeiro Amorim Bezerra 2014
“Tributo MPB”, Gal Costa, Som livre 2013
“Luar”, Gilberto Gil 1998
“Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções 2009
“Acústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Extra”, Gilberto Gil, Warner Music 1983
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Bandadois”, Gilberto Gil, Warner Music 2009
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner Music 1994
“Gil + 10”, Gilberto Gil & Lenine, Pedra da Gavea 2011
“Ivete, Gil e Caetano”, Universal Music 2011
“Com o som no coração”, Joana D`arc Menegaz 2014
“Nascente musica”, Margareth Reali 1998
“Amor até o fim”, Mauro Senise, Alma brasileira 2016
”Taís Nader”, Taís Nader 2012
“Zé Mauricio”, Zé Maurício, Goinva 2008
A luta contra a lata ou A falência do café
Gilberto Gil
O barulho que vocês estão ouvindo é um barulho de latas!
De latas! Eu disse: “Latas! Latas!”
O exército de latas mil do inimigo
Tomou de assalto as prateleiras e os balcões
Em nome das plebéias chaminés plantadas
Em nossos quintais
Palavras proferidas por um velho dono
De terras roxas de uma vasta região
Em nome das grã-finas tradições plantadas
Em seu coração
(Café! Café! Café! Café!)
Chaminés plantadas nos quintais do mundo
As latas tomam conta dos balcões
Navios de café calafetados
Já não passeiam portos por ai
Rasgados velhos sacos de aninhagem
A grã-finagem limpa seus brasões
Protege com seus sacos de aninhagem
Velha linhagem de quatrocentões
Os sacos de aninhagem já não dão
A queima das fazendas também não
As latas tomam conta do balcão
Vivemos dias de rebelião
Enlate o seu café queimado
Enlate o seu café solúvel
Enlate o seu café soçaite
Enlate os restos do barão
A lata luta com mais forças
Adeus, elite do café
Enlate o seu café solúvel
Enquanto dá pé
Outras gravações:
“Tropicália- millennium”, Gilberto Gil com Os Mutantes, Universal 1998
Comentários*:
“Essa canção desdobra a lógica da música de protesto que vinha da fase pré-tropicalista, anterior, incluindo signos de composição, de decupagem, de montagem, de edição, típicos da fase tropicalista. Faz uma crítica direta, territorializada no campo da alta burguesia paulista, aos barões do café; aos resíduos de aristocracia descurada, descaracterizada já, paulista, quatrocentona, na segunda metade do século 20, àqueles resíduos já macilentos da aristocracia do café, sendo tudo isso figurado com a imagem dos sacos de aniagem que se desfazem, pela capacidade que eles têm de se esfarrapar, se desfazer, com o seu tecido provisório, improvisado, típico para ser apenas um invólucro rápido para o café ou o cacau. Uma crítica à burguesia ainda semi-aristocratizada, já dominada pela lata, já sujeita à nova lógica produtiva da indústria moderna, mas ainda vivendo sentimentos de altivez e de soberba da aristocracia antiga.
– Para um tropicalista, um prato cheio.
Gil: Uma xícara cheia…
– Uma lata cheia…
Gil: Uma lata cheia de muitas xícaras…
– Cheias de ironia, de sarcasmo mesmo.
Gil: De sarcasmo.
A idéia do café solúvel como uma grande ameaça: no momento em que o café se tornou solúvel, se tornou enlatável, acabou-se o reinado da saca de café. É uma maneira de associar estágios tecnológicos – formas de produção – aos estágios sociológicos. A música quer fazer essa associação: o saco de aniagem estava para a aristocracia, assim como a lata está para a burguesia. Dá conta da luta interna, transcorrendo no próprio extrato, na própria cripta social, das elites: da luta das elites, com a superação da aristocracia pela burguesia. Quanto ao proletariado, é como se ele estivesse ironicamente do lado, afastado de braços cruzados, vendo a burguesia apunhalando a aristocracia…
Quanto ao jogo aliterativo de trechos da letra (‘Café calafetados’, ‘a lata luta/ elite/ enlate’) que, sonoramente tão carregado, aparece pioneiramente em sua obra – São procedimentos tropicalistas ligados já à poesia concreta. Estímulos novos trazidos pelo concretismo.”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”
A luz e a escuridão
Gilberto Gil
Dos mistérios do universo
A luz e a escuridão
Fazem par, verso e reverso
Dos percursos da visão
A luz que corta qual faca
Afiada e bem precisa
E a escuridão, faca cega
Que só apalpa e alisa
A luz e a escuridão
As duas irmãs babaças
Uma diz sim e outra não
E ambas fazem suas graças
Aqui estão três irmãs
A quem a luz disse não
E a escuridão disse sim
Acendendo a inspiração
Oh, vida de tanto enredo
De tantas contradições
Aqui estão olhos que veem
Pela luz dos corações
Ali, onde o olhar é oco
É a voz da luz que fala
Luz das ceguinhas do coco
Iluminando esta sala
A mão da limpeza
Gilberto Gil
Quando não suja na entrada
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Que mentira danada, ê
Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o negro penava, ê
Mesmo depois de abolida a escravidão
Negra é a mão
De quem faz a limpeza
Lavando a roupa encardida, esfregando o chão
Negra é a mão
É a mão da pureza
Negra é a vida consumida ao pé do fogão
Negra é a mão
Nos preparando a mesa
Limpando as manchas do mundo com água e sabão
Negra é a mão
De imaculada nobreza
Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
Eta branco sujão
“Eu fiz A Mão da Limpeza para repor certas coisas no lugar e remendar um preconceito histórico contra os negros; para responder, no mesmo tom, um desaforo – o velho ditado: ‘Negro, quando não suja na entrada, suja na saída.’
“Ocorriam-me imagens de lavadeiras lavando roupa nas beiras de rios, inúmeros, por que eu passei no interior da Bahia e outros lugares; de cozinheiras negras, jovens e velhas, espalhadas pelas cozinhas do Brasil; de várias faxineiras limpando as casas. Ocorria-me com muita nitidez o quão acionados e quão importantes são os negros para o trabalho de limpeza em geral que é feito na vida, e também com tamanha nitidez o quão sujadores são exatamente os que têm mais recursos, os mais ricos, os mais beneficiados da sociedade que, em sua grande maioria, correspondem à classe mais clara, a faixa mais branca.
“Quer dizer, os negros são tão maciçamente empenhados na função da limpeza da comunidade e acabam sendo acusados de ser os sujões. No fundo, o provérbio tem uma conotação nitidamente moral, além de física; o que se tenta considerar como sujo no negro é sua existência, sua pessoa, sua condição humana. Nesse sentido é muito mais terrível, e a música nem alcança a dimensão da crítica disso; ela apenas toca nisso.
“Mas jogando a sujeira como algo produzido preferencialmente pelos brancos, ela faz a limpeza da nódoa que quiseram impor aos negros. E deixa implícita também uma condenação moral aos brancos. Ou seja: ‘Sujos na verdade são vocês, de corpo e alma; pelo menos, mais sujos que os negros vocês são. Há muito mais sujeira a apurar ao longo do processo da civilização de vocês do que da nossa.’ É o que a música diz. E ela diz o que tem a dizer, com contundência e eficácia.”
A mão direita
Gilberto Gil
Torquato Neto
A morte
Gilberto Gil
Não precisa do nosso chamado
Recado
Pra chegar
Ociosas, oh sim
As rainhas são quase sempre prontas
Ao chamado dos súditos
Súbito colapso
Pode ser a forma da morte chegar
Não precisa de muito cuidado
Ela mesma se cuida
É rainha que reina sozinha
Não precisa do nosso chamado
Medo
Pra chegar
Outras gravações:
“Jards Macalé”, Jards Macalé, Universal Music 2004
Comentários*:
“O esoterismo implica a concepção inclusiva da morte; a morte não exclui nada, a morte está incluída; ela é fechamento de ciclo; a idéia de que não há vida sem morte; de que tudo que nasce, morre; tudo que tem um começo, tem um fim; toda face tem um dorso. Do equilíbrio com a relação dinâmica da permanência da interação dos opostos: a morte é um desses opostos; então, não há vida sem morte, nem morte sem vida. Pelo menos no campo da camisa de força da dualidade – a superação do dual oferecida, sugerida pelos sábios, pelos santos.
Compus essa música em Londres, quando eu voltei para lá, em 72, para arrumar as coisas para regressar ao Brasil em definitivo. Ela veio de um daqueles insights, uma daquelas emanações de sentimento profundo que dão um pensamento. A canção faz uma associação interessante da morte com as rainhas ociosas, e dos seus súditos com a gente.”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”
A mulher que eu sou
Gilberto Gil
Ruy Guerra
A notícia
Gilberto Gil
Que trouxe a notícia
Que o meu amor tinha morrido
Teria sido encontrado
Coração varado
Por flechas de algum cupido
Novo bandido talvez contratado
Por alguém bem interessado
Na minha solidão
Minha desilusão
Na vaga aberta na minha paixão
Tramaram tudo
De forma perfeita
Aproveitaram a estação
Insuspeita:
O verão
– Provavelmente um cupido de cara morena
De voz tão serena –
E o luar
Sabiam que ela gostava da praia
Não há quem não caia
Seu coração caiu
Sob as flechadas desse bandido
Cupido
E a polícia, que passava, viu
Foi a polícia
Que trouxe a notícia
E agora alguém deve estar pronto
Agradecendo, sorrindo
Pagando ao cupido
Saindo
Ao meu encontro
Rei morto, rei posto
Devo estar disposto
A conhecer o interessado
Na minha solidão
Minha desilusão
Na vaga aberta na minha paixão
Outras gravações:
“Coisa cristalina”, Wando, Discobertas 2017
A novidade
Gilberto Gil
Bi Ribeiro
Herbert Vianna
João Barone
Na qualidade rara de sereia
Metade, o busto de uma deusa maia
Metade, um grande rabo de baleia
A novidade era o máximo
Do paradoxo estendido na areia
Alguns a desejar seus beijos de deusa
Outros a desejar seu rabo pra ceia
Ó, mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Ó, de um lado este carnaval
Do outro a fome total
E a novidade que seria um sonho
O milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho
Ali naquela praia, ali na areia
A novidade era a guerra
Entre o feliz poeta e o esfomeado
Estraçalhando uma sereia bonita
Despedaçando o sonho pra cada lado
Ó, mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Ó, de um lado este carnaval
Do outro a fome total
Gilberto Gil estava em Florianópolis quando Herbert Vianna ligou pra ele e lhe pediu para pôr letra na única música que faltava para fechar o disco (Selvagem) que os Paralamas do Sucesso estavam terminando de gravar. Logo, Herbert mandava via sedex a gravação instrumental da música, que Gil retirou no correio.
Gil: “Fui pro hotel e botei a fita no gravador. Depois de umas quatro passadas, saí anotando. Eram mais ou menos duas da tarde. Às três horas eu estava ligando pro estúdio já para passar a letra. Foi uma coisa assim: bum! A letra veio como um tiro certeiro, absolutamente de chofre, inteira. E de um modo surpreendente até pra mim, porque, mesmo sem tempo pra qualquer avaliação crítica no dia seguinte, resultou no que eu acho um dos meus melhores textos – pela escolha e pela maneira de tratar o assunto, pela concisão e pela elegância da construção.”
Um estímulo visual… – “O quarto do hotel dava para o mar, e eu estava escrevendo na mesinha de frente para a janela, com a visão do mar ao fundo. Daí a idéia da sereia que vinha dar à praia.”
… e outro, sonoro – “Algumas sílabas no início do cantarolar do Herbert na fita me insinuaram algo que soava como a palavra ‘novidade’, e eu aproveitei essa sugestão sonora. O restante veio por acaso mesmo.”
Riqueza versus miséria – “O tema da desigualdade sempre fez parte do modo de inserção da minha geração na discussão dos problemas da sociedade; do nosso desejo de expressá-los. Universitário por excelência, o tema é portanto anterior e recorrente em meu trabalho. Está em Roda, em Procissão, em Barracos. Agora, em A Novidade, a imagem da sereia é que dá a partida para o tratamento da questão; a novidade é essa. Pode-se imediatamente pensar no Brasil, mas é sobre o Terceiro Mundo em geral; mais: sobre todo o ‘mundo tão desigual’, mesmo, de que fala o refrão.”
Outras gravações:
“Luiz A. M. Cossa”, Banda Forró Urbano 2001
“Biquini Cavadão”, Biquini Cavadão, Universal Music 2001
“Forró Chama Chuva”, Chama Chuva, EMI Music 2001
“Cidade Negra”, Cidade Negra, Sony BMG 2006
“Sucessos do barzinho – vol. 4”, Claudio Rodrigo, Sony BMG 2003
“Selvagem”, Paralamas do Sucesso, EMI 1997
“Paralamas ao vivo – Vamo bate lata”, Paralamas do Sucesso, EMI-ODEON 1995
“15 anos de rock”, Paralamas do Sucesso e Titãs, EMI 2008
“Projeto Ceafro”, Ceafro 2001
“A música de Herbert Vianna”, Biquini Cavadão, Universal Music 2003
“Brasil afora ao vivo”, Paralamas do Sucesso, EMI 2010
“A música de Gilberto Gil”, TCPA/TOP CAT 2007
“Série Gold Universal”, Biquini Cavadão 2002
“Forró Chama a chuva”, Chama chuva, EMI Music 2001
“MPB ao vivo”, Gilberto Gil, BMG 2002
“Perfil”, Gilberto Gil, Sigla 2005
“Trilha sonora da novela A Pátria Minha”, Gilberto Gil, Som livre 1994
“Kaya n’ gandaya ao vivo”, Gilberto Gil, Som Livre 2003
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner 1994
“Super tema de novelas”, Gilberto Gil 1995
“Quanta gente veio ver”, Gilberto Gil,Warner Music 1997
“E-collection”, Gilberto Gil, Warner Music 2000
“Acústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Gilberto Gil no palco- nova série”, Warner Music 2007
“Enciclopédia musical brasileira MTV”, Gilberto Gil 1999
“Território nacional MTV”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“O melhor da Warner”, Gilberto Gil, WEA/Continental 1995
“Gil + 10”, Gilberto Gil e Lenine, Som Livre 2011
“Gil + 10”, Gilberto Gil e Paralamas do Sucesso, Som Livre 2011
“Ivete, Gil e Caetano”, Ivete, Gil e Caetano, Universal Music 2012
“Jamz”, Jamz, Som Livre, 2017
“Perfil – Os Paralamas do Sucesso vol.2 “, Paralamas do Sucesso EMI 2006
“Selvagem”, Os Paralamas do Sucesso, EMI 2004
“Box Os Paralamas do Sucesso”, Os Paralamas do Sucesso, EMI 2013
“Multishow ao vivo – Os Paralamas do Sucesso 30 anos, Mangaba Produções 2014
“Reggae Brasil”, Os Paralamas do Sucesso, Som Livre 2001
“Gilberto Gil – 2 lados”, Os Paralamas do Sucesso, Universal Music 2017
“Chill Brazil 3”, Os Paralamas do Sucesso, Warner Music 2004
“10 hits – Paralamas do Sucesso”, Os Paralamas do Sucesso, Universal Music 2017
“Paralamas do sucesso”, RAF 1998
“Vamo bate lata”, Paralamas ao vivo , EMI-Odeon 1995
“Estúdio Coca-Cola zero – diário de bordo – 07”, Paralamas do Sucesso, Abril Radiodifusão 2009
“Paralamas do sucesos”, EMI 1999
“Brasil afora ao vivo- Multishow”, Paralamas do Sucesso, EMI Music 2010
“A novidade”, Paralamas do sucesso, EMI Music 2011
“Coleção one – 16 hits – Os Paralamas do Sucesso”, Paralamas do Sucesso, EMI Music 2009
“D”, Paralamas do Sucesso, EMI Music 1997
“Ceafro”, Projeto Ceafro 2001
“Serjão Loroza & Us Madureira”, Serjão Loroza 2010
“O som do luau 2”, O som do Luau, Desk disco 2010
A paz
Gilberto Gil
João Donato
Invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais
A paz
Fez o mar da revolução
Invadir meu destino; a paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz
Eu pensei em mim
Eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição
Só a guerra faz
Nosso amor em paz
Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos “ais”
“João Donato apareceu em casa um dia com uma fita com várias canções, todas chamadas Leila – Leila 1, 2, 3, 4 – umas quinze ou dezesseis no total. Eu disse: ‘Deixa pra outro dia, hoje a gente não tem tempo…’ E ele: ‘Não, vá, apure aí, faça alguma coisa’. E começou a cochilar ao meu lado. A imagem dele dormindo sossegado, em plena luz do dia, me chamou a atenção para o sentido da paz. Me veio à lembrança o título do livro Guerra e Paz, de Tolstoi, e a letra foi sendo construída sobre essa contradição, reiterando minha insistência sobre o paradoxo.
” ‘Uma bomba sobre o Japão fez nascer o Japão da paz’, em A Paz; ‘a luz nasce da escuridão’, em Deixar Você; ‘minha religião é a luz na escuridão’, em Minha Ideologia, Minha Religião, o canto de abertura do disco Dia Dorim Noite Neon. Essa a recorrência básica no meu trabalho: yin e yang, noite e dia, sim e não, permanência e transcendência, realidade e virtualidade: a polaridade criativa (e criadora). ‘Porque eu sou e Deus é, e disso é que nasce toda a criação’, como diz uma outra música minha, É.”
Outras gravações:
“Emílio Santiago encontra João Donato”, Emílio Santiago e João Donato, Lumiar Discos
“Coisas de novela”, Fábio Bortoleto, Atração Discos
“O canto da transformação”, Jarbas Tauryno, Lua Discos
“Um barzinho, um violão”, João Bosco, Universal Music
“O piano de João Donato”, João Donato, Deck Discos
“Donatural – DVD”, João Donato e convidados, Biscoito Fino
“Café com pão”, João Donato e Eloir Moraes, Lumiar Discos
“João Donato Trio”, João Donato Trio, Elephant Records
“Chill Brazil”, Jorge Ben Jor, Warner Music
“Minha saudade”, Lisa Ono, BMG
“Marisa Lobo”, Marisa Lobo, Tratore
“Escrava Isaura”, Max Vianna, Record Music
“Letras brasileiras II”, Oswaldo Montenegro, Albatroz
“Rosa Passos”, Rosa Passos, Lumiar Discos
“Sinal dos tempos”, Antonio Villeroy & Orquestra de Câmara Theatro São Pedro, PIC Music/Warner Music
“O meu amor”, Zizi Possi, Universal Music
“Albatroz”, MPB light (Vibrafone) 2005
“Ministério do meio ambiente”, Simpósio mundial de restauração da paisagem florestal 2005
“Eldorado”, Premio Visa de MPB 1998
“André Mehmari e Célio Barros”, André Mehmari e Célio Barros, Estúdio Eldorado/Rádio Bandeirantes 2008
“Orchestra plays Djavan-Gil-Caetano”, Brazilian tropical, Movieplay 1998
“Afinidade”, Cibele Codonho, Oesp 2016
“Nós, tão iguais, tão diferentes escola Sá Pereira”, Coral da escola Sá Pereira
“Coral da paróquia da ressurreição, coral da anunciação e músicos da escola de Ze” 2008
“Coral empresa seguro HDI”, HDI Seguros 2013
“Artistas da vida M. Dias Branco”, Coral M. Dias Branco 2005
“Henrique Ferreira Junior”, Coral Petros 2005
“Dom de iludir”, Emilio Santiago, Bossa 58 2006
“Maxximum”, Emilio Santiago, Sony Music 2005
“Emilio Santiago encontra João Donato”, Lumiar 2003
“Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções 2009
“Especial de natal “, Gilberto gil, Som Livre 2015
“Confissões de adolescentes”, Gilberto Gil, Trama 2005
“Gil e os 4 cantos”, Gilberto Gil, Versal Editorial 2005
“Projeto especial Laboratótios Knoll”, Gilberto Gil, Versal editores 2005
“Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Vogue -diet Coke”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“Acústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2001
“Gilberto Gil no palco – nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“Le troubadour du Brésil”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
“Healing select bossa nova”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner Music 1994
“Duetos”, Gilberto Gil e João Donato, Warner Music 2007
“Leilíadas”, João Donato, Warner Music 2011
“O melhor de um barzinho, um violão”, João Bosco, Universal 2005
“Sem limites – um barzinho, um violão – cd 1”, João Bosco, Universal 2007
“Jade”, João Bosco, Universal Music 2008
“Fundamental – João Bosco”, João Bosco, Deck Produções 2013
“Naquela base”, João Donato, Discobertas 2017
“Um barzinho, um violão ao vivo”, João Bosco, Universal 2002
“João Donato & Gilberto Gil”, João Donato e convidados/Donatural, Biscoito Fino 2005
“MPB – os melhores da MPB”, João Donato e Gilberto Gil, Som Livre 2011
“Água”, João Donato e Paula Morelenbaum, Biscoito Fino 2010
“Jorginho Gomes in concert”, Jorginho Gomes & Gilberto Gil 2016
“Julio Cesar”, Julio – Kosovo 2001
“Gil na delas”, Lisa ono, BMG 2005
“A. Aquino Produções”, Marcio Mendez 2001
“Marisa Lobo”, Marisa Lobo, Tratore 2008
“Escrava Isaura”, Max Vianna, Record 2005
“Coral Univali Fun.”, Novos Rumos 2006
“Canto uma canção bonita”, Oswaldo Montenegro, Bossa58 2006
“Ctbc Telecom mostra seus talentos II / tempo de abrir o coração e sonhar”, Patricia, Fabiana e Marlene, Cia telefónica do Brasil Central 2002
“Projeto esp.radio musical FM/SP”, Warner music 1995
“Mpbaby: canções populares MCD comercio de produtos por catálogo”, Reginaldo Frazatto Jr 2013
“A luz das estrelas”, Revelação, Universal Music 2014
“Piano bar (nacional) “, Música Fabril, Rodrigo Brag 2011
“Tributo MPB”, Rosa passos, Som Livre 2013
“Rosa passos”, Lumiar 1999
“Songbook João Donato – vol 3”, Rosa Passos, Lumiar Discos 2015
“Thiaguinho- ousadia e alegria”, Som Livre 2012
“MPB relax”, Varios, Sony Music 2004
“Projeto especial construtora Rossi”, Zizi Possi, Polygram
“MPB compositores – Gilberto Gil -vol. 8”, Zizi Possi, Som Livre 2000
“Sobre todas as coisas/proj. especial Jornal da Tarde”, Zizi Possi, Eldorado 1997
“Est Eldorado”, Zizi Possi 1992
“Sobre todas as coisas”, Zizi Possi, Estudio Eldorado 1992
“Barato total – elas cantam Gilberto Gil”, Zizi Possi, Som Livre 2008
“Personalidade”, Zizi Possi, Índigo Brasil 1911
“Vip Collection”, Zizi Possi, MZA 2007
“Pedaço de mim/O melhor de Zizi Possi”, Zizi Possi, Polygram 1998
“Projeto especial acesso propaganda”, Zizi Possi, Polygram 1997
“Projeto especial Bi Happy brinquedos”, Zizi Possi 1998
“Projeto especial Philips Sound e Vision”, Zizi Possi, Polygram 1998
“MPB por elas”, Zizi Possi, Polygram 1997
“20 grandes sucessos de Zizi Possi”, Zizi Possi, Polygram 1998
“Os sucessos – cd 1”, Zizi Possi, Polygram 1995
“Projeto especial filtros mann”, Zizi Possi, Polygram 1998
“Declarações de amor – cd 2 – Uma paixão musical/O melhor da música brasileira”, Zizi Possi, Reader’s Digest 2005
“Grandes compositores “, Zizi Possi, Rge-ed 1997
“Trilha sonora da novela Mandala”, Zizi Possi, Sigla 2000
“Serie sem limite cd 1”, Zizi Possi, Universal 2001
“Projeto especial Reader’s Digest – sucessos inesquecíveis de novelas”, Zizi Possi, Universal 2007
“Serie melhor de dois”, Zizi possi, Universal, 2000
“Só MPB”, Zizi Possi, Universal 2003
“O meu amor”, Zizi Possi, Universal 2003
“O melhor do amor {série i love MPB}”, Zizi Possi, Universal 2004
“A música de Gilberto Gil”, Zizi Possi, Universal 2003
“O amor e música”, Zizi Possi, Universal 2002
“Millennium”, Zizi Possi, Universal 2004
“Muito romântico”, Zizi Possi, Universal 2008
“Julio simões {projeto especial}”, Zizi Possi, Universal 2002
A raça humana
Gilberto Gil
Uma semana
Do trabalho de Deus
A raça humana é a ferida acesa
Uma beleza, uma podridão
O fogo eterno e a morte
A morte e a ressurreição
A raça humana é
Uma semana
Do trabalho de Deus
A raça humana é o cristal de lágrima
Da lavra da solidão
Da mina, cujo mapa
Traz na palma da mão
A raça humana é
Uma semana
Do trabalho de Deus
A raça humana risca, rabisca, pinta
A tinta, a lápis, carvão ou giz
O rosto da saudade
Que traz do Gênesis
Dessa semana santa
Entre parênteses
Desse divino oásis
Da grande apoteose
Da perfeição divina
Na Grande Síntese
A raça humana é
Uma semana
Do trabalho de Deus
A música foi feita após uma estada de Gilberto Gil em Israel, durante a qual visitou os locais bíblicos como o túmulo de Jesus, a casa de Lázaro e outros. “O mote – ‘a raça humana é uma semana do trabalho de Deus’ – surgiu em Tel-Aviv”, reporta o autor. “Ao voltar, elaborei a letra toda. A canção é a emanação das sensações vividas por mim naqueles lugares”.
*
– Às vezes, ao final de uma frase melódica que requer uma palavra oxítona também pode se justapor uma proparoxítona; o cantar faz a acentuação recair tanto na antipenúltima quanto na última sílaba. É o que acontece em A Raça Humana no verso que termina com “gênesis”, proporcionando o fenômeno rímico com “giz”.
Gil: “Sem descaracterizar o acento gramatical e sem criar a sensação de problemas prosódicos. Porque, você quase não ouve o ‘sis’ da palavra, falada: a ênfase fica no ‘gê’; mas na música, você canta ‘gênesís’. Soa bem a incidência acentual nas duas sílabas. É a liberdade que só a música dá, de entoar diversamente.”
– Uma particularidade da poesia de música, porque esse tipo de rima só se efetua realmente, claramente, na melodia. E depois, mais abaixo, você ainda diz ‘parênteses’, rimando com ‘gênesis’ (e ‘giz’).
*
Gil: “Eu adorava essa expressão do Caetano Veloso, ‘ferida acesa’ [de Luz do Sol: “Marcha o homem sobre o chão/ Leva no coração uma ferida acesa”], e resolvi transpô-la, traduzi-la para o contexto de A Raça Humana. ‘Ferida acesa’: como se o pus fosse luz.”
– Luz e pus, beleza e podridão.
“A idéia é essa.”
A rua
Gilberto Gil
Torquato Neto
Tem seu leito de água clara
Por onde passa a memória
Lembrando histórias de um tempo
Que não acaba
De uma rua, de uma rua
Eu lembro agora
Que o tempo, ninguém mais
Ninguém mais canta
Muito embora de cirandas
(Oi, de cirandas)
E de meninos correndo
Atrás de bandas
Atrás de bandas que passavam
Como o rio Parnaíba
Rio manso
Passava no fim da rua
E molhava seus lajedos
Onde a noite refletia
O brilho manso
O tempo claro da lua
Ê, São João, ê, Pacatuba
Ê, rua do Barrocão
Ê, Parnaíba passando
Separando a minha rua
Das outras, do Maranhão
De longe pensando nela
Meu coração de menino
Bate forte como um sino
Que anuncia procissão
Ê, minha rua, meu povo
Ê, gente que mal nasceu
Das Dores, que morreu cedo
Luzia, que se perdeu
Macapreto, Zé Velhinho
Esse menino crescido
Que tem o peito ferido
Anda vivo, não morreu
Ê, Pacatuba
Meu tempo de brincar já foi-se embora
Ê, Parnaíba
Passando pela rua até agora
Agora por aqui estou com vontade
E eu volto pra matar esta saudade
Ê, São João, ê, Pacatuba
Ê, rua do Barrocão
A sociedade afluente
Gilberto Gil
Depois que todos comeram
Depois que os pratos sujaram
Depois que os copos secaram
Depois que os discos tocaram
Depois que todos já foram
Ainda a lata do lixo
Pra pôr na porta da rua
Que amanhã é outro dia
Como todo e qualquer dia
Dia da Limpeza Pública
Mandar seu carro alegórico
Recolher nosso tributo
Bem cedo, antes que os detritos
Da banheira e da cozinha
Encham os olhos da vizinha
E ela coma do presunto
Que ficou na geladeira
Muito mais de uma semana
No final da noite
Depois que todos comeram
Depois que os pratos sujaram
Depois que os copos secaram
Depois que os discos desceram
Depois que todos já foram
Ainda a lata do lixo
Pra pôr na porta da rua
Comentários*:
“Houve uma época em que se falava em ‘sociedades afluentes’, uma expressão que antecipa o que veio depois a ser chamado de sociedade pós-moderna; uma expressão para designar as sociedades de ascensão das grandes classes médias urbanas, modernas, consumistas – não só de bens materiais, como também de bens simbólicos novos, de novas formas de direito e de cidadania; sociedades de consumo com considerável grau de distribuição de renda, de um consumismo auto-referente como forma de qualificação de vida; com nova arquitetura e novas formas de urbanismo… Depois o termo entrou um pouco em desuso.
Hoje em dia eu ainda associo muito a expressão ‘afluente’ à expressão ‘pós-moderna’. É na sociedade afluente que aparecem os primeiros grandes sintomas da fragmentação pós-moderna, que veio a dar os motes para a cunhagem dessa expressão.
A música exprime a idéia da uma cidade que se encontra articulada através de símbolos como o fast-food, através do consumo de bens acessíveis às grandes massas – sociedade afluente é a sociedade da cultura de massa, produtora de lixo, os resíduos sólidos da vida moderna. Esse sentido de sociedade afluente como consumidora e produtora da desqualidade, da não-qualidade, da quantidade pura, da qual o lixo é o principal centro, é a quantidade desqualificada, é o produto já sem a qualidade, a qualidade já foi consumida, só ficou o resto… ‘Sociedade Afluente’ foi composta no Rio.”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”
A última coisa bonita
Gilberto Gil
Que possa lhe prender
Não há mesmo amor
Pra lhe fazer ficar
Você não pode ser
A mim não pode dar
Amor inteiro
A vida inteira
E agora vai embora assim
Sem dor, sem nem deixar eu ver
Saudades em seu olhar
Sem nem dizer adeus
Que era a última coisa bonita
Que você podia me deixar
Outras gravações:
“Retirante”, Gilberto Gil, Discobertas 2010
A última valsa
Gilberto Gil
Rogério Duarte
Me alça
No astral
A espiral é de fumaça
E o pensamento é de cristal
A Vida de Um Casal
Gilberto Gil
Que não se acaba nunca de subir
Degrau após degrau, longa escalada
E o medo permanente de cair
O casamento é vento que não para
Às vezes brisa leve e pouca mágoa
Às vezes tempestade em copo d’água
Que a gente não consegue resistir
Pra conjugar o conjugal
Do verbo amar o essencial
Está na primeira pessoa do plural
Aval incondicional
E a adesão quase total
De uma pessoa a outra pessoa no final
Para seguir a vida a dois
Ou três ou quatro pessoinhas
Que virão depois no verbo procriar
A vida de um casal
Escada que não para de subir
Degrau após degrau
E nunca vai chegar ao céu
Que o céu já não tem mais lugar
Pra mais nenhum mortal
O céu real nós vamos construindo aqui no chão
Porção de sofrimento, tijolo, cimento e cal
A laje do bem, no lamaçal do mal
Aboio
Gilberto Gil
Capinan
Meu povo, tome coragem
Se aventure, se levante
Na arribação deste boi
Se aproxime dos apelos
E chamamento
Do canto do boiadeiro, oi
Levanta, meu companheiro
Boi Fulorô e Judeu
Levanta, Maracajá
Boi Estrela, Boi Espaço
Boi da serenidade
Da vida que Deus me deu
Ecô
Levanta, meu Boi Remanso
Desencantado e Chuvisco
Boi Cigano e Desengano
Levanta, Boi Alegria
Acorda, meu Boi Canário
Nas veredas do perigo
Ecô
Ramalhete e Nuvem Escura
Flor de maio e de janeiro
Bondade de meu sentido
Menina de meu desejo
Silêncio dos cemitérios
Do sofrer do boiadeiro
Ecô
Minha santa e namorada
Companheirinho da sede
Dou-te pão, cerveja e mel
Te dou água e te dou leite
Levanta, Boi Operário
Estrela D’Alva do céu
Ecô
No desespero do mundo
Acorda, meu coração
Levanta, Boi Valoroso
Levanta, meu Boi Desordem
Pra viver o teu destino
De martírio ou salvação
Ecô
Abra o Olho
Gilberto Gil
Ele disse: “abra o olho”
Caiu aquela gota de colírio
Eu vi o espelho
Ele disse: “abra o olho”
Eu perguntei como é que andava o mundo
Ele disse:”abra o olho”
O telefone tocou
Soando como um grilo de verdade
Eu ouvi o grilo
Ouvi o grilo cantando
Tava eu no mato de novo
No mato sem cachorro
Eu pensei: “tá direito?”
Que eu nunca tive cachorro ao meu lado
Ele disse: “abra o olho”
Eu disse: “aberto”, aí vi tudo longe
Ele disse: “perto”
Eu disse: “está certo”
Ele disse: “está tudinho errado”
Eu falei: “tá direito”
Eu falei: “tá direito”
Tudo numa gota de colírio
Ele disse: “é delírio
Navegar nas águas de um espelho”
“Meu nego, abra o olho”
Ele disse: “abra o olho”
Ele disse: “abra o olho”
Com aquela sua voz suave, amiga e franca
Eu falei “tá direito” de olho fechado e gritei:
“Viva Pelé do pé preto
Viva Zagallo da cabeça branca”
© Gege Edições / Preta Music (EUA & Canada)
Gravação original:
Gilberto Gil “Ao vivo” Polygram 1974
Outras gravações:
Lanny Gordin – “Lanny Duos” – participação Gilberto Gil – Barravento – 2007
Peu Meurray “Pneumaticamente falando” -Odò Produção Cultural – 2012
Comentários:
“Sou eu pondo colírio nos olhos depois de ter fumado um cigarro de maconha, em Manaus. O hotel ficava fora da cidade, no meio do mato. Fui ao espelho, vi meus olhos vermelhos, pus colírio e fiz a música. Um diálogo de mim pra mim. O ‘ele’ é ‘o outro’, o outro eu, o do espelho. Um pingue-pongue-bumerangue: você joga pra atingir o que está lá, a seta volta e lhe atinge. Pelé e Zagallo dão o sentido de contradição e complementaridade yin-yang; um é África, o outro, Europa.”
* Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”
Abri a porta
Gilberto Gil
Dominguinhos
Apareci
A mais bonita
Sorriu pra mim
Naquele instante
Me convenci
O bom da vida
Vai prosseguir
Vai prosseguir
Vai dar pra lá do céu azul
Onde eu não sei
Lá onde a lei
Seja o amor
E usufruir do bem, do bom e do melhor
Seja comum
Pra qualquer um
Seja quem for
Abri a porta
Apareci
Isso é a vida
É a vida, sim
Outras gravações:
“E-collection”, A Cor do Som, Warner Music 2001
“A Cor do Som Acústico”, A Cor Do Som, Performance
“Festival de Verão”, A Cor Do Som, SIGLA
“Chill Brazil”, A Cor Do Som, Warner Music
“Mais de uma hora de música”, A Patotinha, BMG
“Os maiores sucessos do forró”, Banda CIA do Forró, Atração
“Só sucessos forró”, Banda Plinta, RDS
“Dadi ao vivo em Tokyo”, Dadi Carvalho
“Dominguinhos”, Dominguinhos
“Todo domingos”, Flávia Bittencourt
“Ito Moreno e Banda Clube do Forro”, Ito Moreno, Veleiro
“O melhor de todos os tempos”, Mário Augusto, Ultra Music
“MPB Brasil”, Priscila Castro/Beto Paiva, Ultra Music
“Rastapé”, Rastapé, EMI
“20 grandes sucessos de dominguinhos”, Dominguinhos, Polygram 1999
“O melhor da geração pop”, A Cor Do Som, Globo/Warner 1997
“O melhor nacional de novelas – cd 3”, A Cor Do Som, Som Livre 2002
“As 12 mais”, A Cor Do Som, Warner Music 1995
“Musica”, A Cor Do Som, Warner 1998
“Projeto especial Laboratótio Ache”, A Cor Do Som, Warner Music 1997
“Warner 30 anos”, A Cor Do Som, Warner Music 2006
“Seleção nora 10 do José Messias”, A Cor Do Som, Warner Music 2002
“Super 3- três vezes mais”, A Cor Do Som, Warner Music 2001
“Série icollection”, A cor Do Som, Warner Music Brasil 2016
“Dois gênios – Caetano Veloso e Gilberto Gil”, A cor Do Som, Warner Music 2009
“A Cor Do Som – box – cd 3 Frutificar”, A cor Do Som, Warner Music 2015
“MPB é tudo vol.2”, A Cor Do Som, Warner Music 2010
“Frutificar – Dose Dupla – cd 1”, A Cor Do Som, Warner Music 2011
“Forever Bossa”, A Cor Do som, Warner Music 2007
“Este é o Gil que eu gosto”, A cor Do Som, WEA 1995
“Geração POP”, A Cor Do Som, WEA 1994
“A Cor Do Som – nossas canções”, A Cor Do Som, Som Livre 2000
“A Patotinha-+ de 1 hora de musica”, BMG 2000
“Os maiores sucessos do forró de todos os tempos”, Banda Cia. Do Forró, Atração 2002
“Só sucessos forró”, Banda Plinta, RDS 2002
“O melhor do forro-proj. esp. Threebond do Plinta Music”, Coro Plinta 1999
“Proj. esp. Globo-Extra-Vat”, Coro Plinta, PM 1998
“RCA 100 anos de música”, Dominguinhos, BMG 2001
“Série aplausos”, Dominguinhos, BMG 1995
“Quem me levará sou eu”, Dominguinhos, Sony Music 2010
“Serie gold II”, Dominguinhos, Universal 2002
“Velas”, Dominguinhos, Universal 2000
“Participação Gilberto Gil Dominguinhos duetos”, Dominguinho, BMG 2003
“Sem limite II”, Dominguinhos, Universal 2001
“Serie 4 em 1”, Dominguinhos, BMG 2001
“A musica brasileira deste seculo por seus autores e interpretes Sesc São Paulo”, Dominguinhos, JCB 2000
“Nas costas do Brasil”, Dominguinhos, Velas 1998
“O essencial de Dominguinhos – serie focus”, Dominguinhos, BMG 1999
“Todos domingos”, Flávia Bittencourt, Flávia Da Silva Pinto 2009
“Fest 1”, Forro, RDS 2000
“Ito Moreno e Banda Clube Do Forro”, Ito Moreno, Veleiro 2001
“O melhor de todos os tempos”, Mário Augusto, Ultra Music 2003
“MPB Brasil – amor dá o tom”, Priscila Castro/ Beto Paiva, Ultra Disc 2007
“MPB Brasil” Priscila Castro e Beto Paiva, Ultra Music 2005
“Quinteto violado canta Dominguinhos, Atração Fonográfica 2015
“Rastape – Brasil de a a z iii”, Rastapé, EMI 2007
“Cantando a história do forró ao vivo”, Rastapé, EMI 2005
“Forró do Haick – vol 1 – instrumental”, Sandro Haick, Oesp mídia s.a. 2015
“Viva Dominguinhos”, Sandro Haick ,Luciano Magno 2009
“Coração teimoso”, Zezo – o príncipe do teclado, Gema 2005
Comentários*:
“Eu estava na casa de Caetano, na rua Peri, no Jardim Botânico, na mesma ocasião da composição de ‘Superhomem – a canção’, quando fiz ‘Abri a porta’. A canção não teve uma musa; eu tinha mesmo que escrever a letra para a música de Dominguinhos e escrevi. ‘Abri a porta’, o primeiro verso que saiu e que puxou o resto, já apresenta uma imagem propiciatória; já dá uma idéia de que ‘alguma coisa começou, vamos entrar nessa estória’: é uma maneira de fazer entrar na estória. A letra, toda, possui um sentido econômico, nas frases pequenas, minimalistas, feitas de acordo com a própria música, pela exigência do compromisso métrico da música. É bem-sucedida.”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”
Abrir a porta para você
Gilberto Gil
É o que há de mais normal
E ainda assim lhe receber
É comungar, é um ritual
Tão rotineiro como o sol
Tão corriqueiro como o mal
Banal como qualquer prazer
E no entanto é com você
É por amor, é pura dor, é puro sal
Cada pitada é pra valer
Um pouco mais pode passar
Salgar a nossa refeição
Nossa afeição pode morrer
Nossa aflição, nos sufocar
Portanto deixe eu me benzer
Pedir a Deus pra iluminar
O corredor e o coração
Quando eu tiver de abrir a porta pra você
Outras gravações:
“Marília Gabriela”, Marília Gabriela, OPUS
Academia
Gilberto Gil
A cada epidemia
A cada epica-tragi-cômica mania
De abusar o mudo
Absurdo e cego
Querer que o mundo recite poesia
Academia
A cada epidemia
A cada nova epidérmica mania
De querer mais tudo
Sobre mais que tudo
Como se tudo não fosse todo dia
Academia
A cada epidemia
A cada epidemia nova
Eu volto imediato pra Bahia
Afogamento
Gilberto Gil
Sob o peso da insensatez
Já sem poder boiar
Estarei com alguém, nariz contra nariz,
O afogamento por um triz,
Tentarei me salvar
Sempre assim,
Sempre que o amor vaza a maré
Vou parar bem longe, aonde não dá pé, difícil de nadar
Outro dia o fato aconteceu enfim
Um golfinho-anjo, um boto-serafim
Chegou pra me ajudar
Me agarrei
Aquele corpo liso e me deixei levar
Ao lado o seu sorriso aberto a me guiar
Então eu relaxei
E me entreguei completamente ao mar
Afoxé é
Gilberto Gil
Ê-ô, ê-ô
É bom pra ioiô
É bom pra iaiá
O afoxé é da gente
Foi de quem quis
É de quem quiser
Sair do Pé do Caboclo
Até a Praça da Sé
O afoxé é semente
Plantou quem quis
Planta quem quiser
Tem que botar fé no bloco
Tem que gostar de andar a pé
Tem que aguentar sol a pino
Tem que passar no terreiro
E carregar o menino, oh, oh
Tem que tomar aguaceiro
Tem que saber cada hino
E cantar o tempo inteiro, oh
O afoxé, seu caminho
Sempre se fez
Sempre se fará
Por onde estiver o povo
Esperando pra dançar
O afoxé vai seguindo
Sempre seguiu
Sempre seguirá
Com a devoção do negro
E a bênção de Oxalá
“O afoxé como uma forma, celebradíssima, de candomblé de rua – lúdica, em vez de religiosa. Todo o ritual que se reconstitui em torno do desfile. Os requisitos necessários para se poder participar do bloco; o estoicismo requerido: o pai que faz o percurso inteiro (saindo da Praça da Sé até o Campo Grande e voltando: como no desfile dos Filhos de Gandhi, no carnaval da Bahia) carregando o filho nas costas, para iniciá-lo na tradição.
“Afoxé É se refere a uma mandala da coesão comunitária; trata-se de uma evocação do gregário, uma convocação à participação. A canção fala, não do ser individual, mas do ser social e suas implicações. Quer dizer: do sacrifício que um indivíduo faz para ser um partícipe; de em que grau o coletivo se sobrepõe ao individual com qualidade, valor e vantagens; de quando é melhor, no sentido de necessário, deixar de ser um para ser muitos. Daí, remeter para o ritual, a celebração grupal; para arquétipos cívico-religiosos.
“Não é, contudo, o objeto da crença – não é Deus – que é comentado na canção, ou o que nela comove, mas o humano, demasiadamente humano; o compromisso do homem com a comunidade. A Revolução Francesa inaugurou a fase popular da história e trouxe os humanismos todos que desembocaram no sentido democrático, aquilo que o Nietzsche, por um lado, critica muito: a fraqueza do homem moderno – é essa nossa fraqueza que nos comove. Somos código genético programado pra viver essa fase da história, essa coisa Spártacus; tudo que diz respeito às libertações, às ações em nome da igualdade, às idéias de socialismo, nos são comoventes. Toda vez que a comuna é reunida, há comoção.”
Sobre o caráter peculiar da rima “Caboclo / bloco” e a relação dela com o conteúdo geral da música – “Uma rima distante: uma tele-rima pela distância. Gosto dessas rimas que explodem lá adiante; quando você ouve o segundo termo, este remete àquela palavra que já passou muito tempo antes. No caso de ‘Caboclo / bloco’ em Afoxé É, isso fica especialmente bonito porque a rima contém em si o sentido da canção, que trata de algo que já é movimento em bloco. A idéia de percorrimento de um trajeto é reiterada na ocorrência da rima, que só acontece depois de você percorrer um certo espaço da canção.”
Africaner brother bound
Gilberto Gil
Henrique Hermeto
Jean Pierre
Quanto tempo ainda mais
Já durou até demais
O que não devia ser jamais
Poeta calou por um dia ou dois
Bandeira arriada pra descansar
O batuque ficou pra depois
Que o coração desenfrear
Africaner brother bound
Quanto tempo ainda mais
Já durou até demais
O que não devia ser jamais
Quem é que no mundo pode impedir
O sol de nascer e de brilhar
A palmeira, de crescer, crescer
A noite na mata, de clarear
Do lado da gente, nós e nós e nós
Na luta feroz até o fim
A vitória deixará pra trás
Um tempo de guerra, tempo ruim
Africaner brother bound
Quanto tempo ainda mais
Já durou até demais
O que não devia ser jamais
Agonia de Drime
Gilberto Gil
© Gege Edições / Preta Music (EUA & Canada)
Outras gravações:
“Um trem para as estrelas”, Vários, Globo Discos
Água benta
Gilberto Gil
Contaminou o bebê
A medicina e o seu doutor
Nada puderam fazer
O desespero se apoderou
Do padre, do pai, da mãe
Foi quando então alguém se lembrou
De um feiticeiro de Ossãin
Um simples banho de folhas fez
O que não se esperava mais
Depois, depois muitos muitos anos depois
Rapaz, aquele menino já então rapaz
Se fez um rei entre os grandes babalaôs
Dos tais, dos tais como já não se fazem mais
A água benta que ao bel prazer
Se desmagnetizou
Desconectada do seu poder
Por um capricho do amor
Amor condutor do élan vital
Que o chinês chama de ch’i
Que Dom Juan chama de nagual
Que não circulava ali
Ali na grã pia batismal
O amor deixara de fluir
Talvez por mero defeito na ligação
Sutil entre a essência e a representação
Verbal que tem que fazer todo coração
Mortal ao balbuciar sua oração
A água benta que o bom cristão
Contaminou sem querer
A fonte suja que o sacristão
Utilizou sem saber
A força neutra que move a mão
Do assassino o punhal
E o bisturi do cirurgião
O todo total do Tao
Lâmina quântica do querer
Que o feiticeiro o sabe ler
Fractal, de olho na fresta da imensidão
Sinal, do mistério na cauda do pavão
Igual, ao mistério na juba do leão
Igual, ao mistério na presa do narval
Outras gravações:
“Quanta”, Gilberto gil, Warner
“Projeto especial IBM”, Gilberto Gil, Warner Music 1997
Comentários*:
“A água contaminada da pia batismal, a despeito da água benta, contamina o moleque, que vai ser curado no curandeiro. O poder milagroso da água benta não estava imune à contaminação do campo material da água, quer dizer, os micróbios estavam na água benta e acabaram, de alguma forma, naquele caso, contaminando o bebê; ou seja, o poder milagroso da água benta não prevaleceu diante da força da contaminação física da água, que estava cheia de micróbios. Mas esse mesmo poder milagroso vai ser restaurado pelo pai de santo, que através das instâncias milagrosas vai curar o menino contaminado pela água da pia batismal. É de um grau de delírio incrível essa canção. Mas ao mesmo tempo é uma reiteração do sentido do eterno retorno, quer dizer, ali onde a negação negou a negação, a afirmação vai restaurar o poder afirmativo da afirmação negada. E há ainda a reivindicação do sentido do amor como o grande detergente universal, o que limpa tudo, assim como a água é o grande solvente universal.”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”
Água de meninos
Gilberto Gil
Capinan
Entre o mar e a poesia
Tem um porto, Salvador
As ladeiras da cidade
Descem das nuvens pro mar
E num tempo que passou
Toda a cidade descia
Vinha pra feira comprar
Água de Meninos
Quero morar
Quero rede e tangerina
Quero peixe desse mar
Quero vento dessa praia
Quero azul, quero ficar
Com a moça que chegou
Vestida de rendas, ô
Vinda de Taperoá
Por cima da feira, as nuvens
Atrás da feira, a cidade
Na frente da feira, o mar
Atrás do mar, a marinha
Atrás da marinha, o moinho
Atrás do moinho, o governo
Que quis a feira acabar
Dentro da feira, o povo
Dentro do povo, a moça
Dentro da moça, a noiva
Vestida de rendas, ô
Abre a roda pra sambar
Moinho da Bahia queimou
Queimou, deixa queimar
Abre a roda pra sambar
A feira nem bem sabia
Se ia pro mar ou sumia
E nem o povo queria
Escolher outro lugar
Enquanto a feira não via
A hora de se mudar
Tocaram fogo na feira
Ah, me diga, minha sinhá
Pra onde correu o povo
Pra onde correu a moça
Vinda de Taperoá
Água de Meninos chorou
Caranguejo correu pra lama
Saveiro ficou na costa
A moringa rebentou
Dos olhos do barraqueiro
Muita água derramou
Água de Meninos acabou
Quem ficou foi a saudade
Da noiva dentro da moça
Vinda de Taperoá
Vestida de rendas, ô
Abre a roda pra sambar
Moinho da Bahia queimou
Queimou, deixa queimar
Abre a roda pra sambar
Alapala (The myth of Shango)
Gilberto Gil
Carol Rogers
Alapala, Alapala, Alapala
Shango, Aganju
A little boy, the age of three
He asked about his family tree:
“Oh, father, who is my grand papa?”
The father said: “My boy, grandpa is dead
And right before he died
He told me who was my grandpapa
“My grandpapa, your grandpapa’s
Daddy was born in Africa
A king, a tribal king Yoruba
“So you, my boy, you’ve got to be
Yourself a little new Shango”
Oh, Aganju, baba Alapala
Aganju, Shango
Alapala, Alapala, Alapala
Shango, Aganju
Alapala, egun, spirit of the family man
Ancestral soul of our tribe until this day
The tribe of Aganju-Shango, an axe is in his hand
His lightning axe could strike the sky above
And make the sound of crashing thunders threaten God
And that is why Shango became a God himself
And that is why you should be proud, my boy
[ Babá Alapalá, de Gilberto Gil ]
Alfômega
Gilberto Gil
Somatopsicopneumático
Que também significa
Que eu não sei de nada sobre a morte
Que também significa
Tanto faz no sul como no norte
Que também significa
Deus é quem decide a minha sorte
“O ‘analfomegabetismo’ – o analfabetismo cósmico, a nossa profunda ignorância acerca do universo aberto, vasto e vago do esoterismo; o mistério sobre isso. E ‘somatopsicopneumático’ – a trindade, a soma de: soma, corpo, carma, encarnação do homem; psique, alma; e neuma (do grego ‘sopro’), espírito. A consciência disso.
“Os termos vêm do procedimento concretista de ligar palavras e inventar neologismos compostos. Começando a estudar religiões orientais e ciências ocultas, eu convivia com palavras não popularmente difundidas, algumas de cujo significado até então eu não sabia (como ‘neuma’, ‘neumático’; ‘soma’ eu já conhecia dos rudimentos de anatomia dados no ginásio) e que eram novidade para mim.
“Fiz a música na Bahia, depois do episódio da prisão, quando encontro o Rogério Duarte e o Walter Smetak, e se dá a transposição desses interesses intelectuais e espirituais em minha música.”
Outras gravações:
“Caetano Veloso”, Caetano Veloso, Universal
“Arquivo essencial”, Patu Fu, BMG
“Caixa Caetano Veloso”, Caetano Veloso, Universal 2006
“Trilha sonora do filme Tropicália”, Caetano Veloso, Universal Music 2011
“Durval discos {trilha sonora}”, Caetano Veloso 2003
“Incidental em a necrofilia da arte”, Pato Fu, BMG 1998
Algum dia
Gilberto Gil
Você julga que eu também brinco com o amor
Você pensa que é mentira o meu imenso querer
E tem medo que eu lhe traga mais uma mágoa, mais uma dor
Você pensa, vá pensando, não importo
Pois a vida é sempre a vida, viver é amar
Não me ame, ame a vida, goste do mundo enfim
E algum dia eu serei seu mundo
E algum dia eu serei sua vida
E neste dia você gostará de mim
Altos e… Baixos
Gilberto Gil
Aquela ave que voa, pequenina
Na imensidão do céu azul, tão grande!
Agora olha, olha pra mim aqui embaixo
Repara bem o estado em que me acho
Nesta miséria que o meu ser expande
Amarra o teu arado a uma estrela
Gilberto Gil
Ainda não são
Tão doces e polpudos quanto as peras
Da tua ilusão
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor
Se os campos cultivados neste mundo
São duros demais
E os solos assolados pela guerra
Não produzem a paz
Amarra o teu arado a uma estrela
E aí tu serás
O lavrador louco dos astros
O camponês solto nos céus
E quanto mais longe da terra
Tanto mais longe de Deus
Participando de uma gincana escolar do Isba (Instituto Social da Bahia), onde cursava a oitava série, Fátima Giordano, irmã de Flora Gil e cunhada de Gilberto Gil, recebeu a tarefa de levar, no dia seguinte, gravada, uma canção sob o tema: “Amarra o teu arado a uma estrela”. O compositor achou a frase “estranha, provocativa”, e fez a música, que venceu o concurso.
Outras gravações:
“Projeto especial radio musical FM/SP, Warner Music 1995
“Viagem Nestlé pela literatura fundação Nestlé”, Gilberto Gil 2003
“Almanaque TV Globo”, Gilberto Gil 2003
“Grandes mestres da MPB – vol. 2”, Gilberto Gil, Warner 1997
“Amarra o teu arado a uma estrela”, Gilberto Gil, Warner 1993
“The eternal god of change”, Gilberto Gil, Warner Music 1989
“Projeto especial laboratotio ache”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“E-collection -disco 2”, Gilberto Gil, Warner Music 2000
“O eterno deus mu dança”, Gilberto Gil, Warner music
“Em concerto”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1992
Amiga dos ventos
Gilberto Gil
Sou amante dos mares
Sou bem-vinda nos lugares
Aonde vou
Sou a força da terra
Sou a luz dos luares
Sou a chama nos altares
Do amor
Não que algo aconteça
De especial comigo
Que eu possua mil poderes
Celestiais
Nem que eu seja dotada
De um saber feiticeiro
Protegida dos potentados
Astrais
O que eu trago é mais simples
É banal como a chuva
Natural como uma uva
Ter sabor
Vem da vida o mistério
Dessa facilidade
De ser tudo e nada disso
Ter valor
Amo tanto viver
Gilberto Gil
Transfigurado na luz
Nos raios mágicos de um refletor
Na cor que o instante produz
Todas as vezes que eu canto é a dor
Todos os fios da voz
Todos os rios que o pranto chorou
Na vida de todos nós
Tudo que eu sei aprendi
Olhando o mundo dali
Do patamar da canção
Que deixa descortinar
O cenário da paixão
Aonde vejo a vagar meu coração
Tudo que eu canto é a fé, é o que é
É o que há de criar mais beleza
Beleza que é presa do tempo
E, a um só tempo, eterna no ser
A beleza que é presa do tempo
E eterna no ser
Todas as vezes que eu canto
Amo tanto viver
Outras gravações:
“Talismã”, Maria Bethânia, Polygram
Comentários*:
“‘Amo tanto viver’ faz uma das leituras interpretativas do cantar de Maria Bethânia e do seu significado. Representa ainda uma tentativa de recuperar memórias que eu tinha de como eu a via desde que a conheci; de como eu entendia a vocação dela, o gosto dela pelo canto, o porquê do canto dela; o sentido profundo, trágico, que ela gosta, quer e reivindica como incorporação para o canto dela. É uma maneira de lê-la, a ela, Bethânia, através e por dentro do seu próprio canto. A letra diz bem – para mim e eu sei que para muita gente – o que ela passa e que constitui uma das características unânimes do significado do seu cantar: a coisa de viver as dores e os prazeres do mundo, de ser totalizante, a intencionalidade de ser totalizante: ela é convincente nisso, e assim tem sido ao longo da carreira e ao longo da vida de artista, quer dizer, ela tem nos convencido seguidamente da força e da abrangência que o seu canto tem, dessa qualidade trágica, grega – que eu não tenho tanto. A música é sobre isso.”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”
Amor até o fim
Gilberto Gil
Eu quero e sei que vou ficar
Até o fim eu vou te amar
Até que a vida em mim resolva se apagar
O amor é como a rosa no jardim
A gente cuida, a gente olha
A gente deixa o sol bater
Pra crescer, pra crescer
A rosa do amor tem sempre que crescer
A rosa do amor não vai despetalar
Pra quem cuida bem da rosa
Pra quem sabe cultivar
Amor não tem que se acabar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Eu sei que o amor não tem que se apagar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Outras gravações:
“Quem é de sambar”, Arranco de Varsóvia, DUBAS
“Estrada”, Bete Galligaris, Geléia Geral
“Páginas do mar”, Daniela Mercury, BMG
“Dominguinhos”, Dominguinhos, RCA
“Elis”, Elis Regina, Philips
“Elis Regina em Montreux”, Elis Regina, Warner Music
“Jair Rodrigues e Elis Regina”, Jair Rodrigues, Philips
“Passaporte”, Os Cariocas, Universal Music
“Azul”, Rosa Passos, Veleiro
“Wanda Sá e Bossa Três”, Wanda Sá e Bossa Três, Deck Discos
“Alexandre pires – DNA musical”, Alexandre Pires, Som Livre
“De Varsóvia”, Arranco, Dubas 2001
“Nua voz-Credicard”, Daniela Mercury, Paginas do mar 2004
“Acústico”, Daniela Mercury, Páginas Do Mar 2005
“Casa arrumada”, Deborah Vasconcellos, 2013
“Elis por eles”, Diogo Nogueira, PPR produções artísticas 2012
“DZI Croquetes”, Elis Regina, Canal Brasil 2009
“Elis Regina revisitada”, Elis Regina, Dubas 2004
“Tropique samba lounge”, Elis Regina, Dubas 2003
“Máximo de sucessos n 13”, Elis Regina, Fontana 1975
“Elis”, Elis Regina, Philips 1974
“A música de Gilberto Gil”, Elis Regina, Universal Music 2003
“Amoraté o fim universal”, Elis Regina, Universal 2004
“Reader – sambas e outras bossas”, Elis Regina, Universal Music 2001
“Samba, jazz & bossa – cd 2”, Elis Regina, Universal Music 2006
“Gilberto gil-2 lados”, Elis Regina, Universal Music 2010
“Elis anos 70-caixa 1 e 2”, Elis Regina, Universal Music 2012
“No céu da vibração – cd 1”, Elis regina, Universal Music 2011
“13th Montreux Jazz festival – dose dupla – cd 1”, Elis Regina, Warner Music 2011
“Montreux jazz festival”, Elis Regina, Warner Music 2011
“Minha historia”, Elis Regina, Philips 1979
“Os sonhos mais lindos”, Elis Regina, Universal Music 2000
“Personalidades”, Elis Regina, Polygram
Elis Regina e Jair Rodrigues, Abril
“Elis Regina revisitada”, Elis Regina, Dubas 2005
“Songbook Gilberto Gil – vol 1”, Emílio Santiago, Lumiar Discos 2015
“Fernanda Guedes De Oliveira Carneiro”, Fernanda Guedes 2007
“Fernando Lauria”, Fernando José Lauria De Paula 2013
“O melhor do samba social clube ao vivo”, Gilberto Gil, Emi Music Brasil 2011
“Samba social clube”, Gilberto Gil, Emi Music Brasil 2008
“Caixa a conspiração de Gilberto Gil – cd Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Pproduções Artísticas 2010
“O bloco da Mocidade”, Gilberto Gil e Elis Regina, Philips 1981
“Brasilidade geral e Bob Mintzer live”, Grupo instrumental brasilidade geral, Luiz Renato da Silva Rocha 2014
“Solo”, Henrique Lissovsky, L.pe Produções Musicais 2012
“Ivete, Gil e Caetano”, Ivete Sangalo, Gilberto Gil e Caetano Veloso, Universal Music 2012
Jair Rodrigues e Elis Regina, Philips
“Ave rara”, Kátia Rocha, Tratore Distribuição de cd ‘s 2011
“Contramão”, Mário Eugênio, Tratore Distribuição de cd ‘s 2010
“Amor até o fim”, Mauro Senise, Alma Brasileira Produções E Edições 2016
“Ituaçú – Gilberto Gil”, Orquestra De Sopros Da Pro Arte e Flautistas Da Pro Arte, Geringonça Filmes 2012
Os Cariocas, Polygram
“Passaporte”, Os Cariocas, Universal 2007
“Sem limite III”, Os Cariocas, Universal 2001
“O tempo me guardou você”, Raquel Saraceni, Serquel Música e Artes 2014
“Azul”, Raquel Saraceni, Veleiro 2002
“Fabio torres”, Trio Corrente, Fabio Gonçalves Torres 2011
“Volume 2”, Trio Corrente, Tratore Distribuição De CD’S 2016
“Trovadores Urbanos”, CID 1996
“Amor até o fim”, Trovadores Urbanos, Dabliu Produções Artisticas e Culturais, 2010
“Wanda Sá & Bossa Três”, Wanda Sá & Bossa Três, Deck Disc 2002
Comentários*:
“‘Amor Até o Fim’ foi feita logo após a minha primeira separação. Quanto ao fato de a canção, que explora o tema do amor como algo infindo, ter-se originado justamente de um sentimento tido ao final de um casamento, isso não constitui um fato único: ‘Drão’ também é assim. Eis uma recorrência: exatamente também quando uma relação está terminando, vem uma canção dizendo da infinitude do amor.
Aqui entra a necessidade de manifestar a minha visão particular, de ser pessoal, próprio, o momento confessional exigindo que a sinceridade prevaleça, que eu seja absolutamente sincero e diga aquilo que realmente eu acho. É um desses momentos especiais na minha obra em que eu realmente sou único, sou criador, sou inventor, sou original, sou autoral, dizendo que o amor não tem que se acabar quando uma relação está se acabando, ao final de um relacionamento.
Em ‘Amor até o fim’, ao mesmo tempo, já há sinais das questões filosóficas que vão ocupar espaços mais tarde em minha obra, como a do eterno retorno e a idéia taoísta do tempo. A canção antecipa a idéia do amor como campo da existência total, dentro de uma visão ecológica dos sentimentos humanos, que vai depois aparecer em canções seminais da minha fase filosófica. Já é um pouco isso: a filosofia do amor.”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”
Amor de carnaval
Gilberto Gil
Por causa de um amor qualquer
Minha dor tem que acabar
No carnaval, se Deus quiser
Faz um ano deste amor
Esperei até cansar
Carnaval me trouxe a dor
Carnaval tem que levar
outro título: “Decisão”
Gravação original:
Retirante, Gilberto Gil – 1961
Outras gravações:
Banda Larga Cordel, Gilberto Gil – 2008
“Retirante”, Gilberto Gil, Discobertas – 2010
“Salvador, 1961 – 1963”, Gilberto Gil, Warner Music – 2002
“Carnaval eletrônico”, Daniela Mercury, BMG
“Eu sou o samba”, Elizeth Cardoso, Copacabana
“Zimbo Trio”, Zimbo Trio, RGE
Andar com fé
Gilberto Gil
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Que a fé tá na mulher
A fé tá na cobra coral
Ô-ô
Num pedaço de pão
A fé tá na maré
Na lâmina de um punhal
Ô-ô
Na luz, na escuridão
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
A fé tá na manhã
A fé tá no anoitecer
Ô-ô
No calor do verão
A fé tá viva e sã
A fé também tá pra morrer
Ô-ô
Triste na solidão
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Certo ou errado até
A fé vai onde quer que eu vá
Ô-ô
A pé ou de avião
Mesmo a quem não tem fé
A fé costuma acompanhar
Ô-ô
Pelo sim, pelo não
A fé e a “faia” – “O uso do ‘faiá’ é assumido com a intenção de legitimar uma forma chula contra a hegemonia do bem-falar das elites. É uma homenagem ao linguajar caipira, ao modo popular mineiro, paulista, baiano – brasileiro, enfim – de falar ‘falhar’ no interior. É quase como se a frase da canção não pudesse ser verdade se o verbo fosse pronunciado corretamente – o que seria um erro… Outro dia cometeram esse ‘deslize’ na Bahia, ao utilizarem a expressão na promoção de uma campanha de cinto de segurança. Nos out-doors, saiu: ‘A fé não costuma falhar’ (a propaganda associava o cinto à fitinha do Senhor do Bonfim). Eu deixei, mas achei a correção desnecessária.”
– “Faiá” é coração, “falhar” é cabeça, e fé é coração.
“É isso aí. ‘A fé não costuma faiá’: é pra quem fala assim que ela não costuma ‘faiá’.”
Outras gravações:
“Carla visita Gilberto Gil”, Carla Visi, MZA
“Malabaristas do sinal vermelho”, João Bosco, Sony Music
“Songbook Gilberto Gil 3”, Jorge Mautner e Nelson Jacobina, Lumiar 1922
“Mais coisas do Brasil”, Leila Pinheiro, Universal Music 2001
“Marcus Menna”, Marcus Menna, LGK Music 2007
“Ney ao vivo”, Ney Matogrosso, Universal Music
“A música de Gilberto Gil”, TCPA/TOP CAT 2007
“Axé”, Rappin Hood ,Trama 2005
“Um pouquinho de Brasil”, Brasilian Trombone Ensemble, CPC/UMES 2004
“Dois amigos, um século de música”, Caetano Veloso e Gilberto Gil, Gege/ UNS/ Sony Music 2015
“Carla visita Gilberto Gil”, Carla Visi, Mza 2001
“40 anos de sucesso”, Coral Grupo Vozes, D’altomare 2012
“Quilombo musica”, Elsio Alvarez, RGE
“Uma flauta na MPB”, Estevao Teixeira, CID 1998
“Quando o céu clarear”, Fabiana Cozza e Rappin Hood, Lua Produções 2009
Forracatu, Sony Music 1998
“Bandadois”, Gilberto Gil, Gege Produções 2009
“Banda larga ao vivo em São Paulo”, Gilberto Gil, Gege Produções 2008
“Concerto de cordas e máquinas de ritmo”, Gilberto Gil, Gege Produções/Biscoito Fino 2012
“Um banda um”, Gilberto Gil, Warner Music 1990
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Gil + 10”, Gilberto Gil e Preta Gil, Pedra da Gávea 2011
“Duetos”, Gilberto Gil e Happin Hood, Warner Music 2007
“A casa do Zé para crianças”, Grupo a casa do Zé 2008
“Presente de vô”, Grupo Ponto de Partida e Coral Meninos de Araçuaí 2013
Grupo Rastapé, EMI Music 2006
“Sujeito homem II “, Happin Hood, Trama 2005
“Iriê”, Iriê, Orbeat 2006
“Ito Moreno e banda Clube do Forro”, Ito Moreno, Veleiro 2001
“Malabaristas do sinal vermelho”, João Bosco, Sony Music 2003
“Decamerão”, Jorge Mautner e Nelson Jacobina, Som Livre 2009
“Barato total – Elas cantam Gilberto Gil”, Som livre 2008
“Mais coisas do Brasil”, Leila Pinheiro, Universal Music 2001
“Marcus Menna”, Marcus Menna, LGK Music 2007
“Para Gil e Caetano”, Margareth Menezes, Canal Brasil 2014
“Menina do Céu”, Menina do Céu, Radar Records 2013
“Festa no Céu”, Menina do Céu, Sony Music 2015
“Castelo Eletrônico”, Miska 2002
“Ney ao vivo”, Ney Matogrosso, Universal Music 2008
“Clássicos da MPB”, Orquestra Sinfônica UFRN e Camila Masiso, SESC 2012
“Brasil de A a Z”, Rastape, EMI Music 2007
“Rock in Rio 30 anos”, Skank, Musickeria 2015
“MPB em Chorinho”, Toco Preto, CID 1999
Antigamente
Gilberto Gil
Não conheço, na verdade
Passado meu que me desse o que sofrer
Só pode ser de mim mesmo essa saudade
Do meu tempo em que a brincar corria
Sem nada saber de amor
Sem nada saber de dor
Sem ter que chorar por não ter nem saudade
De um bem pra chorar
Aquele abraço
Gilberto Gil
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março
Alô, alô, Realengo – aquele abraço!
Alô, torcida do Flamengo – aquele abraço!
Chacrinha continua balançando a pança
E buzinando a moça e comandando a massa
E continua dando as ordens no terreiro
Alô, alô, seu Chacrinha – velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha, Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha – velho palhaço
Alô, alô, Terezinha – aquele abraço!
Alô, moça da favela – aquele abraço!
Todo mundo da Portela – aquele abraço!
Todo mês de fevereiro – aquele passo!
Alô, Banda de Ipanema – aquele abraço!
Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu – aquele abraço!
Pra você que meu esqueceu – aquele abraço!
Alô, Rio de Janeiro – aquele abraço!
Todo o povo brasileiro – aquele abraço!
“Meses depois de solto, eu vim ao Rio tratar da questão da saída do Brasil com o Exército. Na manhã do dia da minha volta para Salvador, fui visitar Mariah Costa, mãe de Gal; ali, na casa dela, eu ideei e comecei Aquele Abraço. Finalmente eu ia poder ir embora do país e tinha que dizer ‘bye bye’; sumarizar o episódio todo que estava vivendo, e o que ele representava, numa catarse. Que outra coisa para um compositor fazer uma catarse senão numa canção?
“No avião mesmo eu terminei a música, escrevendo a letra num papel qualquer, um guardanapo, e mentalizando a melodia. Tanto que é uma melodia muito simples, quase de blues; como eu não dispunha de instrumento, tive que recorrer a uma estrutura fácil para guardar na memória. Quando cheguei à Bahia, eu só peguei o violão e toquei; já estava comprometido afetivamente com a canção.”
“Aquele abraço, Gil!” – “Era assim que os soldados me saudavam no quartel, com a expressão usada no programa do Lilico, humorista em voga na época, que tinha esse bordão. Ele até ficou aborrecido com a música; achou que deveria ter direito à canção. Mas eu aprendi a saudação com os soldados. Eu não tinha televisão na prisão, evidentemente, mas eles assistiam o programa; eu só vim a ver depois, quando saí.”
Retificação ratificada – Não foi no quartel de Realengo que Gil e Caetano ficaram presos, e sim no de Marechal Deodoro. “De todo modo”, diz Gil, “a idéia em Aquele Abraço era citar um local qualquer da zona norte do Rio (onde ficamos), um daqueles beira-estrada-de-ferro (Beira Central, Beira Leopoldina), e Realengo é um deles. Uma associação inexata, feita por aproximação; eu nem queria me referir ao lugar certo onde havia ficado preso.”
Uma canção de quarta-feira de cinzas – “O reencontrar a cidade do Rio na manhã em que nós saímos da prisão e revimos a avenida Getulio Vargas ainda com a decoração de carnaval foi o pano de fundo da canção. Na minha cabeça, Aquele Abraço se passa numa quarta-feira de cinzas; é quando o ‘filme’ da música é em mim mentalmente locado.”
The three tops – “Aquele Abraço é uma das músicas minhas mais populares, a mais tocada e o segundo mais vendido dos meus discos (compactos). Uma das três gravações minhas que ficaram em primeiro lugar nas paradas de sucesso durante maior tempo (dois meses; eu já estava na Europa). As outras são Xodó (três meses, em 73), da autoria do Dominguinhos e Anastácia, e Não Chore Mais (cinco, em 78), versão que fiz para uma música cantada pelo Bob Marley. Foram as três mais vendidas também.”
Outras gravações:
“Arthur Moreira Lima”, Arthur Moreira Lima, SONY
“Show Elis e Miele”, Elis Regina e Miele, Polygram
“Força de expressão”, Ivo Meirelles e Funk’n’lata, FC Record
“Leandro Sapucahy ao vivo”, Leandro Sapucahy, Warner Music
“Ao vivo no Metropolitam”, Legião Urbana, EMI
“Songbook Gilberto Gil vol1”, Tim Maia, Lumiar
“MPB em CY”, Quarteto em Cy, CID
“Igreja Jesus Cristo Dos Santos Do Ultim”, Celebração 2004
“A musica de Gilberto Gil”, TCPA/TOP CAT 2007
“3 na bossa”, Deck Produções Artisticas 2014
“Samba da minha terra”, Alexandre Pires, Emi Music 2013
“Cristo 80 anos – show da paz”, Alexandre Pires, GLP Marketing e Entretenimento 2011
“Na veia”, Arlindo Cruz e Rogê, Polysom 2016
Arthur Moreira Lima, Sony 2000
“SPB”, Augusto Martins, Mills Records 2011
“Amores do Rio Firjan”, Banda e coral da Firjan 2002
“Rod Hanna disco Club”, Banda Rod Hanna, Lua Produçõe Sonoras Especiais 2008
“Barra 69”, Caetano veloso com Gilberto Gil, Universal 1996
“Cantando o Brasil”, Coral de Itaipu, Itaipu Binacional 2014
“Daniela Mercury e cabeça de nós todos”, Oesp Mídia S.A 2013
Flora Caju, Dimi Zumque, Claudia Teixeira/CT Prod. e Eventos 2002
“Retrato cantado – Dimi Zumquê 25 anos”, Dimi Zumque, Edmilson Donizeti Da Silva 2014
“Light my fire”, Eliane Elias 2012
“Show Elis e Miele”, Elis e Miele, Polygram 1998
“Elis Regina revistada”, Elis Regina, Dubas 2005
“Elymar canta Marron”, Elymar Dos Santos 2011
“Equale no Expresso 2222 Cdyou”, Equale, Eletrônica Digital 2001
“Som do barzinho vol. 10”, Evandro Marinho, Universal Music 2001
“Evelyn”, Evelyn, Som livre 2005
“Perfil – Fernanda Abreu”, Fernanda Abreu, Som Livre 2010
“ALM a música ao vivo”, Francis Hime, Biscoito Fino
“Live in London 71 – disco 3 “, Gal Costa e Gilberto Gil, Polysom 2014
“Historia da MPB”, Gilberto Gil, Abril Cultural, Fasciculos 2012
“As letras que o Brasil canta”, Gilberto Gil, Academia Brasileira De Letras 2007
“Música do seculo 5” Gilberto Gil, Caras 1999
“Bar do Mineiro Santa Teresa Rio de Janeiro”, Gilberto Gil, Dubas 2003
“Anos dourados – anos 60 e 70”, Gilberto Gil, Emi 1999
“Projeto especial Readers Digest”, Gilberto Gil, Emi music 1999
“Autografos de sucessos”, Gilberto Gil, Emi Music 1982
“Viagem Nestlé pela literatura”, Gilberto Gil, Fundação Nestlé 2003
“Banda Larga ao vivo em São Paulo”, Gilberto Gil, Gege Produções Artísticas 2008
“T.s. Os Dias Eram Assim”, Gilberto Gil, Som Livre 2017
“Grandes hits MPB1”, Gilberto Gil, Gradiante 2001
“Classicos do Brasil”, Gilberto Gil, L & N 2003
“55 anos de sucessos”, Gilberto Gil, Philps 1978
“Minha historia”, Gilberto Gil, Polygram 1993
“Projeto especial Jornal Correio Da Bahia”, Gilberto Gil, Polygram 1999
“A voz de… “, Gilberto Gil, Polygram 1981
“Personalidade”, Gilberto Gil, Polygram 1987
“Projeto especial lab. Brystol Myers Squibb”, Gilberto Gil, Polygram 1999
“20 grandes sucessos da MPB”, Gilberto Gil, Polygram 1999
“20 obras primas”, Gilberto Gil, Polygram 1996
“A arte de Gilberto Gil”, Gilberto Gil, Polygram/Fontana 1985
“Back in Bahia- ao vivo (1972)” Gilberto Gil, Discobertas 2017
“Perfil”, Sigla, Gilberto Gil 2005
“Gilberto Gil samba ao vivo”, Gilberto Gil, Sony Music 2014
“Millenium”, Gilberto Gil, Universal Musical 2000
“Os sambas do milênio vol. 2”, Gilberto Gil, Universal Music 2000
“Palco MPB – 4a edição”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Serie sem limite – cd 2”, Gilberto Gil, Universal Music 2001
“Gil projeto especial ABN ANRO/Mastercard”, Gilberto Gil, Universal Music, 2006
“Daslu samba rock”, Gilberto Gil, Universal Music 2005
“Tubos apolo – proj. especial”, Gilberto Gil, Universal Music 2003
“Gilberto Gil – 2 anos”, Gilberto Gil, Universal Music 2010
“O quintal do Zeca”, Gilberto Gil, Universal Music 2011
“3m – projeto especial”, Gilberto Gil, Universal Music 2010
“Samba in Rio”, Gilberto Gil, Universal Music
2010
“Chacrinha – o musical (cd2)”, Gilberto Gil, Universal Music 2014
“Lugar comum”, Gilberto Gil, Universal Music 2008
“Rio 450”, Gilberto Gil, Universal Music 2015
“Unplugged”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Acustico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Enciclopedia musical brasileira”, Gilberto Gil, Warner Music 1999
“Chill Brazil”, Gilberto Gil, Warner Music 2006
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Soy loco por ti America”, Gilberto Gil, Warner Music 1995
“Gilberto Gil no palco – nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“1975-1997 bossa,samba & pop”, Gilberto Gil, Warner Music 1998
“It ‘s good to be alive – anos 90”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Warner 30 anos”, Gilberto Gil, Warner
Music 2006
“Acoustic”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Samba sempre”, Gilberto Gil, Warner Music 2016
“Chill Brazil copa”, Gilberto Gil, Warner Music 2010
“Carruagem fantástica – Lifetime Achievement Original E Soundtrack”, Washington L. Olivetto 2014
“Unplugged”, Warner Music, Gilberto Gil 2002
“Eletracústico”, Gilberto Gil, Warner Music 2004
“Chill Brazil 4”, Gilberto Gil, Warner Music 2006
“Gilberto Gil no palco – nova série”, Gilberto Gil, Warner Music 2007
“1975-1997 bossa,samba & pop”, Gilberto Gil, Warner Music 1998
“Warner 30 anos”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Acoustic”, Gilberto Gil, Warner Music 2002
“Samba sempre”, Gilberto Gil, Warner Music 2016
“Este é o Gil que eu gosto”, Gilberto Gil, Warner Music 1995
“Ao vivo em Toquio”, Gilberto Gil e Banda Um, Warner Music 1994
“Gil + 10”, Gilberto Gil, Som Livre 2011
“Gil e Gal”, Gilberto Gil e Gal, Discobertas 2014
Albatroz, Grupo Equale 1999
“Guilherme Borges Hildebrand”, Grupo Madalena 2007
“Um viagem através da música dio Brasil”, Grupo Solo Brasil
“Força de expressão”, Ivo Meirelles e funk’n lata, F C Record
“Ovalô”, Jorge Autuori Trio, BMG 2004
“Jorginho Gomes in concert”, Jorginho Gomes & Gilberto gil, Jorginho Gomes Produções 2016
“Leandro Sapucahy ao vivo”, Leandro Sapucahy , Warner Music 2008
“Ao vivo”, Leandro Sapucahy, Warner music 2008
“Ao vivo no Metropolitam”, Legião Urbana, EMI 2001
“De todas as maneiras”, Mariama, Polygram 1979
“Tropicalismo”, Melquiades, Ingrid Sales e Paulo Façanhas, Ultra Music 2008
“Samba de pista”, Micheline Wayz, Special 2003
“Serie Bis bossa nova”, Milton Banana Trio 2001
“Moinho”, Moinho, EMI 2009
“Monobloco – minha história”, Monobloco, Som Livre 2011
“Monobloco 10 ao vivo”, Monobloco, MPB Discos e Produções/Universal 2009
“Pagodão dos morenos” Morenos, Som Livre, 1999
“Planeta Brasil – bossa nova”, MPB 4, Som Livre
“Musica Ligeira”, MPB compositores /Gilberto Gil – vol. 8, Som Livre 2000
“Nós 4”, Gal 2004
“Olivia Hime e Francis Hime”, Sem Mais Adeus, Biscoito Fino 2016
“Orquestra de vozes Meninos Do Rio” 2000
“Os morenos”, Serie Melhor De Dois, Universal 2000
“Vargas o interprete do barzinho”, Renato, Deck 2003
“Canto de liberdade”, Mills Records, Ricardo Vilas 2003
“Uma viagem através da música no Brasil”, Solo brasil, Tratore Distribuição de CD 2011
“Sururu na roda made in japan” , Sururu na Roda, Sarapuí Produções Artísticas 2016
“Um banquinho, um violão…”, Tavynho Bonfá, Seven 2006
“T.s. Salve Jorge” , Tim Maia, Som Livre 2012
“Songbook Gilberto Gil 1′ , Tim Mais, Lumiar 1992
“Sucessos em novas versões”, Tim Maia, Lumiar 1999
“MPB tudo vol.1”, Vários, Warner Music, 2009
“Tec toy”, Vidioke, Eletrônica Digital 2000
“Com passo de MPB”, Zeca Pagodinho, Universal Music 2014
Aqui e agora
Gilberto Gil
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
Aqui, onde indefinido
Agora, que é quase quando
Quando ser leve ou pesado
Deixa de fazer sentido
Aqui, onde o olho mira
Agora, que o ouvido escuta
O tempo, que a voz não fala
Mas que o coração tributa
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
Aqui, onde a cor é clara
Agora, que é tudo escuro
Viver em Guadalajara
Dentro de um figo maduro
Aqui, longe, em Nova Deli
Agora, sete, oito ou nove
Sentir é questão de pele
Amor é tudo que move
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
Aqui perto passa um rio
Agora eu vi um lagarto
Morrer deve ser tão frio
Quanto na hora do parto
Aqui, fora de perigo
Agora, dentro de instantes
Depois de tudo que eu digo
Muito embora muito antes
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
“O ‘aqui e agora’ reivindicado pelos místicos: a situação confortável, que deveria ser buscada e atingida pelo homem, de integridade na vivência de cada momento, de cada centímetro de espaço ocupado; o ethos, no sentido mais absoluto e profundo da palavra.
“Aqui e Agora é de uma sensorialidade tanto física quanto álmica, quer dizer, fala de como ver, ouvir, tocar as superfícies do que é sólido e do que é etéreo, denso e sutil; de uma visão voltada para dentro, o farol dos olhos iluminando a visão interior.
“A letra é uma colagem de fragmentos de manifestações mentais não necessariamente associáveis: dissociadas. Como, na estrutura subatômica, a dinâmica das partículas: vagalumes apagando e acendendo em lugares inusitados – estando aqui, e já ali; estando sim, e já não…”
Outras gravações:
“Carla visita gilberto gil (só chamei porque te amo)”, Carla Visi, MZA 2001
“Gilberto Gil – original album series (cd 4)”, Gilberto Gil, Warner Music 2012
“Gilberto Gil revisitado”, Gilberto Gil, Dubas 2004
“Refavela”, Gilberto Gil, Philips 1977
“A voz de…”, Gilberto Gil, Polygram 1981
“Refavela”, Gilberto Gil, Polysom 2017
“Giluminoso”, Gilberto Gil, Sarapui 1999
“Bom pra k 7”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“2 é demais”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“Vida”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“Os grandes mestres da MPB”, Gilberto Gil, Warner Music 1996
“Refavela”, Gilberto Gil, Warner Music 1994
“Projeto esp.”, Radio Musical FM/SP, Warner Music 1995
Aroma
Gilberto Gil
A-a-a-a-aroma
Vem pelo vento
Aroma
Fragrância, odor
Vem da pitanga
Da manga
Perfume da flor
Vem do estrume
Cheiro do gado
Vem do pecado (aroma-amor)
Do corpo dela (aroma-amor)
Todo molhado
Aroma
Um cheiro de suor
Ah, ah, ah, ah, aroma
Ah, ah, ah, ah, aroma
Vem pelas ventas
Aroma
Do pobre ou rico
Embriagado
Tu ficas
Eu também fico
Vem da macela
Da graviola
Vem do pé de manjericão
Todo o planeta
Aroma
De planta do sertão
Todo o planeta (que cheirinho gostoso)
Aroma (de capim cheiroso)
De planta do sertão
Outras gravações:
“Lucia Turnbull”, Lucia Turnbull, Som Livre
“Carla visita Gilberto Gil (só chamei porque te amo)”, Carla Vizzi, M Z A/ Universal 2001
“Para sempre (pop rock)”, Lucia Turnbull, EMI 2001
“Pop”, Lucia Turnbull, Emi Odeon 1998
“Vozes da MPB”, Lucia Turnbull, EMI Odeon 1999
“Eldorado”, Sampa crew, 1998
“Sampa crew – combinação”, Sampa Crew e Dani Voguel, Radar Records Comercial e Edições 2010
As ayabás
Gilberto Gil
Caetano Veloso
Pra que todo mundo ouça
Eu agora vou cantar
Para todas as moças
Eu agora vou bater
Para todas as moças
Eu agora vou dançar
Para todas as moças
Para todas ayabás
Para todas elas
Iansã comanda os ventos
E a força dos elementos
Na ponta do seu florim
É uma menina bonita
Quando o céu se precipita
Sempre o princípio e o fim
Obá
Não tem homem que enfrente
Obá
A guerreira mais valente
Obá
Não sei se me deixo mudo
Obá
Numa mão, rédeas, escudo
Obá
Não sei se canto ou se não
Obá
A espada na outra mão
Obá
Não sei se canto ou se calo
Obá
De pé sobre o seu cavalo
Euá, Euá
É uma moça cismada que se esconde na mata
E não tem medo de nada
Euá, Euá
Não tem medo de nada
O chão, os bichos, as folhas, o céu
Euá, Euá
Virgem da mata virgem
Da mata virgem, dos lábios de mel
Oxum
Oxum
Doce mãe dessa gente morena
Oxum
Oxum
Água dourada, lagoa serena
Oxum
Oxum
Beleza da força da beleza da força da beleza
Oxum
Oxum
Outras gravações:
“Caetano Veloso”, Caetano Veloso, Polygram
“Doces Bárbaros”, Doces Bárbaros, Biscoito Fino
“Diamante verdadeiro”, Maria Bethânia, Polygram
“Canções divinas – divinas canções”, Maria Bethânia, BMG 2004
“Caderno de poesias”, Maria Bethânia, Biscoito Fino 2015
“26 prêmio da música brasileira”, Mariene De Castro, Biscoito Fino 2015
As camélias do quilombo do Leblon
Gilberto Gil
Caetano Veloso
As camélias do Quilombo do Leblon
As camélias do Quilombo do Leblon
As Camélias
As camélias do Quilombo do Leblon
As camélias do Quilombo do Leblon
As camélias do Quilombo do Leblon
Nas lapelas
Vimos as tristes colinas logo ao sul de Hebron
Rimos com as doces meninas sem sair do tom
O que fazer
Chegando aqui?
As camélias do Quilombo do Leblon
Brandir
Somos a Guarda Negra da Redentora
Somos a Guarda Negra da Redentora
Somos a Guarda Negra da Redentora
As camélias da Segunda Abolição
As camélias da Segunda Abolição
As camélias da Segunda Abolição
As Camélias?
As camélias da Segunda Abolição
As camélias da Segunda Abolição
As camélias da Segunda Abolição
Cadê elas?
Somos assim, capoeiras das ruas do Rio
Será sem fim o sofrer do povo do Brasil?
Nele e em mim
Vive o refrão
As camélias da Segunda Abolição
Virão.
As coisas
Gilberto Gil
Arnaldo Antunes
Peso, massa, volume
Tamanho, tempo
Forma, cor
Posição
Textura, duração
Densidade
Cheiro
Valor
Consistência
Profundidade, contorno
Temperatura, função
Aparência
Preço, destino, idade
Sentido
As coisas não têm paz
As coisas
As pegadas do amor
Gilberto Gil
Nem um bé
Uma cabra a esperniar
Um baé
Um porquinho, um bezerrinho
Uma pomba, uma preá
Animal de sangue quente
Atacado a sangue frio
Só prá ver sangue jorrar
Nem um pouco de pesar
De pavor
Nem um cabra a me implorar
Por favor
Nem um corpo a estrebuchar
Ao tremor das minhas mãos
Nem uma marca de horror
No chão do meu coração
Só as pegadas do amor
Assim, sim
Gilberto Gil
Diz pra mim que assim, não
Se eu chegar mansin
Diz pra mim que assim, sim
Se eu descer a mão
Diz pra mim que assim, não
Se eu fizer carin
Diz pra mim que assim, sim
Me diz assim, não, quando eu chego reclamando, resmungando, espinafrando, nega
Espinafre cru
Me diz assim, sim, quando eu chego
calmamente, docemente, simplesmente, nega
Suflê de chuchu (ou caruru)
Ocê vai me comer, vai me saborear…
Me diz assim, não, quando eu chego muito cedo, meio amargo, meio azedo, nega
Casca de limão
Me diz assim, sim, quando eu chego muito tarde, amolecido, já com ar de bobo
Creme de mamão (que tentação)
Ocê vai me comer, vai me saborear…
Assimétrica
Gilberto Gil
Quer dizer sem você
Prefiro assim, assimetricamente
Viver com você
Assimetricamente nós dois
Assim como um mais um são três
Algo não se encaixa mas quem acha
Que dá certo somos nós
Nós e nós e nós e nós e nós
Todos desatados de uma vez
Quando nos atamos e amamos
Debaixo dos nosso lençóis
Muitos torcem, rezam, fazem ebó
Só pra ver você longe de mim
Só porque cismaram e inventaram que assim
Seria melhor
Só porque preferem me ver só
Só pra que só eles possam enfim
Ver-me, ter-me, beber-me, comer-me
Tomar-me pra eles
E só pra eles só
Átimo de pó
Gilberto Gil
Carlos Rennó
O germe e Perseu
O quark e a Via-Láctea
A bactéria e a galáxia
Entre agora e o eon
O íon e Órion
A lua e o magnéton
Entre a estrela e o elétron
Entre o glóbulo e o globo blue
Eu, um cosmos em mim só
Um átimo de pó
Assim: do yang ao yin
Eu e o nada, nada não
O vasto, vasto vão
Do espaço até o spin
Do sem-fim além de mim
Ao sem-fim aquém de mim
Den de mim
Atrás do trio
Gilberto Gil
Tou atrás do fio pra ligar
O pavio dessa minha bomba H
Tou atrás há três
Horas atrozes sem poder lhe ver
Será que eu vou ter
De atravessar três dias?
Será que eu vou ter
De atravessar três dias
Sem poder, sem poder
Explodir a bomba H maiúsculo
Relaxar a fibra desse músculo
Já cansado de trombar
De dar encontrão
Na esperança de lhe encontrar
Na contramão
Tou atrás do trio
Tou tão apressado
Tou tão por um fio
Tou tão precisado
De lhe encontrar
De ver você se dependurar em mim
Me fazer de trapézio, de trampolim
Autorretratinho
Gilberto Gil
Revelam meu sorriso azulejado
Emoldurado por lábios salientes
Certamente ardentes se beijados
A fronte suavemente projetada
Como nas estátuas primitivas
A testa de feição mais alongada
Como nas estirpes mais antigas
Me atenho aqui a descrever meu rosto
Que o resto só com os olhos de um pintor
Suficientemente hábil e de bom gosto
Pra retratrar-me toda em toda cor
Apenas cito a mais as minhas pernas
Raramente expostas por inteiro
Qual montanhas sob neves eternas
Encobertas janeiro a janeiro
Talvez a breve referência aos dentes
E ao meu sorriso aberto azulejado
Já seja tão ou mais que o suficiente
Para explicar as fadas do meu fado
Axé, babá
Gilberto Gil
Dá-nos a luz do teu dia
De noite a estrela-guia
Da tua paz
Dentro de nós
Meu pai Oxalá
Dá-nos a felicidade
O pão da vitalidade
Do teu axé
Do teu amor
Do teu axé
Do teu amor
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Axé, babá
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Axé, babá
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Axé, babá
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Outras gravações:
“Carnaval Acústico”, Alexandre Leão
“Luar”, Gilberto Gil, Warner Music
“Sol”, Gilberto Gil, Warner Music 1984
“Les indispensables de Gilberto Gil’, Gilberto Gil, WEA/Alemanha 1989
Comentários*:
“Mais uma canção cuja música existia antes, na qual eu tive que encaixar a poesia, desbastando a madeira e quebrando a pedra, para colocá-la numa fôrma previamente estabelecida. E aí me veio a idéia de fazer uma letra sobre Oxalá, para Oxalá. A canção é um afoxé ao estilo dos Filhos de Gandhi, com quem eu tinha iniciado uma relação havia um tempo (fazia uns seis anos que eu saía no bloco) – daí, ‘Axé, babá’.”
*Extraído do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras”